Palácio Baldaya, a nova casa da cultura de Benfica,
abre as suas portas à comunidade
por O Corvo • 29 Agosto, 2017 •
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Ainda não será o cumprir da perene promessa de construir uma
biblioteca “a sério” numa das mais populosas freguesias de Lisboa, mas os
livros serão protagonistas centrais do renovado Palácio Baldaya, a inaugurar a
1 de setembro. Depois de quase um século a servir de casa do Laboratório
Nacional de Investigação Veterinária (LNIV), o edifício construído no final
século XVIII como parte da Quinta do Desembargador, e situado junto à Estrada
de Benfica, foi reabilitado e ambiciona ser o novo centro cultural de uma zona
da capital com cerca de 37 mil habitantes, 12 mil estudantes e três
estabelecimentos de ensino superior. Cumpre-se uma promessa: o imóvel, até aqui
esquecido, de tom pardacento e no qual ninguém reparava, ganha côr, abre as
suas portas e enche-se de vida.
Uma ludoteca
infantil, com capacidade para receber crianças surdas-mudas, um espaço de
cowork, salas para exposições e ensaios e ainda um núcleo de formação
profissional garantem que o centenário prédio funcionará como local dedicado ao
conhecimento. “Há mais de 20 anos que existia esta ambição de criar uma
biblioteca e um centro cultural aqui nesta zona da cidade. Trata-se, sem
dúvida, de um momento muito importante, de grande simbolismo”, diz Inês
Drummond (PS), a presidente da junta, sentada num dos bancos do jardim do
palacete, que poderá também vir a ser apreciado a partida da esplanada da
cafetaria – em abril passado, um espectáculo musical ali realizado já revelara
a muita gente os encantos desconhecidos do palácio.
A autarca aproveita a visita d’O Corvo, na manhã desta
segunda-feira (28 de agosto), para fazer uma pausa na vertigem de trabalho em
que se tem visto envolvida, nos últimos dias, juntando-se aos funcionários da
junta e das empresas contratadas, para que tudo esteja a postos para a festa de
“reabertura”, como prefere chamar ao momento do franquear de portas à
comunidade de um edifício com mais de dois séculos. Um acto de vandalismo, no
final da semana passada, materializado em manchas de tinta preta atirada às
paredes e aos vidros do interior do reabilitado edifício, obrigou ao redobrar
de esforços, durante o fim-de-semana. Acto ao qual se juntou muita gente.
“Só ontem, domingo,
estiveram cá 30 voluntários, pessoas anónimas, famílias com crianças e avós.
Logo no sábado, tínhamos velhinhas à porta a querer entrar para ajudar”, conta
a presidente da junta, orgulhosa do empenho cívico demonstrado pelos seus
fregueses, mas também pelas cinco de mãos de tinta branca que ela mesma teve de
dar com o rolo, numa das paredes sabotadas, para apagar as persistentes marcas
das indesejadas garatujas.
Uma azáfama justificada pelo apertar do prazo. Tudo terá que
estar impecável para a festa que, entre 1 e 3 de setembro, dará a conhecer o
novo pólo cultural de Benfica, agora oficialmente chamado de Palácio Baldaya –
deixando de ser grafado “Baldaia” –, em sinal de respeito pela grafia original
do nome de Joana Baldaya. Dona do palácio durante as primeiras décadas do
século XIX, tendo-o recebido como prenda de casamento, é hoje apontada como
“uma mulher à frente do seu tempo”, apostada na educação das crianças e na
emancipação feminina. A sua memória será agora evocada através de um painel
pintado numa parede lateral do edifício, concebido pelo artista Raf.
Lá dentro, sob o
tecto daquela que foi a sua casa, funcionará uma biblioteca, cujo acervo de 30
mil livros será construído a partir de duas grandes doações, uma do Diário de
Notícia e outra do sindicado dos trabalhadores do sector dos seguros, mas
também das realizadas por muitos cidadãos anónimos. Existirá como biblioteca
provisória, sabe-se já, até que seja construída a definitiva Biblioteca de
Benfica, com 2 mil metros quadrados e a edificar nos terrenos da Fábrica
Simões, como contrapartida pela sua futura urbanização.
O espaço de cowork
(trabalhado partilhado) terá capacidade para 16 pessoas e nele se pretende
albergar – a troco de mensalidades que vão dos 25 euros aos 100 euros por
pessoa, consoante o grau utilização do mesmo – um ambiente favorável a
projectos de criação artística, sem descurar a sua vertente profissional.
“Vamos analisar as propostas, temos recebido muitas”, diz Inês Drummond sobre a
valência que permitiu somar 150 mil euros, através do Orçamento Participativo
(OP) de Lisboa, ao total de 400 mil em que projecto do Palácio Baldaya está
estimado – entretanto, e dada a dimensão assumida por essa vertente, a Câmara
Municipal de Lisboa (CML) mobilizou mais 80 mil euros para a junta, que custeia
tudo o resto.
Foi, aliás, a
intervenção da CML que tornou possível a, há muito desejada, transformação do
decadente palacete no novo pólo cultural de Benfica, assinala a presidente da
junta, lembrando o contrato de comodato assinado, em 2014, entre a câmara e a
Estamo – imobiliária encarregue da alienação de imóveis públicos e que assumira
a propriedade do edifício após a saída do LNIV, no ano anterior. O laboratório
estatal havia ali sido instalado em 1913, vindo a permanecer durante um século.
A festa de
inauguração, ou de reabertura, como prefere Inês Drummond, decorrerá no jardim
e nas diversas salas do palacete, durante três dias (1,2 3 de setembro), e
apresenta um extenso e diversificado programa cultural, no qual se incluem
exposições, música, actividades para crianças, tertúlias, arte urbana, uma feira
do vinil e um chá dançante.
Programa completo:
https://www.facebook.com/events/865620136923659/
Texto: Samuel Alemão
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