Autocaravanas transformam a costa alentejana num “bairro de
lata” com vista para o mar
Chegam, na sua maioria, do norte da Europa, invadem parques
de estacionamento, ocupam as falésias, não respeitam sinais de trânsito e
deixam um rasto de sujidade e de práticas ilegais.
Carlos Dias 10 de Maio de 2019, 7:36
Os autarcas não têm dúvidas: apesar das regras e
sensibilização, a situação só piora. Por toda a costa, de Sines a Sagres,
multiplicam-se as “casas com rodas”, poluentes e que criam uma barreira de lata
à beira-mar. A Associação de Freguesias do Parque Natural do Sudoeste
Alentejano e Costa Vicentina (PNSACV), que integra as freguesias dos concelhos
de Sines, Odemira, Aljezur e Vila do Bispo, aprovaram recentemente uma tomada
de posição contra o autocaravanismo sem regras. E exigem das entidades
fiscalizadoras maior capacidade de intervenção e alterações à lei para pôr
termo a um problema que “se agravar, tornando-se potencialmente gerador de
conflitos”.
No comunicado enviado ao PÚBLICO, a associação de freguesias
refere que a pressão do auto-caravanismo selvagem incide mais nas praias do
Malhão, Aivados, Furnas, Alteirinhos, Odeceixe, Amoreira, Monte Clérigo,
Bordeira, Amado, Vale Figueira, Cordoama, Ingrina, Zavial, Barranco, Tonel,
Mareta, Beliche entre outras.
Teresa Neta, residente em Sines, descreveu ao PÚBLICO as
consequências de um “turismo desenfreado e desrespeitador que está a ameaçar
uma das mais belas zonas e de maior interesse paisagístico e ecológico da Costa
Alentejana e Vicentina”. Os estacionamentos junto à orla marítima de Porto
Covo, nomeadamente o da Praia Grande, “estão a ser tomados de assalto por
autocaravanas, com total desrespeito pela sinalética e pelos passeios, muitos
deles já com sinais de destruição, tornando-os zonas de campismo ilegal,
desordeiro e extremamente funesto.”
Também o presidente da Assembleia de Freguesia, Bruno
Cabecinha, se insurge contra um cenário “indescritível” destacando a “falta de
respeito” dos que chegam a Milfontes em “roulotes, carros e carrinhas”. Quando
partem, deixam “montureiras” de lixo, de onde sobressaem “dodots, papel
higiénico e fraldas de bebé”, deixando o espaço onde permaneceram em condições
de salubridade e higiene “tão degradantes” que causam um misto de revolta e de
repulsa na população de Milfontes, que passou a “viver alarmada” com as
atitudes agressivas dos caravanistas quando lhes chamam a atenção.
“O fenómeno deste tipo de caravanismo selvagem, está a
atingir proporções inimagináveis”, sublinha o autarca de Milfontes. “Não há
praia, vila, pinhal ou miradouro que não esteja apinhado de caravanas de
turistas espanhóis, franceses, alemães, etc”, sem que estejam sujeitos a qualquer
restrição, explica Bruno Cabecinha, realçando a questão da segurança, que não
pode ser menosprezada, “já que a livre circulação destas viaturas propicia todo
o tipo de práticas ilegais e criminosas.”
Tanto a costa alentejana como a costa vicentina, onde
prevalece “uma beleza natural que se pretende preservada”, estão transformadas
“num autêntico bairro de lata” por aqueles utilizadores que ocupam o território
com caravanas e “usam as dunas, caminhos e trilhos como instalações
sanitárias”, salienta o autarca.
Usam e abusam
O problema maior, prossegue Bruno Cabecinha, reside nas
viaturas que foram transformadas em autocaravanas e aparecem “às centenas”,
impedindo o acesso às praias e “tapando as vistas daqueles que pagam um preço
elevado para se hospedarem em locais onde possam comer ou dormir a ver o mar”.
Outro comportamento grave reside no desrespeito pelos sinais
de trânsito. “Usam e abusam” da circulação em sentido contrário, estacionam
onde não podem e chegam a ficar presos quando circulam nas ruas mais estreitas,
prossegue o presidente da Assembleia de Freguesia de Milfontes, frisando que “é
o supermercado local e a bomba de gasolina que ganham com a situação”. O
comércio da restauração, pensões, pousadas ou hotéis não merecem a preferência
dos caravanistas.
A associação de freguesias do PNSACV refere no seu
comunicado que este é um assunto “do conhecimento” da secretaria de Estado do
Turismo e já foi tema abordado em audiências de comissões parlamentares, nas
quais participaram autarcas locais e representantes da Associação dos Parques
de Campismo do Alentejo e Algarve (APCAA). Salientam ainda que as direcções
regionais de Turismo do Alentejo e do Algarve, bem como o Instituto de
Conservação da Natureza e Florestas (ICNF) e autoridades locais, “estão cientes
desta problemática.”
Os autarcas consideram que se torna cada vez mais
“indispensável haver uma fiscalização mais eficaz destas actividades,
especialmente em zonas sensíveis como a do PNSACV”, pois apesar das várias
acções de sensibilização desenvolvidas para a alteração de “hábitos e actos
abusivos, a verdade é que a situação está cada vez pior”.
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