sexta-feira, 22 de julho de 2016

De Nice a Munique, as ameaças do terror


De Nice a Munique, as ameaças do terror
DIRECÇÃO EDITORIAL 23/07/2016 – PÚBLICO

A polícia alemã fala em “ameaça de terror aguda”. Para baralhar os dados, mais um nome: Munique.


Ainda mal a Europa refizera do massacre de Nice e do ataque a passageiros num comboio de Würzburgo, a palavra terror voltou a ecoar, desta vez em Munique, também no Estado alemão da Baviera (onde fica Würzburgo). Um tiroteio no maior centro comercial bávaro fez pelo menos oito mortos. Há um nono morto, mas será um dos atiradores, que segundo a polícia se suicidou. Na noite de sexta-feira pairavam ainda sobre o atentado várias dúvidas. Uns falavam em ataque islamista, outros atribuíam-no à extrema-direita islamófoba; uns ouviram gritar “malditos turcos!”, outros “allahu akbar!” (Deus é grande, em árabe). Não podem estar ambos certos, mas a confusão é justificada. A cada acto-relâmpago de terror tudo se torna menos nítido, porque o inimigo é “invisível”, ataca de forma inesperada e em lugares públicos movimentados. Não demorará até saber (se é que não se saberá já, ao longo da manhã de sábado) algo mais sobre os atiradores de Munique, que se puseram em fuga sem que a polícia conseguisse, logo após o atentado, seguir-lhes o rasto. Quem eram, quais as suas motivações, que ligações teriam a ideologias ou grupos. A pista do Daesh tem sido a mais comum, e a mais comprovada nas investigações aos atentados dos últimos tempos. Mas pode não ser a única. O que se vai percebendo é que, mesmo quando se trata, aparentemente, de “lobos solitários” (casos de Nice e Würzburgo), os atentados não são fruto de impulsos fanáticos gerados em poucos dias, mas sim fruto de planos gizados ao longo de semanas ou meses. Historicamente, massacres sem qualquer ligação ao terror em nome do Islão como os da Noruega ou de Columbine, foram também minuciosamente preparados pelos seus autores. Os que, agora, se sucedem em nome do pretenso califado de terroristas islâmicos, terão também o seu grau de preparação. Convém lembrar que, ao longo dos últimos anos, após o 11 de Setembro, muitos atentados terão sido evitados em vários países devido a uma acção preventiva das polícias. Mas os que escaparam a tal filtro foram suficientes para semear o terror e pôr em sobressalto populações e países. Basta dizer que o atentado em Würzburgo (um jovem de 17 anos que atacou com um machado e uma faca passageiros de um comboio alemão) bastou para declarar o estado de emergência na região; e o atentado de ontem, com três atiradores, bastou para cortas estradas, fechar estações ferroviárias, suspender transportes públicos e afastar os habitantes das ruas. Por “pequena” que pareça a ameaça, vista de fora, as sociedades alvo de cada ataque são levadas a reagir como se estivessem em guerra. E, na verdade, estão. Só que não sabem onde se escondem os inimigos, nem onde tencionam atacar, nem quais os seus potenciais alvos. Esta vulnerabilidade é o maior trunfo dos que apostam no terror como arma. Mas é recusando esta lógica, não se deixando atemorizar e defendendo sempre a sua liberdade, que as sociedades atacadas sobreviverão. O terror não pode ganhar esta batalha.

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