João
Soares promete demitir presidente do CCB na segunda-feira
LUCINDA CANELAS
26/02/2016 - 19:01
Caso
não receba entretanto das mãos de António Lamas um pedido de
demissão, ministro da Cultura irá afastá-lo já na segunda-feira.
Lamas já disse que não se demitirá.
João Soares foi
esta sexta-feira ao Parlamento apresentar o Orçamento do Estado para
a Cultura e deixou claro que, se o actual presidente do Centro
Cultural de Belém (CCB) não apresentar o seu pedido de demissão
até segunda-feira, irá demiti-lo no mesmo dia.
"Eu acho que o
presidente do CCB tem de sair. E se não sair, eu, na segunda-feira,
seguramente o demitirei, usando os instrumentos legais de que
disponho", disse João Soares, no âmbito da discussão da
proposta de Orçamento do Estado para 2016.
Segundo a agência
Lusa, o ministro da Cultura garantiu ainda ter já um substituto para
António Lamas, mas não mencionou qualquer nome: "[É] uma
solução alternativa, capaz, de alguém com experiência, bastante
mais jovem, com provas dadas, nomeadamente ao nível de
responsabilidades públicas num ministério.”
À saída do
hemiciclo, o PÚBLICO voltou a insistir com João Soares para que
dissesse sobre quem recaiu a escolha para substituir Lamas, mas o
ministro foi peremptório: “O que tive a dizer disse lá dentro.
Segunda-feira logo se vê.”
Durante a sessão
perante os deputados acusara Lamas de ter protagonizado “uma gestão
pouco prudente”, dando como exemplo “os seis milhões [de euros]
das reservas [do CCB] gastos nos últimos tempos”.
O PÚBLICO tentou
contactar, sem sucesso, o presidente do CCB, que na quarta-feira
garantira não ter qualquer intenção de se demitir.
A confirmar-se o
afastamento de António Lamas, 69 anos, professor de Engenharia com
uma carreira longa na gestão pública, será o primeiro presidente
do CCB, inaugurado em 1993, a deixar por cumprir o mandato por ordem
da tutela.
O mandato de Lamas,
que ocupa a presidência desde Outubro de 2014, só deveria terminar
em Outubro de 2017.
Braço de ferro
A confirmar-se, a
decisão de João Soares virá a pôr fim a um braço de ferro entre
o Governo socialista e Lamas, na sequência da extinção da
estrutura de missão criada pelo anterior executivo PSD-CDS com o
objectivo de elaborar o Plano Estratégico Cultural da Área de
Belém, e que era também liderada pelo ainda presidente do CCB.
Na resolução do
Conselho de Ministros publicada em Diário da República (DR) na
passada quarta-feira, 24 de Fevereiro, o Governo de António Costa
justificava a extinção da estrutura e do plano de harmonização da
gestão do chamado eixo Belém-Ajuda, com todos os seus monumentos,
museus, jardins e outras instituições de carácter público e
privado, apresentado em Agosto, com o facto de a proposta de António
Lamas e da sua equipa poder vir a “comprometer a missão e o
papel” do CCB “no quadro da sua intervenção prioritária”,
lembrando ainda que a Câmara Municipal de Lisboa não fora ouvida no
desenvolvimento do referido projecto, a que viria a dar “parecer
negativo”.
Numa entrevista ao
PÚBLICO no mesmo dia, o presidente do CCB refutou todas as acusações
de que a autarquia não tivesse sido consultada durante o processo e
garantiu que ele mesmo se tinha reunido com vereadores, mencionando
contactos entre a sua equipa e outros técnicos camarários, mas sem
nunca referir nomes. “Reconheço a total legitimidade do Governo
para extinguir a estrutura de missão, mas não aceito a crítica,
injusta, de que o plano que ela propõe tenha sido feito sem ouvir a
autarquia”, disse Lamas, 69 anos. “Alguém imagina que se pudesse
pensar num plano destes sem falar com a autarquia e com a
Administração do Porto de Lisboa [que tem a seu cargo a zona entre
a linha do comboio e o rio]?”, perguntou, lembrando que a proposta
não implica apenas conciliar a gestão de museus e monumentos,
implica mexer na envolvente, no espaço urbano.
Numa entrevista ao
Expresso (sábado, 20 Janeiro), o ministro da Cultura classificou o
plano de Belém como um “disparate total” e disse duas vezes que
o seu responsável “devia tirar as devidas consequências” da
extinção da estrutura de missão e consequente abandono da
proposta. Já nesta quinta-feira, em resposta ao PÚBLICO, o seu
adjunto, Horácio Vale César, lembrava que António Lamas, apesar de
“ter associado, em declarações públicas, a permanência nas suas
funções à implementação do chamado 'Eixo Belém-Ajuda' e de este
projecto ter sido revogado no Conselho de Ministros da semana
passada”, não apresentara ainda um pedido de demissão nem pusera
o seu lugar à disposição. “Tendo em conta a sua pública
reprovação do referido plano, o ministro agirá em conformidade com
a lei”, acrescentou.
Por seu lado,
António Lamas garantira na quarta-feira não ter qualquer intenção
de se demitir por acreditar que o CCB tinha ainda um papel a cumprir
na dinamização daquela zona nobre da cidade e que o seu projecto
para a casa podia torná-lo mais sustentável, “mais dinâmico”.
“Não me demito quando acredito em alguma coisa. Não está na
minha natureza”, disse. “E eu acredito que o CCB tem capacidade
para gerar mais receita e depender menos do Fundo de Fomento
Cultural, acredito que pode ganhar públicos e ser mais importante do
que é hoje para a cidade e para o país.” com Ana Henriques
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