Bárbara
Guimarães pede recusa da juíza que julga processo de violência
doméstica
ANDREIA SANCHES
17/02/2016 - PÚBLICO
Requerimento
entregue nesta quarta-feira. Em causa, explicou o advogado da
apresentadora, está um “conjunto de expressões utilizadas” por
Joana Ferrer na primeira sessão do julgamento que, diz, revelam
falta de imparcialidade.
Não estão
cumpridos os “requisitos de imparcialidade objectiva e subjectiva”
da juíza. É isto que defende o advogado de Bárbara Guimarães que,
nesta quarta-feira, apresenta no tribunal um requerimento onde pede a
recusa da juíza Joana Ferrer, que está a julgar Manuel Maria
Carrilho por um crime de violência doméstica. O Ministério Público
fez um pedido idêntico.
Em causa, explicou
ao PÚBLICO Pedro Reis, o advogado de Bárbara Guimarães, está um
“conjunto de expressões utilizadas” por Joana Ferrer durante a
primeira sessão do julgamento na sexta-feira, dia 12, que não
cumprem os requisitos “de imparcialidade objectiva e subjectiva”.
Expressões dirigidas, precisamente, a Bárbara Guimarães. A notícia
do pedido de recusa começou por ser avançada pela edição online
do Diário da Notícias, nesta quarta-feira à noite.
Pedro Reis diz que
já deu entrada um pedido idêntico de recusa da juíza deste
processo, que foi entregue pelo Ministério Público. “Mas são
requerimentos independentes”, sublinhou. O objectivo de Bárbara
Guimarães é que o julgamento seja feito por outro juiz.
A Procuradoria-Geral
da República confirmou, entretanto, esta informação, em resposta
ao PÚBLICO: "O Ministério Público apresentou, ao abrigo do
disposto no artigo 43.º, números 1 e 3 do Código de Processo
Penal, um requerimento de recusa da juiz. Fê-lo por considerar
existir motivo sério e grave, adequado a gerar desconfiança sobre a
imparcialidade da magistrada judicial", informa.
Bárbara Guimarães
(que Joana Ferrer tratou sempre como Bárbara) respondeu na
sexta-feira, durante mais de três horas, às perguntas da
procuradora do Ministério Público e da própria Joana Ferrer, sobre
o seu casamento e as alegadas agressões de Manuel Maria Carrilho
(que a juíza tratou sempre como professor).
A certa altura, a
procuradora que questionava Bárbara Guimarães disse à
apresentadora, a propósito do facto de ela não ter denunciado logo
as alegadas agressões do ex-marido: “Não tem de se justificar ao
tribunal por que é que não foi ao médico. Ninguém a pode
censurar.” Mas a juíza afirmou, pouco depois, algo diferente.
Quando a apresentadora contou mais um episódio sobre como, “no
epicentro do furacão”, continuava a dar uma imagem pública de que
tudo estava bem na relação com o ex-ministro da Cultura, Joana
Ferrer declarou: “Causa-me alguma impressão a atitude de algumas
mulheres [vítimas de violência, algumas das quais] acabam mortas.”
E acrescentou: “A senhora procuradora diz que não tem de se sentir
censurada. Pois eu censuro-a!” É que “se tinha fundamento”
para se queixar, devia tê-lo feito, rematou.
“Se fosse hoje,
faria tudo ao contrário”, disse a apresentadora, que explicou que
não fora ao hospital após as agressões “por vergonha”. A juíza
lamentou o facto de, assim, ser difícil provar que houve violência
doméstica. “Preciso de provas”, declarou.
“Parece que o
professor Carrilho foi um homem, até ao nascimento da Carlota [a
segunda filha do casal], e depois passou a ser um monstro.” Ora “o
ser humano não muda assim”, disse a juíza, depois de várias
vezes ter perguntado a Bárbara como é que um casamento que parecia
maravilhoso, pelas fotografias, se começara a degradar.
Com o requerimento
de recusa, a segunda sessão do julgamento, marcada para sexta-feira
no Campus da Justiça, em Lisboa, será suspensa, diz Pedro Reis.
Caberá ao Tribunal da Relação de Lisboa a decisão final sobre o
requerimento. Tem 30 dias para o fazer.
As expressões da
juíza no julgamento têm suscitado várias críticas, nomeadamente
da Associação Portuguesa de Mulheres Juristas que, em comunicado,
na segunda-feira, disse que elas revelam “a persistência de
pré-juízos desconformes com o legalmente estipulado sobre o modo de
agir com vítimas de violência doméstica”.
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