Os
equívocos de Munique
DIRECÇÃO EDITORIAL
24/07/2016 – PÚBLICO
O
atentado de Munique baralhou clichés adquiridos. Mas outros haverá,
infelizmente. E precisamos de estar atentos.
Munique tem na sua
história um massacre terrorista. Ocorreu há 44 anos, durante os
Jogos Olímpicos de Verão de 1972. Na madrugada de 5 de Setembro, o
grupo árabe Setembro Negro invadiu a vila olímpica, matou dois
atletas da equipa israelita e fez reféns os outros nove, que viriam
a ser mortos depois. Foi uma página negra na história dos Jogos, na
história da cidade e na história mundial. Munique foi, além disso,
palco de um golpe de estado falhado de Hitler, em 1923, que dali
queria partir à conquista de Berlim à frente dos seus
correligionários. O golpe falhou, vários nazis foram mortos e
outros presos. Entre eles o próprio Hitler, que numa prisão bávara,
não longe de Munique, escreveu o Mein Kampf. início de um terror
inimaginável, com milhões de vítimas numa Europa em escombros.
Na sexta-feira,
Munique viu-se literalmente paralisada por um atentado a que a
velocidade das notícias colou o selo de “terrorista”. Foi um
atentado que espalhou o terror, sim, mas a sua aparência acabou por
ser desmentida pela realidade. Os nove mortos, na sua maioria jovens,
foram abatidos por outro jovem, Al Sonboly, de 18 anos, que no final
do tiroteio se suicidou. As ligações ao Daesh ou a qualquer outro
grupo terrorista islâmico acabaram por não se confirmar, restando a
pista de um massacre motivado por ódio. Isto são conclusões da
polícia, depois de buscas em casa da família do assassino. O que
foi posto a correr no dia do atentado (cúmplices em fuga, suspeitas
de ligação a grupos terroristas, etc) deveu-se à pressão,
excessiva, em contar “tudo” rapidamente, mesmo o que não se
sabe.
Se nos atentados de
Nice ou Würzburgo (onde a pista do Daesh foi depois comprovada) até
houve ministros a arriscar, em público, versões diferentes para as
motivações dos autores dos crimes, não admira que muitos outros se
cheguem à frente com “explicações” que carecem de
fundamentação. Neste momento, sabendo a Europa e o mundo que a vaga
de atentados postos em marcha pelo Daesh poderá continuar, e que
cada um desses atentados quererá ter a maior cobertura mediática
possível (só assim o terror funciona), terá de haver maiores
cuidados, não só na forma de difusão como no enquadramento
imediato de cada caso. Sem pôr em causa a liberdade de informar, o
uso dos meios de comunicação é uma arma que, usada sem critério
nem ética, completará o “serviço” dos terroristas.
O caso de Munique
baralhou clichés adquiridos. Mas outros haverá, infelizmente. E
precisamos de estar atentos.
Sem comentários:
Enviar um comentário