sexta-feira, 24 de maio de 2019

Palacete que esteve em vias de proteção transformado em empreendimento de luxo no Porto



Palacete que esteve em vias de proteção transformado em empreendimento de luxo no Porto

Porto, 22 mai 2019 (Lusa) - A Quinta do Vilar, junto ao Palácio de Cristal, no Porto, que esteve em vias de proteção, está a ser transformada num empreendimento de luxo que contempla a remodelação do palacete centenário e a construção de 43 novos apartamentos.

Lusa
22 Maio 2019 — 18:13

A Quinta do Vilar ou Quinta Pacheco Pereira, como é também designada na página da Direção-Geral do Património Cultural (DGPC), esteve em vias de proteção, em 2004, contudo o procedimento acabou por caducar, mesmo depois de o prazo ter sido prorrogado por duas vezes, a primeira vez em 2010 e posteriormente em 2012.

Segundo a informação disponibilizada pela DGPC, o procedimento de proteção do imóvel caducou nos termos do "Artigo n.º 78 do Decreto-Lei n.º 309/2009, DR, 1.ª série, n.º 206, alterado pelo Decreto-Lei n.º 265/2012, DR, 1.ª série, n.º 251 de 28 dezembro 2012, que faz caducar os procedimentos que não se encontrem em fase de consulta pública".

O empreendimento que "se desenvolve no ângulo S, formado pela Rua do Vilar com a Rua do Abade Baçal", e que está agora ser comercializado por várias imobiliárias, é retratado como "um importante espaço da memória da cidade, que hoje se conserva nas suas características oitocentistas integrado nos 'caminhos do romântico'".

Segundo a DGPC, as mais antigas referências documentais conhecidas sobre a Quinta do Vilar ou do Pacheco Pereira, que durante séculos esteve na posse desta família, "remontam ao século XVI, quando uma muito mais vasta propriedade, denominada Casal do Vilar, que integrava um grande senhorio pertencente à colegiada de Cedofeita, começou a ser dividida".

Esta desintegração do primeiro senhorio continuou no século seguinte, surgindo no século XVII várias quintas nesta zona, entre as quais a do Vilar cujo jardim "em socalcos" descia até à casa Tait.

A particularidade da Quinta do Vilar e da Quinta de Recreio Tait, lê-se na descrição publicada no sítio oficial da DGPC, "reside no facto de se inscreverem, hoje, na malha urbana do Porto, conservando ainda as suas estruturas, como o sistema hidráulico que não apenas serviu os espaços de produção mas também os jogos de água das fontes e canaletes que se encontram nos jardins".

Ainda de acordo com a informação disponibilizada, o palacete da Quinta do Vilar "teria sido edificado entre 1709 e 1715, desenvolvendo-se em quatro frentes, com dois pisos e entrada ao centro da fachada principal", edifício que está agora a remodelado para habitação.

"O empreendimento Quinta de Vilar está situado num dos locais mais emblemáticos da cidade do Porto. Com vistas para o mítico Rio Douro, o projeto é constituído pela remodelação do palacete com 300 anos juntamente com a construção nova de 43 apartamentos. Esta conjugação torna o empreendimento Quinta do Vilar num projeto arquitetónico de referência, onde a história, modernidade, conforto, qualidade e design estão interligados", lê-se na página de uma das imobiliárias que estão a comercializar o empreendimento.

O empreendimento é composto por T0, T1, T2 e T3, cujos valores de comercialização vão deste os 115 mil euros (T0) aos 500 mil euros (T3).

Questionada pela Lusa, a Câmara do Porto esclarece que o projeto de arquitetura foi aprovado pelo ex-vereador de Urbanismo Gonçalo Gonçalves, em janeiro de 2013, "para a obra de alteração no Palacete e construção de um novo edifício, destinado a habitação - 43 fogos, que tinha dado entrada em março de 2012 e, por esse motivo, foi solicitado parecer à DGPC, uma vez estava em curso o procedimento de classificação".

Contudo, acrescenta a autarquia, a 31 de dezembro de 2012, o procedimento de classificação da Quinta Pacheco Pereira caducou, pelo que em junho de 2015, o ex-vereador Manuel Correia Fernandes deu despacho de deferimento final, tendo sido emitido o alvará de obras.

O município esclarece ainda que em junho de 2017 foi apresentado projeto de alterações no decorrer da obra, aprovado em novembro do mesmo ano, mas "para estas alterações não foi colhido o parecer da DGPC, atendendo que o processo de classificação tinha caducado em 2012".

Já em fevereiro deste ano, foi apresentado novo projeto de alteração, que ainda não foi despachado e que ainda se encontra em apreciação pelos serviços, e também neste caso, sublinham, "tendo o procedimento caducado em 2012 como já referido, não foi colhido parecer da DGPC".

A autarquia não esclarece, contudo, se aquando do licenciamento deste empreendimento, foram solicitadas medidas de proteção dos elementos históricos identificados no despacho de abertura de procedimento, nomeadamente o jardim e o palacete.

A Lusa tentou ainda obter esclarecimento junto da DGPC, mas até ao momento sem sucesso.

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