António
Costa contra o mundo
João Miguel Tavares
19/07/2016 –
PÚBLICO
Desde
que António Costa chegou ao governo só se discutem
impossibilidades.
António Costa seria
um fantástico primeiro-ministro se não existisse mundo. Num mundo
sem gravidade, Costa, como as vacas, voaria. Num mundo sem défice,
Costa esbanjaria. Num mundo sem matemática, Costa acertaria. Mas
neste mundo, Costa está tramado – e nós com ele. Há quem diga:
não são as suas políticas que estão desajustadas do mundo, é o
mundo que está desajustado por não permitir as suas políticas. Até
posso dar isso de barato. Mas pergunto: num braço-de-ferro entre as
políticas actuais de António Costa e as regras que actualmente
regem o mundo, ganhará o mundo ou as políticas de António Costa?
Eu voto no mundo. E é por isso que não percebo porque é que o
primeiro-ministro continua a espernear e a fingir que a sua
estratégia para o país algum dia poderá resultar dentro da
atmosfera terrestre.
Minto: até percebo,
em parte. António Costa saltou para cima do palco – ou, para citar
Pedro Passos Coelho na entrevista ao DN de sábado, “roubou a
legislatura” –, envolveu na sua estratégia partidos e
portugueses, pôs toda a gente a olhar para ele e a elogiar os seus
truques de magia, e agora, sem cartola nem varinha, resta-lhe sorrir
muito e improvisar. O que eu não percebo – e isso não percebo
mesmo – é o elevado número de pessoas que estão na plateia e
ainda não se deram conta de que o malabarista é um malabarista,
confundindo-o com um primeiro-ministro responsável. Não há ali
responsabilidade alguma. Costa vendeu a alma para chegar a São
Bento. Mário Centeno tinha um programa para o lugar, ficou com o
lugar, mas não com o programa. Sobram os truques, o voluntarismo e a
energia cega dos desesperados. Muita gente diz: “Bravo! Um homem
corajoso que faz voz grossa em Bruxelas!” Mas qual coragem? A
coragem de Hollande? A coragem de Tsipras? A coragem dos falidos que
julgam resolver os seus problemas chateando os credores? A
intervenção do actual governo na Europa resume-se a isto: cartas
para cá, cartas para lá, e blá-blá-blá. Afinal, o que pode Costa
fazer? Falar alto? Sair da União Europeia? Furar as rodas da cadeira
de Schäuble? Mandar a CGTP manifestar-se em Estrasburgo?
António Costa
ganhou as eleições prometendo crescimento. António Costa chegou ao
governo prometendo reversões que iriam impulsionar o crescimento.
Onde raio está o crescimento? Não há. Não se vê. Eclipsou-se.
Kaput! O crescimento em 2016, com todas as reposições, corre o
risco de ser metade do de 2015. A solução de Costa para o país,
que muita gente avisou que era completamente tonta, é mesmo
completamente tonta. Nem sequer quero invocar o tão maltratado e
incompreendido TINA. Sim, há imensas alternativas para o país.
Alternativa 1: vamos cortar no sítio A ou no sítio B? Alternativa
2: vamos poupar no sítio C ou no sítio D? Alternativa 3: vamos
taxar no sítio E ou no sítio F? Essas são as alternativas.
Infelizmente, não é alternativa não cortar, não poupar, não
taxar. Não são alternativas alargar, aumentar ou devolver.
No entanto, desde
que António Costa chegou ao governo só se discutem
impossibilidades. Com voz grossa, com patriotismo, com cachecóis de
Portugal – mas impossibilidades. E quando vier a próxima
bancarrota? Bom, aí teremos de esperar que o primeiro-ministro
ofereça a cada português uma vaca alada, para partirmos todos de
mãos dadas, em direcção a um lugar mais bonito e mais justo. Se
este mundo já não tem dinheiro para pagar o socialismo, resta uma
única solução: ficar com o socialismo e mudar de mundo.
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