Filho
de João Soares contratado em Janeiro pela Câmara de Lisboa
JOSÉ ANTÓNIO
CEREJO 15/02/2016 - PÚBLICO
Nova
vereadora da Educação contratou seis pessoas. Uma delas é um filho
do ministro da Cultura, que a vai assessorar em organização de
eventos e gestão cultural.
Desde que assumiu as
funções de vereadora da Educação da Câmara de Lisboa, no início
de Dezembro, Catarina Albergaria, ex-dirigente do Sindicato dos
Bancários do Sul e Ilhas, já recrutou pelo menos seis pessoas por
ajuste directo e com contrato de avença por dois anos. Cinco delas
já exercem funções de assessoria em várias áreas, com
remunerações mensais entre os 2800 e os 3500 euros mais IVA, sem
direito a subsídios de Natal, férias e refeição. A sexta
desempenha tarefas administrativas, mas recebe o mesmo que os
assessores menos bem remunerados.
Tal como os colegas,
a prestadora de serviços contratada para assegurar “apoio
administrativo no gabinete da vereadora” não tem horário de
trabalho definido. Os seis contratos celebrados no dia 27 de Janeiro
e no dia 1 de Fevereiro visam “a satisfação de necessidades não
permanentes” do município, “correspondendo à execução de
trabalho não subordinado e baseando-se em razões de especial
aptidão técnica e intelectual, bem como na experiência
profissional” dos avençados.
Como é habitual
neste tipo de contratações — a que recorrem todos os partidos
representados na Câmara de Lisboa, dentro dos limites aprovados por
deliberação camarária —, os contratados são da confiança
pessoal da vereadora e têm quase todos carreira na máquina do PS.
Entre os novos
assessores da antiga gerente da Caixa Geral de Depósitos e
responsável pelo pelouro da Educação desde que a sua antecessora,
Graça Fonseca, integrou o Governo de António Costa, encontram-se
três nomes (Paulo Alexandre Lopes Ferreira, Felix Soares Gomes Lopes
dos Santos e Margarida Maria Matos Mota) com anteriores participações
em listas de candidatos e gabinetes do PS. Quanto aos outros três,
não lhes são conhecidas ligações directas ao partido.
Um deles é um
licenciado em História com 30 anos que, embora não tenha currículo
partidário conhecido, é filho e neto de dirigentes socialistas.
Mário Barroso Soares, que desempenha também as funções
profissionais de secretário de uma pequena sociedade de advogados
desde Janeiro do ano passado, é neto de Mário Soares e filho de
João Soares, actual ministro da Cultura e antigo presidente da
Câmara de Lisboa.
No currículo que o
próprio possui na rede social LinkedIn, Mário Barroso Soares
escreve que se iniciou profissionalmente na Câmara da Amadora, onde
foi assistente administrativo entre 2005 e 2009. Desde então
trabalhou por curtos períodos em vários locais e em funções
ligadas à área de secretariado, além de ter sido “assistente de
produção” durante “menos de um ano” numa produtora de vídeo
francesa.
No mesmo currículo,
o novo avençado indica que está na Câmara de Lisboa desde Dezembro
de 2015, embora no seu contrato, celebrado a 27 de Janeiro, se leia
que ele “vigorará desde a sua assinatura, cessando,
obrigatoriamente, com o término do mandato da vereadora ou/e até ao
limite determinado pelo Código dos Contratos Públicos”. De acordo
com o documento — publicado no Portal Base e divulgado pelo site Má
Despesa Pública, mantido por cidadãos empenhados na causa da
transparência administrativa —, Mário Barroso Soares prestará à
vereadora da Educação “serviços de assessoria em produção de
eventos e gestão cultural”.
O contrato revela
ainda que no seu primeiro mês de vigência, este prestador de
serviços receberá 4200 euros, em vez dos 2800 mensais a que terá
direito. A justificação deste bónus, que contempla também um dos
outros seis contratados, reside no “acumulado de processos que
requererá a execução do dobro de horas nesse mês”. O documento,
porém, não estabelece qualquer número de horas semanais, ou
mensais, de trabalho a que Mário Barroso Soares esteja obrigado.
As explicações da
câmara
Contactada pelo
PÚBLICO para explicar a natureza da "especial aptidão técnica
e intelectual, bem como experiência profissional", deste
avençado, a Câmara de Lisboa respondeu que "quer a área de
formação, licenciatura e mestrado em História, quer a experiência
profissional, ao nível da produção de eventos e gestão cultural,
para entidades como o Centro Ciência Viva da Amadora, empresas de
produção audiovisual em Portugal e França, a Fundação Calouste
Gulbenkian em Paris e a Cinemateca Brasileira, justificam plenamente
a opção da vereadora".
Segundo a sua página
na rede LinkedIn, Mário Barroso Soares foi "Senior
Documentation Specialist" na produtora Cinepalco durante "um
ano e um mês", em 2010; trabalhou no secretariado da Fundação
Gulbenkian em Paris "menos de um ano", em 2012; foi
"Documentation Specialist" na Sociedade dos Amigos da
Cinemateca, em São Paulo (Brasil), ao longo de três meses — o
currículo entregue na câmara especifica que se tratou de um estágio
curricular —; e, em 2014, esteve "menos de um ano" como
"executive assistant" na produtora de vídeo francesa TV
Only International.
Acerca das tarefas
que lhe foram atribuídas no gabinete da vereadora da Educação, a
autarquia adianta, através do seu Departamento de Comunicação, que
se trata de "vários projectos" e de "diferente
natureza", exemplificando com "a Agenda XXI, a Orquestra
Geração, a Orquestra Jovem Municipal Geração Lisboa, o projecto
Escola Ciência Viva, as Bibliotecas Escolares ou o Orçamento
Participativo Escolar".
Questionada sobre se
a decisão de contratar este avençado "é completamente alheia"
ao facto de ele ser filho do ministro da Cultura, a câmara
respondeu: "Sim." Quanto à iniciativa da sua contratação,
a autarquia afirma que ela "partiu da vereadora Catarina
Albergaria, tal como em relação a todos os colaboradores do
gabinete".
Através desse mesmo
gabinete, o PÚBLICO tentou também contactar Mário Barroso Soares,
mas a secretária da vereadora remeteu o assunto para o Departamento
de Comunicação da câmara.
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