sexta-feira, 1 de julho de 2016

Austria’s highest court overturns presidential runoff / Ventos de Inverno na Europa

EDITORIAL / PÚBLICO
Ventos de Inverno na Europa
DIRECÇÃO EDITORIAL 01/07/2016 – PÚBLICO

A repetição das eleições na Áustria agrava ainda mais a doença europeia.
No dia 23 de Maio a Europa acordou aliviada. Alexander Van der Bellen, o ex-líder do Partido Os Verdes que se candidatou às eleições presidenciais austríacas como independente, conseguiu vencer, por uma unha negra, Norbert Hofer, o candidato do Partido da Liberdade (FPO), uma formação ultranacionalista e xenófoba. Com o referendo sobre o "Brexit" já a dominar todas as atenções, não seria um bom augúrio que os austríacos elegessem um Presidente que seria o primeiro chefe de Estado europeu de extrema-direita desde a II Guerra Mundial, além do mais defensor de uma consulta popular sobre a permanência na Europa.

Contados os votos, a margem de diferença entre os dois candidatos foi mínima - apenas cerca de 31 mil votos -, tendo a proclamação do vencedor sido apenas possível depois de verificados os 900 mil votos por correspondência. Os resultados foram contestados desde o início pela FPO, que falou de irregularidades na contagem, acabando por apresentar recurso para o Tribunal Constitucional. Ontem, esta instituição deu razão às desconfianças e anulou os resultados das eleições, que agora se vão repetir.

Aconteça o que acontecer, importa tentar perceber como se chegou até aqui e, mais uma vez, muita da responsabilidade reside na incapacidade de os partidos tradicionais, que têm dominado o sistema político nas últimas décadas, conseguirem dar resposta aos novos problemas que as novas circunstâncias têm imposto aos governos. Esta impotência transfere-se mimeticamente para as instâncias comunitárias que sobrevalorizam os números na abordagem das crises, submergindo a política e, sem ela, o factor humano acaba por ser secundarizado. Isto facilita a cedência nos princípios, a defesa de interesses egoístas e a falta de resiliência perante a adversidade que se tem vindo a agudizar nos últimos anos.

David e Cameron e Jeremy Corbyn são protagonistas de excelência dos pecados mortais que estão a levar a política aos infernos. O primeiro convocou um referendo cedendo dramaticamente ao populismo e à mesquinhez dos interesses partidários; o segundo fez-se de morto grande parte da campanha, ignorando as consequências trágicas dessa omissão para o seu país, para o projecto europeu e para o seu próprio partido. Fortaleceram demónios já à solta na Áustria que terão uma segunda oportunidade com a realização de novas eleições. Neste país, o sistema partidário está particularmente permeável, como foi visível no sufrágio presidencial de Maio, cujos resultados ajudaram ao descalabro dos partidos tradicionais, que não conseguiram fazer passar os seus candidatos à segunda volta. O chanceler social-democrata Werner Faymann acabou por se demitir, acossado pelas críticas, sobretudo à forma como geriu a crise dos refugiados. Fayman, recorde-se, resolveu responder à vaga de refugiados erguendo vedações a Sul do país e liderando o movimento de fecho da rota dos Balcãs que isolou a Grécia. Entregue a lideranças de tão pequena dimensão, o futuro da Europa é cada vez mais difícil de desenhar. E como na Guerra dos Tronos, os ventos de inverno sopram cada vez mais gelados.



Austria’s highest court overturns presidential runoff
The far-right Freedom Party had challenged the second round narrowly won by Alexander Van der Bellen.

By MATTHEW KARNITSCHNIG 7/1/16, 12:07 PM CET Updated 7/1/16, 6:27 PM CET

Austria’s far right won a new chance to seize the Alpine nation’s highest office after the country’s Constitutional Court on Friday overturned the result of the recent presidential runoff, citing widespread regulatory breaches.

The Freedom Party’s candidate Norbert Hofer narrowly lost the May 22 ballot to the former Green Party leader Alexander Van der Bellen. The Court’s decision to uphold a challenge by the far-right party forces a new runoff, which could take place in September.

“The challenge is granted,” the Court’s President Gerhart Holzinger announced, standing alongside his colleagues in ornate judicial robes with white fur trim. “The runoff must be repeated in all of Austria.”

Before announcing the result, Holzinger stressed the decision made “no one a loser and no one a winner.”

“The only purpose of this decision is to strengthen trust in our judicial system and democracy,” Holzinger said.

The move is likely to reignite the recent political turmoil in Austria, where a surge in support for the populist Freedom Party is upending the country’s postwar order.

Van der Bellen was set to be sworn in next week. The decision means the country will have no president, a largely ceremonial post, until after the new runoff. Under the law, incumbent president Heinz Fischer has to step down when his term ends on July 8.

Van der Bellen won the runoff by just over 30,000 votes, winning 50.3 percent to 49.7 percent. The call for a redo promises to galvanize both sides.

A victory by Hofer would make Austria the first European country with a far-right head of state, a prospect that has united the country’s left and its political establishment around Van der Bellen.

While the court said it found no evidence of manipulation, it did conclude that some election officials did not observe the regulations for handling postal ballots. Specifically, a number of districts began counting those ballots on election day, instead of waiting until 9 a.m. the following day, as stipulated by Austria’s voting rules.

Local election officials from the areas in question confirmed over several days of court hearings that they had breached the rules in order to save time. The main problem appears to be that many of the volunteers at the polling stations were not properly trained or supervised.

Though the postal ballot result was decisive in Van der Bellen’s victory, there’s no evidence the early tally in some polling stations influenced the outcome. Nonetheless, Austria’s election rules require strict adherence to the regulations and there is legal precedent for overturning an election on the basis of such formal errors.

The Court’s ruling is unprecedented. Never before has a national court in a European democracy ordered an election to be repeated.

Speaking in Bratislava, European Commissioner for Neighborhood Policy and Enlargement Johannes Hahn said he is not concerned that Austrians will elect the far-right candidate at the repeat of the elections. Hahn, who’s Austrian, said the May 22 runoff will be repeated, “but probably the result will be confirmed.”

Sensitive to the country’s reputation abroad, Austria’s leaders sought to put a positive spin on the decision, stressing that it proved the independence of the country’s judiciary.

“This is not a time for emotion,” Austrian Chancellor Christian Kern said after the announcement. “The decision shows that our system of laws is robust and works very well.”

President Fischer, a constitutional law expert, said the ruling made him proud. “It’s an important day. Austria’s democracy passed an important test,” he said.

Fischer said he believes the country would learn from its mistakes by improving its electoral laws and supervision. He compared the situation to the infamous wine scandal in Austria in the 1980s, when it was revealed that some producers were adding antifreeze chemicals to sweeten their wines.

The international outcry, which darkened the image of Austrian wine for a generation, led to stricter rules and oversight and, ultimately, a resurrection of the industry’s fortunes.

“Today we have excellent quality,” Fischer said.

This article has been updated to add a quote from European Commissioner Johannes Hahn.

Jacopo Barigazzi contributed from Bratislava.

Authors:


Matthew Karnitschnig 

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