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Misericórdia
despeja comerciantes na Baixa de Lisboa
JOSÉ ANTÓNIO
CEREJO 19/02/2016 - PÚBLICO
Santa Casa vai
despejar um conjunto de lojas na Baixa para fazer obras em cinco
edifícios. Comerciante dizem que todos eles se destinam a fins
turísticos. Instituição garante que não.
A Santa Casa da
Misericórdia de Lisboa (SCML), na sua qualidade de senhoria, vai
“mandar para rua” várias lojas da Baixa, algumas delas
centenárias e integradas no programa municipal Lojas com História,
acusou esta quinta-feira a União de Associações do Comércio e
Serviços (UACS). Os donos destes estabelecimentos, instalados em
cinco edifícios de que a Misericórdia é proprietária, foram
informados esta semana de que terão que fechar a porta até 30 de
Junho.
Em comunicado, a
UACS afirma que a SCML já tem a aprovação da Câmara de Lisboa
para transformar os edifícios que possui naquela zona em unidades de
Alojamento Local. Nesses prédios, diz a associação, todas as lojas
antigas terão de encerrar, uma vez que a lei do arrendamento em
vigor permite aos senhorios denunciar unilateralmente os contratos
com os comerciantes.
Tal como a UACS
suspeitava, lê-se no comunicado, “ao fim de cinco anos da entrada
em vigor do novo regime do arrendamento urbano, as denúncias
unilaterais estão a acontecer, podendo verificar-se o encerramento
de milhares de empresas do comércio, o que poderá ter como
consequência a desertificação dos centros históricos das cidades
no longo prazo”.
A presidente desta
organização, Carla Salsinha, disse ao PÚBLICO que os comerciantes
estão “desencantados, indignados e perplexos” com o facto de
“uma instituição com a responsabilidade cívica e social da Santa
Casa, que devia dar o exemplo, estar a fazer despejos unilaterais”.
A SCML, acrescenta, “nem sequer aceita negociar com os empresários”
a possibilidade de aumentar as rendas e viabilizar a reabertura das
lojas após a realização das obras.
A Misericórida
começou esta semana a chamar os inquilinos, que são apenas
comerciantes e responsáveis dos escritórios que ocupam alguns
andares, para lhe comunicar que irão receber dentro de dias a
notificação formal para sairem até ao fim de Junho. Alguns deles
disseram ao PÚBLICO que estão ali há mais de cinquenta anos, pelo
menos num caso há mais de cem, e que têm feito importantes
investimentos nas lojas, enquanto que a Misericórdia se limitou a
deixar degradar os imóveis nas últimas décadas.
Carla Salsinha diz
que os comerciantes não têm nada contra os hotéis e similares que
“estão a proliferar como cogumelos na Baixa”, mas defende que a
Câmara de Lisboa devia impôr aos promotores a obrigação de
garantir a permanência de uma “quota” de comércio em cada
quarteirão. “Não podemos permitir que a cidade seja
descaracterizada, ficando apenas com hotéis para ver”. E qual será
o destino de todos estes equipamentos hoteleiros “quando acabar o
boom turístico?” pergunta a presidente da UACS.
O objectivo imediato
das associações, salienta, é convencer o Governo e a Assembleia da
República a aprovarem uma “alteração cirúrgica” à lei do
arrendamento que impeça “o despejo unilateral dos comerciantes”.
Contrariamente ao
que afirma a UACS, a Misericórdia assegura que nenhum dos cinco
edifícios que possui na Baixa vai ser transformado por forma a
colher unidades de alojamento turístico. A instituição não
respondeu a uma pergunta do PÚBLICO sobre o número de lojas que
serão despejadas, mas disse que já tem os projectos aprovados pela
câmara para a reabilitação de dois prédios na R. da Prata, um na
R. dos Douradores e outro na Rua Augusta.
Para dois deles
estão previstos usos de comércio e habitação, enquanto que nos
outros dois haverá comércio, habitação e escritórios. O quinto
edifício, situado na R. dos Sapateiros ainda não tem projecto
aprovado, mas o espaço está destinado à “instalação de uma
creche”, nada acrescentando quanto a outros usos que o imóvel
venha a ter.
A SCML acrescenta
que investirá nos cinco prédios cerca de cinco milhões de euros.
Quanto ao comunicado da UACS, limita-se a afirmar que, em relação
aos arrendamentos comerciais e de serviços existentes, “serão
cumpridos os mecanismos legais aplicáveis, nomeadamente o Código
Civil e o Regime Jurídico da Obras em Prédios Arrendados”.
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Baixa
de Lisboa está "na iminência de ficar sem comércio"
O
alerta é lançado pela união de associações do sector, que
reclama da atual lei do arrendamento. CML diz que está tudo bem
18 DE FEVEREIRO DE
2016 DN / LUSA
A União de
Associações do Comércio e Serviços (UACS) defendeu hoje que a
Baixa de Lisboa está na "iminência de ficar sem comércio",
situação que atribui à lei do arrendamento e à utilização dos
edifícios para alojamento local.
"A grande sala
de visitas da cidade de Lisboa, a Baixa, está na iminência de ficar
sem comércio. O comércio da Baixa e em toda a cidade de Lisboa está
a ser substituído por equipamentos hoteleiros que proliferam como
cogumelos", sustenta a UACS, em comunicado.
De acordo com esta
entidade, "a lei do arrendamento permite aos senhorios não
negociarem sequer com os seus inquilinos uma proposta de alteração
do valor da renda, enviando-lhes apenas uma carta a manifestar o seu
interesse em não 'renovar' o contrato de arrendamento", o que
facilita os despejos de lojas históricas.
A UACS relata o caso
de cinco prédios com estabelecimentos antigos cujo senhorio está a
realizar despejos "para os transformar em alojamento local,
obras essas que já se encontram aprovadas pela Câmara, mandando
assim para a rua lojas centenárias".
Segundo a UACS, após
cinco anos da entrada em vigor do Novo Regime do Arrendamento Urbano,
"as denúncias unilaterais estão a acontecer, podendo vir a
verificar-se o encerramento de milhares de empresas do comércio, que
poderá ter como consequência a desertificação dos centros
históricos das cidades no longo prazo".
Câmara recusa esta
ideia
Confrontado pela
agência Lusa com estas denúncias, o presidente da Câmara de
Lisboa, Fernando Medina (PS), recusou que esta zona da cidade esteja
a ficar sem comércio.
"Não vi o
comunicado, nem me quero pronunciar sobre ele, [mas] acho que a
cidade de Lisboa está a viver um momento muito positivo de
reabilitação e a Baixa é um excelente exemplo disso",
referiu.
O autarca
acrescentou que "a Baixa hoje tem um processo de recuperação
do edificado, de prédios, de lojas, que não conhecia há décadas".
"Nós, há 10
anos, discutíamos os riscos de desertificação da baixa e hoje
estamos [...] com um forte dinamismo na reabilitação urbana e é
por aí que devemos continuar", insistiu.
Ainda assim,
Fernando Medina defendeu a "preservação daquilo que são
elementos autênticos e característicos da cidade", sem o
confundir com um "processo de imobilismo".
O autarca falava à
margem da reabertura oficial da pastelaria Mexicana, na Praça de
Londres.
As obras de
remodelação deste estabelecimento, que já conta com 70 anos de
história, duraram oito meses, num investimento superior a dois
milhões de euros por parte do novo administrador.
A requalificação
incluiu o restauro de um painel cerâmico de Querubim Lapa, datado de
1962.
O artista revelou à
Lusa estar "muito satisfeito" por este quadro se manter
"como foi feito".
Já falando sobre a
Mexicana, o artista sublinhou que "é preciso que estes
estabelecimentos possam perdurar muito tempo", lamentando,
contudo, que "entretanto já tenham desaparecido muitos",
como a Loja das Meias (no Rossio) e a loja Rampa (no Largo Rafael
Bordalo Pinheiro).
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