Nem Madonna chegou para aligeirar o
tiro ao boneco
Na SIC, os cinco principais
candidatos a Lisboa tentaram debater visões para a cidade. Fernando Medina foi
bombardeado com críticas e a recente chegada da cantora americana não passou
despercebida.
João Pedro Pincha
JOÃO PEDRO PINCHA 30 de agosto de 2017, 23:23
O primeiro debate televisivo entre os candidatos à Câmara
Municipal de Lisboa teve mais gritos do que esclarecimentos e uma protagonista
inesperada: Madonna, a mais recente estrela internacional a deixar-se
conquistar pela capital portuguesa, foi várias vezes trazida à baila, mas nem
isso aligeirou o tom da discussão. Fernando Medina foi o alvo de todas as
críticas dos opositores, mas Assunção Cristas e Teresa Leal Coelho não se
livraram de mimos dos candidatos da esquerda.
Os problemas da habitação e dos transportes foram o prato
forte de um debate em que os candidatos se sobrepuseram várias vezes, não se
ouvindo nem deixando ouvir. De esquerda ou de direita, o diagnóstico feito
pelos opositores a Medina foi bastante idêntico.
“Estamos a fechar um
ciclo de dez anos de governação do Partido Socialista. É este balanço que os
lisboetas são chamados a fazer”, disse logo a princípio o comunista João
Ferreira, que, sem surpresa, apontou falhas às políticas de habitação da
autarquia. “Nada foi feito ao longo destes dez anos para promover o acesso à
habitação”, acusou.
Logo a seguir, Teresa Leal Coelho apanhou a deixa para dizer
que “o principal problema” da cidade é que “as pessoas que querem viver em
Lisboa não conseguem viver em Lisboa”. Depois, também Cristas surfou a onda,
alegando que, ao contrário do PS, que “não teve nenhuma política de habitação”
na última década, foram as alterações legislativas que o anterior Governo
promoveu à Lei das Rendas que “trouxeram pessoas a zonas da cidade que estavam
absolutamente vazias”.
Não ficou sem resposta, pois o candidato do Bloco, Ricardo
Robles, acusou-a de ter contribuído para a “expulsão de quem gosta de viver em
Lisboa”. Mas o alvo principal era mesmo Medina. Citando a promessa que o autarca
socialista fez quando tomou posse – a de trazer para a cidade cinco mil
famílias –, o bloquista disparou: “Sabe quantas destas famílias vieram para
Lisboa? Zero. Não há uma chave entregue.”
“Demora, Ricardo, demora. Eu nunca prometi que as trazia em
dois anos”, respondeu prontamente Fernando Medina, que ainda picou Cristas
sobre a proposta, que fez há uns meses, de um programa de rendas acessíveis em
que certos apartamentos custavam 1350 euros por mês. Nesse ponto, contou uma
vez mais com ajuda da esquerda. “Era difícil encontrar alguém que simbolizasse
tanto o ataque ao direito à habitação em Lisboa”, atirou João Ferreira,
dirigindo-se à líder do CDS.
Mais tarde, também a propósito de uma discussão sobre
habitação que consumiu quase metade do debate, Teresa Leal Coelho falou de
Madonna, que já fora insistentemente citada antes. “Madonna não vai viver a
cidade que as pessoas que cá vivem e não são a Madonna têm de viver”, lamentou
a candidata social-democrata, que acusou Medina de fazer “guerra à classe
média” e de favorecer a “especulação imobiliária”.
Essa acusação foi, aliás, transversal a todos os adversários
do autarca socialista, que lamentaram a política de alienação de património dos
últimos anos. “Parte dele foi alienado em condições tais que contribuíram para
a especulação em que a cidade está”, disse João Ferreira. Para Robles, o
Programa de Renda Acessível, que Medina lançou como uma das principais
bandeiras autárquicas, “é uma péssima solução” que beneficia o “carrossel dos
fundos imobiliários”.
Também com muitas acusações mútuas, os cinco candidatos
tiveram ainda tempo para discutir sobre transportes públicos. Grande parte do
debate sobre este assunto foi sobre se o Governo de Passos Coelho tinha ou não
contribuído para o mau estado da Carris e do Metro actualmente. As divergências
são aparentemente insanáveis, mas todos concordaram que os transportes como
estão não podem ficar.
Medina argumentou que “demora tempo a recuperar uma coisa
que foi destruída”, referindo-se à Carris, mas a explicação não colheu junto
dos restantes. João Ferreira mostrou-se mais uma vez contra a municipalização
da empresa e criticou o seu modelo de financiamento, assente nas receitas de
estacionamento da EMEL. “O objectivo de tirar carros da cidade é contraditório
do modelo de financiamento da Carris”, acusou, no que foi secundado pelos
colegas de painel.
Ainda se discutiu brevemente a expansão do metro e os
impactos do turismo, mas, como numa pescadinha de rabo na boca, o debate acabou
como começou: a falar-se de Madonna.
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