terça-feira, 4 de novembro de 2014

“Não é admissível estrangeiros decidirem”

Não, este texto não se refere a uma atitude soberana de Portugal perante a crescente dependência  económica e estratégica do exterior ...
Refere-se a uma atitude soberana de Timor perante Portugal ...
OVOODOCORVO.

“Não é admissível estrangeiros decidirem”

Apesar de “muito dura”, a expulsão decidida pelo Governo de Timor é o culminar de um malestar que dura há mais de uma década. Quem o diz é Pedro Bacelar Vasconcelos, o português que ajudou a redigir a Constituição timorense e que participou em avaliações internacionais da justiça daquele país. A conclusão foi sempre a mesma, recorda: “Não é admissível serem estrangeiros a decidir” os casos da justiça timorense, em especial em questões melindrosas, como o petróleo ou a corrupção dos governantes. Já em 2005 as avaliações internacionais davam conta da necessidade de depositar esta função de soberania exclusivamente nas mãos dos timorenses. Daí que, na resolução em que expulsa os funcionários judiciários internacionais, o Governo de Timor alegue que a sua presença constitui “uma ameaça aos interesses e à dignidade do país”, invocando mesmo a necessidade de garantir a segurança nacional e a ordem pública – e de salvaguardar a soberania nacional. A resolução anuncia uma auditoria ao sistema judicial. “Em Timor existe uma situação neocolonial na justiça, com origem em constrangimentos difíceis de ultrapassar no curto prazo, próprios de um país jovem”, explica. Ainda assim, defende que aos estrangeiros só deve caber um papel de assessoria e formação dos magistrados timorenses. As repetidas condenações do Estado nos litígios sobre o pagamento de taxas pelas petrolíferas com concessões são vistas como lesivas dos interesses de Timor. E algumas delas foram assinadas por juízes portugueses, tal como outras que sentenciaram governantes.

Ana Henriques / PÚBLICO / 4-11-2014.

Juízes revoltados com Timor
31.10.2014

Joana Ferreira da Costa

joana.f.oosta@sol.pt


 Timor acabou com contratações internacionais, alegando falta de competência. Dez juízes e procuradores portugueses estão à espera de instruções.

A demissão pelo Governo de Timor-Leste de todos os juízes e procuradores estrangeiros no país, a maioria portugueses, «é gravíssima» e deve levar Portugal a repensar o envio de profissionais de Justiça para aquele país, defendem ao SOL juízes e magistrados do Ministério Público (MP).

«A situação é muito preocupante e lança a suspeita generalizada sobre a competência dos nossos juízes, que têm um currículo sem mácula», defende ao SOL o presidente da Associação Sindical dos Juizes, Mouraz Lopes, lembrando que o caso é inédito.

«Como os portugueses são independentes e o Governo de Timor não os consegue controlar, encontrou uma solução política para os retirar do território» – acusa, por sua vez, Rui Cardoso, presidente do Sindicato dos Magistrados do MP, numa alusão ao facto de figuras próximas do poder e até governantes timorenses estarem sob investigação ou a serem julgados. A resolução fez adiar sine die, por exemplo, o julgamento da ministra das Finanças, Emília Pires, acusada de corrupção, que ia começar esta segunda-feira.

Ao que o SOL apurou os sete juízes e três procuradores portugueses no país foram «totalmente apanhados de surpresa» pela resolução do Governo de Xanana Gusmão, que há uma semana pôs fim a todas as contratações internacionais na Justiça.

Apoiado por uma resolução do Parlamento, do mesmo dia, o primeiro ministro, alegou que estes funcionários têm falta de «capacidade técnica para atingirem os fins para os quais foram contratados» e acusou os que estão colocados na Comissão Anti-Corrupção de não abrirem investigações «em conformidade com os indícios criminais».

A decisão deixou em suspenso os funcionários portugueses que estão no território ao abrigo de acordos de cooperação entre os dois Estados, que aguardam agora por instruções do Ministério dos Negócios Estrangeiros (MNE). Por isso, ao que o SOL apurou, continuaram esta semana a apresentar-se ao trabalho, nos tribunais e organismos onde estão integrados.

Já os funcionários do Centro de Formação Jurídica do país terão recebido instruções da Justiça de Timor-Leste para não se apresentarem a partir de quarta-feira.

Fonte oficial do Conselho Superior de Magistratura (CSM), que esta terça-feira levou o caso a plenário, garante que a situação é «preocupante». O organismo tem estado em contacto com alguns dos juizes em Timor, mas não avança com detalhes sobre o que pode acontecer nos próximos dias. Garante, contudo, estar a «acompanhar a situação de forma articulada, com o Ministério da Justiça e o MNE».

Machete mantém fé na cooperação

A incógnita sobre o futuro põe também em causa a chegada de novos magistrados portugueses ao território. Segundo o CSM, outros quatro juizes estão já seleccionados para irem trabalhar em Timor-Leste, mas não têm data definida para assumirem funções.

Para Rui Cardoso, este caso «devia levar o Governo a ponderar a manutenção da cooperação com Timor nesta área».

Fonte oficial do Ministério de Rui Machete esclarece que está em contacto com o Governo de Timor e reitera «a sua inteira disponibilidade para continuar a cooperação com Timor nos mais diversos sectores, incluindo o sector da Justiça».


SOL | Sexta, 31 Outubro 2014

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