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WikiLeaks
põe democratas a controlar danos
E-mails
revelados pela WikiLeaks levam à demissão da presidente do partido,
numa tentativa de acalmar os apoiantes de Sanders. Que continua firme
no apoio a Clinton, dizendo que o objectivo é travar Trump
Alexandre Martins,
na Pensilvânia / 25-7-2016 / PÚBLICO
Apenas um dia depois
de os republicanos terem esvaziado uma Cleveland coberta de polícias
e palco de protestos mais coloridos do que violentos, o Partido
Democrata vi-se atolado numa polémica com consequências
imprevisíveis para a imagem de união que Hillary Clinton tem de
transmitir em Filadélfia, entre hoje e quinta-feira.
Hillary Clinton será
oficialmente nomeada candidata presidencial dos democratas em
Filadélfia
Enquanto a convenção
do Partido Republicano decorria em Cleveland, na semana passada,
Hillary Clinton e os seus gestores de redes sociais deliciavam-se no
Twitter e no Facebook com o espectáculo de desunião que estava a
desenrolar-se perante os olhos de milhões de telespectadores. Da
mini-revolta de alguns delegados anti-Trump à histórica rebelião
do senador Ted Cruz em pleno palco, tudo servia para reforçar a
mensagem de que “o Partido de Lincoln está a transformar-se no
Partido de Trump”, como escreveu a candidata logo no primeiro dia
da convenção.
Foi uma boa semana
para a campanha de Hillary Clinton, que nem precisou de sujar as mãos
com a polémica do plágio no discurso de Melania Trump — um caso
que pode ser pouco importante mas que acabou por dominar o ciclo
noticioso nos dois primeiros dias da convenção nacional dos
republicanos.
Uma convenção
nacional, do Partido Democrata ou do Partido Republicano, é o
momento em que os seus membros, militantes e simpatizantes se juntam
à volta do nomeado e dizem aos eleitores norte-americanos que estão
todos juntos e preparados para a luta das eleições gerais, em
Novembro.
Mas, na sexta-feira,
a organização WikiLeaks revelou cerca de 20 mil e-mails, enviados e
recebidos por alguns membros da liderança do Partido Democrata, já
queimada com as acusações de Bernie Sanders e dos seus apoiantes de
que tinha deixado de lado o seu dever de imparcialidade e inclinado o
jogo para o lado de Clinton nas primárias.
Nestas coisas da
política, muitas vezes aquilo que parece é infinitamente mais
importante do que a realidade, ainda para mais no final das primárias
mais polarizadas das últimas décadas no Partido Democrata —
Clinton teve mais vitórias em estados, mais votos e mais delegados,
mas Sanders e os seus apoiantes deram muita luta a uma mulher vista
pela maioria dos norte-americanos como pouco transparente (no mínimo)
ou “uma mentirosa nata”, como escreveu em 1996 o colunista do The
New York Times William Safire.
Na verdade, os
e-mails mais polémicos revelados pela WikiLeaks mostram mais
frustração por parte da liderança do Partido Democrata face às
acusações de que foi alvo pela campanha de Bernie Sanders do que
uma gigantesca conspiração para roubar a nomeação ao candidato.
Seja como for, a liderança do Partido Democrata (e a do Partido
Republicano) tem como dever dar as mesmas oportunidades a todos os
candidatos e não tentar interferir na campanha a favor de um ou de
outro. Mas, neste caso, foi isso que aconteceu, embora nenhuma das
mais polémicas ideias sugeridas nos e-mails agora revelados ter sido
posta em prática.
A mais baixa foi
feita pelo director financeiro do partido, Brad Marshall, que sugeriu
questionar a fé de Sanders para atacá-lo nos estados mais
religiosos: “Será que ele acredita em Deus. Ele disse de passagem
que tem herança judaica. Acho que li que é ateu. Isto pode marcar
muitos pontos junto do meu pessoal. O meu pessoal da Igreja Baptista
no Sul faria uma grande distinção entre um judeu e um ateu.”
Marshall já veio pedir desculpas, escrevendo na sua página no
Facebook que lamenta os seus “insensíveis e emotivos” e-mails,
acrescentando que o seu conteúdo não expressa nem as suas ideias
nem as ideias da presidente do partido, Debbie Wasserman Schultz.
Muito mais do que o
director financeiro, é Wasserman Schultz quem está debaixo de fogo
de Bernie Sanders e dos seus apoiantes, que pedem a sua demissão
desde o início das primárias, por estarem convencidos de que ela,
como apoiante confessa de Hillary Clinton, favoreceu a candidata
durante o processo. E os e-mails revelados reforçam essa convicção.
É num contexto de
controlo de danos que arranca esta segunda-feira a convenção do
Partido Democrata, em Filadélfia, num clima de incerteza que não
está a motivar tantos tweets divertidos por parte da campanha de
Hillary Clinton como na semana passada — a última coisa que a
candidata precisa neste momento é de ajudar Donald Trump com uma
convenção ainda pior do que a do Partido Republicano, com uma
revolta dos delegados de Sanders mais ruidosa do que a dos delegados
anti-Trump.
Para tentar acalmar
os apoiantes de Sanders, Debbie Wasserman Schultz foi retirada à
última hora da lista de oradores, para evitar uma erupção de
apupos ainda mais sonora do que a que foi dirigida a Ted Cruz na
convenção dos republicanos. Mais do que isso, a pressão foi tão
grande que ontem foi anunciado que Wasserman Schultz vai abandonar a
liderança do partido — vai abrir e fechar a convenção, e no
final desaparece de vista. Mesmo antes de Schultz ter falado, o
Presidente Barack Obama emitiu um comunicado a agradecer os seus
serviços, numa indicação de que os democratas querem atirar
rapidamente para trás das costas este problema e voltar a centrar a
atenção dos media na convenção.
Bernie Sanders, que
firmou um acordo com Hillary Clinton para recomendar o voto nela e
contra Trump em troca de concessões no programa do partido (como a
exigência da subida do ordenado mínimo para 15 dólares/hora e
universidade grátis para os filhos de famílias mais pobres), disse
apenas que os e-mails provam aquilo que ele sempre disse.
Mas a sua fúria é
direccionada apenas a Debbie Wasserman Schultz e não a Hillary
Clinton, com quem acordou, segundo as suas palavras, “o programa
político mais progressista da História do Partido Democrata”.
Mesmo perante a pressão de muitos dos seus apoiantes, Sanders mantém
que o mais importante é impedir que o “inapto” Donald Trump
chegue à Casa Branca, e passou o fimde-semana a reafirmar que vai
fazer tudo para que Hillary Clinton seja eleita Presidente dos
Estados Unidos. Sanders fala esta segunda-feira aos delegados, na
convenção, e espera-se que o seu discurso seja decisivo para a
união no Partido Democrata.
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Sanders
foi prejudicado nas primárias pelo Comité Nacional Democrático
Depois
de conhecidos os emails trocados pelo Comité Nacional Democrático
para favorecer a candidata Hillary Clinton, a presidente do comité
anunciou que se vai demitir depois da Conveção Democrata.
Hillary Clinton
ganhou as primárias norte-americanas, deixando Bernie Sanders para
trás. Mas, a julgar pelos emails divulgados no dia 22 de julho pelo
site Wikileaks, terá tido mais apoio do que o das pessoas que
frequentavam os comícios em que participava. O Comité Nacional
Democrático (CND) não terá sido imparcial e parece ter favorecido
Clinton durante as primárias, noticiou a Bloomberg. O resultado é
que Debbie Wasserman Schultz, presidente do Comité Nacional
Democrático, se vai demitir no final da semana, depois da Convenção
Democrata.
Debbie Wasserman
Schultz, presidente do Comité Nacional Democrático, esteve debaixo
de fogo durante todo o processo das primárias, mas a pressão para
que se afaste do cargo aumentou depois de conhecido o conteúdo de
quase 20 mil emails que revelam manobras de bastidores no interior da
estrutura dos democratas para prejudicar a campanha de Bernie
Sanders, noticiou a CNN. Entre outras iniciativas, o comité tentou
descredibilizar Sanders questionando a sua orientação religiosa
para o fazer perder votos nos estados mais a sul. Outro conjunto de
emails mostra como a presidente do comité conseguiu alterar uma
notícia no Real Clear Politics de forma a desfavorecer Sanders,
referiu a Fox News.
Bernie Sanders, numa
reação aos emails divulgados pelo Wikileaks, considerava que Debbie
Wasserman Schultz se devia demitir. “Disse-vos há muito tempo que
o CND não estava a conduzir uma operação justa, que estavam a
apoiar a secretária de Estado Clinton”, disse Sanders ao ABC,
citado pela Bloomberg. “O que eu sugeri há seis meses ser verdade
mostrou-se, de facto, verdade. Não estou chocado. Mas estou
desapontado.” Estava previsto que, depois do sucedido, a presidente
do comité não discursasse na Convenção Democrática que começa
nesta segunda-feira. Mas Debbie Wasserman Schultz anunciou que vai
fazer os discursos de abertura e encerramento e que se demite depois
disso, noticiou The Wall Street Journal.
“Tenho orgulho de
ter sido a primeira mulher nomeada para ser presidente do Comité
Nacional Democrático”, disse Wasserman Schultz, em comunicado,
citada pelo The Guardian. “Não podia estar mais satisfeita por os
Democratas nomearem, pela primeira vez, uma mulher para candidata a
Presidente, Hillary Clinton, uma amiga em quem sempre acreditei e que
sei que dará uma grande Presidente.”
Donna Brazile,
vice-presidente do Comité Nacional Democrático, disse que já tinha
pedido desculpa à comissão de campanha do Sanders. A
vice-presidente prometeu que o assunto será resolvido e que caso
mais emails venham a público é possível que mais pessoas sejam
afastadas, referiu a Bloomberg.
Ainda assim, Bernie
Sanders mantém o apoio a Hillary Clinton enquanto opositora de
Donald Trump. “Para mim, o mais importante agora é derrotar o pior
candidato que vi em toda a minha vida, Donald Trump”, disse
Sanders. “A maior parte dos meus apoiantes compreende que Trump tem
de ser derrotado.”
O responsável pela
campanha de Hillary Clinton, Robby Mook, tentou justificar-se à CNN
dizendo que foram hackers russos que acederam aos servidores do CND
com o objetivo de ajudar Donald Trump.
Atualizado às 22h00
com a decisão de Debbie Wasserman Schultz se demitir do cargo.
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