segunda-feira, 6 de maio de 2019

Quarteirão da Portugália terá prédio com 16 pisos para tratar “uma ferida urbana que tarda em ser sarada”/ Há um plano para construir uma torre de 16 pisos no quarteirão da Portugália






Tratar “uma ferida urbana que tarda em ser sarada” !?
Ou transformar essa ferida numa gigantesca 'borbulha' que constitui um atentado à unidade de volumetrias e escalas do quarteirão e da zona !?
Sobre o Fundo Sete Colinas, fundo Imobiliário Alemão, ver link http://www.fundosetecolinas.com/pt/fundo/
OVOODOCORVO

Quarteirão da Portugália terá prédio com 16 pisos para tratar “uma ferida urbana que tarda em ser sarada”
No Portugália Plaza vai ser erguido um prédio com 16 pisos. O antigo edifício da Fábrica da Cerveja e o famoso restaurante vão ser reabilitados. Câmara considera o projecto “uma mais valia urbana”, capaz de suprir “uma ferida urbana que tarda em ser sarada”. Projecto está em consulta pública.

Cristiana Faria Moreira
Cristiana Faria Moreira 6 de Maio de 2019, 22:06

Foi um quarteirão sempre ligado à cerveja, pelo menos desde que em 1912, num grande terreno na Avenida Almirante Reis, hoje freguesia de Arroios, em Lisboa, foi construída uma fábrica para a sua produção. Desde então, foi sempre uma história com altos e baixos, até que a moderna fábrica e os terrenos à sua volta caíram no abandono. Nos próximos dois anos, prevê-se, porém, que ganhem nova vida com a construção de um loteamento no quarteirão. No Portugália Plaza — assim se chama este projecto — vão ser erguidos quatro prédios, sendo que um deles terá 16 pisos e 60,2 metros de altura, avançou o Diário de Notícias na sua edição de sábado. O que resultará numa torre com impacto visual considerável, se a observarmos, por exemplo, do miradouro da Penha de França ou do de Monte Agudo.

Inserido na intersecção da Avenida Almirante Reis, Rua Marques da Silva, Rua António Pedro e Rua Pascoal de Melo, está projectado e aprovado pela câmara de Lisboa, um mega-empreendimento que será composto por cinco blocos. Além dos quatro prédios novos, o antigo edifício da Fábrica da Cerveja e o famoso restaurante vão ser reabilitados. “Apesar do generalizado mau estado de conservação da Fábrica”, a proposta “visa manter o máximo possível das pré-existências”, como os pilares metálicos e respectivos capitéis, as lajes abobadilhas, do que confronta com a Avenida Almirante Reis, lê-se na memória descritiva do projecto que consta no processo que está disponível para consulta pública. Os munícipes que queiram saber mais sobre o projecto e apresentar sugestões podem fazê-lo no centro de documentação no edifício da câmara no Campo Grande ou na Junta de Freguesia de Arroios. Uma vez que a volumetria do novo quarteirão ultrapassará o que é permitido pelo actual Plano Director Municipal de Lisboa, o projecto deve ser submetido a consulta pública.

Este será um projecto sobretudo habitacional, estando prevista a construção de 85 apartamentos numa zona central da cidade com tipologias entre o T0 e o T4. Terá ainda 16 escritórios e espaços de co-work e uma zona comercial no piso térreo que rodeará as duas praças interiores que serão criadas e pelas quais será possível circular entre a Avenida Almirante Reis e a Rua António Pedro. Estão previstos ainda cinco pisos subterrâneos, sendo que serão também criados 65 lugares de estacionamento para habitação, 67 para uso comercial e 288 lugares de estacionamento público coberto. O projecto incluirá também uma parte reservado a residências, no entanto, não são avançados mais pormenores.

A fábrica albergará também espaços de restauração do piso térreo, constituindo a nave-norte uma extensão do restaurante Portugália. Já os pisos superiores serão espaços de escritórios. Os prédios mais baixos, que deverão ter cinco andares, terão acabamentos em pedra lioz. No caso do prédio mais alto, este será em envidraçado.

Segundo é referido na memória descritiva que consta no processo, está ainda prevista a cedência de um equipamento com 1400 metros quadrados: será um “espaço multiusos, de âmbito cultural”, localizado na parcela do quarteirão que está actualmente ocupada pelo edifício Plasana, que será intervencionado numa fase posterior do projecto (e para o qual já existe um PIP aprovado).

Apesar de o lote ser totalmente impermeabilizado, o Departamento de Licenciamento considerou esta nova proposta — houve já um projecto para o local que acabou rejeitado pela autarquia — “mais urbana, mais vivenciada e de maior e melhor usufruto público do espaço”. A intervenção dos espaços públicos passará pela integração de estruturas horizontais e verticais de água e vegetação, como trepadeiras. Um ponto curioso sobre o projecto está na manutenção e integração de cabos suspensos, lembrando os antigos eléctricos que por ali passavam, e que servirão de apoio à iluminação e ao crescimento da vegetação.

As obras custarão perto de 40 milhões de euros e têm duração prevista de dois anos. Por isso, no final do primeiro trimestre de 2022 deverão estar concluídas. O promotor é o Fundo Sete Colinas, gerido e representado por Silvip – Sociedade Gestora de Fundos de Investimento Imobiliário. O projecto de arquitectura é da autoria do gabinete ARX Portugal, dos arquitectos Nuno Mateus e José Mateus, que ganharam um concurso de ideias lançado em 2016 pela Essentia Portugal, que coordena a obra, depois de a primeira proposta ter sido então rejeitada pelo município.

É por isso que os serviços de camarários que apreciaram o projecto entendem que o presente projecto é “uma mais valia urbana, face ao anterior licenciado, reduzindo a área edificável, desmaterializando e desconstruindo a imagem adensada de quarteirão”. E que este possibilita a “supressão de uma ferida urbana que tarda em ser sarada e que se arrisca em eternizar”.

De acordo com a agência Lusa, a câmara de Lisboa vai apresentar publicamente o projecto, depois de os vereadores do PSD terem “exigido” que a autarquia agendasse, “para breve”, duas apresentações públicas. Segundo o comunicado dos sociais-democratas citado pela Lusa, o período de consulta pública, que deveria terminar a 13 de Maio, será prorrogado.


Há um plano para construir uma torre de 16 pisos no quarteirão da Portugália
In Diário de Notícias (4.5.2019)

Abandonados há décadas, os terrenos do quarteirão da Cervejaria Portugália, na Avenida Almirante Reis, preparam-se para ser urbanizados com 85 apartamentos por um fundo imobiliário alemão. Um dos edifícios tem 60 metros de altura e está no centro de uma enorme polémica.

Quem desce a Avenida Almirante Reis, em Lisboa, encontra a Portugália do lado direito. Todo o quarteirão que começa na mítica cervejaria, atravessa a fábrica de cerveja em ruínas e termina no centro comercial. Esse último prédio foi casa de pelo menos dois ícones lisboetas: o jornal O Independente e a loja de música Carbono. Acima do solo, ergue-se a 21,75 metros, o que faz dele um dos mais altos da avenida. Agora vai nascer uma outra torre, com o triplo da altura. O Portugália Plaza cresce para 60,20 metros. E, em vez dos atuais cinco, vai ter 16 andares.

O projeto da parcela norte da urbanização está feito, tem parecer positivo do departamento de urbanismo da Câmara Municipal de Lisboa e em consulta pública até 12 de maio. É obrigatório que assim seja, porque a volumetria do novo quarteirão lisboeta requer estatuto de exceção em relação ao PDM atual. E se é inquestionável que o Portugália Plaza recupera terrenos que estão abandonados há décadas, também é verdade que o empreendimento está longe de ser consensual.

"Isto é pura e simplesmente um absurdo", diz ao DN Ana Jara, arquiteta e vereadora da Câmara de Lisboa pelo PCP. "Não tinha dúvidas de que, num antigo terreno industrial abandonado há décadas, teria de se pensar num novo uso. E nem sou por princípio contra a arquitetura de rutura, como esta é. Mas as exceções têm de servir um propósito público e esta só tem interesse para os investidores privados. Nunca existiu um edifício assim na Avenida Almirante Reis, um eixo essencial e histórico de Lisboa - e abrir este precedente é assumir uma cidade que não serve o interesse dos cidadãos."

O Portugália Plaza é sobretudo um projeto habitacional, que vai criar 85 novos apartamentos numa das zonas mais apetecíveis da capital portuguesa. Serão cinco fogos T0, 44 fogos T1, 17 fogos T2, 17 fogos T3 e dois T4. Tem, além disso, 16 escritórios e espaços de cowork, mais uma zona comercial no piso térreo, que vai rodear duas praças interiores. Será possível transitar pelo meio do quarteirão entre a Avenida Almirante Reis e a Rua António Pedro, algo que até agora não acontecia.

As obras custam 40 milhões de euros e os investidores preveem que estejam concluídas até ao final do primeiro trimestre de 2016. David Teixeira, o diretor operacional do projeto que agora está em consulta pública, diz que a torre de 16 pisos aposta num novo conceito de habitação urbana: o co-living. "É um conceito inovador focado na convivência, garantindo a privacidade através da oferta de unidades de habitação de tipologias mais pequenas e a partilha de áreas comuns, que potenciam o sentido de pertença através da concretização de eventos inspiradores." Dá um exemplo: "Na praça interior podemos ter sessões de cinema ao ar livre."

David Teixeira trabalha para a Essentia, a empresa que coordena os projetos do Fundo Imobiliário Fechado Sete Colinas. Criada em 2006, o Sete Colinas tem sede no edifício da Caixa Geral de Depósitos mas pertence a um grupo de investimento alemão - que não aparece na maior parte dos registos, segundo a Essentia porque quer "manter um perfil discreto". Têm uma carteira volumosa de investimentos imobiliários na cidade, orçada em 550 milhões de euros, e apostando sobretudo nos setores da hotelaria e dos condomínios de luxo.


A cervejaria Portugália permanecerá como marco da cidade.© Paulo Spranger/Global Imagens
Quem gere este Fundo é a SilVip, gestora imobiliária que conta entre os seus acionistas com José Manuel Pinheiro Espírito Santos Silva, administrador do BES no período de vigência de Ricardo Salgado - que por sua vez é primo de Manuel Salgado, vereador de Urbanismo da Câmara Municipal de Lisboa. A operacionalidade dos trabalhos foi, no entanto, sempre assegurada pelo terceiro parceiro. A Essentia abriu inclusivamente um concurso a arquitetos em 2016, depois de uma primeira versão do Portugália Plaza ser rejeitada pelo município.

O concurso de ideias para o quarteirão da Portugália envolveu oito gabinetes de arquitetura e o júri foi presidido por Juhani Pallasmaa, professor e crítico finlandês, figura incontornável da arquitetura e cultura contemporâneas. E, aos seus olhos, o projeto que os irmãos Nuno e José Mateus, da ARX, venceram tem vantagens inquestionáveis: "Esta proposta completa o quarteirão da Portugália de uma forma convincente, equilibrada, enriquecedora e sem esforço", disse na sua avaliação.

Sobre a rutura com o espaço envolvente, foi igualmente claro: "Os novos edifícios propostos ecoam a escala, o grão, o carácter e a coloração do ambiente vizinho, que, conectados com o espaço público ao ar livre, é provável que antecipem a direção do futuro desenvolvimento urbano nesta área de Lisboa."

Margarida Martins, presidente da Junta de Freguesia de Arroios, não tem uma opinião formada sobre o edifício, nem quer pronunciar-se sobre a sua volumetria numa altura em que o projeto está em discussão pública. "Era uma lixeira a céu aberto, fico contente que haja finalmente uma intervenção." Mas também analisa o conjunto urbano da freguesia. "Temos um edificado muito estabelecido, é muito difícil encontrarmos novos espaços para construir jardins ou equipamentos desportivos." Uma parte do Portugália Plaza será cedida como equipamento público e as duas praças interiores terão como principais elementos o verde e a água. Os promotores acreditam que "o projeto criará uma nova centralidade em termos de recreio e lazer ao ar livre".

Mas é também em Arroios que se sente o "assalto às habitações da capital", nas palavras de Margarida Martins. Na parte sul da freguesia, a zona do Intendente, vários residentes têm saído para verem as suas casas darem lugar a alojamentos locais. Na parte norte, como a zona da Portugália, verifica-se um aumento brutal de rendas de longa duração, expulsando as classes menos abastadas do centro da cidade. "Em quatro anos, as rendas triplicaram."

"Uma Lisboa saudável tem de ter espaço para todos", diz a presidente da Junta de Freguesia de Arroios. "Arroios sempre foi a zona dos artistas, das classes trabalhadoras, e perdermos essa característica é uma perda para toda a cidade." Exige-se por isso um plano rápido de habitações a preços controlados. O quarteirão da Portugália, no entanto, caminha num sentido diferente. "São 85 apartamentos com layout e design funcionais e contemporâneos, dirigidos a famílias e jovens profissionais portugueses da classe média", diz Diogo Teixeira.

O projeto Portugália Plaza está para consulta pública até 12 de maio, na sede da Junta de Freguesia de Arroios e no centro de documentação DMEM, no edifício da Câmara Municipal de Lisboa no Campo Grande. Aí, os cidadãos podem fazer as suas sugestões ao município. Ana Jara, vereadora comunista, preferia um processo de esclarecimento antes da abertura da consulta. "Uma coisa é certa, vamos discutir isto intensamente na Assembleia Municipal."

Entretanto, já no domingo, a CML decidiu organizar duas reuniões de esclarecimento aos munícipes sobre este projeto - ainda sem data anunciada.»

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