PCP
acusa Câmara de Lisboa de ter agido tarde na protecção das lojas
históricas
PSD
e PCP associaram-se à moção da maioria na qual se pedem alterações
legislativas que protejam as lojas mais antigas
Inês Boaventura /
25-2-2016 / PÚBLICO
O PCP entende que a
moção da Câmara de Lisboa que sugere a introdução de alterações
legislativas em nome da “preservação do comércio local e
tradicional” era “muito necessária”, mas critica que só agora
tenha sido apresentada. Se ela tivesse chegado antes, sustenta Carlos
Moura, “seguramente muitas das lojas fechadas ainda teriam muita
história pela frente para contar”.
SANDRA RIBEIRO
Tanto o PCP como o
PSD decidiram subscrever a moção, assinada pelo vice-presidente do
município, Duarte Cordeiro. No documento propõe- se a submissão à
Assembleia da República de um conjunto de alterações legislativas
com o argumento de que “as normas em vigor não protegem as lojas
mais antigas, muitas delas lojas com história, pelo que se tem
verificado o encerramento de vários estabelecimentos”.
No essencial, as
alterações sugeridas visam, como explicou Duarte Cordeiro ao
PÚBLICO, impedir que as lojas classificadas pelos municípios “em
função de critérios relacionados com actividade, património
material e património cultural e histórico” possam ser objecto de
despejos unilaterais ou justificados com a realização de obras de
reabilitação profundas.
A moção foi
aprovada por unanimidade, numa votação em que não participou o
vereador do CDS. Antes de se ausentar da reunião camarária de
ontem, João Gonçalves Pereira manifestou-se preocupado com a
possibilidade de as alterações sugeridas pelo município poderem
“condicionar a reabilitação da cidade”.
“Não creio que
impedindo o despejo unilateral causemos qualquer transtorno aos
objectivos dos proprietários”, respondeu-lhe o vicepresidente,
defendendo que não se irá “criar qualquer tipo de bloqueio à
reabilitação”. Duarte Cordeiro sublinhou a “urgência” de se
avançar com este processo e de se “dar efectivamente um passo”,
dado que “todos os dias fecha uma loja com história”.
Câmara quer tentar
impedir despejos unilaterais
Nesta reunião foi
também aprovada, igualmente por unanimidade, a proposta que visava
aprovar os critérios para a atribuição da distinção de
determinados estabelecimentos comerciais como Lojas com História.
O social-democrata
António Prôa defendeu a importância da proposta e de “outras
iniciativas que possam concorrer para salvaguardar a identidade da
cidade”, frisando que “as lojas são uma parte muitíssimo
importante da imagem de Lisboa”. O vereador questionou ainda se os
critérios agora fixados não poderão “criar uma excessiva
rigidez” e alertou para a importância de haver “uma
monitorização” relativamente à sua aplicação concreta.
Mais medidas
Por fim, António
Prôa defendeu que “este processo não pode começar e acabar por
isto apenas”, defendendo que “outras medidas têm que ser
tomadas”. “Não devemos ter a tentação de pensar que esta é a
chave para resolver o problema do comércio da cidade”, disse,
apontando a “modernização” das lojas e “o reforço dos laços
de associativismo” entre os comerciantes como dois dos aspectos a
trabalhar.
Já o comunista
Carlos Moura lembrou que no último ano “uma série de lojas
fecharam” e manifestou o receio de que essa realidade não vá
cessar. “Preocupa-me que venhamos a ter muitas Lojas com História
e muitas lojas debaixo dos escombros”, disse, lamentando que a
proposta agora votada preveja que o grupo de trabalho do programa
Lojas com História tenha apenas “parecer não vinculativo” no
âmbito das “operações urbanísticas que tenham impacto directo
sobre as lojas distinguidas”.
Também o vereador
José Sá Fernandes se pronunciou sobre o tema, numa intervenção
que provocou sorrisos e gargalhadas aos presentes. O autarca enunciou
uma série de lojas que frequentava e que fecharam recentemente, como
aquelas em que comprava agulhas para o gira-discos e café de balão,
e confessou ter chorado quando soube que ia fechar o Restaurante
Palmeira, na Baixa.
Mas não foi essa a
única confissão de Sá Fernandes. O vereador da maioria também deu
conta do seu desgosto pelo fim dos “quadradinhos de marmelada da
Ajuda”, situação que o obriga agora a ir a Odivelas, e brincou
com o assunto dizendo que não só compra marmelada mas também a
faz.
Nesta reunião foi
também aprovada por unanimidade uma moção do CDS sobre o Bairro da
Cruz Vermelha, na freguesia do Lumiar, na qual se determina que seja
feita, no prazo de 60 dias, “uma avaliação das condições de
segurança e de habitabilidade” do mesmo e que se estudem as
“soluções de reabilitação” possíveis.
Unânime foi também
o apoio a uma proposta do vereador do Desporto, Jorge Máximo, na
qual se propunha a candidatura de Lisboa a Capital Europeia do
Desporto em 2021, e a uma outra, do vereador Sá Fernandes, relativa
à classificação de um “exemplar arbóreo da espécie Phytolacca
dioica L. existente no Liceu Passos Manuel”, na freguesia da
Misericórdia.
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