quarta-feira, 20 de julho de 2016

Câmara aprova jardim sem brasões, oposição promete luta







Câmara aprova jardim sem brasões, oposição promete luta

Executivo camarário validou escolha do júri para a requalificação da Praça do Império, em Belém. Oposição votou contra e promete não baixar os braços

"Se a câmara acha que isto terminou aqui... não terminou", garante João Gonçalves Pereira, que não aceita o argumento de que os brasões já não existem: "Há 30 brasões abandonados. Evidentemente que estão degradados e o nível de degradação piorou muito nos últimos anos. Mas por isso é que pedimos a reabilitação."

21 DE JULHO DE 2016
Susete Francisco

A Câmara de Lisboa aprovou ontem, com o voto contra de toda a oposição, o relatório final do júri que escolheu a proposta de requalificação para a Praça do Império, em Belém. Até chegar à fase de implementação no terreno o projeto vai sofrer alterações. Mas nenhuma no sentido pretendido por PSD, PCP e CDS - a manutenção dos brasões florais em torno da fonte central do jardim.

"A maioria que suporta a Câmara de Lisboa comprometeu-se com um concurso público, é natural que aceitemos o resultado desse concurso, que teve um júri autónomo do executivo", diz ao DN Duarte Cordeiro. O vice-presidente da autarquia sublinha que os concorrentes que se apresentaram a concurso não tinham quaisquer condicionantes à partida e tomaram a "opção legítima de se inspirar no projeto original de Cottinelli Telmo [o arquiteto que projetou a Praça do Império]". "Há quem tenha uma opinião diferente. Os outros partidos acham que se deviam ter reportado à data de 1961" - altura em que foram feitos os brasões representando as armas das capitais de distrito portuguesas e das antigas colónias. Mas ainda que fosse assim, sublinha o vice-presidente da autarquia, "estaríamos sempre a falar de uma reconstituição": "Os brasões não estão lá. Não há qualquer elemento próximo do que eram os brasões. Portanto, não estamos a falar de uma coisa que é preservada, mas de uma reconstituição." Ontem, após a reunião do executivo, a câmara emitiu um comunicado afirmando que "há várias décadas que não existem brasões florais no jardim, restando apenas alguns vestígios da exposição temporária que aí teve lugar no início da década de 1960".

Sugestões do júri avançam

O projeto eleito pelo júri e ontem sufragado pela maioria camarária, do ateliê ACB Arquitetura Paisagista, não vai chegar ao terreno como está no papel. Na reunião de ontem, o vereador Manuel Salgado manifestou reservas quanto a uma sobre-elevação do terreno, na parte sul do jardim - descrita no projeto como uma "colina de proteção visual e acústica" - que poderá tapar a vista do rio a partir dos Jerónimos. Ao projeto, propriamente dito, vão juntar-se várias sugestões feitas pelo júri presidido por Simonetta Luz Afonso, também aprovadas ontem, neste caso por unanimidade. Entre as oito propostas conta-se a criação de uma ligação entre o jardim da Praça do Império e o jardim Afonso de Albuquerque, bem como a retirada do estacionamento e da circulação automóvel no limite sul da Praça (do lado do rio). Nas simulações do que será o futuro jardim, ontem divulgadas, é expressa a aposta num espaço de fruição. Na única passagem que refere os brasões destacam-se os "taludes relvados, libertos dos brasões em mosaicocultura, que correspondem a uma ampliação do espaço de estar em mais de 2000 metros quadrados". É igualmente sublinhada a possibilidade de montagem de estruturas efémeras, como palcos.

Oposição promete dar luta

Aprovada na reunião de ontem foi também uma proposta do PCP para o relançamento da formação em jardinagem. "A Câmara de Lisboa tinha uma escola de jardineiros que deixou de ter já há largos anos", disse o vereador comunista Carlos Moura, explicando que o que sai da reunião de ontem é que "a escola volte a funcionar". Algumas propostas do PSD, nomeadamente para a necessidade de requalificação de toda a área envolvente à Praça do Império, foram aprovadas. Pelo caminho ficaram as que diziam respeito, especificamente, à manutenção dos brasões. "Já nem é preconceito ideológico, é teimosia", diz ao DN o vereador do PSD António Prôa, defendendo que "a existência daqueles brasões se tornou parte da identidade do jardim". O autarca social-democrata acrescenta que até à implementação do projeto "haverá um espaço para a câmara mudar de ideias".

O vereador centrista João Gonçalves Pereira promete luta sem tréguas ao fim dos brasões florais. "O CDS vai iniciar um conjunto de contactos, com a Junta de Freguesia de Belém, como movimentos de cidadãos, de forma a travar este processo", disse ao DN, admitindo desde petições a providências cautelares ou ações populares. "Se a câmara acha que isto terminou aqui... não terminou", garante João Gonçalves Pereira, que não aceita o argumento de que os brasões já não existem: "Há 30 brasões abandonados. Evidentemente que estão degradados e o nível de degradação piorou muito nos últimos anos. Mas por isso é que pedimos a reabilitação."

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