Turistas: Receber ou não receber? O dilema que está a afetar
a Europa
José Macário
Ontem 12:24
Barcelona, Lisboa, Veneza. Três exemplos de cidades onde o
turismo está no limbo entre o benefício e o prejuízo. Por cá, por enquanto,
ainda não há manifestações violentas.
No passado dia 29 de julho, quatro pessoas encapuzadas
vandalizaram um autocarro cheio de turistas em Barcelona. Escrevendo a frase
“El turisme mata els barris” (O turismo mata os bairros), a ação – levada a
cabo pelo grupo Arran, uma associação de esquerda ligada ao movimento
independentista Candidatura de Unidade Popular (CUP) – teve como objetivo
demonstrar a luta contra a “violência económica” provocada pelo turismo, disse
Laura Flores, porta-voz do Arran ao jornal El Mundo.
A mesma ala do CUP reivindicou também outro ataque, levado a
cabo a 31 de julho, às bicicletas públicas de Barcelona, e prometeu ainda mais
ações: “A nossa política vai para lá destas ações, mas também as inclui, por
isso não digo nem que as repetiremos nem que não as repetiremos. (…) É mais uma
forma de protesto, com igual legitimidade do que as manifestações”, afirmou
Flores, citada pelo El Mundo.
Este é apenas um exemplo da “guerra ao turismo” que grassa
por várias cidades do Sul da Europa, onde o turismo deixou de ser encarado como
totalmente benéfico e passa agora a ser visto como o causador de grandes
dificuldades aos habitantes das cidades visadas.
Proibições e outros limites
Lisboa não é exceção. O exemplo mais recente é a proibição
da circulação de autocarros turísticos em certas zonas históricas da capital,
uma medida que entrou em vigor a 1 de agosto e que não agradou aos industriais
do setor, que dizem ter sido apanhados de surpresa e questionam a medida,
apontando os prejuízos que esta limitação trará aos negócios que operam nestes
locais, de restaurantes a associações, passando pelo alojamento local.
Esse é outro dos problemas apontados ao turismo. A
proliferação de hostels e de habitações dedicadas a aluguer de curta duração
levou mesmo a um alerta da associação de proprietários, que teme que a
massificação do turismo faça perigar os contratos de longa duração das famílias
que habitam a cidade, preteridos em favor de modelos de negócio mais rentáveis.
Além da não renegociação dos contratos de aluguer, o aumento
das rendas é outra realidade que afeta as famílias, levando à desertificação
das cidades. Por isso, Ada Colau, presidente da Câmara de Barcelona – eleita
com base numa campanha antiturismo – congelou a atribuição de licenças para
novos hotéis e impôs multas aos alojamentos de curta duração, tipo AirBnb.
#Venexodus
Mas se os problemas de Lisboa são recentes e os de Barcelona
se agravaram nas últimas décadas, Veneza lida com esta questão há muito mais
tempo. De turistas que nadam nos famosos canais a outros que se passeiam de
fato de banho pela cidade, deitam lixo para o chão e enchem a praça de São
Marcos, os manifestantes cunharam a hashtag #Venexodus para referirem o facto
de estarem a ser expulsos da cidade pelo excesso – e pelos excessos – de quem
visita a cidade.
Sem nenhuma normativa decidida sobre a limitação do número
de visitantes diários à cidade, as autoridades locais limitam-se a tentar
controlar o seu comportamento, através de campanhas que pedem que os visitantes
não escrevam nas árvores, passeios e edifícios ou demorem muito tempo nas
pontes, restringindo a circulação dos locais.
Apesar de louváveis, ficam bastante aquém das medidas
tomadas por outros locais, como o Butão, por exemplo. Aquele país junto aos
Himalaias limita o número de visitantes diários e aplica-lhes uma taxa de cerca
de 300 euros por dia.
As regras comunitárias impedem que qualquer cidade europeia
limite a entrada de pessoas nos seus limites, por isso as autoridades terão de
ser criativas e cuidadosas na forma como abordarão esta questão. É que o
turismo tem muito inconvenientes, mas é o “ganha-pão” de muitas pessoas e o
motor que mantém à tona múltiplas regiões. Veja-se o caso do “Allgarve”…
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