Lisboa
distingue 63 lojas pela sua história e cria fundo para as apoiar
INÊS BOAVENTURA
16/07/2016 - PÚBLICO
No
primeiro grupo de estabelecimentos classificados há lojas de ginja,
uma chapelaria e uma luvaria, gravadores, uma conserveira, uma loja
de tecidos e outra de bandeiras e uma casa de velas, entre muitos
outros. Os mais velhos têm mais de 200 anos.
Já foram
identificadas as primeiras lojas de Lisboa que vão ser classificadas
pela câmara como “Lojas com História”, dadas as “suas
características únicas” e o seu “reconhecido valor para a
identidade da cidade”. As distinguidas são 63, concentram-se na
Baixa Pombalina e no Chiado e incluem uma óptica, farmácias, uma
espingardaria, uma loja de ferragens, uma florista e um hospital de
bonecas, entre vários outros ramos de actividade.
Lançado em 2015
pela autarquia, o programa “Lojas com História” pretende “apoiar
e promover o comércio tradicional local como marca identitária da
cidade de Lisboa”. “Salvaguardar as lojas ainda existentes com
características únicas e diferenciadoras da actividade económica e
cuja história se confunde com a própria história da cidade” é
também uma ambição desta iniciativa camarária.
Depois de em
Fevereiro deste ano terem sido aprovados os critérios que os
estabelecimentos comerciais da cidade têm que cumprir para serem
distinguidos como “Lojas com História”, a câmara avança agora
com a classificação de um primeiro grupo de estabelecimentos. Para
a sua escolha foi tido em conta, como se lê na proposta que vai ser
apreciada, o “interesse cumulativo da actividade” que
desenvolvem, bem como a “existência e preservação de elementos
patrimoniais materiais, culturais e históricos”.
Em declarações ao
PÚBLICO, o vice-presidente da câmara, Duarte Cordeiro, explica que
a Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa (que é parceira
do município neste projecto) começou por identificar 100 lojas “com
características que vão ao encontro dos critérios aprovados”.
Essa lista foi depois analisada pelo grupo de trabalho que reúne
representantes da câmara nas áreas da Economia, Urbanismo e Cultura
e, por fim, pelo conselho consultivo do programa. Este último
integra representantes de associações da capital e personalidades
“com forte ligação à cidade, à sua história e ao seu
comércio”.
De todo esse
processo resultou a escolha de 63 lojas. “Eram as mais
inequívocas”, constata Duarte Cordeiro, acrescentando que houve o
“cuidado” de escolher estabelecimentos com actividades económicas
diversificadas. Quanto à sua localização, verifica-se, como era
expectável, uma grande concentração nas freguesias de Santa Maria
Maior e da Misericórdia, mas há também lojas dispersas por outros
pontos da cidade.
O autarca socialista
frisa que este será apenas um primeiro e “excelente” grupo a ser
distinguido, não correspondendo ao “total” de “Lojas com
História” da cidade. “Em Setembro ou Outubro podemos estar a
validar outro grupo”, admite.
A intenção é que
daqui para a frente, depois de dado este pontapé de saída, a
distinção passe a ser feita na sequência da apresentação de
candidaturas à câmara, e a reger-se por um regulamento. A primeira
versão desse documento vai ser apreciada na próxima semana e
estabelece que as classificações têm uma validade de dois anos
(período após o qual poderão ser revalidadas) e que podem ser
retiradas caso as lojas “sofram alterações” que representem um
“prejuízo dos critérios” que estiveram na base da sua
atribuição.
Na mesma reunião
camarária vai também ser discutido o Regulamento do Fundo Municipal
“Lojas com História”. Com uma dotação anual de 250 mil euros,
este fundo destina-se a “comparticipar financeiramente as despesas
a realizar” nas lojas classificadas, em três áreas: “arquitectura
e restauro”, “cultura” e “economia e comércio”. No
documento estipula-se que cada estabelecimento só poderá apresentar
uma candidatura em cada ano e que o apoio municipal “pode atingir
80% das despesas elegíveis, até ao montante limite de 25 mil
euros”.
“Acho que é muito
importante darmos este passo para a preservação da memória e da
identidade histórica do comércio da cidade. É muito importante as
pessoas sentirem que estão a ser dados passos para a sua
sustentação”, avalia Duarte Cordeiro quando questionado sobre a
importância do programa “Lojas com História”.
Segundo a câmara,
este primeiro grupo de lojas distinguidas tem uma média de 110 anos.
Entre elas há duas com mais de dois séculos: o Café Restaurante
Martinho da Arcada e a Caza das Vellas Loreto. A mais recente, de
acordo com as informações transmitidas ao PÚBLICO, é o Pavilhão
Chinês, que tem "cerca de 30 anos". Quanto à sua
actividade, "40% das lojas deste grupo são cafés, casas de
chá, pastelarias e restaurantes".
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