As tensões crescentes e subterrâneas não se resumem, de forma
nenhuma, exclusivamente a uma questão “estrutural” ( By the way : A União
Monetária defendida pelos oradores, será baseada em que modelo ideológico
económico e financeiro ? ) mas a questões de sentimento muito difíceis de
definir, mas que tendem nas suas tensões a dominar as políticas, através do
voto protesto – anti Globalizaçào, ameaçando os políticos …
O entendimento objectivo e a análise serena e crítica são
fundamentais para tentar compreender o "fenómeno-vírus" na sua
complexidade e mutação.
Quantos dos presentes já leram os dois livros apresentados
em baixo ?
OVOODOCORVO
CONFERÊNCIA A EUROPA E O PRESENTE
A Europa está sitiada. E terá de se defender sozinha
Marcelo Rebelo de Sousa e António Costa apontam receitas
para assegurar a sobrevivência da União Europeia. O aprofundamento da união
monetária e bancária são os principais ingredientes para impedir o projecto
europeu de submergir face às ameaças, internas e externas, que enfrenta.
Natália Faria
Natália Faria 15 de Março de 2019, 22:37
Numa União Europeia (UE) ameaçada de morte por todos os
lados, Marcelo Rebelo de Sousa não tem dúvidas: ou os líderes europeus se
mostram capazes de entender como estruturais, e não como conjunturais, os
problemas que a ameaçam, “ou uma oportunidade soberana ficará perdida”.
“Se os problemas que
a União Europeia enfrenta são estruturais, e, sendo iminentemente europeus,
mergulham as suas raízes nas realidades nacionais, então importa pensar e
decidir estruturalmente, e não criar ilusões de que brotarão de um qualquer
milagre europeu líderes e bases de sustentação que não venham de uma profunda
mudança de vida dos Estados-membros da União. Sempre com a exacta noção de que,
de fora da União Europeia, não virão grandes ajudas para já”, avisou Marcelo
Rebelo de Sousa, falando na Conferência A Europa e o Presente – o futuro da
Europa pensa-se agora, promovida ontem pelo PÚBLICO, na Casa da Música, no
Porto.
Lembrando que a UE joga sozinha numa luta pela sua própria
sobrevivência, numa conjuntura mundial que a ameaça, tanto externa como
internamente, Marcelo alertou que a ajuda que poderá aspirar a receber será em
“em áreas muito limitadas, como a da defesa e da segurança” (e aproveitou aqui
para lembrar que “é bom que a Europa tenha a noção de que quem não pode pagar o
que sonha não pode sonhar tão alto solitariamente”).
Logo, concluiu o Presidente da República, a Europa terá de
saber posicionar-se num xadrez em que Estados Unidos da América, China e Índia
disputam entre si a centralidade económica do universo. Esta correlação de interesses
que ameaça a UE fica ainda mais desequilibrada se olharmos, como Marcelo Rebelo
de Sousa, ao esforço da Rússia para o alargamento do seu espaço estratégico
nacional, sobretudo nas relações com o Leste Europeu, o Próximo e o Médio
Oriente e o Norte de África, por um lado, e ao modo como esta “atenção russa”
se reflecte “na vida europeia, em termos de acompanhamento cirbernautico, bem
como da vivência dos sistemas políticos europeus”, por outro.
A união monetária e bancária é o caminho
Perspectivando para a UE um caminho pejado de obstáculos (e
aqui cabem a “imprevisibilidade económica e financeira mundial”, tanto como o
“unilateralismo proteccionista em moda”, a “depreciação de organizações de
direito internacional”, a possível desaceleração do crescimento e as pressões
migratórias externas), o Presidente dedicou-se, em meia hora, a fundamentar por
que considera que os grandes problemas - como o crescimento económico
insuficiente, o emprego ou diluição do papel externo da UE e distanciamento dos
cidadãos - são hoje “mais estruturais do que conjunturais”.
Para eliminar os obstáculos que se lhe colocam, a UE tem de
os enfrentar, “sem rodeios, com eficácia e com participação cidadã”. Como?
Aprofundando a união monetária, adoptando princípios e regras para a união
bancária, fazendo a reflexão “inadiável” sobre a aposta na Ciência e
Tecnologia, “nas suas repercussões, a prazo democraticamente curto na vida das
pessoas, na organização do trabalho, na actividade produtiva, nas prestações
sociais...”.
Igualmente urgente, segundo o chefe de Estado, é a “resposta
a uma visível sensação de vazio em matéria de segurança”, o que remete para uma
óbvia articulação com a Aliança Atlântica, mas que requer “cooperações mais
vastas”, tal como nas migrações e refugiados, “inseparáveis de acções
estruturais nos países de origem” e apelando ao multilateralismo e ao papel das
organizações internacionais”. Nada disto se conseguirá, porém, se não aumentar
a sensibilidade quanto à necessária “transparência das instituições europeias,
inseparável da sua funcionalidade” e fundamental para garantir a confiança dos
cidadãos europeus.
“Não há instituições europeias fortes com líderes fracos e
não há líderes europeus fortes com líderes nacionais fracos e não há
instituições europeias fortes com instituições nacionais fracas”, ditou ainda o
Presidente, para quem a crise que debilitou as lideranças nacionais, traduzida
no reforço dos partidos “de segunda ou terceira geração de contestação ou de
formulações mais radicais e periféricas”, contaminou o Parlamento Europeu com
“novas clivagens axiológicas, doutrinárias, ideológicas, sobre migrações ou
refugiados, convites a compassos de espera, egoísmos, laivos de
proteccionismos, afastamento ainda mais acentuados dos cidadãos”.
Europa a duas velocidades
Com o inimigo instalado nas suas próprias instituições, a UE
terá de apostar na pedagogia. “Queixarmo-nos de eurocepticismos, eurocriticismos,
que nascem e são alimentados por omissões, lacunas, sobrancerias ou arrogâncias
nossas, é um sintoma de total descolagem nossa da realidade”, avisou.
O primeiro-ministro, António Costa, corroborou o vaticínio
de uma Europa sob ameaça, seja pela deriva proteccionista que tem vindo a ser
desencadeada pelos EUA, seja, a nível interno, pela “deriva autoritária que
existe em diversos Estados-membros”. E, porque, entre outras coisas, representa
sete décadas de paz num território que teve séculos de guerras, constituindo,
além disso, “o regime económico e social que mais desenvolveu o mecanismo de
prosperidade partilhada”, a Europa “merece e pode ser defendida”, lembrou.
As causas destas ameaças que pendem sobre o projecto europeu
foram enumeradas por Costa: “Têm a ver com o aumento das desigualdades, com o
medo relativamente à capacidade de mantermos o nosso modelo social perante
desafios como o das migrações, de defender a segurança perante a ameaça do
terrorismo, de assegurar a paz perante a ameaça de conflitos que rodeiam as
nossas fronteiras, de continuarmos a ser prósperos perante os desafios da
globalização”.
Quanto às migrações, a vizinhança com um continente que,
como África, caminha para representar 50% da população mundial nas próximas décadas,
“exige uma grande parceria para o desenvolvimento do continente africano”, mas,
acrescentou, requer mais: “Requer uma gestão comum de uma fronteira que é comum
e requer que possamos gerir e partilhar de modo solidário a responsabilidade
que a Europa tem, e que não pode declinar, de assegurar protecção a quem dela
carece”. O contrário será “consentir que o Mediterrâneo, que foi berço de
civilizações, seja um cemitério de povos que procuram na Europa possibilidade
de construir novas oportunidades de vida”.
“Só em conjunto podemos fazer mais pelo desenvolvimento de
África, proteger melhor a nossa fronteira comum e partilhar a responsabilidade
que temos de gerir melhor os fluxos migratórios de que precisamos para
assegurar uma dinâmica demográfica positiva no conjunto da União Europeia”,
sublinhou ainda Costa.
Sem medo dos impostos europeus
Para fugir ao risco de a Europa mergulhar uma vez mais na
imobilidade, o primeiro-ministro apontou a necessidade de pragmatismo. “Hoje é
mais difícil obtermos consensos do que quando éramos 12. Isso não pode ser
visto como um problema, mas implica que aceitemos que a Europa pode continuar a
ser construída com geometrias variáveis, permitindo a participação de alguns em
projectos mais avançados e de outros em projectos menos avançados, desde que
assegurada a igualdade de direitos”, defendeu, recusando que tal represente a
defesa de uma Europa a duas velocidades. “Isto não é particularmente novo: em
Schengen não participamos todos, no euro não participamos todos. Mas podemos fazer
mais na fiscalidade e na segurança e não vamos conseguir fazer isto a 27”,
apontou.
Avesso, como Marcelo, ao proteccionismo como resposta às
ameaças do mercado globalizado, Costa defendeu o reforço da capacidade
orçamental da União Europeia. E sugeriu mesmo que tal poderá ser conseguido por
via da criação de novos impostos que incidam, por exemplo, sobre o conjunto das
empresas transnacionais da economia digital “que não pagam o imposto onde geram
o proveito”.
Sem medo, por isso, da expressão “impostos europeus”, Costa
considerou ser urgente concluir a união económica e monetária. “Enquanto não
concluirmos esta união económica e monetária, dificilmente teremos uma base
sólida para construir qualquer política de futuro. E o pior que podemos fazer é
esta fuga para a frente: vamos agora discutir um novo exército europeu, uma
nova polícia de fronteiras, enquanto não resolvemos uma coisa que é a base
sobre a qual se pode construir”, considerou, apontando ainda como “vital”
completar a união bancária, “havendo, de uma vez por todas, uma garantia
europeia de depósitos e mecanismos de garantia dos fundos de resolução
nacionais”.
National Populism: The Revolt Against Liberal Democracy, by
Roger Eatwell and Matthew Goodwin, Pelican, RRP£9.99, 384 pages
A crucial new guide to one of the most urgent political
phenomena of our time: the rise of national populism
Across the West, there is a rising tide of people who feel
excluded, alienated from mainstream politics, and increasingly hostile towards
minorities, immigrants, and neo-liberal economics. Many of these voters are
turning to national populist movements, which have begun to change the face of
Western liberal democracy, from the United States to France, Austria to the UK.
This radical turn, we are told, is a last howl of rage from
an aging electorate on the verge of extinction. Their leaders are fascistic and
their politics anti-democratic; their existence a side-show to liberal
democracy. But this version of events, as Roger Eatwell and Matthew Goodwin
show, could not be further from the truth.
Written by two of the foremost experts on fascism and the
rise of national populism, this lucid and deeply-researched book is a vital
guide to our transformed political landscape. Challenging conventional wisdoms,
Eatwell and Goodwin make a compelling case for serious, respectful engagement
with the supporters and ideas of national populism—not least because it is a
tide that won't be stemmed anytime soon.
Understanding the populist voter
John Lloyd considers two valuable books showing that people
who are swayed by populist parties aren’t necessarily bigoted and that their
fears are real
Jaywick, Essex, where about 70 per cent of votes in the UK’s
2016 referendum were in favour of Brexit © Reuters
John Lloyd NOVEMBER 9, 2018
A passage in Eric Kaufmann’s Whiteshift — a giant of a book,
channelling together cascades of polls, data sets and excursions in history to
produce a conclusion of qualified optimism — features a speech known as “Rivers
of Blood”, given in April 1968. In it, Enoch Powell, the Conservative shadow
defence secretary, prophesied that “rivers of blood” would flow as a result of
large scale, mainly West Indian, immigration. Dismissed from the shadow cabinet
by the party leader, Edward Heath, he had the consolation of seeing that 74 per
cent of his fellow citizens, in a poll, agreed with what he said.
The admission of thousands of immigrants, and the subsequent
permission for many thousands more dependants to enter, meant that areas were,
he said, “undergoing the total transformation to which there is no parallel in
a thousand years of English history . . . a nation busily engaged in heaping up
its own funeral pyre”. Working class men and women were “made strangers in
their own country”, unable to access health and social services, hearing “more
and more voices which told them they were unwanted”.
Kaufmann, a professor of politics at London’s Birkbeck
College, says the speech was, in parts, racist. Powell “called Black Britons
‘wide-grinning piccaninnies’”, and said that black people would soon have “the
whip hand” over whites and that they should be repatriated, pointing to “a
desire for race purity”. These were racist comments. But he also says that
Powell’s description of the “total transformation” of neighbourhoods was
“valid”, and that such changes were experienced negatively by the white people,
usually poor, living there. The Labour government of the time had done little
to smooth the path of the immigrants, or calm the fears of those they came to
live among.
Powell had a point: indeed, several — and the reaction of
the elite, right and left, was largely hostile. On the furthest edge of that,
the leftist Tony Benn, then minister of technology, invoked the Nazi death
camps to express his disgust — “not a productive way to make a case”, writes
Kaufmann, in ironic mode, of Benn’s inflated simile.
This careful parsing of Powell’s speech is indicative of
Kaufmann’s approach, as well as that of Roger Eatwell and Matthew Goodwin
(professors of politics at Bath and Kent universities, respectively), whose
National Populism is a finely organised, lucid explanation of the elements
presently constituting the most dynamic political movements in Europe and the
US. Both works take the approach of the Powell example: separating out the
prompts to racism, prejudice and hatred from that content which, as Eatwell and
Goodwin write, “tap[s] into widespread and legitimate public anxieties”. They
lean heavily, and usually illuminatingly, on statistics and trend graphs to
make their case, and both eschew grieving for a world that liberals once
commanded, now slipping away from them.
Their main arguments, crucial for our understanding of the
times, are, first, that populism is here to stay. “The belief that ‘normal
business’ will soon resume once economic growth returns and the flow of
refugees slows or stops” is comforting but “wrong”, say Eatwell and Goodwin.
Kaufmann completes the one-two punch by observing that Britain’s apparent (and
unusual, in Europe) return to two-party dominance may merely be an unstable
prelude to a populist-right renewal. This will be especially the case if Brexit
disappoints, or is betrayed by a second referendum which corrects the first, to
Remain.
The belief that ‘normal business’ will resume when economic
growth returns is comforting but wrong
Populism is not, however, fascism. Eatwell and Goodwin use
“national populism” as their term of choice, in part to underscore that the
leaders and organisations surfing the new trends have not prepared themselves,
their parties or their electorates for a movement as serious in its intent as
fascism — relying as it does not just on a charismatic leader but on a ruthless
party and a mass of people mobilised in their enthusiastic support, willing to
be deployed to crush dissent. National populists operate within the shell of
democratic institutions, and have weakened but not destroyed them.
Kaufmann’s major thesis in Whiteshift is that white
communities, already minorities in some North American cities, will shrink further
all over the west. He stresses the speed of it, especially in the US:
“California was 80 per cent non-Hispanic white as recently as 1970 and fell
below the 50 per cent mark some time in the late 1990s.” By 2050, the state
government projects a population at 52 per cent Hispanic.
After the second world war, international “governance”
elites, as Eatwell and Goodwin term them, created the United Nations, the
global financial and trade bodies and what became the European Union — a union,
they write, which keeps its most momentous actions (such as the Lisbon treaty)
“well away from ordinary people”. The Brexit vote, the election of a national
populist government in Italy intent on confronting the EU, the recoil of
central European governments from all EU projects except its money transfers,
the weakness of German chancellor Angela Merkel and the loneliness of French
president Emmanuel Macron all point to an EU in continuing crisis — even before
a new test of the euro in the next recession.
Immigration, together with the threat of Islamist terrorism,
“has repositioned the main axis of politics in Europe from economics to
culture”. This is one of the main reasons for the sharp decline in social
democratic parties, reluctant to leave their new-found concern for minority
identities for the touchy subject of white disillusionment with the
globalisation-friendly policies the US, British, German and governments
elsewhere have favoured.
Kaufmann counsels leftist liberals to cease seeing
electorates who have turned populist — often after years of fidelity to
socialist or communist parties — as hopeless racists. (Hillary Clinton called
them “deplorables”; former prime minister Gordon Brown described a pensioner as
a “bigoted woman” who had complained to him about “east Europeans flocking in”
— a slur picked up on a microphone still attached, after an interview, to his
jacket.)
This is Kaufmann’s most striking thesis. With some passion,
he concludes that “repressing white identity as racist and demonizing the white
past adds insult to the injury of this group’s demographic decline. This way
lies growing populist discontent or even terrorism.” Both books do the large
service of telling liberals and leftists who prefer to remain shocked rather
than to work at understanding that their fellow citizens are not, in the main,
deplorable bigots, and that white fear is real, but need not be dangerous.
His advice is that white people welcome their descendants
turning “beige” — continuing to intermarry with other races. Societies with one
large ethnic majority tend to be more stable than those with many minorities:
stability in the future should be neither white nor black but mixed — the fruit
of a realisation across ethnic lines that seeking purity is a zero-sum game,
and that the darkening — or lightening — of skin colour is the next
enlightenment project.
Whiteshift: Populism, Immigration and the Future of White
Majorities, by Eric Kaufmann, Allen Lane, RRP£25, 624 pages
National Populism: The Revolt Against Liberal Democracy, by
Roger Eatwell and Matthew Goodwin, Pelican, RRP£9.99, 384 pages
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