Turistas? Não, obrigado. Europa
defende-se contra os excessos
Nas últimas semanas, o movimento anti-turismo tem-se
alastrado a outras localidades espanholas.
Em Barcelona a palavra do momento é “turismofobia”. Nos
últimos meses, um grupo de jovens ligado a um movimento que defende a
independência da Catalunha tem praticado atos de vandalismo contra hotéis,
autocarros turísticos e bicicletas de aluguer. A organização Arran protesta
contra a massificação do turismo e a gentrificação, argumentando que o excesso
de visitantes está a destruir a identidade dos bairros típicos de Barcelona. “O
turismo em massa mata os bairros, destrói o território e condena à miséria a
classe trabalhadora”, lê-se numa mensagem deixada pelo grupo no Facebook. Em
Barcelona, as queixas não são novas. A cidade, que tem 1,6 milhões de
habitantes, recebeu no ano passado 32 milhões de visitantes. Mas os protestos
estão a ganhar dimensão. A pressão é tanta que as autoridades estão a estudar
novas formas de atenuar os problemas. Está já em cima da mesa a criação de uma
taxa sobre os visitantes que ficam apenas um dia na cidade, que será cobrada
aos operadores que transportem os visitantes de passagem. A medida junta-se a
outras já em vigor. Desde o início do ano, os passageiros dos cruzeiros que
aportam na cidade, quer pernoitem ou não, pagam uma taxa. Em 2016, os portos de
Barcelona receberam cerca de 750 cruzeiros. Este ano já foram também congeladas
as licenças para a construção de novos hotéis e foi suspensa a emissão de
licenças para apartamentos turísticos, entre outras medidas. Nas últimas
semanas, o movimento anti-turismo tem-se alastrado a outras localidades
espanholas. Para o dia 17 de agosto está convocada uma manifestação contra o
turismo em San Sebastián, no País Basco, onde também já está a ser preparada
uma lei para limitar a proliferação de hotéis. Em Palma de Maiorca, os
protestos também começam a fazer-se ouvir. O turismo representa 11% do PIB
espanhol e cerca de 13% do emprego do país. No primeiro semestre, Espanha
recebeu perto de 37 milhões de turistas, que gastaram mais de 32,2 mil milhões
de euros, mais 15% face ao período homólogo. Na Catalunha, o setor representa
12% da riqueza. Mediterrâneo a transbordar Mas não é só no país vizinho que o
elevado número de turistas está a deixar os locais à beira de um ataque de
nervos. Nos últimos dois anos, o sul da Europa, com Portugal incluído no lote,
tem vivido um autêntico boom turístico, devido aos conflitos em países como a
Turquia ou o Egipto. Em Itália, os canais de Veneza são a imagem da saturação.
Cerca de 20 milhões de turistas visitam a cidade todos os anos. A Unesco já
avisou que os monumentos históricos podem não sobreviver se o ritmo se mantiver
nos próximos anos. Face aos protestos dos poucos habitantes que restam, cerca
de 50 mil, as autoridades decidiram proibir a abertura de mais restaurantes de
fast food, numa tentativa de preservar as tradições da cidade. Está ainda a ser
estudada a limitação do número de acesso diários ao centro histórico. Em Roma,
foi reforçada a vigilância no centro histórico e endurecida a política de
multas para quem mergulhar nas fontes públicas. Também está a ser estudada a
limitação do número de visitantes diários a locais emblemáticos, como a Fonte
de Trevi. A enchente de visitantes também já chegou à Croácia. Na pequena
cidade de Dubrovnik, está a ser estudada a hipótese de limitar a entrada diária
de cruzeiros. Atualmente, podem atracar cinco navios por dia, mas as
autoridades querem reduzir para dois. O centro histórico de Dubrovnik acolheu
mais de um milhão de turistas no ano passado. O turismo na Croácia aumentou
10,5% no ano passado face ao mesmo período de 2016. Os protestos contra o
turismo em massa ainda não chegaram a Portugal, mas em Lisboa já se tomam
medidas. No final de julho, a Câmara da capital anunciou que os autocarros
turísticos com mais de nove lugares estão proibidos de circular nos acessos à
Sé e ao Castelo
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