sexta-feira, 15 de março de 2019

Estudantes fazem greve pelo clima, mas nas escolas o “dia é normal” / A justiça climática é a luta pelo destino da Humanidade / VIDEO:The Age of Stupid revisited: what's changed on climate change?



Londres hoje de manhã em frente ao Parlamento
By 10.30am a steady stream of schoolchildren were pouring into London’s Parliament Square brandishing homemade banners declaring “coral not coal”, “Stop denying the earth is dying” and “why the actual fuck are we studying for a future we won’t even have?”

Among were a group of 12 and 13 year old girls from Waldergrave School for girls. Lourdes, 13, who was with her dad Leif Cid said they felt they had no choice but to come. “The world is getting hotter and hotter but the adults, the politicians aren’t doing anything about it … we have to do something.”

Another group of students had travelled up from Kent. “We are all scared – scared and angry that nothing is being done,” said Casey 17. “This crisis is not being discussed nearly as much as it should be … we want it in the headlines every day we want it everywhere.”

Will Joseph Cook, 21, said the action this generation took would have ramifications for centuries to come. “It can be kind of scary to realise what’s at stake and the small window we have in which to act – but at the same time you can see that lots of people care deeply about this and are prepared to act.”

By 11am a couple of thousand young people had gathered on the grass opposite Parliament chanting “Climate change has got to go.”

Estudantes fazem greve pelo clima, mas nas escolas o “dia é normal”
Directores entendem que faltas não podem ser justificadas com participação na greve, mas há quem admita avaliar motivo depois de perceber qual a adesão (que adivinham fraca) dos estudantes aos protestos.

Rita Marques Costa 15 de Março de 2019, 7:00

 Esta sexta-feira, “se houver testes, eles realizam-se e se os alunos faltarem, têm falta”. É “um dia normal. Não estamos a encarar a greve de maneira especial”, garante Eduardo Lemos, director da Escola Secundária Eça de Queirós, na Póvoa de Varzim e presidente do Conselho das Escolas. A maioria dos directores que o PÚBLICO contactou diz que a rotina não será alterada por causa dos protestos relacionados com a Greve Climática Estudantil.

Os protestos estão marcados para cidades de Norte a Sul do país e nas regiões autónomas. No Facebook, estão marcados protestos em prol do ambiente em pelo menos 28 cidades. E não são apenas os estudantes portugueses que se manifestam nesta sexta-feira. Há greves marcadas em meia centena de países. Todos se inspiram na adolescente sueca Greta Thunberg, que ao longo de várias sextas-feiras fez greve às aulas para chamar a atenção para o problema das alterações climáticas.


Foi também nas redes sociais que os estudantes encarregues da organização da greve em Portugal deixaram uma mensagem sobre a justificação de faltas às aulas: “Da parte da organização da Greve Climática Estudantil não haverá faltas justificadas. No entanto, existem escolas que apoiam a greve e estão a justificar faltas.”


Mas a questão não é assim tão simples. Para o director da Eça de Queirós, “não está previsto, quando os alunos faltam às aulas para participarem numa manifestação (qualquer que seja), que isso seja uma falta justificada”. “Trata-se de uma actividade que não está prevista no nosso plano de actividades e que não está prevista na lei como uma causa para justificar faltas”, esclarece.

O entendimento de Eduardo Lemos é partilhado por vários directores. “Não temos enquadramento legal para validar uma ausência destas”, explica Júlio Santos, do Agrupamento de Escolas do Restelo. Carlos Luís, do Agrupamento de Escolas João de Deus, em Faro, até defende que “a greve é um direito dos assalariados” e não dos alunos. Da parte da Escola Secundária Clara de Resende, no Porto, “a orientação é não justificar”, reconhece Maria do Carmo Oliveira, assessora da direcção. Quanto aos testes, “se estão marcados, estão marcados”, afirma.

No Liceu Camões, em Lisboa, “a escola não tomou uma posição relativamente a esta questão porque isso seria abrir um precedente”. “Hoje é pelo clima, amanhã pela violência doméstica, depois sobre outra coisa”, diz o director João Jaime. “Um aluno que não vem à escola, nós não sabemos se foi ou não foi. Mas claro que uma carta do encarregado de educação será analisada pelo director de turma”. Acima de tudo, nota, “é uma falsa questão achar que só se pode fazer uma manifestação se se tiver falta justificada. Ninguém vai ser excluído por faltas por causa desta iniciativa.” Quanto aos testes, admite que existam. “É natural que haja testes. Há sempre entre esta semana e a próxima. Não sei se conseguiram negociar com os professores.”

A questão também foi colocada a Isabel Le Guê, professora de Inglês na Escola Secundária Rainha Dona Amélia, em Lisboa, pelos seus alunos do 7.º ano. “Eu aproveitei para ter uma conversa pedagógica sobre o assunto. Expliquei o que era uma greve, que quando as pessoas fazem greve é porque acreditam na causa e, por acreditarem, abdicam de um dia de vencimento. Fiz a pedagogia toda”, lembra. “E depois perguntei: Agora, digam-me lá vocês, os estudantes que não recebem nada, qual será o sacrifício? Eles imediatamente perceberam: São as faltas injustificadas.”

Trata-se de uma actividade que não está prevista no nosso plano de actividades e que não está prevista na lei como uma causa para justificar faltas
Eduardo Lemos, director da Escola Secundária Eça de Queirós

Caso a caso
Também na capital, mas no agrupamento de Escolas de Alvalade, a justificação de faltas “depende da dimensão [do protesto] e da forma como isto correr”, admite a directora Dulce Chagas. “Se percebermos que não é um aproveitamento para outras coisas e que eles estão de facto mobilizados para a causa…”

“Haverá algum fechar de olhos em algumas situações, mas acho que eles sabem que têm deveres e que sexta-feira é um dia de aulas”, diz Manuel Esperança, director do Agrupamento de Escolas de Benfica, em Lisboa.

Da parte da directora do Agrupamento de Escolas Dona Filipa de Lencastre, em Lisboa, o essencial é também perceber se “os estudantes foram à manifestação”. “Tenho a certeza absoluta que haverá sensibilidade dos professores”, garante Laura de Medeiros.

A certeza de que os alunos não serão prejudicados também é dada por Filinto Lima, presidente da Associação Nacional de Directores de Agrupamentos e Escolas Públicas​. E nos casos em que não há disponibilidade para alterar datas de testes ou justificar faltas, isso pode demover alguns estudantes? “Pode, mas quando há fortes convicções, as coisas fazem-se.” Já o director-executivo da Associação de Estabelecimentos de Ensino Particular, Rodrigo Queiroz e Melo, lembra a importância “da mobilização da juventude em prol de uma causa em que acreditam”, mas admite que o tratamento da questão vai “depender do estabelecimento [de ensino] e do impacto” do protesto.

Escolas “também têm de mudar”
O que querem afinal estes jovens? “Chamar a atenção do Governo para a crise climática e exigimos que a sua resolução seja uma prioridade”, lê-se na página do Facebook da Greve Climática Estudantil.

Os directores prevêem uma fraca adesão ao protesto, mas não poupam elogios à iniciativa. “Tenho um respeito absoluto por isto”, diz Laura de Medeiros. Filinto Lima também diz que “é de louvar a tomada de posição”. Da parte de João Jaime, “esta é uma causa que os vai despertar”. “Já há muito tempo que não há causas a despertar os jovens.”

A de certeza de que os alunos não serão prejudicados também é dada por Filinto Lima, presidente da Associação Nacional de Directores de Agrupamentos e Escolas Públicas?
A associação ambientalista Zero, que também “aplaude” a iniciativa lembra, em comunicado, que “se os jovens lutam pelo clima, as escolas também têm de mudar”. E apela à adopção de hábitos mais sustentáveis como a utilização de sistemas de energias renováveis, a implementação de menus vegetarianos nas cantinas ou acabar “obrigatoriamente” com o uso de plásticos de utilização única.

O partido Pessoas-Animais-Natureza (PAN) também está do lado dos estudantes. O deputado André Silva vai juntar-se à marcha em Lisboa que vai do Largo de Camões até à Assembleia da República.


A justiça climática é a luta pelo destino da Humanidade
Só faremos isto em conjunto, pela acção persistente e decidida de milhões de pessoas. “Vamos mudar o destino da Humanidade.”

João Camargo
João Camargo, engenheiro do ambiente, trabalhador a “part-time” e activista dos Precários Inflexíveis

15 de Março de 2019, 7:00

 Hoje é um dia histórico, com uma das maiores mobilizações globais de sempre, sobre qualquer tema que seja. É a maior mobilização de jovens e a maior mobilização pela justiça climática que alguma vez aconteceu. Todas as pessoas que mobilizaram, que convocaram e que hoje se juntam e se encontram nas ruas de mais de mil cidades por todo o mundo devem saber que fazem parte de um momento extraordinário. Começa uma nova História da justiça climática.

Durante as últimas três décadas, milhares de pessoas por todo o mundo empurraram um comboio pesado, o comboio da inércia, o comboio da conformação, o comboio do sistema, à procura de soluções e vontade política para resgatar a civilização. Muito mais grave do que a meia dúzia de negacionistas de alterações climáticas (com desproporcionado impacto mediático), foram mesmo os arquitectos das políticas dos últimos anos os grandes responsáveis por vivermos numa emergência climática sem paralelo na História da Humanidade.

“O desprezo pelos jovens, o desprezo pelas pessoas comuns, foi convertendo superficialmente milhares de milhões em cínicos, em hipócritas, em seres amorfos e autocentrados. O poder retirado pela economia e pela política às populações foi criando um espírito de derrota, de impotência, de conformação a tudo o que viesse de cima, à ordem e à obediência. Apesar de haver sempre quem resistisse, esse espírito imperou durante muito tempo.”
De nada serviram Barack Obamas, Justin Trudeaus ou Uniões Europeias a gritar o seu empenho no combate às alterações climáticas, de nada nos serviram as tintas verdes com que empresas destruidoras como a BP ou a Volkswagen se foram pintando porque, apesar de andarmos há décadas à procura de acordos para cortar as emissões de gases com efeito de estufa, 2018 foi o ano com o mais alto nível de emissões alguma vez registado. Nesse contexto de enorme frustração, de enorme contradição, empurrámos, contra o senso comum, contra a política banal, contra a TINA (There Is No Alternative), assistimos ao colapso em Copenhaga, exigimos que não houvesse mais explorações de petróleo, gás e carvão, se queríamos salvar o futuro da civilização. Às costas, levávamos a Ciência, a vontade e a certeza de que isto não podia acabar assim, que a Humanidade não podia ser só isto.

 O desprezo pelos jovens, o desprezo pelas pessoas comuns, foi convertendo superficialmente milhares de milhões em cínicos, em hipócritas, em seres amorfos e autocentrados. O poder retirado pela economia e pela política às populações foi criando um espírito de derrota, de impotência, de conformação a tudo o que viesse de cima, à ordem e à obediência. Apesar de haver sempre quem resistisse, esse espírito imperou durante muito tempo. Chegados a um dia como hoje percebemos como era superficial esse espírito, e especialmente superficial a análise de que isso se poderia manter.

A temperatura média global nas últimas três décadas só tem comparação com o período interglacial do Eemiano, há mais de 115 mil anos. Haveria nessa altura, quanto muito, alguns milhões de seres humanos (menos do que os dedos de uma mão). O centro da Europa era uma savana, o Reno e o Tamisa tinham hipopótamos e crocodilos. O nível médio do mar era seis a nove metros mais alto do que hoje. Os cinco anos mais quentes desde que há registos são os últimos cinco (2016, 2015, 2017, 2018, 2014). Devido à queima massiva de gases com efeito de estufa que começou na Revolução Industrial e que disparou a partir do final da Segunda Guerra Mundial, criámos um clima em que nunca vivemos antes, diferente daquele em que foi possível inventar a agricultura, a escrita, a civilização. O capitalismo industrial fóssil acabou com o Holoceno, o período geológico dos últimos 12 mil anos que permitiu que a nossa espécie de instalasse e proliferasse por todo o planeta.

Mas a inacção garante-nos uma degradação muito maior do que esta, e cada dia, cada semana, cada mês em que a máquina industrial fóssil se mantém em produção máxima agrava o nosso futuro. Cada momento em que a máquina industrial fóssil se mantém em produção ficam em causa a viabilidade dos territórios em que habitamos hoje, a sua capacidade de nos continuar a sustentar, quer pela redução da capacidade de produção alimentar e da disponibilidade de água, quer pelos fenómenos climáticos extremos e a subida do nível médio do mar. A reacção perante este estado de coisas é uma manifestação de autoprotecção. Não estamos a defender a Terra, nós somos parte da Terra e estamos a defender-nos a nós mesmos.

Nomeada para o Prémio Nobel da Paz, Greta Thunberg, a jovem sueca de 16 anos que disse exactamente isto na cara das lideranças mundiais na Polónia, foi o ponto de apoio e a sua greve, todas as sextas-feiras frente ao Parlamento da Suécia, foi a inspiração para a greve mundial climática. Mais tarde, o colectivo que convocou esta greve diria em carta aberta publicada no The Guardian: “Vamos mudar o destino da Humanidade.” Não é menos do que isto o que precisa de acontecer. Esta chamada à acção colectiva retira o derrotista enfoque na acção individual que vigorou nas últimas décadas. Só faremos isto em conjunto, pela acção persistente e decidida de milhões de pessoas. Tentar reduzir o que acontece neste 15 de Março de 2019 a uma chamada para pequenas acções individuais ou locais é perverter o que está a acontecer: “Vamos mudar o destino da Humanidade.”

Tudo irá mudar nas nossas economias e nas nossas sociedades. Se não formos nós a organizar estas mudanças, será o novo clima, sem qualquer contemporização. Vivemos neste momento dentro do arranha-céus em chamas do capitalismo global e todos os alarmes estão a tocar. Não existe nenhum bombeiro mágico para apagar as chamas. Está na hora de sair e construir uma nova casa para a Humanidade.

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