domingo, 24 de julho de 2016

Convento da Graça esconde tesouros que em breve serão revelados




Convento da Graça esconde tesouros que em breve serão revelados
Isto é um passeio único dentro de Lisboa, que ninguém conhece”, diz o vereador Sá Fernandes, enquanto percorre os espaços do convento que vão ser restaurados para abrirem ao público no início de 2017

Inês Boaventura / 25-7-2016 / PÚBLICO

Isto é um passeio único dentro de Lisboa, que ninguém conhece”, observa Sá Fernandes

Por esta Lisboa fora há tesouros escondidos que só alguns têm o privilégio de poder apreciar. Em Março de 2017, por ocasião da Procissão do Senhor Jesus dos Passos da Graça, alguns deles vão ser revelados: a partir daí vai ser possível percorrer alguns dos espaços no interior do Convento da Graça e descobrir, por exemplo, aquele que o vereador José Sá Fernandes acredita ser “um dos mais bonitos claustros” da cidade.

A ideia (que na última reunião da Câmara de Lisboa recebeu o aval dos vereadores) é criar “um novo percurso público” na Graça, com “valor patrimonial, arquitectónico e cultural”, dentro do antigo convento que está classificado como Monumento Nacional. A entrada será feita pelo Miradouro Sophia de Mello Breyner, por uma porta que hoje em dia está fechada, ao lado da Igreja de Nossa Senhora da Graça.
Entrados aí, os visitantes poderão visitar a “antiga Portaria/Capela” e, depois disso, a “antiga Sala do Capítulo/Refeitório”. Neste percurso seguem-se o jardim e o claustro, o tal que o vereador das Estruturas Verdes se atreve a dizer que “é provavelmente o claustro mais bonito de Lisboa, tirando o dos Jerónimos”. O último ponto de interesse é a “Portaria de acesso à Sacristia”, que funciona actualmente como capela mortuária.
“Isto é um passeio único dentro de Lisboa, que ninguém conhece”, observa Sá Fernandes ao PÚBLICO, durante uma visita ao local. “É um sítio absolutamente extraordinário”, acrescenta, com um tão grande entusiasmo que, nem que tentasse, conseguiria esconder.
E não é de estranhar: em 2000, anos antes de ser eleito pela primeira vez vereador da Câmara de Lisboa, Sá Fernandes já lutava para que o Convento da Graça fosse devolvido à cidade. Nessa altura, o advogado avançou com uma acção popular contra o Estado português e o Ministério da Defesa, na qual defendia que os espaços sem uso deviam ser cedidos à autarquia.
Por não ter sido bem-sucedida essa sua iniciativa como “homem de Lisboa”, Sá Fernandes voltou à carga cinco anos depois. O Convento da Graça foi aliás o local escolhido pelo então candidato à presidência da autarquia para aquela que foi a sua primeira acção de rua.
“O que nós desejamos é uma cidade ecológica, reabilitada, transparente e de proximidade. O Convento da Graça é um caso típico onde não existe essa Lisboa”, afirmou na ocasião, criticando o “estado de degradação” a que o monumento nacional estava votado. “Não permitir que os cidadãos usufruam é inconcebível”, observou, sugerindo a instalação de um centro cultural.
Foi no entanto preciso esperar até 2015 para que parte da velha ambição de Sá Fernandes se concretizasse: em Junho desse ano o município inaugurou o Jardim da Cerca da Graça. Agora, com a criação do “percurso público” no interior do antigo convento masculino, há mais um passo dado.
Na última reunião camarária foi aprovada a celebração de um protocolo, com a Fábrica Paroquial da Freguesia de Santo André — Graça e com a Real Irmandade de Santa Cruz e Passos da Graça, no qual se estipula que antes de aquele percurso abrir ao público serão feitas obras de “reabilitação e restauro” dos diferentes espaços e de “restauro e conservação” dos azulejos da Sala do Capítulo. Estão em causa obras no valor de 360 mil euros, que a autarquia suportará.
Quando esses trabalhos estiverem concluídos, passará a ser possível visitar a “antiga Portaria/Capela”, na qual se destaca o chão em mármore trabalhado. Daí avança-se para a Sala do Capítulo, com namoradeiras em pedra junto às janelas e paredes forradas com painéis de azulejos azuis e brancos.
“Há aqui notabilíssimos azulejos do século XVII — painéis de várias dimensões nos quais se historiam e glorificam feitos de ermitas agostinianos, que se notabilizaram, sobretudo, nas Índias Orientais e Ocidentais”, descreveu Mário Sampaio
Ribeiro em 1939. Na obra A Igreja e o Convento de Nossa Senhora da Graça, citada na proposta camarária, o autor acrescenta que “neles estão representados os martírios ou triunfos de Veneráveis e de Beatos da Ordem”.
A partir dessa sala, que no passado foi refeitório e também infantário, acede-se ao claustro. A ele Mário Sampaio Ribeiro, que pergunta se “corta ou não corta o coração o estado em que está” e se “é ou não uma obra de caridade a sua reintegração”, refere-se como “verdadeiramente monumental, por suas grandiosas proporções”.
Na proposta assinada por Sá Fernandes cita-se ainda uma publicação da Junta Distrital de Lisboa, que do claustro destaca a “soberba quadra maneirista de mármores policromos, com cinco arcos de volta plena por lado, sobre pilares toscanos, separados por vãos de verga recta”.

“Vai ser tudo restaurado”, garante Sá Fernandes, antecipando que o claustro e o jardim no seu interior (que hoje está cheio de ervas e que esconde uma cisterna cheia de entulho) se vão tornar um espaço privilegiado “de sombra, de descanso, de usufruto, de meditação”.

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