Acusados de lutas na Autoeuropa, o
que dizem Bloco e PCP?
Marta Santos Silva
Ontem
Entre acusações de jogada política e
"assalto ao castelo" por parte dos sindicatos da CGTP, como estão a
reagir as direções dos partidos? Catarina Martins e o Partido Comunista já
responderam.
Foi António Chora, bloquista e ex-coordenador histórico da
Comissão de Trabalhadores da Autoeuropa, quem começou a pôr as acusações no
campo de debate: para o coordenador reformado, o sindicato SITE- Sul, — afeto à
CGTP que por sua vez está ligada ao Partido Comunista Português, — faz um
“assalto ao castelo” na “tentativa de o PCP pressionar o Governo para algumas
cedências noutros lados”.
Não foi o único a considerar a greve desta quarta-feira na
Autoeuropa, que paralisou a fábrica da Volkswagen em Palmela, uma jogada
política. Torres Couto, numa entrevista à TSF, disse que se tratava de “uma
jogada política clássica”, que seria além disso um “fortíssimo revés” à paz
laboral que antes se sentia na fábrica.
“Obviamente que o que está por trás disto é uma tentativa da
CGTP — e, através dela, do PCP — para ganhar espaço negocial com o Governo, com
o PS mas também com o Bloco de Esquerda. Convém não esquecer que [António]
Chora era do Bloco de Esquerda e que, agora, o PCP tomou as rédeas” da
Autoeuropa, considera.
Por entre estas acusações, os partidos visados — o Bloco de
Esquerda e o Partido Comunista — evitaram responder diretamente, mas não
deixaram de dizer o que pensam sobre a greve inédita na Autoeuropa.
Catarina Martins, coordenadora do Bloco de Esquerda, falou
ontem, terça-feira, sobre a greve na Autoeuropa como um acontecimento que a
deixava apreensiva, já que “é uma das maiores empresas portuguesas, uma das
maiores exportadoras”. Para a coordenadora bloquista, o conflito laboral
precisa de ser resolvido. “Julgo que tem existido alguma inflexibilidade nestas
negociações”, afirmou, citada pela Lusa, referindo-se ao diálogo entre a
Comissão de Trabalhadores, agora demissionária, os sindicatos e a administração
da empresa. “Preocupa que a administração também diga que agora não quer
negociar”.
“Estamos a falar de
um aumento da capacidade produtiva da Autoeuropa bastante grande, a
possibilidade de mais dois mil postos de trabalho em Portugal, não é coisa
pouca, e é preciso que este aumento de produção se faça naturalmente com um
diálogo com os trabalhadores, com os direitos dos trabalhadores”, sublinhou a
coordenadora. Para Catarina Martins, “a Autoeuropa tem sido um exemplo desse
diálogo e tem sido um exemplo do respeito pelos seus trabalhadores, que é bom
que se mantenha”.
O Partido Comunista Português, por sua vez, reagiu esta
manhã de quarta-feira em comunicado às redações, evitando responder às acusações
de que a greve seria uma jogada política da parte dos sindicatos ligados ao
partido. “É por isso natural que os trabalhadores tomem posição sobre esta
questão e defendam os seus direitos. É isto que está em causa e cabe aos
trabalhadores e às suas organizações representativas definir as suas posições e
formas de luta, como se verifica com os plenários realizados e com a greve de
hoje“, lê-se no comunicado.
Também o PCP reconheceu a importância da Autoeuropa no setor
e o seu papel na economia nacional. No entanto, critica a proposta da
administração que levou a esta greve. “A proposta da administração não garante
o sábado como dia de descanso e apenas permite que um trabalhador tenha um fim
de semana seguido de seis em seis semanas. Na Autoeuropa o trabalho efetuado
aos sábados, domingos e feriados foi sempre considerado como trabalho
extraordinário e pago como tal”, refere ainda o comunicado. “Tal como os
trabalhadores têm afirmado é necessário encontrar soluções que permitam
responder à defesa dos seus direitos e ao desenvolvimento da produção nesta
empresa”.
Sem comentários:
Enviar um comentário