“AS ARMAS E OS
BARÕES ASSINALADOS”...
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A 12 de Abril de 2009 no DN.
O longo braço dos Horta e Costa
por RITA ROBY
GONÇALVES12 abril 2009 / DN
Descendentes do
barão de Santa Comba Dão, os Horta e Costa
deixaram a vida na província para se dedicarem à gestão de empresas. Hoje, a sua influência faz-se sentir nas mais
importantes áreas de negócios
Para a maioria
dos portugueses o Vimieiro, pequena aldeia de Santa Comba Dão, evoca, primeiro
que tudo, Salazar. O presidente do Governo que marcou o País de forma
irreversível deixou Santa Comba, como é simplesmente conhecida, para sempre
ligada ao seu nome.
É difícil
imaginá-lo ainda criança de fraldas a balbuciar parcas palavras. Filho de pais
pobres, António Oliveira Salazar aprendeu as primeiras letras com a governanta
do senhor mais poderoso das redondezas: o barão de Santa Comba Dão - Miguel
Horta e Costa de Almeida e Vasconcelos. As ligações entre as duas famílias não
eram de amizade mas de trabalho - pequeno agricultor, António Salazar trabalhou
durante anos as terras do barão.
Imponente solar
ancestral dos Horta e Costa, a Casa dos Arcos, em Santa Comba Dão, já na altura
arrastava uma longa lista de convidados ilustres. Em 1692 a casa foi visitada
pela rainha Catarina de Inglaterra. Em 1704, por D Pedro II e em 1738 pelo
infante D. Manuel. Foi só quase um século mais tarde que o rei D. João VI criou
o título de barão de Santa Comba Dão a favor de José Maria de Sousa de Macedo
de Almeida de Vasconcelos, fidalgo da casa real, governador de Angola,
comendador da Ordem de Cristo, cuja descendência viria a originar duas famílias
que hoje marcam a sociedade portuguesa e o andamento dos negócios nacionais: os
Horta e Costa e os Horta Osório.
O pergaminho
viajou no tempo, ultrapassou crises, conflitos e guerras, a Primeira República
e a ditadura e, mesmo quando não havia varão a quem passar o título
nobiliárquico, os Horta e Costa arranjaram maneira de fazer o baronato
subsistir. Em 2003, Miguel Horta e Costa, antigo presidente da PT, resolveu
fazer jus às suas boas relações com D. Duarte e conseguiu que este lhe
concedesse a possibilidade de usar o título, apesar do conselho da nobreza -
órgão que delibera sobre estes temas - estivesse extinto há anos. Na altura, o
jornal Expresso escreveu em primeira página as razões que levaram D. Duarte a
distinguir o gestor: "Um caso de excepção, atendendo aos seus méritos e à
sua tradição familiar." Os monárquicos mais puristas e tradicionalistas
não gostaram da "excepção", mas o gestor que usa sempre lenço no
bolso do casaco a condizer com a gravata, blazer traçado com grandes botões
dourados aceitou com gosto a distinção. O último Horta e Costa a usar o título
- que não é herdado automaticamente e tem de ser renovado pelo conselho de
nobreza ou órgão análogo - foi Miguel Jorge Fleming Horta e Costa, 5.º barão de
Santa Comba Dão, pai de Miguel (consultor da ESCOM), Luís (administrador da
ESCOM) e Rui Horta e Costa (presidente da Astérion).
Descontente com a
vida na província, no final da década de 60, Miguel Jorge Horta e Costa (5.º
barão) decidiu rumar a Lisboa para pôr em prática os seus conhecimentos de
gestor. Sem o saber, com o seu profissionalismo, influenciou gerações que o
seguiram. Foi o braço-direito de Manuel Ricardo Espírito Santo e a pessoa
responsável pela administração da Mocar e da Santomar durante os tempos
agitados do pós-25 de Abril. Os Espírito Santo tinham tanta confiança nele que
na altura lhe passaram uma procuração com poderes ilimitados. À revista Exame
de Dezembro de 2003, o barão, que morreu em 2006, disse a propósito do seu
papel durante o Verão quente de 75: "Não acredito naqueles que só herdam. A
família reagiu sempre às adversidades com trabalho. Após as guerras liberais, a
implantação da República e o 25 de Abril." Tinha razão. Herdeiros
unicamente do seu bom nome, sem empresas familiares ou fortunas para
desbaratar, os Horta e Costa serviram-se de uma invejável rede de bons
contactos e especializaram-se em administrar as empresas dos outros.
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