A uma imparável espiral de violência no Brasil,
acrescenta-se um novo fenómeno, desenvolvido a partir da nova liberalização de
posse de arma garantido por Bolsonaro
OVOODOCORVO
Autores do massacre a escola brasileira tinham pacto de
morte
A polícia brasileira concluiu que o mais novo, Guilherme
Monteiro, disparou sobre Luiz Castro e depois suicidou-se. Provas recolhidas
apontam para um ataque planeado e imagens da câmara de videovigilância mostram
como tudo aconteceu.
Carlos Nogueira
14 Março 2019 — 08:44
A investigação da polícia brasileira ao ataque levado a cabo
por dois antigos alunos de uma escola da cidade de Suzano, a 34 quilómetros de
São Paulo, que provocou a morte a oito pessoas, das quais cinco menores, e
ainda dez feridos, chegou à conclusão que os suspeitos tinham um pacto de que
se matariam depois do massacre que planearam.
As informações dos investigadores apontam para o facto de o
mais novo, Guilherme Monteiro, de 17 anos, ter disparado sobre o mais velho,
Luiz Castro, de 25 anos, suicidando-se em seguida.
A polícia fez entretanto buscas a casa dos dois assassinos,
tendo recolhido provas que apontam para o facto de nos últimos dias terem
andado a fazer pesquisas na internet sobre massacres ocorridos em escolas dos
Estados Unidos. Além disso, no carro usado para o ataque foi encontrado um
caderno, que continha desenhos de armas e táticas de jogos de combate que
deveriam cumprir na escola de Suzano. "Depois disso pode mandar o seu
exército atacar, é um exército meio fraco, mas se fizer rápido o inimigo não
vai ter tempo de fazer muitas defesas", pode ler-se.
Mataram oito na escola onde estudaram
Guilherme Monteiro, 17 anos, e Luiz Castro, 25, que tinham
estudado na Escola Professor Raul Brasil, na pacata cidade de Suzano, mataram o
tio do primeiro, duas coordenadoras e cinco adolescentes no massacre.
João Almeida Moreira
14 Março 2019 — 06:29
Dois antigos alunos de uma escola pública de Suzano, pacata
cidade de 300 mil habitantes a 34 quilómetros de São Paulo, mataram oito
pessoas, das quais cinco menores, e feriram dez, na manhã desta quarta-feira
(13 de março). Os atiradores, Luiz Castro, 25 anos, e Guilherme Monteiro, 17,
também morreram. A polícia científica está a investigar se os homicidas se
suicidaram ou se foram abatidos por três agentes da força tática da polícia
paulista quando tentavam entrar no centro de línguas da escola, onde dezenas de
alunos se encontravam.
Luiz trabalhava como auxiliar de jardinagem com o pai em
Guaianases, uma cidade a 14 quilómetros de Suzano. Segundo um tio, nunca tinha
dado problemas e ocupava os tempos livres a jogar e a ver futebol, torcendo
pelo clube local Corinthians e pelo clube espanhol Barcelona. Disse ainda o
familiar que, na véspera do massacre, Luiz dissera ao pai que não iria
trabalhar por estar a sentir-se mal.
Guilherme vivia com o avô - a avó morreu há quatro meses - e
as duas irmãs porque os pais são toxicodependentes. Até ao ano letivo passado -
que terminou em dezembro - estudava na escola que atacou. Segundo os
professores, era tranquilo. O avô também disse que o neto nunca lhe deu problemas,
nem com drogas nem de outro tipo. Colegas que escaparam do ataque, por sua vez,
disseram que no último fim de semana ele já os tinha ameaçado - "fiquem
alerta", avisou. Acrescentaram que Guilherme costumava fotografar-se com
armas nas redes sociais e que não tinham ideia de que ele sofresse bullying.
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As vítimas são Pablo Rodrigues, Claiton Ribeiro, Caio
Oliveira, Samuel Oliveira e Douglas Celestino, todos alunos do ensino médio -
entre os 15 e os 18 anos. O último morreu já na ambulância, a caminho do
hospital. Entre os óbitos adultos estão Jorge Vieira, dono de um empresa de
aluguer de carros, de onde os atiradores roubaram uma viatura, e as
coordenadoras da escola Marilena Omezzo e Eliana Xavier. O velório será
coletivo e a prefeitura de Suzano anunciou luto oficial de três dias na cidade.
Os dois jovens chegaram às imediações da Escola Professor
Raul Brasil, uma instituição pública tradicional bem avaliada pelos dados
oficiais, mas não isenta de problemas como sobrelotação das aulas e assaltos
pontuais em redor, por volta das 09.30 da manhã (mais três horas em Portugal).
Antes de entrarem às 09.46 pela porta principal da escola, atacaram o dono da
empresa de aluguer de carros, tio e ex-patrão de Guilherme, e que morreu num
hospital em Mogi das Cruzes, cidade vizinha. O incidente alertou os vizinhos,
que chamaram a polícia.
Munidos com um revólver 38, uma besta, um arco e flecha,
dois machados e cocktails molotov, entraram na escola pelo portão principal,
sem nenhum controlo, e começaram por disparar sobre as duas coordenadoras.
Seguiram então para o refeitório da escola, onde os alunos tomavam o lanche da
manhã, e atingiram os estudantes presentes, entre os quais as cinco vítimas
fatais.
"O meu amigo levou dois tiros, tem 17 anos, só vi gente
a correr", contou Matheus Mariano, um dos estudantes sobreviventes.
"Achamos que era uma bomba, eu quase tenho a certeza de que conheço um
deles, que tinha ideias radicais", acrescentou um outro, que preferiu o
anonimato. "Fiquei 20 minutos escondida, só saí quando a polícia
chegou", disse Sandra Perez, professora da escola. Um enfermeiro declarou
que o ferido João Lemos chegou, pelo seu pé, ao posto de socorro nas imediações
com um machado espetado no corpo, mas está livre de perigo.
João Doria
✔
@jdoriajr
Acabo de receber a
triste notícia de que crianças foram cruelmente assassinadas na escola estadual
Professor Raul Brasil, em Suzano. Até o momento temos informações preliminares.
Cancelei toda agenda e estamos a caminho de Suzano p/ acompanhar o resgate e
atendimento aos feridos.
De acordo com relatos de outras testemunhas, uma das
empregadas de mesa do refeitório, Silmara Moraes, ajudou a esconder cerca de 50
alunos na cozinha. "Nós estávamos servindo a merenda, aí começaram os
tiros e as crianças entraram em pânico. Abrimos a cozinha e começámos a colocar
o maior número de crianças dentro, fechámos tudo, arrastámos frigoríficos e
congeladores e pedimos para eles se deitarem no chão, foi muito desesperador,
muito tiro, muito tiro mesmo, e era muito pânico, ficámos acuados em um canto
só, se acontecesse alguma coisa ele ia pegar muita gente."
Após o refeitório, os homicidas dirigiram-se ao centro de
línguas da escola, onde se encontravam barricados dezenas de outros alunos. Nessa
altura, chegaram ao local um sargento, dois cabos da força tática e um polícia
à paisana, chamados para responder ao crime na empresa de aluguer de
automóveis, e que confrontaram Luiz e Guilherme. A perícia verifica ainda se
eles acabaram por morrer em consequência dos tiros desses agentes ou por
suicídio.
O governo federal, presidido por Jair Bolsonaro, emitiu um
comunicado referindo-se a uma "grande tragédia", um "profundo
pesar" e a uma "desumana ação". O governador de São Paulo, João
Doria, interrompeu a sua agenda e voou para Suzano, participando em uma das
duas conferências de imprensa do dia.
Jair M. Bolsonaro
✔
@jairbolsonaro
Presto minhas
condolências aos familiares das vítimas do desumano atendado ocorrido hoje na
Escola Professor Raul Brasil, em Suzano, São Paulo. Uma monstruosidade e
covardia sem tamanho. Que Deus conforte o coração de todos!
Em Brasília, o senador Major Olímpio, do PSL, partido de
Bolsonaro, disse que se os professores estivessem armados "a tragédia
poderia ter sido minimizada". Já os políticos da oposição, como Maria do
Rosário, do PT, maior partido da oposição, sublinhou que "o atentado na
escola é resultado do ódio que vem sendo estimulado no Brasil, mais armas geram
mais violência".
Este é o terceiro ataque grave no Brasil a uma escola nos
últimos anos, depois do massacre do Realengo, no Rio de Janeiro, em 2011,
quando um ex-aluno da escola do bairro carioca invadiu o estabelecimento e
matou 13 crianças e feriu outras 22. Em 2017, um adolescente de 14 anos matou
dois colegas e feriu três numa sala de aula numa escola de Goiás.
Em São Paulo
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