1,4 milhões de carros a diesel em
risco de não poderem sair de Portugal
Estes carros ligeiros foram vendidos
em Portugal entre 2006 e 2014 e já não cumprem as normas de emissões
28 DE AGOSTO DE 2017
Diogo Ferreira Nunes
Está a pensar comprar um carro a gasóleo? Pense duas vezes.
O cerco está a apertar-se e há 11 cidades europeias, incluindo Madrid e Paris,
que prometeram que vão proibir a entrada deste tipo de veículos já em 2025. E,
ainda antes disso, só será permitida a circulação dos modelos mais recentes e
mais amigos do ambiente. Ou seja, posteriores a 2014.
Só em Portugal, há quase milhão e meio de veículos vendidos
entre 2006 e 2014 que correm o risco de só poderem circular no país e
desvalorizarem por não cumprirem as normas de emissões. Para poderem circular
nas estradas da Europa por mais alguns anos, vão ter de ser trocados ou
reparados.
Na Alemanha, depois de uma reunião de emergência, o governo
e as maiores construtoras de automóveis, como BMW, Mercedes, Opel e VW,
fecharam um acordo que obriga a alterar o software de 5,3 milhões de carros
diesel alemães para reduzir as emissões entre 25% e 30%, num projeto orçado em
500 milhões de euros.
Por toda a Europa, as vendas de carros com motor a gasóleo
estão a cair e a descida vai acelerar nos próximos anos. Quase um terço (29%)
dos alemães, por exemplo, está a pensar trocar o seu diesel.
E por cá? A quota de carros a diesel também tem vindo a
baixar mas lentamente e Portugal ainda é um dos países europeus com a maior
percentagem de carros a gasóleo (ver infografia). O problema das emissões pode
obrigar a retirar das estradas perto de um quarto dos automóveis ligeiros de
passageiros e comerciais do parque nacional - são anteriores à norma Euro 6.
Mas por cá ninguém mostra verdadeira preocupação - o
comércio acredita que as vendas de carros a gasóleo não vão ressentir-se; o
governo remete-se ao silêncio quando questionado sobre se haverá incentivos à
troca de carros mais poluentes. "Os carros a gasóleo não vão desaparecer
tão cedo. Só os sonhadores é que pensam assim. Vamos ter carros a combustão
durante muito tempo. As marcas estão a fazer motores cada vez mais pequenos e
limpos. Daqui a cinco anos, um carro a gasóleo valerá mais do que um carro a
gasolina", garante, Carlos Barbosa, presidente do Automóvel Club de
Portugal (ACP).
"A produção de veículos a diesel não vai parar, pelo
que não prevemos qualquer quebra no valor dos carros, a não ser a normal
depreciação" provocada pela antiguidade, destaca também Helder Pedro,
secretário-geral da ACAP. "Existe algum empolamento à volta desta
questão", frisa Alexandre Ferreira, presidente da ANECRA, que representa
os concessionários.
Na Alemanha, o cenário é bem diferente. "Os carros são
difíceis de vender porque os clientes estão indecisos. Precisamos de sinais
claros do governo para perceber em que condições os diesel vão ser afetados
pelas restrições à circulação", alerta Thomas Peckruhn, vice-presidente da
associação de comerciantes alemã (ZDK).
Calcula-se que tenham sido acumulados, só nas últimas
semanas, 4,5 mil milhões de euros em veículos usados. São 300 mil carros usados
que estavam à venda como novos em setembro de 2015 e que cumpriam a norma Euro
5. Em média, cada um destes vale atualmente 15 mil euros, de acordo com a
Bloomberg.
Em Portugal, a percentagem de carros a gasóleo usados à
venda no Standvirtual, uma das maiores plataformas de vendas, também aumentou
de 69% para 73%, entre o primeiro semestre de 2015 e junho de 2017, adianta
Miguel Lucas, diretor-geral da empresa. E o preço médio dos usados diesel até
subiu 8,2% no último ano, ascendendo agora a 13 630 euros.
Mas o cenário poderá mudar. "Se os governos avançarem
com restrições, vamos ter uma descida de preços nos carros a gasóleo, porque
haverá muita oferta. Só que isto não deverá ser feito de um dia para o outro.
Tudo dependerá do aumento da quota de mercado dos carros "verdes",
prevê Miguel Lucas.
"As pessoas estão a consciencializar-se de que os
híbridos são uma boa solução, tão confiáveis como os carros a combustão. O
mesmo poderá acontecer daqui a alguns anos com os carros elétricos." A
procura por carros híbridos no Standvirtual aumentou 300% no primeiro semestre.
No país de Angela Merkel, mais de três quartos (77%) dos
donos dos stands já tiveram de baixar o preço dos automóveis. Dados conhecidos
depois de a ministra do Ambiente ter dito que as reparações propostas para os
carros a gasóleo pelas marcas alemãs poderão ser insuficientes para cumprir os
limites de emissões de óxido de azoto.
O governo português remete o combate às emissões para
outubro. "Questões relacionadas com o Orçamento do Estado terão resposta
aquando da apresentação do mesmo", indica fonte oficial do Ministério do
Ambiente. As Finanças deixaram por responder se haverá ou não incentivos à
troca de carros mais poluentes.
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