O VoodoCorvo publica este video e este artigo
apenas com a intenção de informar e contextualizar o artigo no Público.
Como em muitos casos, isto não representa, uma posição do “blog”.
Russell Brand Takes On Jeremy Paxman (Plus Beard) On
BBC's Newsnight (VIDEO)
The Huffington Post UK
| By Paul Vale http://www.huffingtonpost.co.uk/2013/10/23/russell-brand-v-jeremy-paxman_n_4151743.html
Posted: 23/10/2013 22:59 BST
| Updated: 29/10/2013
First the cookie monster, then a dog with a degree, now
Paxman versus Brand on beards, revolution and a hatred of the Tory Party. When
did Newsnight, that ageing, late night, sleep-inducer suddenly become the most
watchable programme on British TV?
Wednesday’s offering continued the show’s good form, with
producer Ian Katz pitting Paxo against the garrulous, unpredictable yet
always-brilliant Russell Brand. And the pair played their roles to perfection.
On the back of Brand’s forthcoming guest editorship of the
New Statesman, Paxo charged in: “Who are you to edit a political magazine?”
“A man who was asked by an attractive woman,” replied the
comedian and actor. Following a rant that spanned "current
paradigms", "voting practises" and "political apathy,"
Brand barked across the hotel room “grow your beard”. “You are a very trivial
man,” countered Paxo, both comfortable in their cross-cultural badinage.
Brand has found a more serious edge of late, interspersing
tales of shagging and not taking drugs with pleas for a fairer world, a greener
world and one in which Associated Newspapers is mashed to a pulp.
“What will your revolution look like?” growled Paxo from
behind said beard.
“I’ll tell you what it won’t be like,” said Brand in a
moment of clarity, “a huge disparity between rich and poor, where 300 Americans
have the same amount of wealth as the 85 million poorest Americans, where there
is an exploited and underserved underclass that are being continually ignored
and where welfare is slashed while Cameron and Osborne go to court to defend
the rights of bankers to continue to receive their bonuses. This has to be
addressed.”
During the exchange, Brand told Paxo that he has never
voted, and he never will. Why? Because the political system has created a
"disenfranchised, disillusioned underclass".
"I am not that I am not voting out of apathy,"
said the 38-year-old. "I am not voting out of absolute indifference and
weariness and exhaustion from the lies, treachery and deceit of the political
class that has been going on for generations."
Earlier, Paxman had attempted to find common ground by
telling his opponent he didn’t "necessarily disagree" with him.
"Then why do I feel so cross with you?" replied Brand.
What wonderful nonsense and yet wonderful honesty.
Russell Brand, o neoliberalismo e o imobilismo
Nunca tinha ligado a Russell Brand. Sabia apenas que era um comediante inglês de grande sucesso. Na sexta-feira, amigos ingleses das redes sociais comentavam uma entrevista dada por Russell a Jeremy Paxman na BBC e foi aí que despertei para a celebridade. Fui investigar.
E o que disse ele? Em resumo: o sistema capitalista
neoliberal, baseado na ideia de que os recursos e o crescimento económico são
ilimitados, criava cada vez maiores desigualdades, com uma redistribuição da
riqueza ineficaz, ao mesmo tempo que a política se havia transformado em mera
máquina administrativa.
E acabava a sugerir, não apenas uma transformação política e económica, mas também a emergência de uma nova consciência colectiva. Numa frase: este sistema está moribundo. É necessário ousarmos e projectarmos outro.
No fim de contas, nada que não tenha ouvido nos últimos anos da boca dos mais diversos intelectuais (de Manuel Castells a Bauman, de Zizek a Badiou) e de um ou outro político mais desalinhado, e de alguns rostos de movimentos populares, mas que nunca ouvira da boca de uma celebridade de alcance global como é Russell.
E muito menos algo que se oiça da boca dos políticos, economistas ou comentaristas do costume, todos eles optando por discutir a moralidade deste ou daquele político, desta ou daquela medida, falando de ajustamentos ou de pequenas reparações, nenhum ousando discorrer sobre mudanças fundamentais.
Resultado dessa entrevista? Tornou-se viral. Dias depois, milhões em todo o mundo, principalmente os que nunca haviam sido submetidos ao tipo de posicionamento que ele defendera, reviram-se no que havia afirmado. Diga-se, como acontece também quase sempre nestes casos, com os habituais exageros de divinização da sua figura.
Mas o mais interessante nesta história não é isso. O mais relevante está a acontecer agora e é o contra-ataque desencadeado pelos media dominantes, desacreditando-o. E é interessante como sintoma da forma como se paralisa qualquer discussão acerca do sistema. Ou seja, podia ser Russell ou outro qualquer do mesmo impacto.
Primeiro passo: desacreditar a pessoa. Diz-se que não tem autoridade moral, nem credibilidade, nem é íntegro, nem provém de uma tradição de pensamento que lhe permita dizer aquilo. Vai-se buscar coisas ao passado e até se satiriza a forma como se veste e se comporta em público. Ou seja, retira-se a atenção do fundamental.
A condição de celebridade multimilionária não lhe confere autenticidade para produzir opinião. O mais revelador é algumas destas visões terem origem nalguma esquerda que não lhe reconhece autoridade, a ele, de origens humildes que se tornou célebre. Para esses, presume-se, os necessitados devem manter-se pobres, na obscuridade e na impotência; de contrário, não serão autênticos.
Segundo passo: isolar um elemento do que foi dito para desacreditar o todo. Na entrevista, Russell disse provocatoriamente que não votava porque isso contribuía para a reprodução do sistema. Ou seja, o não votar, aqui, é o contrário de apatia. É não votar, racionalmente, para devolver ao sistema e aos políticos que os inertes são eles, por não resolverem os problemas e por não assumirem que o sistema político tem de ser reparado.
Resultado? Foi interpretado literalmente, o que é revelador das razões por que o sistema não se renova. É incapaz de se renovar porque não estamos preparados para pensar de forma diferente. Resultado: o “não votar” de Russell foi aproveitado para artigos paternalistas sobre as conquistas democráticas realizadas através do voto, como se essa fosse, na substância, a questão. A questão não é o voto. É a política reduzida à tecnocracia. É a falta de representatividade democrática. É o esgotamento do sistema político actual, do qual, sim, faz parte o voto.
Terceiro passo: desacreditar as críticas ao sistema se não forem acompanhadas por uma solução de bolso para um sistema alternativo viável. Esta é a linha de argumentação mais ardilosa. Trata-se de menorizar as críticas ao sistema, esvaziando-as, com o argumento de que se não vêm acompanhadas de alternativas concretas, capazes de serem postas em prática prontamente, então são quimeras, e nem vale a pena iniciar sequer a discussão.
É o argumento utilizado desde a queda do muro de Berlim, quando nos disseram que não havia alternativas ao neoliberalismo, porque era o menos mau, assustando-nos com o papão das grandes utopias do século XX (fascismo e comunismo) que haviam fracassado. Sim, ok.
O problema é que a grande utopia das últimas décadas — o modelo neoliberal assente na ideia de que o crescimento económico é infinito — também fracassa e esgota-se. Mais ainda: não terá sido precisamente o consenso à volta do capitalismo, traduzido no medo de imaginarmos alternativas, o que nos trouxe até aqui?
A inércia da discussão cria-se assim, acusando o outro de não ter alternativas, ou destas serem complexas, logo dificilmente concretizáveis, como se a única solução fosse aceitar o paradigma vigente, contra todas as evidências. Ou seja, os guardiões do sistema exigem aos críticos deste aquilo que eles próprios não conseguem produzir.
Talvez seja então a altura de alguém dizer aos críticos de Russell que sonhadores são eles. Sonham que medidas de austeridade localizadas solucionem problemas estruturais de interdependência económica global. São eles que impedem o formular das perguntas certas para irmos de encontro às respostas, limitando-se a agir, em rodopio, sem saírem do sítio. Querem maior apatia?
Na última semana, Russell teve o mérito de galvanizar e excitar a curiosidade das pessoas, colocando-as a discutir. Não tem uma solução consistente no sentido da afirmação de um novo modelo político e económico?
Talvez. Mas o que temos hoje para gerir são hipóteses e aproximações. Agora, existe uma coisa que sabemos: o que Russell diz faz parte da solução, não constituiu o problema. O problema é o contínuo bloqueio do debate, no momento em que ele pode convergir na direcção de todos, para que todos possam participar dele, projectando alternativas.
E isso não acontece porque a ideologia dominante diz taxativamente a Russell, e a todos nós, que mais vale deixarmo-nos de fantasias, continuando a impor-nos a sua cruel fantasia.
E acabava a sugerir, não apenas uma transformação política e económica, mas também a emergência de uma nova consciência colectiva. Numa frase: este sistema está moribundo. É necessário ousarmos e projectarmos outro.
No fim de contas, nada que não tenha ouvido nos últimos anos da boca dos mais diversos intelectuais (de Manuel Castells a Bauman, de Zizek a Badiou) e de um ou outro político mais desalinhado, e de alguns rostos de movimentos populares, mas que nunca ouvira da boca de uma celebridade de alcance global como é Russell.
E muito menos algo que se oiça da boca dos políticos, economistas ou comentaristas do costume, todos eles optando por discutir a moralidade deste ou daquele político, desta ou daquela medida, falando de ajustamentos ou de pequenas reparações, nenhum ousando discorrer sobre mudanças fundamentais.
Resultado dessa entrevista? Tornou-se viral. Dias depois, milhões em todo o mundo, principalmente os que nunca haviam sido submetidos ao tipo de posicionamento que ele defendera, reviram-se no que havia afirmado. Diga-se, como acontece também quase sempre nestes casos, com os habituais exageros de divinização da sua figura.
Mas o mais interessante nesta história não é isso. O mais relevante está a acontecer agora e é o contra-ataque desencadeado pelos media dominantes, desacreditando-o. E é interessante como sintoma da forma como se paralisa qualquer discussão acerca do sistema. Ou seja, podia ser Russell ou outro qualquer do mesmo impacto.
Primeiro passo: desacreditar a pessoa. Diz-se que não tem autoridade moral, nem credibilidade, nem é íntegro, nem provém de uma tradição de pensamento que lhe permita dizer aquilo. Vai-se buscar coisas ao passado e até se satiriza a forma como se veste e se comporta em público. Ou seja, retira-se a atenção do fundamental.
A condição de celebridade multimilionária não lhe confere autenticidade para produzir opinião. O mais revelador é algumas destas visões terem origem nalguma esquerda que não lhe reconhece autoridade, a ele, de origens humildes que se tornou célebre. Para esses, presume-se, os necessitados devem manter-se pobres, na obscuridade e na impotência; de contrário, não serão autênticos.
Segundo passo: isolar um elemento do que foi dito para desacreditar o todo. Na entrevista, Russell disse provocatoriamente que não votava porque isso contribuía para a reprodução do sistema. Ou seja, o não votar, aqui, é o contrário de apatia. É não votar, racionalmente, para devolver ao sistema e aos políticos que os inertes são eles, por não resolverem os problemas e por não assumirem que o sistema político tem de ser reparado.
Resultado? Foi interpretado literalmente, o que é revelador das razões por que o sistema não se renova. É incapaz de se renovar porque não estamos preparados para pensar de forma diferente. Resultado: o “não votar” de Russell foi aproveitado para artigos paternalistas sobre as conquistas democráticas realizadas através do voto, como se essa fosse, na substância, a questão. A questão não é o voto. É a política reduzida à tecnocracia. É a falta de representatividade democrática. É o esgotamento do sistema político actual, do qual, sim, faz parte o voto.
Terceiro passo: desacreditar as críticas ao sistema se não forem acompanhadas por uma solução de bolso para um sistema alternativo viável. Esta é a linha de argumentação mais ardilosa. Trata-se de menorizar as críticas ao sistema, esvaziando-as, com o argumento de que se não vêm acompanhadas de alternativas concretas, capazes de serem postas em prática prontamente, então são quimeras, e nem vale a pena iniciar sequer a discussão.
É o argumento utilizado desde a queda do muro de Berlim, quando nos disseram que não havia alternativas ao neoliberalismo, porque era o menos mau, assustando-nos com o papão das grandes utopias do século XX (fascismo e comunismo) que haviam fracassado. Sim, ok.
O problema é que a grande utopia das últimas décadas — o modelo neoliberal assente na ideia de que o crescimento económico é infinito — também fracassa e esgota-se. Mais ainda: não terá sido precisamente o consenso à volta do capitalismo, traduzido no medo de imaginarmos alternativas, o que nos trouxe até aqui?
A inércia da discussão cria-se assim, acusando o outro de não ter alternativas, ou destas serem complexas, logo dificilmente concretizáveis, como se a única solução fosse aceitar o paradigma vigente, contra todas as evidências. Ou seja, os guardiões do sistema exigem aos críticos deste aquilo que eles próprios não conseguem produzir.
Talvez seja então a altura de alguém dizer aos críticos de Russell que sonhadores são eles. Sonham que medidas de austeridade localizadas solucionem problemas estruturais de interdependência económica global. São eles que impedem o formular das perguntas certas para irmos de encontro às respostas, limitando-se a agir, em rodopio, sem saírem do sítio. Querem maior apatia?
Na última semana, Russell teve o mérito de galvanizar e excitar a curiosidade das pessoas, colocando-as a discutir. Não tem uma solução consistente no sentido da afirmação de um novo modelo político e económico?
Talvez. Mas o que temos hoje para gerir são hipóteses e aproximações. Agora, existe uma coisa que sabemos: o que Russell diz faz parte da solução, não constituiu o problema. O problema é o contínuo bloqueio do debate, no momento em que ele pode convergir na direcção de todos, para que todos possam participar dele, projectando alternativas.
E isso não acontece porque a ideologia dominante diz taxativamente a Russell, e a todos nós, que mais vale deixarmo-nos de fantasias, continuando a impor-nos a sua cruel fantasia.
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