Palacete que esteve em vias de proteção transformado em
empreendimento de luxo no Porto
Porto, 22 mai 2019 (Lusa) - A Quinta do Vilar, junto ao
Palácio de Cristal, no Porto, que esteve em vias de proteção, está a ser
transformada num empreendimento de luxo que contempla a remodelação do palacete
centenário e a construção de 43 novos apartamentos.
Lusa
22 Maio 2019 — 18:13
A Quinta do Vilar ou Quinta Pacheco Pereira, como é também
designada na página da Direção-Geral do Património Cultural (DGPC), esteve em
vias de proteção, em 2004, contudo o procedimento acabou por caducar, mesmo
depois de o prazo ter sido prorrogado por duas vezes, a primeira vez em 2010 e
posteriormente em 2012.
Segundo a informação disponibilizada pela DGPC, o
procedimento de proteção do imóvel caducou nos termos do "Artigo n.º 78 do
Decreto-Lei n.º 309/2009, DR, 1.ª série, n.º 206, alterado pelo Decreto-Lei n.º
265/2012, DR, 1.ª série, n.º 251 de 28 dezembro 2012, que faz caducar os
procedimentos que não se encontrem em fase de consulta pública".
O empreendimento que "se desenvolve no ângulo S,
formado pela Rua do Vilar com a Rua do Abade Baçal", e que está agora ser
comercializado por várias imobiliárias, é retratado como "um importante
espaço da memória da cidade, que hoje se conserva nas suas características
oitocentistas integrado nos 'caminhos do romântico'".
Segundo a DGPC, as mais antigas referências documentais
conhecidas sobre a Quinta do Vilar ou do Pacheco Pereira, que durante séculos
esteve na posse desta família, "remontam ao século XVI, quando uma muito
mais vasta propriedade, denominada Casal do Vilar, que integrava um grande
senhorio pertencente à colegiada de Cedofeita, começou a ser dividida".
Esta desintegração do primeiro senhorio continuou no século
seguinte, surgindo no século XVII várias quintas nesta zona, entre as quais a
do Vilar cujo jardim "em socalcos" descia até à casa Tait.
A particularidade da Quinta do Vilar e da Quinta de Recreio
Tait, lê-se na descrição publicada no sítio oficial da DGPC, "reside no
facto de se inscreverem, hoje, na malha urbana do Porto, conservando ainda as
suas estruturas, como o sistema hidráulico que não apenas serviu os espaços de
produção mas também os jogos de água das fontes e canaletes que se encontram
nos jardins".
Ainda de acordo com a informação disponibilizada, o palacete
da Quinta do Vilar "teria sido edificado entre 1709 e 1715,
desenvolvendo-se em quatro frentes, com dois pisos e entrada ao centro da
fachada principal", edifício que está agora a remodelado para habitação.
"O empreendimento Quinta de Vilar está situado num dos
locais mais emblemáticos da cidade do Porto. Com vistas para o mítico Rio
Douro, o projeto é constituído pela remodelação do palacete com 300 anos
juntamente com a construção nova de 43 apartamentos. Esta conjugação torna o
empreendimento Quinta do Vilar num projeto arquitetónico de referência, onde a
história, modernidade, conforto, qualidade e design estão interligados",
lê-se na página de uma das imobiliárias que estão a comercializar o
empreendimento.
O empreendimento é composto por T0, T1, T2 e T3, cujos
valores de comercialização vão deste os 115 mil euros (T0) aos 500 mil euros
(T3).
Questionada pela Lusa, a Câmara do Porto esclarece que o
projeto de arquitetura foi aprovado pelo ex-vereador de Urbanismo Gonçalo
Gonçalves, em janeiro de 2013, "para a obra de alteração no Palacete e
construção de um novo edifício, destinado a habitação - 43 fogos, que tinha
dado entrada em março de 2012 e, por esse motivo, foi solicitado parecer à
DGPC, uma vez estava em curso o procedimento de classificação".
Contudo, acrescenta a autarquia, a 31 de dezembro de 2012, o
procedimento de classificação da Quinta Pacheco Pereira caducou, pelo que em
junho de 2015, o ex-vereador Manuel Correia Fernandes deu despacho de
deferimento final, tendo sido emitido o alvará de obras.
O município esclarece ainda que em junho de 2017 foi
apresentado projeto de alterações no decorrer da obra, aprovado em novembro do
mesmo ano, mas "para estas alterações não foi colhido o parecer da DGPC,
atendendo que o processo de classificação tinha caducado em 2012".
Já em fevereiro deste ano, foi apresentado novo projeto de
alteração, que ainda não foi despachado e que ainda se encontra em apreciação
pelos serviços, e também neste caso, sublinham, "tendo o procedimento
caducado em 2012 como já referido, não foi colhido parecer da DGPC".
A autarquia não esclarece, contudo, se aquando do
licenciamento deste empreendimento, foram solicitadas medidas de proteção dos
elementos históricos identificados no despacho de abertura de procedimento,
nomeadamente o jardim e o palacete.
A Lusa tentou ainda obter esclarecimento junto da DGPC, mas
até ao momento sem sucesso.
Sem comentários:
Enviar um comentário