Presidentes
das juntas do centro da cidade pedem intervenção urgente da câmara.
PCP defende que não se licenciem mais hotéis
Autarcas
das da Baixa não votaram proposta do PCP por não concordarem com a
posição dos seus partidos, PS e PSD
Inês Boaventura /
17-2-2016 / PÚBLICO
O PCP defende que a
Câmara de Lisboa deve suspender o licenciamento de novas unidades
hoteleiras na cidade e avaliar o impacto das já existentes na
qualidade de vida dos cidadãos. A proposta dos comunistas foi
chumbada pela Assembleia Municipal de Lisboa, numa votação que
ficou marcada pela ausência dos presidentes das três freguesias nas
quais o turismo tem um peso mais evidente.
A proliferação de
estabelecimentos hoteleiros de todos os géneros está a preocupar as
juntas
Tanto o PS como o
PSD votaram contra a suspensão pedida pelos deputados comunistas,
mas os autarcas de Santa Maria Maior e da Misericórdia (ambos do PS)
e de Santo António (do PSD) não participaram na votação, apesar
de terem estado presentes na sessão de ontem da assembleia
municipal.
“Precisava de ir à
casa de banho”, justificou a presidente da Junta da Freguesia da
Misericórdia, Carla Madeira, quando o PÚBLICO lhe perguntou o
porquê da sua ausência. Já os autarcas de Santo António e de
Santa Maria Maior assumiram que tomaram a decisão de abandonar a
sala, porque não partilhavam da posição assumida pelos seus
partidos.
“Como não
concordei, não votei. O meu partido é democrata e aceita a
divergência de opiniões”, diz o presidente da Junta de Santo
António. “Não se trata de política, trata-se de pessoas”,
acrescenta Vasco Morgado. Para justificar a sua concordância com a
iniciativa do PCP conta que “todos os dias” tem conhecimento de
novos casos de inquilinos “escorraçados” das suas casas para dar
lugar a alojamentos locais.
“Se calhar noutras
zonas da cidade não sentem tanto, mas no casco velho é problemática
a perda de população”, afirma o autarca do PSD. Frisando que é
“a favor” da iniciativa privada, mas defendendo que ela “tem de
ser regulamentada”, Vasco Morgado considera que a Câmara de Lisboa
“é a única entidade que pode pôr cobro a isto”.
“Os hotéis são
hiper, megarregulamentados, o que eu acho bem. Mas o alojamento local
passa nos intervalor da chuva”, critica, sustentando a necessidade
de esta área ser regulamentada.
Também o presidente
da Junta de Freguesia de Santa Maria Maior defende que esta é uma
questão em que é preciso intervir quanto antes. “Neste momento
não há legislação sobre isto. É preciso, urgentemente,
sensibilizar o poder legislativo e municipal, sentar todos à mesa
para ver que medidas podemos tomar, respeitando a livre iniciativa”,
diz Miguel Coelho.
O autarca socialista
diz que não participou na votação da recomendação do PCP porque
“não a conhecia bem”, mas também porque a sua posição seria
diferente daquela que foi assumida pelo seu partido. “Sinto uma
grande incomodidade com esta pressão que está a ser feita sobre os
residentes para que abandonem as suas casas”, justifica Miguel
Coelho.
“As pessoas em
dificuldades económicas deixam-se aliciar por ofertas de promotores
imobiliários”, conta, acrescentando que a sua freguesia tem vindo
a perder eleitores, que são substituídos por “residentes
transitórios”, que é como quem diz turistas. Miguel Coelho dá
ainda conta de outro efeito do crescimento acelerado da oferta
turística no seu território: o aumento das rendas. Segundo conta,
um T1 em Alfama que antes estava no mercado por 100 ou 150 euros pode
agora chegar aos 500 euros.
Na recomendação
assinada por Lúcia Gomes, o PCP pedia também à câmara que
procedesse a “uma avaliação do impacto” das unidades hoteleiras
existentes “na qualidade de vida dos cidadãos e de quem visita a
cidade”. Miguel Coelho concorda que “é importante” fazer essa
avaliação e frisa que antes mesmo de isso acontecer já tem “um
dado adquirido”: o de que há áreas de Lisboa “a perder gente”
por causa do turismo.
Em Julho de 2015 o
vereador do Planeamento e Urbanismo reconheceu a existência de “um
problema por concentração excessiva” de alojamentos turísticos
em áreas como a Baixa-Chiado e os bairros históricos. Na altura,
Manuel Salgado anunciou que o município estava a preparar um
relatório, a concluir “até ao final do ano”, que procuraria
fazer “uma avaliação do impacto do turismo em Lisboa”.
No fim do mês
passado o PÚBLICO perguntou à câmara por esse estudo, tendo obtido
a resposta de que ainda não estava concluído.
A recomendação do
PCP que foi apreciada ontem defendia também que a câmara avaliasse
“os mecanismos de ajuda ao comércio local” e fizesse chegar ao
Governo a “necessidade urgente de revogação da lei das rendas”,
pontos que foram aprovados por maioria. Rejeitado foi um ponto que
recomendava que a Estação de Santa Apolónia se mantivesse “com
todas as valências de transporte que actualmente oferece”.
Também chumbado foi
um ponto que solicitava à câmara a apresentação, “no prazo
máximo de seis meses”, de “um plano público de recuperação
faseada dos edifícios históricos que estão no domínio público”.
Este ponto teve os votos contra do PS e do Parque das Nações Por
Nós (PNPN), o que foi suficiente para a sua rejeição, apesar de
todos os outros eleitos terem votado a favor.
Caso a votação
tivesse tido lugar há algumas semanas, o seu desfecho teria sido
diferente, porque nessa altura o PS tinha apenas 36 dos 75 deputados
da assembleia municipal. Isso fazia com que dependesse dos Cidadãos
Por Lisboa para ter a maioria absoluta, não lhe bastando o único
eleito do PNPN. Desde que Fernando Nunes da Silva suspendeu o seu
mandato e foi substituído por um deputado do PS, este partido passou
a ter 37 eleitos, e os Cidadãos Por Lisboa baixaram de seis para
cinco.
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