quarta-feira, 22 de maio de 2019

É (quase) oficial: António Costa está de partida de Portugal (é o candidato de Macron para a Comissão Europeia) / O populismo na era de Hortense Martins




Será verdade …?  … que o ‘caminho aberto’ anunciado pelo Costy quando fez o ‘flic flac’ da CML para Primeiro Ministro, confirmando-se como mago e acrobata, vai ter agora seguimento na Europa ?
Ai, ui, … esta sucessão de acrobacias vai inevitávelmente cansar muita gente, enquanto e entretanto, a erosão da escandaleira do nepotismo no aparelho do PS irá tornar-se impossível de negar e esconder…
OVOODOCORVO

É (quase) oficial: António Costa está de partida de Portugal (é o candidato de Macron para a Comissão Europeia)

Do que ficou exposto resulta, destarte, que António Costa se afigura como a personalidade política que melhor poderá reunir consensos entre várias forças políticas representadas no Parlamento Europeu, formando uma espécie de geringonça europeia.

21/05/2019
João Lemos Esteves

1. É a imagem da campanha: Pedro Marques a olhar fixamente, entre o desconfiado e o perplexo, para o boneco do Noddy. Muito provavelmente, Pedro Marques – o cabeça-de-lista do PS às europeias do próximo domingo, que ninguém conhece – identificou-se com a personagem infantil: é que, tal como o genérico daquele desenho animado canta que se “abram alas para o Noddy”, Pedro Marques só é candidato ao Parlamento Europeu para abrir alas para o Costy, o seu “Querido Líder”. A escolha de Pedro Marques, como já explicámos no nosso artigo anterior aqui no i, foi apenas motivada pela ambição de António Costa ir, rapidamente e em força, para Bruxelas – é, pois, mais uma negociata à PS de Costa. A lista do PS às europeias não passa de uma comunhão de interesses: António Costa precisa de uma pessoa de confiança em Bruxelas, que lhe abras alas para um lugarzinho qualquer; Pedro Marques, por seu turno, deixou-se encantar pelo salário muito apetitoso e as mordomias que só a União Europeia consegue oferecer. Portanto, lá vai Pedro Marques abrir alas para o Costy, Costy!

2. E o nosso Costy parece estar com sorte. Na sequência do nosso texto da passada semana aqui no i, a informação que avançámos de que António Costa está preparando a sua fuga para Bruxelas não só não foi desmentida como foi reforçada: afinal, o nome de Costa circula nos bastidores da União Europeia como provável futuro… presidente da Comissão Europeia. Dirão os leitores mais cautos: tal será impossível, pois os candidatos à comissão já são conhecidos, já realizaram, inclusivamente, debates entre si. Tal objeção não procede: embora, alegadamente no âmbito de um reforço do processo democrático europeu, se tenha exigido que as forças políticas europeias apresentem o seu candidato à liderança da Comissão Europeia (o Spitzenkandidat), a verdade é que a escolha de uma destas personalidades não é obrigatória. O que significa que a liberdade dos líderes europeus e do Parlamento Europeu é – do ponto de vista jurídico – total, podendo desprezar por completo os candidatos apresentados ao eleitorado europeu.

3. Quais são os requisitos juridicamente vinculativos para a escolha do presidente da Comissão Europeia? Primeiro, os líderes europeus têm de ter em consideração os resultados das eleições europeias; segundo, o presidente da comissão terá de ser aprovado por uma maioria qualificada no conselho e por maioria absoluta no Parlamento Europeu. Pois bem, atendendo à possível fragmentação política no parlamento que resultará das eleições de domingo, será necessária uma dose significativa de negociação, paciência e habilidade para formar a próxima Comissão Europeia. Das próximas eleições europeias resultará, pois, uma nova composição política que será uma verdadeira… geringonça. Pois bem, habilidade, negociação no sentido de compra de votos, geringonça e perceção de que o sistema alcançou o seu “grau zero” remetem-nos para quem? Para o geringonçado António Costa, pois claro! É oficial: António Costa já está em pré- -campanha para se mudar para Bruxelas – nos últimos dias, os contactos com embaixadas de países europeus em Lisboa intensificaram-se (com França e Alemanha à cabeça); hoje, Costa jantará com Emmanuel Macron em Paris. António Costa é definitivamente o candidato da França de Macron à Comissão Europeia, podendo, por esta via, o socialista geringonçado português juntar, ao dos socialistas, o apoio dos liberais.

4. Isto, além de António Costa não gerar resistências junto dos setores políticos mais à esquerda: os verdes não afastarão um voto favorável à escolha de Costa; assim como o Grupo Confederal da Esquerda Unitária não poderá negar a sua concordância com a escolha de Costa – afinal de contas, neste grupo político europeu estão integrados o BE e o PCP (em Bruxelas estão juntinhos!), que formaram um Governo informal em Portugal com o mesmo líder geringonçado poucochinho. Acresce ainda que a CDU alemã – líder de facto do PPE, o grupo mais conservador do Parlamento Europeu, onde se juntam PSD e CDS – elogiou por diversas vezes (por conveniência estratégica e oportunismo tático, em função dos interesses específicos da Alemanha) o trabalho de Costa. Seria, pois, contraditório que a CDU alemã rejeitasse a candidatura de António Costa – aliás, o (quase ex-)primeiro-ministro já fez questão de recordar este pormenor a alguns políticos e diplomatas alemães… Do que ficou exposto resulta, destarte, que António Costa se afigura como a personalidade política que melhor poderá reunir consensos entre várias forças políticas representadas no Parlamento Europeu, formando uma espécie de geringonça europeia.

5. No fundo, os líderes europeus querem que António forme uma comissão geringonçada que permita isolar a nova força política (muito provavelmente, pujante) dos ditos populismos – unindo todo o outro bloco, desde os radicais de esquerda até ao PPE. É seguramente esta a ideia de Emmanuel Macron, que dirá no jantar de hoje, em Paris e em privado, com António Costa. Adicionalmente, Macron terá uma vantagem: passará definitivamente a ser o “Senhor Europa”, pois o dever de fidelidade de António Costa será para com ele – e não para com a Alemanha, o que representará uma mudança significativa da Realpolitik europeia dos últimos (longos) anos… Macron tentará, por esta via, mostrar uma imagem de autoridade na Europa – que não consegue mostrar no próprio país que governa. Importa ainda referir um aspeto que tem sido ignorado: já compararam o programa (se é que se pode falar de um programa…) político do PS para estas europeias com a mensagem política de Emmanuel Macron? É que são iguais! O PS limitou--se a fazer um copy-paste das mensagens do Presidente Macron sobre o futuro da Europa, repetindo-as aqui para consumo doméstico. Em rigor, até a ideia do “novo contrato social” é uma imitação rasca do “nouveau contrat social” que o Presidente francês divulgou no final do ano passado!

6. Não deixa de ser curioso constatar que o mesmo António Costa que chegou ao poder em Portugal através de golpada, desprezando convenções constitucionais da democracia portuguesa, será o mesmo António Costa que (provavelmente) chegará à liderança da Comissão Europeia por via de mais uma golpada em que se desprezarão os candidatos que foram apresentados ao eleitorado e a regra instituída em 2014… É apenas o padrão costista de atuação.

 joaolemosesteves@gmail.com

Escreve à terça-feira



O populismo na era de Hortense Martins

O ruidoso silêncio do PS, ampliado pelo alheamento cúmplice de todos os partidos, sobre a história da deputada Hortense Martins é mais uma prova cabal de que as os aparelhos continuam sem se preocupar com a defesa da decência no exercício de funções públicas.

Manuel Carvalho
22 de Maio de 2019, 6:30

Para nosso orgulho lá fora e para a nossa felicidade no país, as sondagens continuam a mostrar que o sistema partidário permanece blindado à emergência dos partidos extremistas, xenófobos e populistas. Mas, para nosso infortúnio e para a nossa vergonha esse magnífico estatuto não decorre da lisura, probidade e empenho dos partidos em restaurar a credibilidade e transparência na vida política.

O ruidoso silêncio do PS, ampliado pelo alheamento cúmplice de todos os partidos, sobre a história da deputada Hortense Martins é mais uma prova cabal de que os aparelhos continuam sem se preocupar com a defesa da decência no exercício de funções públicas. Desta vez, como em tantas outras, aplicou-se a estratégia habitual: assobiar para o lado e esperar que o tempo apague o triste exemplo da deputada.

Nessa estratégia, o relativismo é que conta. A deputada socialista, e presidente da distrital de Castelo Branco não foi alvo de acusação judicial, dirão alguns. Outros lembrarão que em causa estão irregularidades formais. Todos estes expedientes servem para desviar as atenções. O que está em causa é a necessidade de se fazer um julgamento político dos actos e comportamentos de Hortense Martins que a investigação do jornalista José António Cerejo revelou.

Quando o candidato Pedro Marques diz a propósito do uso de fundos europeus fora das regras ou da violação do registo de interesses por parte da deputada que “todas as matérias são averiguadas”, porque “tudo tem de estar sempre em pratos limpos”, está a coibir-se de dizer o que tinha o dever de dizer: que a deputada não tem condições para se conservar no cargo. Ou, ao menos, que não deve fazer parte das listas do PS às próximas eleições.

Esperar que os políticos façam parte de uma casta de eunucos é digno dos mais espúrios discursos populistas. Mas se esses discursos existem é também porque a tolerância dos partidos à venalidade ou ao abuso dos seus representantes os incentivam. Em casos como os de Hortense Martins, ou nos casos de deputados que falsificam presenças no Parlamento, ou abusam dos subsídios de deslocação ou de residência, ninguém deve clamar por uma condenação sumária nem por qualquer violação da presunção de inocência.

Pede-se sim que os partidos sejam exigentes com a ética e comprometidos com o exemplo e afastem quem prevarique. No caso, basta verificar datas e facturas. Basta observar registos que existem na Assembleia. Manter o ar enfastiado sempre que um deputado é apanhado em contrapé é acentuar a descredibilização da democracia e dar um abraço de apoio ao extremismo.



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