ENTREVISTA / Yanis Varoufakis gosta de rir de si próprio /Paulo Pena / R 2 /
PÚBLICO
Yanis Varoufakis: Não quer
guerra, não faz bluff. E gosta de rir de si próprio
Paulo
Pena / http://www.publico.pt/mundo/noticia/nao-quer-guerra-nao-faz-bluff-e-gosta-de-rir-de-si-proprio-1684463
“A democracia grega
escolheu hoje deixar de entrar docilmente na noite. A democracia grega decidiu
odiar a luz que começava a morrer”
Yanis Varoufakis
“Nós somos responsáveis por termos sido a
primeira peça a cair, mas não pelo efeito dominó”
“Antes de rebentar
a crise do euro, eu era apenas mais um professor de Economia, metido nos meus
pequenos empreendimentos teóricos, escrevendo teses obscuras e livros
esotéricos”
“O sistema actual
de governo das empresas está obsoleto. Repleto de hierarquias que desperdiçam o
talento e as energias, misturadas com finanças tóxicas”
“Nós queremos abrir
uma pequena porta para a luz de Dylan Thomas entrar”
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Varoufakis é, simultaneamente, um
radical e um Iconoclasta, irónico, culto, criativo. É assim que Yanis
Varoufakis, o novo ministro das Finanças grego, é descrito por aqueles que o
conhecem. Tem amigos chegados em Portugal, uma filha na Austrália, alunos
devotos no Texas e muitos problemas para resolver em Atenas
Há uma diferença fundamental entre
aquilo que nós dizemos e aquilo que a imprensa internacional diz que nós
dizemos. Nós não queremos entrar em guerra com ninguém na União Europeia. Nós
não fazemos bluff. Não ameaçamos ninguém. Nem sequer queremos negociar…
Queremos deliberar em conjunto. Nós não queremos impor as nossas ideias ao
resto da Europa. Somos demasiado pequenos, e demasiado falidos, para o fazer.”
A declaração de Yanis Varoufakis, que contraria muitas das ideias que — à
esquerda e à direita — têm prevalecido sobre a vitória do Syriza nas eleições
gregas do passado domingo, foi feita ao telemóvel, olhando “pela janela do Parlamento
grego”, numa curta pausa do frenético ritmo imposto pelos acontecimentos, na
manhã de quarta-feira, 28 de Janeiro.
A curta
entrevista, ao programa Late Night Live, do canal australiano ABC, tem uma
razão emotiva. Yanis Varoufakis tem dupla nacionalidade (grega e australiana),
viveu em Sydney e, mais importante, é lá que mora a sua filha. Quem o conhece
sabe que tem certos dias, por mês, em que está “indisponível” para encontros,
palestras ou reuniões. É a altura em que se junta a ela.
Mas não
é só por razões afectivas que Varoufakis é ouvido, com atenção, a tantos
quilómetros de distância. O apresentador da ABC compara-o a Obama, pela
“esperança” que uma mudança política na Grécia pode trazer à Europa e ao mundo.
Varoufakis rejeita a comparação.
No seu
blogue, na noite de domingo passado, depois de conhecida a vitória do Syriza
(coligação da esquerda radical) nas eleições legislativas, ainda antes de ser
confirmado como ministro das Finanças, escreveu citando expressões de um
conhecido poema do galês Dylan Thomas: “A democracia grega escolheu hoje deixar
de entrar docilmente na noite. A democracia grega decidiu odiar a luz que
começava a morrer.”
A
escolha do poema para epígrafe deste novo tempo não se destaca apenas por ser
uma citação. “Ele tem uma grande cultura literária”, diz-nos Stuart Holland,
seu amigo inglês há mais de dez anos, que passa a maior parte do seu tempo em
Portugal.
Falamos
a seguir de outra citação literária famosa no percurso político recente de
ambos.
Holland
e Varoufakis assinaram uma “Modesta proposta para resolver a crise da zona
euro”, em Novembro de 2010. Havia uma “Modesta proposta...” original, de 1729,
do escritor Jonathan Swift, só que não falava de euro, nem de finanças… Ou
melhor, falava, mas não da forma como hoje essas coisas se discutem. O seu
título completo é: Uma modesta proposta para prevenir que, na Irlanda, as
crianças dos pobres sejam um fardo para os pais ou para o país, e para as
tornar benéficas para a República (tradução de Helena Barbas). O conteúdo da
“proposta” de Swift, ao contrário da de Varoufakis e Holland, resume-se numa
ideia, satírica: as crianças dos pobres da Irlanda seriam muito úteis para a
economia se fossem vendidas como comida para os ricos. “A escolha do título de
Swift é dele”, revela Holland.
A partir
de Swift, a mera menção a qualquer “modesta proposta” é, imediatamente, vista
como uma sátira. E não apenas como uma ligeira ironia, mas como uma completa,
pesada, tremenda, e jamais-para-levar-a-sério solução burlesco-política. E,
ainda assim, Varoufakis quis chamar à sua proposta “modesta”. Stuart Holland,
que tem a sua quota de sentido de humor britânico, alinhou. E ninguém os tomou
por humoristas.
A
proposta não pretendia “solidariedade” do Norte da Europa, nem implicava uma
“mutualização” da dívida entre Estados (nenhum contribuinte europeu de um país
“rico” teria de financiar dívidas de outros países da UE). Assenta num “aval”
do Banco Central Europeu (BCE) até um limite de 60% da dívida face ao PIB dos Estados
do euro (para cumprir as metas de Maastricht). Esse aval traduz-se numa “conta”
que cada Estado abre no BCE e cujo valor tem de amortizar. A dívida mantém-se,
mas garantida pelo “fiador”, o BCE.
Em
Dezembro de 2011, encontrámo-los em Bruxelas, onde estavam precisamente a
persuadir os grupos parlamentares europeus a seguir a sua ideia, no auge da
chamada “crise da dívida soberana”, já depois das intervenções da troika na
Grécia, na Irlanda e em Portugal, e quando se temia o “efeito de contágio” às
mais poderosas economias de Espanha e de Itália.
Varoufakis
e Holland sentaram-se connosco, numa barulhenta cantina do Parlamento Europeu,
e começaram a explicar o que significava a parte “modesta” da sua ideia.
Varoufakis acabara de regressar de uma viagem aos Estados Unidos, onde se
reuniram com alguns representantes de fundos de investimento (o Pimco, por
exemplo) e outros tubarões de Wall Street, para apresentar a proposta sobre a
dívida europeia. Foi muito elogiado e recebido pelos responsáveis da Reserva
Federal. “Quando vemos que a nossa proposta ganha adeptos tão diferentes, de
grupúsculos comunistas à UBS, a Wall Street, a primeira coisa de que temos a
certeza é que se trata de um plano racional. A segunda é que os problemas do
euro são, afinal, mais simples de solucionar do que se supõe.”
A
primeira conclusão a que se chega, ao fim de poucos minutos de conversa com
Yanis Varoufakis, é que ele gosta mesmo de rir. E de rir de si próprio, também.
Gosta de contradições. “Sou um marxista-libertário. É uma contradição, eu
sei…”, disse, já depois de eleito. Antes dissera-se um “marxista errático”. Ou
um “economista acidental”. Como é ser ministro, perguntaram-lhe agora. “Estou
absolutamente em choque. Isso só mostra o estado desastrado a que chegou o
mundo.”
No
perfil divulgado no PÚBLICO, na quarta-feira, apontámos um aparente paradoxo.
Varoufakis é, simultaneamente, um radical e um moderado. Os leitores do jornal
reagiram mal, nas redes sociais. “O que é um radical moderado?”, perguntaram.
Devolvemos a pergunta a Stuart Holland: “Qualquer pessoa devia ser radical, não
apenas no que diz respeito ao desastre social e económico da Grécia, mas também
ao que se passa na zona euro, que se deve não só a um pensamento económico
desajustado, mas também ao estado de negação, e em certos aspectos à ignorância
do que pode ser feito dentro das actuais regras dos tratados — e, nessa medida,
ser também moderado.”
Yanis
Varoufakis gosta de ilustrar a sua forma de pensar com imagens claras e
raramente simplistas: “A Grécia é um país caracterizado por ineficiências,
carências, corrupção, desde o século XIX. Mas só estamos a falar agora da
Grécia porque há uma crise na União Europeia. Nós somos responsáveis por termos
sido a primeira peça a cair, mas não pelo efeito dominó”, disse à rádio
australiana.
A forma
que encontrou, como vimos, de resolver o problema da peça passava por impedir a
queda do dominó inteiro. A “modesta proposta” foi subscrita por políticos
europeus tão influentes como Jacques Delors, Felipe González e Giuliano Amato.
Mas nem só do centro-esquerda chegaram os seus apoios. Assinaram ainda o texto
de Varoufakis o liberal Guy Verhofstadt (ex-primeiro-ministro belga), o
conservador Giulio Tremonti (ex-ministro de Silvio Berlusconi) e até um
actualmente céptico sobre a vitória do Syriza, o primeiro-ministro inglês,
David Cameron, que chegou a pedir-lhe que desenvolvesse a ideia para que o
Governo britânico a pudesse apoiar.
Para
Varoufakis, tratava-se de “parar uma queda livre” e por isso era tão importante
falar com todo o espectro político. “É o mais próximo a que chegamos de uma
solução técnica que transcende a ideologia.”
Holland,
de 74 anos, conheceu Varoufakis, 53, “há mais de dez anos”, em Atenas. Ficaram
amigos. Yanis Varoufakis dirigia o departamento de Economia da universidade da
capital grega e convidou o inglês para leccionar uma série de seminários.
Stuart aceitou. Há 25 anos que se dedica, a tempo inteiro, ao ensino. Mas já
esteve, como o amigo grego, no centro do furacão da política. Acabado de sair
de Oxford, onde se formou em História e Teoria Política, foi contratado para
assessor do primeiro-ministro Harold Wilson. Negociou com o Governo de De
Gaulle uma segunda tentativa de adesão do Reino Unido à Comunidade Europeia.
Wilson acabaria por se opor e Holland demitiu-se. Voltou a Oxford onde se
doutorou em Economia. Foi o ministro-sombra dos trabalhistas para a área
económica durante os anos de Margaret Thatcher. Acabou por abandonar
Westminster para se dedicar ao ensino, dando aulas em várias universidades
europeias até acabar por fixar residência em Coimbra, onde é professor
visitante na Faculdade de Economia.
Talvez
isso ajude a explicar o interesse com que Yanis Varoufakis segue a situação
portuguesa. No seu blogue, no ano passado, explicou porque foi um dos 70
economistas estrangeiros que subscreveram o manifesto pela reestruturação da
dívida portuguesa. Foi Francisco Louçã, um dos autores do texto (que juntava 74
economistas portugueses, do CDS ao BE), quem o contactou. “Mostrou logo imensa
disponibilidade. Conhecia o seu trabalho. É muito criativo. O plano que
trabalhou era engenhoso, mas agora vai confrontar-se com as limitações dessa
proposta”, prevê Louçã.
Apesar
de antever um limite para a criatividade de Varoufakis, que será o momento em
que, para Louçã, a Grécia terá de decidir “pagar ou não pagar”, o economista
português enviou-lhe, esta semana, uma tradução em inglês da sua proposta (em
parceria com Ricardo Cabral, Eugénia Pires e Pedro Nuno Santos) de
reestruturação da dívida portuguesa.
Mesmo
nestes dias cheios de medidas económicas — desde que chegou ao Governo, na
terça-feira, o Syriza já cumpriu algumas promessas eleitorais com impacto nas
contas públicas, como a subida do salário mínimo de 580 para 750 euros —,
Varoufakis tem tido tempo para falar com os amigos em Portugal.
“Temos
mantido o contacto”, revela Holland. Também com Rui Tavares, o criador da rede
Ulisses (para promover a ideia de um relançamento económico da Europa a partir
do Sul), que Varoufakis integra, houve tempo para trocar algumas mensagens.
Como aquela que respondia, em plena noite de vitória eleitoral, aos parabéns do
português: “Obrigado, Rui. Agora é a tua vez.”
Tavares
conheceu Varoufakis em Bruxelas, quando era eurodeputado, e ficou conquistado
pelas ideias pouco convencionais do grego. “Até então eu falava muito da
mutualização da dívida. Depois de conhecer as propostas dele, passei a pensar
de outra forma.” Mas não foi só de dívida, e de economia, que os dois falaram.
Falaram muito, por exemplo, “de arte”.
Varoufakis
tinha regressado a Atenas, depois de um longo interregno, quando a arte passou
a fazer parte do seu dia-a-dia. Resumindo o seu currículo académico:
licenciou-se em Matemática e Estatística, doutorou-se em Economia em Inglaterra
(Essex), ensinou em Cambridge. E depois foi viver para Sydney, Austrália, onde
se casou, foi pai e viveu, até ao divórcio, em 2000. Regressou, então, a
Atenas. Um dia foi convidado para uma entrevista diferente. A artista plástica
grega Danae Stratou preparava uma instalação e queria conversar com vários
académicos sobre o projecto. A ideia era: os muros e as fronteiras estão a
espalhar-se por todo o mundo, depois de uma fase em que pareciam condenados a
ser uma relíquia do passado.
Danae
convidara juristas, arquitectos e alguém lhe sugeriu aquele economista. Não se
conheciam. Meses depois, estavam a viajar juntos: do Kosovo a Israel, do Egipto
à Etiópia, dos Estados Unidos a Caxemira. Ela a fotografar e a filmar, ele a
escrever. Além de uma instalação e de um livro (Globalising Walls), em 2008, a
entrevista deu também um casamento.
E é
então que se dá uma reviravolta ainda maior na já agitada vida de trota-mundos
de Varoufakis. A crise financeira de 2007, que começou nos Estados Unidos,
alastrou à Europa. A Grécia foi a primeira “peça do dominó”…
Yanis
Varoufakis foi, durante dois anos (2004-2006), conselheiro do primeiro-ministro
Giorgios Papandreou. Conhecia bem, e de perto, a realidade grega. Mas era,
também, aquilo de que o resto do mundo precisava: um economista grego fluente
em inglês (apesar do sotaque). Começa a ser um convidado cada vez mais regular
das cadeias televisivas internacionais: CNN, Bloomberg, BBC. “Tornei-me uma
celebridade menor”, escreve no seu blogue, mais uma vez rindo de si próprio.
“Antes
de rebentar a crise do euro, em 2009, eu era apenas mais um professor de
Economia, metido nos meus pequenos empreendimentos teóricos, escrevendo teses
obscuras e livros esotéricos que apenas umas escassas centenas de casos
clínicos (como eu) alguma vez iriam ler, terrivelmente satisfeito no meu casulo
académico. Nessa altura, eu nunca poria a hipótese de não responder a um
email.” Enfim, a sua vida, como diz, “transformou-se do dia para a noite”.
Um
“efeito secundário” dessa transformação foi, precisamente, a quantidade
inusitada de emails que passou a receber. Apagava-os, quando lhe soavam a
disparate. Um deles não apagou, quase por acaso. Começava assim: “Sou o
presidente de uma empresa de videojogos…”
Era um
convite laboral, de uma empresa americana. Por sorte, Varoufakis e a mulher
tinham viagem marcada para os EUA, onde iam falar sobre o seu livro conjunto.
Fizeram um ligeiro desvio ao programa e marcaram dois dias em Seattle, onde
iriam conhecer a misteriosa Valve, a tal empresa de videojogos. Logo ao
primeiro contacto percebeu que aquele grupo de pessoas “não era apenas
estranho, era maravilhoso”. E mais: a comunidade económica que tinha criado com
os seus jogos era “o sonho concretizado de um economista”.
Usando a
sua linguagem desbragada, Varoufakis explica porquê: “Encaremos o facto: a
econometria é um travesti.” Ou seja, é uma disciplina que “finge” ter alguma
ligação com a realidade, e com a estatística, mas no fundo não passa de
“astrologia de computador”.
Isto,
explica Varoufakis, impede que os métodos da econometria permitam avaliar, em
retrospectiva, um “se” muito importante: e se não tivesse havido New Deal? E se
não tivesse havido injecção de dinheiro público na crise do subprime?
Num
ambiente “virtual”, com a complexa teia económica criada pela comunidade de
jogadores, Varoufakis podia fazer duas coisas, explica: “ultrapassar a
fronteira entre economia ‘real’ e digital” e recolher importantes “lições de
economia política”.
O acordo
foi fechado: seria um dos primeiros “economistas residentes” numa empresa deste
tipo (o primeiro foi o islandês Eyjólfur Guðmundsson, a quem Yanis agradeceu
“por fazer crer que o meu nome é quase pronunciável”).
E não
era uma empresa qualquer… A Valve tem uma organização flat, horizontal, na qual
não existem hierarquias. A produção de videojogos não se faz a partir de
nenhuma planificação central, com tarefas distribuídas. A empresa organiza-se
em equipas, e é cada equipa que decide o que vai fazer.
É aquilo
a que Varoufakis chama uma “ordem espontânea alternativa” que contrasta com a
tradicional organização das empresas. “O sistema actual de governo das empresas
está obsoleto. Repleto de hierarquias que desperdiçam o talento e as energias,
misturadas com finanças tóxicas, dependentes de estruturas políticas que estão
a perder legitimidade. Uma nova forma de empresa pós-capitalista,
descentralizada, mais tarde ou mais cedo, vai surgir.”
É esta a
convicção do homem que vai entrar, pela primeira vez, no Eurogrupo. Um ministro
que considera que o que precisamos, mesmo, é de “um new deal baseado no
investimento público”, que ajude a combater as três crises: a da dívida, a do
crescimento e a bancária.
Por
falar nisso… “Precisamos de bancos chatos.” Chatos? A frase foi dita depois de
Yanis ter feito uma quase directa. Dormiu três horas nessa noite. Foi a noite
em que a Grécia quase teve um golpe de Estado, depois de o Governo de Samaras,
o anterior primeiro-ministro, derrotado no domingo, ter decidido fechar a
televisão pública (que o Syriza promete reabrir). Varoufakis tinha combinado
com Rui Tavares que gravaria um depoimento para o documentário Ulisses. Mas os
acontecimentos daquele dia 12 de Junho de 2013 impediram-no de comparecer à
gravação. A equipa que filmava o documentário só podia no dia seguinte, às 8 da
manhã. E lá apareceu. Gravou duas versões do que disse, uma em grego e outra em
inglês. E lá explicou o que queria dizer com bancos “chatos”. São aqueles que
recebem o nosso dinheiro, a um juro baixo, emprestam-no a empresas, estados e
pessoas a um juro mais alto, e vivem bem assim.
E essa
não é a única coisa na cabeça de Varoufakis que faz os mercados suspeitarem
mais do seu “radicalismo” do que da sua “moderação”. A prioridade do seu
Governo é combater “a crise social e humanitária”. Isso passa por aumentar o
nível de rendimentos da população, mas também por um crescimento da despesa do
Estado. Um choque frontal com a troika. E com prazos apertados: a Grécia tem de
reembolsar 6,7 mil milhões de euros nos próximos dias 20 de Julho e 20 de
Agosto.
Ele
próprio costuma dizer que tem pelo frente uma “hidra”. “Corta-se uma cabeça e
outra volta a nascer…”
Isto
tudo, quando tinha uma vida calma, afinal. Dava aulas no Texas, na Lyndon B.
Johnson School of Public Affairs, onde os seus alunos o elegeram como “melhor
professor”. Tinha uma actividade cívica e política importante, sim, mas que
podia conjugar com o resto. Com as viagens à Austrália, para estar com a filha,
e com o estudo. Até as suas polémicas intelectuais vão ter de ficar entre
parêntesis, agora. Há poucos meses, destacou-se como um dos poucos economistas
de esquerda a criticar o francês Thomas Piketty pelo seu Capital no Século XXI.
Cheio de argumentos económicos, e com a sua verve habitual, acusou-o de ter
“uma visão ultra-simplificada do capitalismo”.
Agora, o
mundo vai estar sempre do lado de fora de uma janela, como a do Parlamento,
quando falava por telemóvel para a Austrália, ou a das salas de reuniões de
Bruxelas.
E, além
dos problemas que terá de resolver, há um outro que não foi criado por ele nem
por nenhum grego que o tenha antecedido, diz: “O fardo das expectativas…”
Yanis
Varoufakis sabe que há muita gente que espera dele uma mudança real. À ABC
australiana contou que, durante a campanha, deu uma entrevista a um jornal
espanhol, que levava um intérprete grego. Esse intérprete, no fim, contou-lhe
em grego, sem que os jornalistas ouvissem, que era, antes da crise, professor
de línguas. Ficou desempregado. Perdeu a casa. Agora vive na rua e tem
trabalhos esporádicos.
Talvez o
fardo seja demasiado pesado. O que pensa o ministro das Finanças: “Nós queremos
abrir uma pequena porta para a luz de Dylan Thomas entrar.”
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