Operadores turísticos apanhados “de
surpresa” com proibição de autocarros no centro de Lisboa
Medida entra em vigor esta
terça-feira, mas empresas e associações do sector acusam a autarquia de ter
tomado uma decisão “unilateral” e “em cima da hora”.
CRISTIANA FARIA MOREIRA 1 de Agosto de 2017, 8:38
É já a partir desta terça-feira que os autocarros turísticos
ocasionais vão deixar de poder circular na zona da Sé e do Castelo de São
Jorge, em Lisboa. Esta medida, apresentada pela câmara de Lisboa na semana
passada, apanhou “de surpresa” operadores turísticos e associações do sector
que estão em “desacordo” com uma decisão que dizem “prejudicar” não só as
empresas de transporte, como agências de turismo, guias intérpretes,
restaurantes e hotéis que se situam nessas áreas.
As queixas surgem depois de a autarquia ter anunciado que
vai proibir a circulação de autocarros turísticos no centro histórico da
cidade, “face aos constrangimentos na circulação rodoviária, à emissão de gases
poluentes, à degradação de monumentos e do espaço público e aos impactos
negativos na qualidade de vida dos moradores provocados pelo forte incremento
de autocarros turísticos em Lisboa”, pode ler-se numa nota publicada no site da
Câmara de Lisboa. A proibição vai estender-se ao eixo Cais do Sodré, Rua do
Alecrim, Príncipe Real e Largo do Rato, a partir de Setembro.
A decisão foi aplaudida pelos moradores destas zonas, que há
muito exigiam que estes enormes veículos deixassem de circular por estas ruas
estreitas, interrompendo toda a circulação devido às difíceis manobras que eram
obrigados a fazer. Além de, muitas vezes, taparem monumentos como é o caso da
Sé.
Já a Associação Nacional de Transportadores Rodoviários de
Pesados de Passageiros (Antrop) considerou, nesta segunda-feira, “inaceitável”
não ter sido ouvida pela autarquia sobre a implementação da medida que vai
limitar a circulação naquela zona a carrinhas com lotação máxima de nove
lugares e de viaturas da Carris.
Num comunicado a que o PÚBLICO teve acesso, a associação
aponta a falta de tempo para a adaptação às novas regras, dado que a decisão só
foi conhecida na semana passada.
“Os serviços para os
meses de maior procura (Agosto e Setembro) já foram contratados há meses e não
vão ser alterados em cima da hora”, notou a Antrop. Na semana passada, Paulo
Cosme, secretário-geral do Sindicato Nacional da Actividade Turística, Tradutores
e Intérpretes, disse à Lusa estar "totalmente contra" a decisão,
salientando os custos "imensos” e uma “perda de receita” que não é
“razoável”, causada por estas restrições.
"Os agentes de viagem já têm contratos assinados até ao
final do ano, alguns para o próximo ano, há vários congressos organizados para
Lisboa, e as pessoas ficam quase sempre alojadas na Baixa. [Com as restrições]
vai ser praticamente impossível ter acesso a hotéis, a restaurantes",
notou.
Ao PÚBLICO, a directora executiva de uma agência de viagens,
que não se quis identificar, acusa a autarquia de ter tomado uma decisão
“unilateral” sem ter em conta a posição dos operadores e associações do sector.
E admitiu ainda ter “sérias dúvidas” que os “problemas de mobilidade” da cidade
tenham a ver com a circulação de autocarros de serviço ocasional.
“Se calhar tem mais a ver com o crescimento desenfreado de
outros tipos de transportes turísticos, como os tuk-tuks, que sistematicamente
invadem as paragens de largada de passageiros dos autocarros e que,
infelizmente, ninguém vê”, sublinhou.
Para a responsável, circular com carrinhas de nove lugares
“é completamente irreal e impossível”, sobretudo quando são transportados
turistas em grupo para eventos ou congressos que envolvem muitas bagagens,
referiu. Por exemplo, para o transbordo de 45 pessoas de um autocarro, seriam
necessárias cinco carrinhas de nove lugares.
Já a Associação Portuguesa dos Guias-intérpretes e Correios
de Turismo (AGIC) alerta para o facto da maioria dos visitantes da zona da
Sé/Castelo ser composta por “peregrinos, seniores e com mobilidade reduzida”. E
considera que a solução não está em “proibir, mas em regular e fiscalizar
locais de tomada e largada de passageiros”, seja de autocarros em serviço
ocasional, seja de qualquer outro tipo de transporte afecto ao Turismo. Propõe,
por isso, que sejam criados locais de estacionamento.
Proibição da Infante Santo a Santa Apolónia em estudo
A autarquia já anunciou que serão reservados lugares de
estacionamento de autocarros turísticos na Avenida Infante D. Henrique (Santa
Apolónia) e no Marquês de Pombal (Parque Eduardo VII), e paragens para tomada e
largada de passageiros nas traseiras do Museu do Fado e nos Restauradores.
Além do centro histórico e do eixo Cais do Sodré - Rato, as
restrições poderão estender-se a outros locais da cidade. Em estudo está a
proibição da circulação dos autocarros de serviço ocasional num perímetro que
vai da Avenida Infante Santo, passa pela Estrela, Rato, Rua Alexandre
Herculano, Praça do Chile e termina em Santa Apolónia.
Nestas limitações, não se incluem os autocarros panorâmicos
de Lisboa que têm percursos e paragens autorizados pela autarquia. Outros
circuitos turísticos terão de ser autorizados pela câmara.
Numa carta enviada à câmara de Lisboa, a AGIC sugere ainda
que a autarquia “cobre uma taxa por cada veículo pesado de transporte de passageiros
em serviço ocasional que entre na cidade”, à semelhança do que se faz noutros
países europeus. E que essa verba fosse “investida no melhoramento da rede de
transportes públicos”.
A responsável da agência de viagens pede também que a câmara
“oiça atentamente” os operadores e as associações de turismo, e que repense com
"pés e cabeça" estas soluções “durante dois ou três meses para
entrarem em vigor a partir de Janeiro e não nestes meses que são meses de maior
trabalho”. Mas realçou que os operadores turísticos estão de acordo que devem
existir “locais específicos” para paragem de autocarros e aceita a decisão de
que não podem parar no centro da cidade ou no centro histórico, “mas devem
poder circular nelas”, reiterou.
À Lusa, a Antrop referiu ainda que pediu uma reunião com
carácter de urgência à câmara de Lisboa, "mas até agora não teve qualquer
resposta".
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