sábado, 16 de março de 2019

CONFERÊNCIA A EUROPA E O PRESENTE



As tensões crescentes e subterrâneas não se resumem, de forma nenhuma, exclusivamente a uma questão “estrutural” ( By the way : A União Monetária defendida pelos oradores, será baseada em que modelo ideológico económico e financeiro ? ) mas a questões de sentimento muito difíceis de definir, mas que tendem nas suas tensões a dominar as políticas, através do voto protesto – anti Globalizaçào, ameaçando os políticos …
O entendimento objectivo e a análise serena e crítica são fundamentais para tentar compreender o "fenómeno-vírus" na sua complexidade e mutação.
Quantos dos presentes já leram os dois livros apresentados em baixo ?
OVOODOCORVO

CONFERÊNCIA A EUROPA E O PRESENTE
A Europa está sitiada. E terá de se defender sozinha
Marcelo Rebelo de Sousa e António Costa apontam receitas para assegurar a sobrevivência da União Europeia. O aprofundamento da união monetária e bancária são os principais ingredientes para impedir o projecto europeu de submergir face às ameaças, internas e externas, que enfrenta.

 Natália Faria
Natália Faria 15 de Março de 2019, 22:37

Numa União Europeia (UE) ameaçada de morte por todos os lados, Marcelo Rebelo de Sousa não tem dúvidas: ou os líderes europeus se mostram capazes de entender como estruturais, e não como conjunturais, os problemas que a ameaçam, “ou uma oportunidade soberana ficará perdida”.

 “Se os problemas que a União Europeia enfrenta são estruturais, e, sendo iminentemente europeus, mergulham as suas raízes nas realidades nacionais, então importa pensar e decidir estruturalmente, e não criar ilusões de que brotarão de um qualquer milagre europeu líderes e bases de sustentação que não venham de uma profunda mudança de vida dos Estados-membros da União. Sempre com a exacta noção de que, de fora da União Europeia, não virão grandes ajudas para já”, avisou Marcelo Rebelo de Sousa, falando na Conferência A Europa e o Presente – o futuro da Europa pensa-se agora, promovida ontem pelo PÚBLICO, na Casa da Música, no Porto.

Lembrando que a UE joga sozinha numa luta pela sua própria sobrevivência, numa conjuntura mundial que a ameaça, tanto externa como internamente, Marcelo alertou que a ajuda que poderá aspirar a receber será em “em áreas muito limitadas, como a da defesa e da segurança” (e aproveitou aqui para lembrar que “é bom que a Europa tenha a noção de que quem não pode pagar o que sonha não pode sonhar tão alto solitariamente”).

Logo, concluiu o Presidente da República, a Europa terá de saber posicionar-se num xadrez em que Estados Unidos da América, China e Índia disputam entre si a centralidade económica do universo. Esta correlação de interesses que ameaça a UE fica ainda mais desequilibrada se olharmos, como Marcelo Rebelo de Sousa, ao esforço da Rússia para o alargamento do seu espaço estratégico nacional, sobretudo nas relações com o Leste Europeu, o Próximo e o Médio Oriente e o Norte de África, por um lado, e ao modo como esta “atenção russa” se reflecte “na vida europeia, em termos de acompanhamento cirbernautico, bem como da vivência dos sistemas políticos europeus”, por outro.

A união monetária e bancária é o caminho
Perspectivando para a UE um caminho pejado de obstáculos (e aqui cabem a “imprevisibilidade económica e financeira mundial”, tanto como o “unilateralismo proteccionista em moda”, a “depreciação de organizações de direito internacional”, a possível desaceleração do crescimento e as pressões migratórias externas), o Presidente dedicou-se, em meia hora, a fundamentar por que considera que os grandes problemas - como o crescimento económico insuficiente, o emprego ou diluição do papel externo da UE e distanciamento dos cidadãos - são hoje “mais estruturais do que conjunturais”.

Para eliminar os obstáculos que se lhe colocam, a UE tem de os enfrentar, “sem rodeios, com eficácia e com participação cidadã”. Como? Aprofundando a união monetária, adoptando princípios e regras para a união bancária, fazendo a reflexão “inadiável” sobre a aposta na Ciência e Tecnologia, “nas suas repercussões, a prazo democraticamente curto na vida das pessoas, na organização do trabalho, na actividade produtiva, nas prestações sociais...”.

Igualmente urgente, segundo o chefe de Estado, é a “resposta a uma visível sensação de vazio em matéria de segurança”, o que remete para uma óbvia articulação com a Aliança Atlântica, mas que requer “cooperações mais vastas”, tal como nas migrações e refugiados, “inseparáveis de acções estruturais nos países de origem” e apelando ao multilateralismo e ao papel das organizações internacionais”. Nada disto se conseguirá, porém, se não aumentar a sensibilidade quanto à necessária “transparência das instituições europeias, inseparável da sua funcionalidade” e fundamental para garantir a confiança dos cidadãos europeus.

“Não há instituições europeias fortes com líderes fracos e não há líderes europeus fortes com líderes nacionais fracos e não há instituições europeias fortes com instituições nacionais fracas”, ditou ainda o Presidente, para quem a crise que debilitou as lideranças nacionais, traduzida no reforço dos partidos “de segunda ou terceira geração de contestação ou de formulações mais radicais e periféricas”, contaminou o Parlamento Europeu com “novas clivagens axiológicas, doutrinárias, ideológicas, sobre migrações ou refugiados, convites a compassos de espera, egoísmos, laivos de proteccionismos, afastamento ainda mais acentuados dos cidadãos”.

Europa a duas velocidades
Com o inimigo instalado nas suas próprias instituições, a UE terá de apostar na pedagogia. “Queixarmo-nos de eurocepticismos, eurocriticismos, que nascem e são alimentados por omissões, lacunas, sobrancerias ou arrogâncias nossas, é um sintoma de total descolagem nossa da realidade”, avisou.

O primeiro-ministro, António Costa, corroborou o vaticínio de uma Europa sob ameaça, seja pela deriva proteccionista que tem vindo a ser desencadeada pelos EUA, seja, a nível interno, pela “deriva autoritária que existe em diversos Estados-membros”. E, porque, entre outras coisas, representa sete décadas de paz num território que teve séculos de guerras, constituindo, além disso, “o regime económico e social que mais desenvolveu o mecanismo de prosperidade partilhada”, a Europa “merece e pode ser defendida”, lembrou.

As causas destas ameaças que pendem sobre o projecto europeu foram enumeradas por Costa: “Têm a ver com o aumento das desigualdades, com o medo relativamente à capacidade de mantermos o nosso modelo social perante desafios como o das migrações, de defender a segurança perante a ameaça do terrorismo, de assegurar a paz perante a ameaça de conflitos que rodeiam as nossas fronteiras, de continuarmos a ser prósperos perante os desafios da globalização”.

Quanto às migrações, a vizinhança com um continente que, como África, caminha para representar 50% da população mundial nas próximas décadas, “exige uma grande parceria para o desenvolvimento do continente africano”, mas, acrescentou, requer mais: “Requer uma gestão comum de uma fronteira que é comum e requer que possamos gerir e partilhar de modo solidário a responsabilidade que a Europa tem, e que não pode declinar, de assegurar protecção a quem dela carece”. O contrário será “consentir que o Mediterrâneo, que foi berço de civilizações, seja um cemitério de povos que procuram na Europa possibilidade de construir novas oportunidades de vida”.


“Só em conjunto podemos fazer mais pelo desenvolvimento de África, proteger melhor a nossa fronteira comum e partilhar a responsabilidade que temos de gerir melhor os fluxos migratórios de que precisamos para assegurar uma dinâmica demográfica positiva no conjunto da União Europeia”, sublinhou ainda Costa.

Sem medo dos impostos europeus
Para fugir ao risco de a Europa mergulhar uma vez mais na imobilidade, o primeiro-ministro apontou a necessidade de pragmatismo. “Hoje é mais difícil obtermos consensos do que quando éramos 12. Isso não pode ser visto como um problema, mas implica que aceitemos que a Europa pode continuar a ser construída com geometrias variáveis, permitindo a participação de alguns em projectos mais avançados e de outros em projectos menos avançados, desde que assegurada a igualdade de direitos”, defendeu, recusando que tal represente a defesa de uma Europa a duas velocidades. “Isto não é particularmente novo: em Schengen não participamos todos, no euro não participamos todos. Mas podemos fazer mais na fiscalidade e na segurança e não vamos conseguir fazer isto a 27”, apontou.

Avesso, como Marcelo, ao proteccionismo como resposta às ameaças do mercado globalizado, Costa defendeu o reforço da capacidade orçamental da União Europeia. E sugeriu mesmo que tal poderá ser conseguido por via da criação de novos impostos que incidam, por exemplo, sobre o conjunto das empresas transnacionais da economia digital “que não pagam o imposto onde geram o proveito”.

Sem medo, por isso, da expressão “impostos europeus”, Costa considerou ser urgente concluir a união económica e monetária. “Enquanto não concluirmos esta união económica e monetária, dificilmente teremos uma base sólida para construir qualquer política de futuro. E o pior que podemos fazer é esta fuga para a frente: vamos agora discutir um novo exército europeu, uma nova polícia de fronteiras, enquanto não resolvemos uma coisa que é a base sobre a qual se pode construir”, considerou, apontando ainda como “vital” completar a união bancária, “havendo, de uma vez por todas, uma garantia europeia de depósitos e mecanismos de garantia dos fundos de resolução nacionais”.




National Populism: The Revolt Against Liberal Democracy, by Roger Eatwell and Matthew Goodwin, Pelican, RRP£9.99, 384 pages

A crucial new guide to one of the most urgent political phenomena of our time: the rise of national populism

Across the West, there is a rising tide of people who feel excluded, alienated from mainstream politics, and increasingly hostile towards minorities, immigrants, and neo-liberal economics. Many of these voters are turning to national populist movements, which have begun to change the face of Western liberal democracy, from the United States to France, Austria to the UK.

This radical turn, we are told, is a last howl of rage from an aging electorate on the verge of extinction. Their leaders are fascistic and their politics anti-democratic; their existence a side-show to liberal democracy. But this version of events, as Roger Eatwell and Matthew Goodwin show, could not be further from the truth.

Written by two of the foremost experts on fascism and the rise of national populism, this lucid and deeply-researched book is a vital guide to our transformed political landscape. Challenging conventional wisdoms, Eatwell and Goodwin make a compelling case for serious, respectful engagement with the supporters and ideas of national populism—not least because it is a tide that won't be stemmed anytime soon.




Understanding the populist voter
John Lloyd considers two valuable books showing that people who are swayed by populist parties aren’t necessarily bigoted and that their fears are real

Jaywick, Essex, where about 70 per cent of votes in the UK’s 2016 referendum were in favour of Brexit © Reuters
John Lloyd NOVEMBER 9, 2018

A passage in Eric Kaufmann’s Whiteshift — a giant of a book, channelling together cascades of polls, data sets and excursions in history to produce a conclusion of qualified optimism — features a speech known as “Rivers of Blood”, given in April 1968. In it, Enoch Powell, the Conservative shadow defence secretary, prophesied that “rivers of blood” would flow as a result of large scale, mainly West Indian, immigration. Dismissed from the shadow cabinet by the party leader, Edward Heath, he had the consolation of seeing that 74 per cent of his fellow citizens, in a poll, agreed with what he said.

The admission of thousands of immigrants, and the subsequent permission for many thousands more dependants to enter, meant that areas were, he said, “undergoing the total transformation to which there is no parallel in a thousand years of English history . . . a nation busily engaged in heaping up its own funeral pyre”. Working class men and women were “made strangers in their own country”, unable to access health and social services, hearing “more and more voices which told them they were unwanted”.

Kaufmann, a professor of politics at London’s Birkbeck College, says the speech was, in parts, racist. Powell “called Black Britons ‘wide-grinning piccaninnies’”, and said that black people would soon have “the whip hand” over whites and that they should be repatriated, pointing to “a desire for race purity”. These were racist comments. But he also says that Powell’s description of the “total transformation” of neighbourhoods was “valid”, and that such changes were experienced negatively by the white people, usually poor, living there. The Labour government of the time had done little to smooth the path of the immigrants, or calm the fears of those they came to live among.

Powell had a point: indeed, several — and the reaction of the elite, right and left, was largely hostile. On the furthest edge of that, the leftist Tony Benn, then minister of technology, invoked the Nazi death camps to express his disgust — “not a productive way to make a case”, writes Kaufmann, in ironic mode, of Benn’s inflated simile.


This careful parsing of Powell’s speech is indicative of Kaufmann’s approach, as well as that of Roger Eatwell and Matthew Goodwin (professors of politics at Bath and Kent universities, respectively), whose National Populism is a finely organised, lucid explanation of the elements presently constituting the most dynamic political movements in Europe and the US. Both works take the approach of the Powell example: separating out the prompts to racism, prejudice and hatred from that content which, as Eatwell and Goodwin write, “tap[s] into widespread and legitimate public anxieties”. They lean heavily, and usually illuminatingly, on statistics and trend graphs to make their case, and both eschew grieving for a world that liberals once commanded, now slipping away from them.

Their main arguments, crucial for our understanding of the times, are, first, that populism is here to stay. “The belief that ‘normal business’ will soon resume once economic growth returns and the flow of refugees slows or stops” is comforting but “wrong”, say Eatwell and Goodwin. Kaufmann completes the one-two punch by observing that Britain’s apparent (and unusual, in Europe) return to two-party dominance may merely be an unstable prelude to a populist-right renewal. This will be especially the case if Brexit disappoints, or is betrayed by a second referendum which corrects the first, to Remain.

The belief that ‘normal business’ will resume when economic growth returns is comforting but wrong

Populism is not, however, fascism. Eatwell and Goodwin use “national populism” as their term of choice, in part to underscore that the leaders and organisations surfing the new trends have not prepared themselves, their parties or their electorates for a movement as serious in its intent as fascism — relying as it does not just on a charismatic leader but on a ruthless party and a mass of people mobilised in their enthusiastic support, willing to be deployed to crush dissent. National populists operate within the shell of democratic institutions, and have weakened but not destroyed them.

Kaufmann’s major thesis in Whiteshift is that white communities, already minorities in some North American cities, will shrink further all over the west. He stresses the speed of it, especially in the US: “California was 80 per cent non-Hispanic white as recently as 1970 and fell below the 50 per cent mark some time in the late 1990s.” By 2050, the state government projects a population at 52 per cent Hispanic.

After the second world war, international “governance” elites, as Eatwell and Goodwin term them, created the United Nations, the global financial and trade bodies and what became the European Union — a union, they write, which keeps its most momentous actions (such as the Lisbon treaty) “well away from ordinary people”. The Brexit vote, the election of a national populist government in Italy intent on confronting the EU, the recoil of central European governments from all EU projects except its money transfers, the weakness of German chancellor Angela Merkel and the loneliness of French president Emmanuel Macron all point to an EU in continuing crisis — even before a new test of the euro in the next recession.


Immigration, together with the threat of Islamist terrorism, “has repositioned the main axis of politics in Europe from economics to culture”. This is one of the main reasons for the sharp decline in social democratic parties, reluctant to leave their new-found concern for minority identities for the touchy subject of white disillusionment with the globalisation-friendly policies the US, British, German and governments elsewhere have favoured.

Kaufmann counsels leftist liberals to cease seeing electorates who have turned populist — often after years of fidelity to socialist or communist parties — as hopeless racists. (Hillary Clinton called them “deplorables”; former prime minister Gordon Brown described a pensioner as a “bigoted woman” who had complained to him about “east Europeans flocking in” — a slur picked up on a microphone still attached, after an interview, to his jacket.)

This is Kaufmann’s most striking thesis. With some passion, he concludes that “repressing white identity as racist and demonizing the white past adds insult to the injury of this group’s demographic decline. This way lies growing populist discontent or even terrorism.” Both books do the large service of telling liberals and leftists who prefer to remain shocked rather than to work at understanding that their fellow citizens are not, in the main, deplorable bigots, and that white fear is real, but need not be dangerous.

His advice is that white people welcome their descendants turning “beige” — continuing to intermarry with other races. Societies with one large ethnic majority tend to be more stable than those with many minorities: stability in the future should be neither white nor black but mixed — the fruit of a realisation across ethnic lines that seeking purity is a zero-sum game, and that the darkening — or lightening — of skin colour is the next enlightenment project.

Whiteshift: Populism, Immigration and the Future of White Majorities, by Eric Kaufmann, Allen Lane, RRP£25, 624 pages

National Populism: The Revolt Against Liberal Democracy, by Roger Eatwell and Matthew Goodwin, Pelican, RRP£9.99, 384 pages

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