Desemprego, meio cheio, meio vazio
Editorial / Público
Não é o milagre da retoma. Mas a queda do desemprego é um sinal que não deve
ser desvalorizado
Os números surpreenderam pela positiva. Se é verdade
que as estatísticas oficiais continuam a dar conta da existência de 838,6 mil
desempregados, também é verdade que os dados revelados ontem pelo INE mostram
uma acentuada quebra e, eventualmente, sinais de inversão de tendência no
mercado de trabalho. São menos 32 mil desempregados do que há um ano e menos 47
mil em comparação com o segundo trimestre de 2013. É a segunda vez este ano que
a taxa de desemprego regista um recuo trimestral. Do primeiro para o segundo
trimestre, o desemprego caiu de 17,7% para 16,4%. Agora, a queda é menos
acentuada, mas, ainda assim, trata-se de um recuo de 16,4% para 15,6%.
Governo e empresários, de um lado, oposição e sindicatos, do outro, fazem uma
leitura diferente dos números. É o chamado ver o copo meio cheio ou meio vazio.
Os primeiros falam de sinais de retoma e dizem que o pior já passou; e os
segundos desvalorizam os números, salientando que esta quebra acontece por
razões de sazonalidade e devido ao aumento de portugueses que vão trabalhar para
o estrangeiro.Quem tem razão? É verdade que os dados do INE dão conta de um recuo inédito da população activa, de 135 mil face a 2012, o que parece indiciar um fluxo significativo de emigração. Também é verdade que existe um efeito sazonal implícito nos números. Não é por acaso que o Algarve e a Madeira surgem como as regiões onde se registaram as quebras mais acentuadas.
Se estes dados ajudam a sustentar a tese da oposição, não é menos verdade que não chegam para explicar a queda acentuada no número de desempregados. A economia está a dar sinais de retoma, ou pelo menos de já ter estancado a recessão, e esses sinais não devem ser desvalorizados.
O copo está meio cheio para a maioria e meio vazio
para a oposição
Por António Ribeiro Ferreira e Agência Lusa
publicado em 8 Nov 2013 in (jornal) i online
Patrões falam numa descida que surpreende agradavelmente,
sindicatos falam no turismo e na restauração para justificar a descida
As reacções à baixa do desemprego foram as do costume, sem
qualquer surpresa. As cassetes estão sempre prontas e basta carregar no botão
para arrancarem declarações que a maioria dos portugueses conhece de cor e
salteado. Comecemos pela maioria. O CDS diz que há esperança, a economia está a
crescer, está a sair da recessão, estão a ser criados postos de trabalho e,
portanto, há uma perspectiva dos portugueses que perderam o emprego virem, no
breve médio prazo, a novamente ter um posto de trabalho. O ministro Mota
Soares, também do CDS, salienta o facto de "com a mesma população activa
do trimestre passado, nos últimos três meses 50 mil portugueses encontraram
trabalho". Já o PSD entendeu saudar os cidadãos e as empresas pelo grande
resultado no desemprego.
Na mesma linha de pensamento estão as confederações
patronais. A CCP diz que a descida é é positiva, mas realça que este dado tem
que ser analisado sob um ângulo mais preciso, nomeadamente, porque a população
empregada caiu três vezes mais que a desempregada. A CIP diz que a descida
"surpreende agradavelmente" e vem "provar que os ténues sinais
de retoma começam a ter efeitos".
EMBUSTE, DIZ A OPOSIÇÃO O PS considerou positiva a
"ténue" redução da taxa do desemprego e o aumento da população
empregada, mas salientou que o país apresenta sinais preocupantes e está muito
longe do milagre económico. O PCP considerou que a redução da taxa de
desemprego é um "embuste", devendo-se essencialmente à diminuição da
população residente em Portugal, ao aumento da emigração e não a qualquer
retoma da economia portuguesa. O Bloco de Esquerda lembrou que há menos 100 mil
portugueses empregados em relação há um ano e que 10 mil emigram todos os
meses.
Os sindicatos estão na mesma linha. A UGT fala no turismo e
na restauração para justificar a queda e espera pelo último trimestre para
acreditar que o desemprego está mesmo a baixar. Para a CGTP, esta quebra
acontece por razões de sazonalidade e devido ao aumento de portugueses que vão
trabalhar para o estrangeiro.
Costa diz que reforma de Seguro é uma invenção
“estúpida”
Por Pedro Rainho
publicado em 8 Nov 2013 in (jornal) i online
Debates quinzenais foram
propostos pelo líder socialista. Autarca diz que “condicionam” o consenso
É “uma das invenções mais estúpidas que a Assembleia da
República fez nos últimos anos”. AntónioCosta atacou ontem, na “Quadratura do
Círculo”, na SIC Notícias, os debates quinzenais que se realizam no parlamento
– um modelo pensado por AntónioJosé Seguro na reforma do regimento da
Assembleia da República, aprovado em 2007.
“Não sei quem foi [que propôs o modelo], mas as ideias são
estúpidas independentemente de quem as tem”, disse o presidente da Câmara de
Lisboa, quando confrontado com o facto de ter sido o líder socialista o “pai”
do novo regime, que instituiu as discussões quinzenais entre o governo e a
oposição. Costa diz que os debates “são coreografados para serem um duelo entre
matadores”. E “quais são as coreografias destes debates quinzenais?”,
questionou-se o autarca, para logo de seguida responder: “Ou o
primeiro-ministro mata o interpelante líder da oposição, ou o interpelante
líder da oposição – ou algum dos outros líderes – mata o primeiro-ministro.”
António Costa – que no início deste ano recuou na disputa da
liderança do PS, com Seguro – considera que os embates regulares obrigatórios
entre governo e oposição desempenham um papel central na “deterioração cada vez
mais acentuada das relações entre os principais locutores” políticos. Desde
logo, porque esse confronto se “tornou um duelo e esse duelo é fatal. A
democracia e os consensos não se conseguem com duelos”, alerta o autarca de
Lisboa, numa altura em que o governo desafiou o PS para um consenso alargado
sobre a reforma do Estado.
Costa considerou ontem que, “quando a principal exposição
das diferenças políticas tem o objectivo de matar o adversário, isto tem
consequências”. Nomeadamente quando os encontros regulares se revelam um
“factor que condiciona a possibilidade da eficácia da consensualização política”.
O autarca de Lisboa atribuiu a falta de consenso entre o PS e o governo à
necessidade do líder socialista de mostrar clivagens relativamente ao
primeiro-ministro na Assembleia, porque “é o que abre o telejornal”.
O actual regimento da Assembleia da República foi aprovado
em Julho de 2007 com os votos contra do PSD. O PS chegou a organizar umas
jornadas parlamentares nesse ano especialmente dedicadas à discussão da reforma
coordenada por Seguro. Após a aprovação na Assembleia, o então deputado socialista
destacava a maior “centralidade do parlamento no debate político” que as
discussões quinzenais permitiriam. Seguro defendia que o modelo era “mais
exigente, quer para o governo, quer para a oposição” e que trazia “um
equilíbrio maior” entre as duas partes, porque “o formato não induz nem para um
lado nem para o outro”.
António Costa: “Para haver consensos é preciso acabar
com a guerra ideológica”
Por Cláudia Reis
publicado em 7 Nov 2013 in (jornal) i online
Os comentadores lamentaram a
actual degradação do debate político em Portugal e o constante ataque aos
direitos dos cidadãos
António Lobo Xavier disse ter esperança num entendimento
entre os partidos considerando necessária uma chegada a acordo. “Tenho uma
esperança racional. O entendimento entre os partidos parece absolutamente
necessário”, disse.
“O entendimento tem de se impor, no entanto está envenenado
pela prática entre os partidos”, disse o comentador.
“Acho que é preciso mudar várias coisas” para os partidos
chegarem a entendimento, destacou.
“A direcção do PS tem
a ideia de que a continuarem as coisas como estão provavelmente poderá ganhar
as eleições, mas que esse caminho para a vitória é prejudicado se se associar
aos responsáveis pela austeridade por isso tem uma postura pública de rejeição
de entendimento com a maioria”, afirmou Lobo Xavier.
“No que respeita à maioria, esta chega tarde ao entendimento
e com pouca autoridade moral”, sublinhou, lembrando que é o “governo quem tem
de tomar a iniciativa”.
Já António Costa diz que primeiro é importante saber onde é
útil que “haja consenso”.
Para o presidente da câmara de Lisboa, é útil haver consenso
em questões como as “normas permanentes de boa governação, os princípios
fundamentais espelhados na constituição e no reforço da qualificação dos
portugueses”. Segundo ele, essas são “matérias que devem ser consolidadas”.
“Não se pode pedir que haja consensos em batalhas
ideológicas onde há diferendos desde 1975” , lembrou.
“O TC tem chumbado várias iniciativas legislativas da actual
maioria com base em princípios que o liberalismo constitucionalizou para
proteger os direitos dos cidadãos”, disse o comentador, no programa semanal
“Quadratura do Círculo”, exibido semanalmente na Sic Notícias.
“O estado tem de ter um limite no uso da força para com o
cidadão”, destacou António Costa.
“No meio da guerra não há consensos. Para haver consensos é
preciso acabar com a guerra ideológica”, considerou.
Costa considerou ainda os debates quinzenais na Assembleia
da República “estúpidos” que têm levado à “detioração” do ambiente político em
Portugal devido ao “grau de agressividade que se cria entre o governo e a
oposição, semelhante a um duelo”.
Por seu lado, Pacheco Pereira culpa o Presidente da
República por estar “constantemente a pedir consensos” e a não haver
“resultados”. Cavaco Silva devia “pedir para se fazerem alterações às leis para
tornar fáceis as eleições”, sugeriu Pacheco Pereira.
“Há muita coisa que muita gente pode fazer e não quer fazer
por ter “medo dos resultados eleitorais”, afirmou, lembrando, no entanto, que a
crise “não era inevitável, embora pudesse ser minimizada”.
Sobre a ideia de soberania, Pacheco Pereira disse que há
muito que esta foi esquecida. “Hoje estão a ser feitas chantagens aos
portugueses. Está a ser afrontada a soberania, sem qualquer punição”, disse.
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