Lisboa
pede alterações legislativas para proteger Lojas com História
INÊS BOAVENTURA
23/02/2016 - PÚBLICO
A
Câmara de Lisboa vai apresentar uma moção nesse sentido e avançar
com a criação de um fundo com 200 mil euros para apoiar os
estabelecimentos que cumpram “um conjunto de critérios exigentes”.
A Câmara de Lisboa
vai propor que haja “alterações cirúrgicas” nos diplomas
relativos ao arrendamento urbano e às obras em prédios arrendados,
por forma a que as Lojas com História não possam ser alvo de
despejos unilaterais ou justificados com a realização de obras de
reabilitação profundas.
O anúncio foi feito
pelo presidente da Câmara de Lisboa na reunião da Assembleia
Municipal que se realizou esta terça-feira. Segundo Fernando Medina
estão em causa “duas alterações cirúrgicas, mas da maior
importância”. “Sem elas dificilmente poderemos agir”, afirmou
o autarca, sustentando que o município não dispõe hoje dos
“instrumentos suficientes para agir de forma eficaz”.
Fernando Medina fez
ainda saber que a câmara vai criar um fundo de apoio à
concretização do programa das Lojas com História, que foi lançado
em Fevereiro de 2015 e que pretende “incentivar a manutenção e
reabilitação” de estabelecimentos comerciais “que se destacam
pelas suas características únicas e reconhecido valor para a
identidade da cidade”. De acordo com o autarca, esse fundo terá
uma “dotação inicial” de 200 mil euros.
O assunto vai ser
discutido na reunião camarária de quarta-feira, na qual o
vice-presidente, Duarte Cordeiro, vai apresentar uma moção apelando
ao legislador para que promova as duas alterações já referidas. A
sua expectativa é que haja consenso político em torno desta matéria
e que ela possa ter efeitos práticos “o mais rapidamente
possível”.
Segundo detalhou ao
PÚBLICO o autarca, uma das propostas do executivo municipal é que
as lojas que cumpram determinados critérios “sejam equiparadas às
microempresas”. Na prática isto significa que, nos termos do
regime jurídico do arrendamento urbano, deixarão de poder ser
objecto de “despejo unilateral”.
Além disso, explica
Duarte Cordeiro, vai ser proposta uma mudança no regime jurídico
das obras em prédios arrendados com o objectivo de que determinadas
lojas não possam ser despejadas com o argumento de que vai ser
promovida uma reabilitação total do edificado. “A loja pode ser
realojada temporariamente mas no final tem que ser integrada no
projecto”, defendeu, acrescentando que isso não inviabiliza que
haja “aumento de renda”.
No caso de Lisboa, a
ideia é que essas alterações se apliquem às Lojas com História,
que só receberão essa distinção se cumprirem “um conjunto de
critérios exigentes”, que vão também ser debatidos na reunião
camarária desta quarta-feira.
Quanto ao fundo de
200 mil euros, Duarte Cordeiro frisa que esse é “um valor
indicativo”, que “poderá ser revisto se houver necessidade”. A
intenção, adianta o autarca, é que através dele os
estabelecimentos comerciais abrangidos por este programa possam
beneficiar de apoios por exemplo para o desenvolvimento de
“programação cultural”, para intervenções de “conservação
e restauro”, para determinadas “obras de reabilitação” e para
actividades como a elaboração de “planos de marketing e
comerciais”.
Além disso,
explicou Duarte Cordeiro, está previsto que “até Julho” o grupo
de trabalho constituído para o efeito conclua a criação de um guia
das Lojas Históricas, de uma “sinalética” para as identificar e
de um site dedicado a este programa camarário.
Na Assembleia
Municipal de Lisboa, Fernando Medina deu ainda conta de que “vai no
bom caminho” o diálogo com o Ministério da Administração
Interna para que “o município tenha os meios, os recursos para
exercer a gestão do trânsito”. Esta é uma velha ambição da
câmara, pela qual o seu anterior presidente, António Costa, muito
se bateu.
Segundo Fernando
Medina, outra questão que está a ser trabalhada com o Governo tem a
ver com a Parque Expo, cujo processo de extinção o autarca
considera ter sido “gerido de forma verdadeiramente imprópria”.
Entre outros aspectos, o presidente da câmara quer ver desbloqueada
a questão dos terrenos necessários para a construção de escolas e
de equipamentos de saúde.
Finalmente, e sem
adiantar detalhes, o autarca disse que no que diz respeito à área
dos transportes está a ser desenvolvido “um trabalho de grande
exigência e de grande rigor” não só com o Governo mas também
com a Área Metropolitana de Lisboa, que ganhou competências nesta
matéria.
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