Comissão
adia decisão mas deve abrir o processo que pode levar a sanções
Nuno André Martins
/ 5/7/2016, OBSERVADOR
FT
avança que a decisão inédita será tomada na quinta-feira. Não
significa sanções para já, mas abre a porta ao processo, que tem
de passar no crivo do Ecofin na próxima terça-feira.
A Comissão Europeia
vai voltar a reunir-se na quinta-feira, 7 de julho, e deve abrir
caminho, pela primeira vez, à aplicação de sanções pela violação
das metas do défice a Portugal e Espanha, noticia o Financial Times,
concluindo que os dois países não tomaram medidas eficazes para
reduzir o défice. O acordo não significa, necessariamente, que
Portugal venha a sofrer sanções, mas coloca o processo a correr
para que os ministros das Finanças da União Europeia peçam à
Comissão, na próxima terça-feira, que faça uma proposta de
penalizações.
Portugal foi
sancionado hoje? Não. Vai sê-lo na quinta-feira? Também não é
provável. Isso quer dizer que pode estar descansado? Não é bem
assim. Não houve decisão na reunião de hoje, mas o caminho
continua a ser o mesmo que estava estipulado desde a semana passada e
que foi noticiado pelo Observador e pela Reuters no domingo: a
Comissão não quer a responsabilidade de aplicar sanções nesta
altura, por isso, vai empurrar a decisão para os ombros dos
ministros das Finanças da União Europeia, que se reúnem na próxima
terça-feira em Bruxelas.
Mas o Executivo
comunitário também não vai rejeitar as sanções. Vai, antes, dar
o pontapé de saída no processo, inédito, que pode levar a que as
sanções ainda sejam possíveis, num processo que será fechado
ainda antes do final de julho. Como é que isto se vai fazer? Como o
Observador noticiou no domingo, os comissários deverão aprovar,
nesta quinta-feira, uma declaração em que concluem que Portugal e
Espanha não tomaram medidas eficazes para reduzirem os défices
públicos, tal como estava acordado.
Esta declaração de
ausência de medidas eficazes – em inglês non-effective action –
não implica, em si, que a Comissão vá aplicar sanções a
Portugal, mas é o primeiro passo obrigatório para que isso possa
ainda acontecer no futuro. A Comissão conclui que essas medidas não
foram tomadas e, então, o Ecofin terá de aprovar e de dar
seguimento ao processo.
Caso tal aconteça
na terça-feira, a Comissão terá 20 dias para apresentar a sua
proposta de sanções ao país. A partir de terça-feira, e até
surgir a proposta da Comissão, decorrerá um período de negociação
com o Estado-membro em causa, que tem dez dias para fazer a sua
defesa junto da Comissão.
A decisão de
Bruxelas permite adiar o processo por mais umas semanas – até ao
final do mês -, não sancionando Portugal, para já, e deixando as
negociações para um nível político superior, o dos ministros das
Finanças. A Comissão quer evitar aplicar sanções aos dois países,
mas enfrenta grande contestação da Alemanha, entre outros países.
O BCE também se tem mostrado a favor da aplicação mais estrita das
regras.
Caso a proposta seja
aprovada no Colégio de Comissários como se prevê, ainda esta
semana, e o Ecofin dê seguimento na próxima semana, Portugal pode
não ser alvo de sanções, ainda assim. A proposta da Comissão não
deverá passar por sanções pecuniárias, mas o resultado final vai
depender da argumentação do Governo português e de eventuais
cedências por parte dos ministros que se têm mostrado mais
favoráveis à aplicação de sanções.
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