quinta-feira, 28 de março de 2019

“Fazer mais hotéis na Baixa? Não, muito obrigado!”, desabafa o vereador Manuel Salgado



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Mas ... afinal quem foi responsável pela transformação da Baixa, numa zona exclusiva de hoteis e lojas asiáticas de 'bugigangas', meras 'fachadas' para redes de Imigração Ilegal !?
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Manuel Salgado sobre as obras no MUDE
(…) “Essa proposta custar-nos-ia, certamente, muito mais caro do que recuperar o edifício da Baixa. E se, depois, é para vender o edifício, para fazer ali mais um hotel, não, muito obrigado!”, respondeu o responsável máximo pelo urbanismo da capital. Antes de dar a palavra a outro membro do executivo, Fernando Medina (PS) não conseguiu disfarçar um largo sorriso e lançar um comentário irónico. “Este final, vindo do vereador Manuel Salgado, foi forte”.


“Fazer mais hotéis na Baixa? Não, muito obrigado!”, desabafa o vereador Manuel Salgado
Samuel Alemão
Texto
28 Março, 2019

Colocado ante o desafio do CDS-PP para que aliene o imóvel do Museu do Design e da Moda (MUDE), na Rua Augusta, e assim se ajude a  financiar projectos de habitação acessível em Lisboa, o vereador não hesitou. “Se é para vender o edifício, para fazer ali mais um hotel, não, muito obrigado!”, disse, dando a entender que até ele já estará farto de tais equipamentos. Há menos de dois anos, porém, o autarca rejeitava de forma liminar a sugestão de suspensão do licenciamento de novos hotéis. “Quantos empregos e quanta riqueza foi criada em Lisboa pelo facto de termos o turismo que temos?”, questionou em Maio de 2017. As obras de remodelação do MUDE, que estão suspensas desde há um ano, por incumprimento do empreiteiro, apenas deverão estar concluídas em 2020. Houve necessidade de redesenhar o projecto e lançar novo concurso.

A afirmação veio já no final de uma troca de argumentos com um vereador do CDS-PP sobre o impasse no processo de requalificação do edifício do Museu do Design e da Moda (MUDE), na Rua Augusta, e até apanhou o presidente da câmara desprevenido. Respondendo ao repto do centrista Nuno Rocha Correia, durante a reunião pública de vereação desta quarta-feira (27 de Março) da Câmara de Lisboa, para que desistisse da ideia de reabilitar o imóvel, fechado desde 2016, e o vendesse, para assim financiar projectos de habitação acessível na cidade, Manuel Salgado foi claro: “Essa proposta custar-nos-ia, certamente, muito mais caro do que recuperar o edifício da Baixa. E se, depois, é para vender o edifício, para fazer ali mais um hotel, não, muito obrigado!”, respondeu o responsável máximo pelo urbanismo da capital. Antes de dar a palavra a outro membro do executivo, Fernando Medina (PS) não conseguiu disfarçar um largo sorriso e lançar um comentário irónico. “Este final, vindo do vereador Manuel Salgado, foi forte”.

O presidente da Câmara Municipal de Lisboa (CML) reconhecia assim, se bem que de forma não explícita, a existência de uma certa aura pública de Manuel Salgado como facilitador da vida aos negócios imobiliários relacionados com o turismo. Na verdade, ainda há menos de dois anos, era o próprio vereador a dizer perante a Assembleia Municipal de Lisboa que não considerava uma boa ideia que se travasse o avanço de tais investimentos na cidade. “Não acredito que seja por essa via do congelamento do licenciamento hoteleiro que vamos resolver o problema da habitação em Lisboa”, dizia Salgado, a 23 de Maio de 2017, respondendo à sugestão dos deputados municipais comunistas para que, naquela altura e tendo em conta a crise da habitação, se procedesse ao congelamento de novos licenciamentos de hotéis. “Quantos empregos e quanta riqueza foi criada em Lisboa pelo facto de termos o turismo que temos?”, questionava naquele momento, em que desvalorizou a existência de uma relação directa entre o licenciamento de unidades hoteleiras e a escassez de habitação permanente.

Na reunião do executivo camarário desta quarta-feira, Manuel Salgado reafirmou o compromisso da autarquia da capital em prosseguir com os trabalhos de requalificação do MUDE, suspensos desde Março de 2018, devido aos problemas financeiros do empreiteiro, a Soares da Costa. Nessa altura, e perante as notórias dificuldades da empresa em cumprir o plano de trabalhos estabelecido dois anos antes – inaugurado em 2009, nas instalações do antigo Banco Nacional Ultramarino, o museu fechou para remodelação em 2016 -, a CML decidiu afastá-la de um projecto que causou celeuma desde o início, devido aos seus custos. Os planos de requalificação do MUDE foram aprovados pela vereação, a 23 de Julho de 2014, com os votos contra dos então três vereadores do PSD e o único do CDS-PP. Em causa estava uma verba de nove milhões de euros, que os eleitos da direita consideravam excessiva. O então presidente da CML, António Costa explicou que o dinheiro em causa viria não só dos cofres do município mas também de linhas de crédito comunitárias.

Passados quase cinco anos, o CDS-PP continua a não simpatizar com o dispêndio de tal verba. E teme que a mesma aumente, devido à degradação do edifício, resultante da paragem dos trabalhos desde há um ano. Falando na existência de “um mono entaipado na Baixa”, e na previsão de abertura de portas do renovado museu para 2020, o vereador centrista Nuno Rocha Correia apelou a uma mudança de planos. “A câmara devia repensar o valor que está em causa. Na altura, alertámos que achávamos excessivo o valor. Há outras carências. Invista-se mais dinheiro na habitação”, disse numa primeira intervenção sobre o tema. Momentos depois, insistiu e apelou a Salgado: “Não fique preso aquele edifício. Encontre soluções nos edifícios municipais existentes por essa cidade toda, para instalar o acervo do MUDE. Venda aquele edifício e, com o resultado daquela venda e com o dinheiro que estava previsto para as obras, invista-se em habitação municipal, que é o que necessitamos”.

O vereador do Urbanismo não se deixou convencer, dando a Nuno Rocha Correia a já mencionada resposta sobre o risco de ver o prédio em questão ser convertido em mais um hotel. Mas, antes disso, Manuel Salgado havia já explicado o estado do processo de remodelação do MUDE, acabando até por admitir que os custos das obras poderão afinal ser superiores, devido ao tempo decorrido e às alterações das condições de mercado. Lembrando a grande dimensão  do espaço – com uma área bruta de 14 mil metros quadrados –, o autarca alertou para a especificidade da intervenção. “Sendo um museu, tem exigências técnicas que não são normais. Há questões de temperatura, humidade, iluminação e segurança, que fazem com que uma obra destas tenha um custo muito superior a um edifício normal”, afirmou, antes de notar que tem havido uma subida de preços na construção civil. Referindo que ainda faltam concretizar as “operações mais caras”, entre as quais se incluem instalações técnicas e acabamentos, avisou: “Não temos ainda fechado, mas o valor final será significativo, tendo em conta a área que está em causa”.

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