Convento
da Graça esconde tesouros que em breve serão revelados
“Isto
é um passeio único dentro de Lisboa, que ninguém conhece”, diz o
vereador Sá Fernandes, enquanto percorre os espaços do convento que
vão ser restaurados para abrirem ao público no início de 2017
Inês Boaventura /
25-7-2016 / PÚBLICO
“Isto
é um passeio único dentro de Lisboa, que ninguém conhece”,
observa Sá Fernandes
Por esta Lisboa fora
há tesouros escondidos que só alguns têm o privilégio de poder
apreciar. Em Março de 2017, por ocasião da Procissão do Senhor
Jesus dos Passos da Graça, alguns deles vão ser revelados: a partir
daí vai ser possível percorrer alguns dos espaços no interior do
Convento da Graça e descobrir, por exemplo, aquele que o vereador
José Sá Fernandes acredita ser “um dos mais bonitos claustros”
da cidade.
A ideia (que na
última reunião da Câmara de Lisboa recebeu o aval dos vereadores)
é criar “um novo percurso público” na Graça, com “valor
patrimonial, arquitectónico e cultural”, dentro do antigo convento
que está classificado como Monumento Nacional. A entrada será feita
pelo Miradouro Sophia de Mello Breyner, por uma porta que hoje em dia
está fechada, ao lado da Igreja de Nossa Senhora da Graça.
Entrados aí, os
visitantes poderão visitar a “antiga Portaria/Capela” e, depois
disso, a “antiga Sala do Capítulo/Refeitório”. Neste percurso
seguem-se o jardim e o claustro, o tal que o vereador das Estruturas
Verdes se atreve a dizer que “é provavelmente o claustro mais
bonito de Lisboa, tirando o dos Jerónimos”. O último ponto de
interesse é a “Portaria de acesso à Sacristia”, que funciona
actualmente como capela mortuária.
“Isto é um
passeio único dentro de Lisboa, que ninguém conhece”, observa Sá
Fernandes ao PÚBLICO, durante uma visita ao local. “É um sítio
absolutamente extraordinário”, acrescenta, com um tão grande
entusiasmo que, nem que tentasse, conseguiria esconder.
E não é de
estranhar: em 2000, anos antes de ser eleito pela primeira vez
vereador da Câmara de Lisboa, Sá Fernandes já lutava para que o
Convento da Graça fosse devolvido à cidade. Nessa altura, o
advogado avançou com uma acção popular contra o Estado português
e o Ministério da Defesa, na qual defendia que os espaços sem uso
deviam ser cedidos à autarquia.
Por não ter sido
bem-sucedida essa sua iniciativa como “homem de Lisboa”, Sá
Fernandes voltou à carga cinco anos depois. O Convento da Graça foi
aliás o local escolhido pelo então candidato à presidência da
autarquia para aquela que foi a sua primeira acção de rua.
“O que nós
desejamos é uma cidade ecológica, reabilitada, transparente e de
proximidade. O Convento da Graça é um caso típico onde não existe
essa Lisboa”, afirmou na ocasião, criticando o “estado de
degradação” a que o monumento nacional estava votado. “Não
permitir que os cidadãos usufruam é inconcebível”, observou,
sugerindo a instalação de um centro cultural.
Foi no entanto
preciso esperar até 2015 para que parte da velha ambição de Sá
Fernandes se concretizasse: em Junho desse ano o município inaugurou
o Jardim da Cerca da Graça. Agora, com a criação do “percurso
público” no interior do antigo convento masculino, há mais um
passo dado.
Na última reunião
camarária foi aprovada a celebração de um protocolo, com a Fábrica
Paroquial da Freguesia de Santo André — Graça e com a Real
Irmandade de Santa Cruz e Passos da Graça, no qual se estipula que
antes de aquele percurso abrir ao público serão feitas obras de
“reabilitação e restauro” dos diferentes espaços e de
“restauro e conservação” dos azulejos da Sala do Capítulo.
Estão em causa obras no valor de 360 mil euros, que a autarquia
suportará.
Quando esses
trabalhos estiverem concluídos, passará a ser possível visitar a
“antiga Portaria/Capela”, na qual se destaca o chão em mármore
trabalhado. Daí avança-se para a Sala do Capítulo, com
namoradeiras em pedra junto às janelas e paredes forradas com
painéis de azulejos azuis e brancos.
“Há aqui
notabilíssimos azulejos do século XVII — painéis de várias
dimensões nos quais se historiam e glorificam feitos de ermitas
agostinianos, que se notabilizaram, sobretudo, nas Índias Orientais
e Ocidentais”, descreveu Mário Sampaio
Ribeiro em 1939. Na
obra A Igreja e o Convento de Nossa Senhora da Graça, citada na
proposta camarária, o autor acrescenta que “neles estão
representados os martírios ou triunfos de Veneráveis e de Beatos da
Ordem”.
A partir dessa sala,
que no passado foi refeitório e também infantário, acede-se ao
claustro. A ele Mário Sampaio Ribeiro, que pergunta se “corta ou
não corta o coração o estado em que está” e se “é ou não
uma obra de caridade a sua reintegração”, refere-se como
“verdadeiramente monumental, por suas grandiosas proporções”.
Na proposta assinada
por Sá Fernandes cita-se ainda uma publicação da Junta Distrital
de Lisboa, que do claustro destaca a “soberba quadra maneirista de
mármores policromos, com cinco arcos de volta plena por lado, sobre
pilares toscanos, separados por vãos de verga recta”.
“Vai ser tudo
restaurado”, garante Sá Fernandes, antecipando que o claustro e o
jardim no seu interior (que hoje está cheio de ervas e que esconde
uma cisterna cheia de entulho) se vão tornar um espaço privilegiado
“de sombra, de descanso, de usufruto, de meditação”.
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