De
Nice a Munique, as ameaças do terror
DIRECÇÃO EDITORIAL
23/07/2016 – PÚBLICO
A
polícia alemã fala em “ameaça de terror aguda”. Para baralhar
os dados, mais um nome: Munique.
Ainda mal a Europa
refizera do massacre de Nice e do ataque a passageiros num comboio de
Würzburgo, a palavra terror voltou a ecoar, desta vez em Munique,
também no Estado alemão da Baviera (onde fica Würzburgo). Um
tiroteio no maior centro comercial bávaro fez pelo menos oito
mortos. Há um nono morto, mas será um dos atiradores, que segundo a
polícia se suicidou. Na noite de sexta-feira pairavam ainda sobre o
atentado várias dúvidas. Uns falavam em ataque islamista, outros
atribuíam-no à extrema-direita islamófoba; uns ouviram gritar
“malditos turcos!”, outros “allahu akbar!” (Deus é grande,
em árabe). Não podem estar ambos certos, mas a confusão é
justificada. A cada acto-relâmpago de terror tudo se torna menos
nítido, porque o inimigo é “invisível”, ataca de forma
inesperada e em lugares públicos movimentados. Não demorará até
saber (se é que não se saberá já, ao longo da manhã de sábado)
algo mais sobre os atiradores de Munique, que se puseram em fuga sem
que a polícia conseguisse, logo após o atentado, seguir-lhes o
rasto. Quem eram, quais as suas motivações, que ligações teriam a
ideologias ou grupos. A pista do Daesh tem sido a mais comum, e a
mais comprovada nas investigações aos atentados dos últimos
tempos. Mas pode não ser a única. O que se vai percebendo é que,
mesmo quando se trata, aparentemente, de “lobos solitários”
(casos de Nice e Würzburgo), os atentados não são fruto de
impulsos fanáticos gerados em poucos dias, mas sim fruto de planos
gizados ao longo de semanas ou meses. Historicamente, massacres sem
qualquer ligação ao terror em nome do Islão como os da Noruega ou
de Columbine, foram também minuciosamente preparados pelos seus
autores. Os que, agora, se sucedem em nome do pretenso califado de
terroristas islâmicos, terão também o seu grau de preparação.
Convém lembrar que, ao longo dos últimos anos, após o 11 de
Setembro, muitos atentados terão sido evitados em vários países
devido a uma acção preventiva das polícias. Mas os que escaparam a
tal filtro foram suficientes para semear o terror e pôr em
sobressalto populações e países. Basta dizer que o atentado em
Würzburgo (um jovem de 17 anos que atacou com um machado e uma faca
passageiros de um comboio alemão) bastou para declarar o estado de
emergência na região; e o atentado de ontem, com três atiradores,
bastou para cortas estradas, fechar estações ferroviárias,
suspender transportes públicos e afastar os habitantes das ruas. Por
“pequena” que pareça a ameaça, vista de fora, as sociedades
alvo de cada ataque são levadas a reagir como se estivessem em
guerra. E, na verdade, estão. Só que não sabem onde se escondem os
inimigos, nem onde tencionam atacar, nem quais os seus potenciais
alvos. Esta vulnerabilidade é o maior trunfo dos que apostam no
terror como arma. Mas é recusando esta lógica, não se deixando
atemorizar e defendendo sempre a sua liberdade, que as sociedades
atacadas sobreviverão. O terror não pode ganhar esta batalha.
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