Câmara
aprova jardim sem brasões, oposição promete luta
Executivo
camarário validou escolha do júri para a requalificação da Praça
do Império, em Belém. Oposição votou contra e promete não baixar
os braços
"Se
a câmara acha que isto terminou aqui... não terminou", garante
João Gonçalves Pereira, que não aceita o argumento de que os
brasões já não existem: "Há 30 brasões abandonados.
Evidentemente que estão degradados e o nível de degradação piorou
muito nos últimos anos. Mas por isso é que pedimos a reabilitação."
21 DE JULHO DE 2016
Susete Francisco
A Câmara de Lisboa
aprovou ontem, com o voto contra de toda a oposição, o relatório
final do júri que escolheu a proposta de requalificação para a
Praça do Império, em Belém. Até chegar à fase de implementação
no terreno o projeto vai sofrer alterações. Mas nenhuma no sentido
pretendido por PSD, PCP e CDS - a manutenção dos brasões florais
em torno da fonte central do jardim.
"A maioria que
suporta a Câmara de Lisboa comprometeu-se com um concurso público,
é natural que aceitemos o resultado desse concurso, que teve um júri
autónomo do executivo", diz ao DN Duarte Cordeiro. O
vice-presidente da autarquia sublinha que os concorrentes que se
apresentaram a concurso não tinham quaisquer condicionantes à
partida e tomaram a "opção legítima de se inspirar no projeto
original de Cottinelli Telmo [o arquiteto que projetou a Praça do
Império]". "Há quem tenha uma opinião diferente. Os
outros partidos acham que se deviam ter reportado à data de 1961"
- altura em que foram feitos os brasões representando as armas das
capitais de distrito portuguesas e das antigas colónias. Mas ainda
que fosse assim, sublinha o vice-presidente da autarquia, "estaríamos
sempre a falar de uma reconstituição": "Os brasões não
estão lá. Não há qualquer elemento próximo do que eram os
brasões. Portanto, não estamos a falar de uma coisa que é
preservada, mas de uma reconstituição." Ontem, após a reunião
do executivo, a câmara emitiu um comunicado afirmando que "há
várias décadas que não existem brasões florais no jardim,
restando apenas alguns vestígios da exposição temporária que aí
teve lugar no início da década de 1960".
Sugestões do júri
avançam
O projeto eleito
pelo júri e ontem sufragado pela maioria camarária, do ateliê ACB
Arquitetura Paisagista, não vai chegar ao terreno como está no
papel. Na reunião de ontem, o vereador Manuel Salgado manifestou
reservas quanto a uma sobre-elevação do terreno, na parte sul do
jardim - descrita no projeto como uma "colina de proteção
visual e acústica" - que poderá tapar a vista do rio a partir
dos Jerónimos. Ao projeto, propriamente dito, vão juntar-se várias
sugestões feitas pelo júri presidido por Simonetta Luz Afonso,
também aprovadas ontem, neste caso por unanimidade. Entre as oito
propostas conta-se a criação de uma ligação entre o jardim da
Praça do Império e o jardim Afonso de Albuquerque, bem como a
retirada do estacionamento e da circulação automóvel no limite sul
da Praça (do lado do rio). Nas simulações do que será o futuro
jardim, ontem divulgadas, é expressa a aposta num espaço de
fruição. Na única passagem que refere os brasões destacam-se os
"taludes relvados, libertos dos brasões em mosaicocultura, que
correspondem a uma ampliação do espaço de estar em mais de 2000
metros quadrados". É igualmente sublinhada a possibilidade de
montagem de estruturas efémeras, como palcos.
Oposição promete
dar luta
Aprovada na reunião
de ontem foi também uma proposta do PCP para o relançamento da
formação em jardinagem. "A Câmara de Lisboa tinha uma escola
de jardineiros que deixou de ter já há largos anos", disse o
vereador comunista Carlos Moura, explicando que o que sai da reunião
de ontem é que "a escola volte a funcionar". Algumas
propostas do PSD, nomeadamente para a necessidade de requalificação
de toda a área envolvente à Praça do Império, foram aprovadas.
Pelo caminho ficaram as que diziam respeito, especificamente, à
manutenção dos brasões. "Já nem é preconceito ideológico,
é teimosia", diz ao DN o vereador do PSD António Prôa,
defendendo que "a existência daqueles brasões se tornou parte
da identidade do jardim". O autarca social-democrata acrescenta
que até à implementação do projeto "haverá um espaço para
a câmara mudar de ideias".
O vereador centrista
João Gonçalves Pereira promete luta sem tréguas ao fim dos brasões
florais. "O CDS vai iniciar um conjunto de contactos, com a
Junta de Freguesia de Belém, como movimentos de cidadãos, de forma
a travar este processo", disse ao DN, admitindo desde petições
a providências cautelares ou ações populares. "Se a câmara
acha que isto terminou aqui... não terminou", garante João
Gonçalves Pereira, que não aceita o argumento de que os brasões já
não existem: "Há 30 brasões abandonados. Evidentemente que
estão degradados e o nível de degradação piorou muito nos últimos
anos. Mas por isso é que pedimos a reabilitação."
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