Livraria
Lello acordou de cara lavada, como era há 110 anos
Margarida David
Cardoso
30/07/2016 –
PÚBLICO
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Nesta primeira fase
do restauro da livraria no Porto foram também feitas intervenções
na estrutura do edifício.
Há 110 anos, José
Pinto de Sousa Lello e o irmão António Lello abriam as portas da
Livraria Lello & Irmão, na Rua das Carmelitas, no Porto. Esta
teria a fachada pintada com cores fortes, que emoldurassem as figuras
femininas da Arte e da Ciência, lê-se ainda hoje no álbum
descritivo que os irmãos escreveram em 1906. Seguindo este querer, a
Livraria Lello sofreu obras de restauro que devolveram a cor à mais
famosa livraria da cidade.
A obra de restauro,
iniciada em Abril deste ano, quis recuperar a essência original do
edifício e recuou sobre as 12 camadas de tinta, feitas em pelo menos
cinco intervenções na fachada do edifício, para encontrar as cores
originais, que as fotografias da época bem deixavam crer que lá
estavam. E são estas cores que estão hoje à mostra, uma vez “que
grande parte da superfície que vemos, é da pintura original”,
assegurou Joel Cleto, o historiador e arqueólogo portuense que este
sábado fez a apresentação da nova, e ainda assim mais antiga que
nunca, cara da Lello.
Na apresentação,
na manhã deste sábado, dois homens desceram pela fachada do
edifício fazendo descair o pano branco que tapava as cores deste
restauro e dando-a a conhecer ao público curioso que ali se juntou.
Ao longo dos anos, a
fachada terá sido pintada cinco vezes e sofreu sucessivas demãos
que a reduziram aos tons de beije e preto, que contornava as letras e
as figuras originais desenhadas por José Bielman. Depois de mais de
um século em que a fachada foi sendo alterada, foi agora possível
recuperar grandes superfícies com a pintura inicial, graças a
técnicas que envolveram análises químicas e laboratoriais.
A isto somam-se
muitas tentativas para afinar a cor, até encontrar os tons
originais. Mais de 40 mostras de cores depois, “o restauro é
verdadeiramente notável”, reforçou por diversas vezes Joel Cleto.
E pela primeira vez
foi removido o vitral interior da livraria. Limpo, restaurado e
renovadas as estruturas que o suportavam, este vitral de oito metros
de comprimento, com 55 painéis, volta a “iluminar o interior da
livraria, o conhecimento, a arte e a ciência”, servindo o
propósito original pelo qual foi colocado em 1906, recordou o
historiador. Lá de fora, eram muitos os curiosos e os convidados
para esta apresentação que fotografavam a “arquitectura da luz”
deste espaço.
“Há uma nova luz,
uma luz que como em 1906 volta a iluminar esta catedral da arte e da
ciência”, são as palavras de Joel Cleto sobre as quais José
Manuel Lello acenou em concordância. O administrador da livraria
acredita que esta obra valoriza o edifício e a cidade – e não
apenas a livraria que recebe cerca de três mil pessoas por dia.
Vendem-se cinco mil
livros por semana, cerca de 300.000 ao ano na Livraria Lello. Números
que mais do que quadruplicaram no espaço de um ano, quando a
livraria começou a cobrar a entrada a quem visita o espaço, mas não
sai com um livro.
Tanto os
administradores, José Manuel Lello e Pedro Pinto, como o historiador
e a Direcção-Regional da Cultura do Norte, que validou o processo,
acreditam que estão reunidas as condições de durabilidade desta
casa, que em tempos conheceu o desgaste e a degradação do seu
interior. Foi também por isso, que nesta primeira fase do restauro,
foram também feitas intervenções na estrutura do edifício. Um
trabalho que não é visível, mas “permitirá que a Lello continue
a ser uma referência essencial a nível nacional e internacional”,
reconheceu Joel Cleto.
Durante estes quatro
meses de trabalho de restauro, a livraria manteve-se aberta, com
excepção do período que foi montado o equipamento de segurança.
Desde então, a fachada teve cores ainda mais fortes, com os
graffiters Mr. Dheo e Pariz One a assinarem o painel que escondeu os
andaimes até há poucos dias.
Numa apresentação
em que estiveram presentes o vereador da Câmara do Porto, Manuel
Pizarro; o reitor da Universidade do Porto, Sebastião Feyo de
Azevedo; e o ex-ministro da Cultura, João Soares; José Manuel Lello
anunciou que serão iniciadas “em breve” as obras de restauro do
interior da livraria.
Nove anos depois, um
dia de Harry Potter
A montra e as
principais estantes da livraria já antecipam o evento desta noite.
Avolumam-se os exemplares dos livros da saga Harry Potter, de J.K.
Rowling, e dentro e fora da livraria as conversas vão sempre dar ao
evento marcado para a meia-noite: o lançamento do novo livro Harry
Potter and the Cursed Child - Parts I & II. Um regresso das
histórias da feitiçaria de Hogwarts, nove anos depois do lançamento
de Harry Potter e os talismãs da morte.
Ainda que este livro
seja o guião de uma peça de teatro, escrito por J.K.Rowling, Jack
Thorne e John Tiffany, a febre de Harry Potter já moveu uma dezena
de jovens para a fila de espera, junto à Lello. “São as minhas
personagens preferidas outra vez, não podia perder isto por nada”,
justifica Patrícia, a primeira da fila e será dela o primeiro
livro. A jovem espera desde as 11h desta sexta-feira, com um grupo de
amigos acampados na fila junto ao passeio dos Clérigos.
Estão à espera “de
um livro tão fantástico como os outros”, diz Patrícia, sobre uma
saga que, como a amiga Mafalda Pereira, leram toda a infância e as
acompanhou na juventude. “É dormir no chão, mas vale a pena”,
conta Mafalda.
Nos EUA este já é
o livro com mais pré-vendas desde 2007. No Porto, há seis mil
exemplares à venda, sujeitos a pagamento antecipado nos Armazéns
Castelo. O livro custa 26 euros e está apenas disponível em inglês.
Texto editado por
Bárbara Wong
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