Projecto
para a Praça do Império avança, com os votos contra de toda a
oposição
Inês Boaventura
20/07/2016 –
PÚBLICO
A Câmara de Lisboa
aprovou também uma série de sugestões apresentadas pelo júri do
concurso, incluindo o estabelecimento de uma ligação entre este
jardim e o Jardim Afonso de Albuquerque.
Como era expectável,
a Câmara de Lisboa aprovou, com os votos contra de toda a oposição,
a atribuição do primeiro lugar do concurso para a “renovação”
do Jardim da Praça do Império ao atelier ACB Arquitectura
Paisagista. Mas o município foi além disso e aprovou também um
conjunto de recomendações formuladas pelo júri, entre as quais se
incluem a requalificação da ligação subterrânea ao Padrão dos
Descobrimentos e a criação de uma ligação entre este jardim e o
Jardim Afonso de Albuquerque.
Ao todo são oito as
recomendações que o júri presidido por Simonetta Luz Afonso
dirigiu ao vereador da Estrutura Verde. Numa missiva endereçada a
José Sá Fernandes pedia-se ao autarca “o maior empenho em dar
sequência” a essas “sugestões” que, sustentava-se,
“valorizarão o conjunto, a integração do jardim na envolvente e
a tão almejada ligação ao rio”.
Além das já
mencionadas, essas sugestões incluem a “retirada do estacionamento
e circulação automóvel no limite Sul do jardim” e o “repensar
um espaço alternativo para estacionamento de autocarros de turismo”,
bem como a “criação de acessibilidades na praça e na envolvente
para pessoas de mobilidade reduzida”. Igualmente recomendadas eram
a “criação de um sistema apropriado de sanitários” e a
“instalação de uma rede wi-fi na praça”, entre outros
aspectos.
As recomendações
do júri acabaram por ser incorporadas na proposta que foi apreciada
esta quarta-feira em reunião camarária, tendo merecido o voto
favorável de todos os eleitos. Já o relatório do júri do concurso
foi aprovado com os votos contra do PSD, do PCP e do CDS, partidos
que defendem a manutenção dos brasões coloniais do Jardim da Praça
do Império.
Pelo PSD, vereador
António Prôa desvaloriza o argumento de que esses elementos em
mosaico-cultura só foram introduzidos cerca de duas décadas depois
da criação do jardim, no âmbito de uma exposição de
floricultura. “Parece-nos um argumento de quem quer a todo o custo
eliminar os brasões”, diz o autarca, que defende que mais
relevante do que isso é o facto de eles “fazerem parte da
identidade” deste espaço verde da freguesia de Belém.
António Prôa é
por isso muito crítico da decisão de se acabar com os brasões. “Já
nem corresponde a um preconceito ideológico. Passámos essa fase e
passou a ser teimosia da maioria”, considera, acusando o executivo
presidido por Fernando Medina de não ter “capacidade de evoluir”
e de “reconhecer que a sua visão não corresponde ao sentimento da
cidade”.
O eleito
social-democrata aponta um outro “erro” à maioria: o de não ter
enquadrado desde o início a “intervenção pontual” que vai
realizar no Jardim da Praça do Império “num programa de
intervenção global” que abrangesse a área “desde o Museu dos
Coches até ao Centro Cultural de Belém”. “Reordenar o espaço
público, retirar os autocarros de turismo, requalificar a zona, isso
sim devia merecer a atenção da câmara”, afirma.
Já Carlos Moura, do
PCP, insiste na importância da mosaico-cultura para Lisboa e
sustenta por isso que acabar com os brasões corresponde a “um
apagar de estruturas que do ponto de vista cultural tinham
importância para a cidade, eram património”.
Numa proposta que
apresentou esta quarta-feira sobre o assunto, o partido sublinha que
“a arte de modelação de espécies vegetais em canteiro é uma
arte de extrema perícia” e que “restam hoje poucos exemplares
desta arte que é necessário preservar”. “O conjunto mais
significativo” dessa arte, acrescenta-se, encontra-se precisamente
no Jardim da Praça do Império.
Face a isso, os
vereadores do PCP propuseram que a câmara abrisse um concurso para a
contratação de jardineiros, que promovesse “a aprendizagem da
arte de modelação de espécies vegetais em canteiro” através da
“redinamização da sua Escola de Jardineiros” e que
apresentasse, no prazo de 90 dias, um plano para essa redinamização.
A primeira proposta foi rejeitada pela maioria e as outras duas foram
aprovadas por unanimidade.
Também o vereador
centrista João Gonçalves Pereira pugnou pela manutenção dos
brasões. Já a maioria emitiu um comunicado no qual diz que “nenhuma
das propostas do concurso previa a recriação dos brasões” e
sublinha que estes “há muito não existem”.
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