Buracos
na segurança do aeroporto
Direcção Editorial
01/08/2016 – 01:11
Quatro ilegais fogem
da polícia pela pista fora. A ministra está "tranquila".
O episódio
envolvendo cinco argelinos que apanharam um voo em Argel, com destino
a Cabo Verde, mas que acabaram detidos pela polícia, em Lisboa,
mostra bem a vulnerabilidade dos sistemas de segurança, num tempo em
que o seu funcionamento é crucial para poupar vidas e danos
materiais. Tudo indica que este caso não tem nada a ver com
terrorismo, tratando-se de indivíduos que pretendem imigrar
ilegalmente para a Europa, mas não deixa de ser perturbador
constatar que as falhas da nossa segurança são conhecidas lá fora
ao ponto de justificarem o risco por parte de quem as queira
aproveitar. Sabe-se que alguns deles já tinham tentado entrar na
Europa através de outros países da União Europeia, o que não se
sabe é quantos já tentaram e conseguiram. E tanto pode tratar-se de
imigração ilegal, como de gente bem menos recomendável como
terroristas, traficantes de droga ou criminosos em fuga.
Nenhum dos episódios
anteriormente detectado tinha sido tão grave como este que ocorreu
agora em Lisboa, mas este alerta é um bom pretexto para se exigir
das autoridades uma verificação minuciosa das condições de acesso
e circulação nos três aeroportos internacionais de Portugal.
Porque não chega sujeitar (e bem) cada passageiro a todas as
incomodidades em nome do bem comum. É imperioso que os responsáveis
a quem conferimos poderes e meios para nos proteger, cumpram a sua
obrigação de estudar, com critério e rigor, cada centímetro do
espaço que lhes está confiado, prevendo, até ao limite do
possível, todas as escapatórias e esquemas dos infractores. É
verdade que não se pode prever tudo, mas a estranha nebulosa à
volta deste caso não nos deve deixar descansados quanto à eficácia
da segurança, pelo menos no aeroporto Humberto Delgado. A não ser
assim, como se compreende o silêncio das autoridades sobre o
assunto? Isto porque, até agora (fim de tarde de domingo, 31 de
Julho), ainda ninguém se disponibilizou a responder cabalmente a
todas as questões em aberto. Qual o percurso dos cinco indivíduos
depois de saírem do avião? Como é que quatro deles conseguiram
escapar ao controlo e entrar na pista? Porque só fugiram quatro?
Quais as intenções do quinto elemento? Foi detectado algum esquema
de cumplicidade em território nacional? E não vale a declaração
da ministra da Administração Interna a dizer que sai “descansada
deste processo” e que está “tranquila” porque “todos os
protocolos de segurança funcionaram”. Pelos vistos, para a
ministra, no passa nada, apesar de quatro indivíduos terem andado a
correr na pista do aeroporto. Este tom condescendente e a tentar
desvalorizar uma situação grave preocupa mais do que alivia, porque
convida ao baixar de braços. Não chega dizer que os cinco ilegais
não são terroristas para desdramatizar. O problema é que se fossem
terroristas Constança Urbano de Sousa ficaria igualmente tranquila
porque eles tinham sido detidos. O problema é quantos têm
conseguido escapar.
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