Reabilitação põe
preço das casas a subir 12,8% em 2017
13 DE MARÇO DE
2018
Ana Margarida
Pinheiro
Há 25 anos que os
preços das casas para venda não subiam tanto. Em média são pedidos 1223 euros
por metro quadrado. Em Lisboa o valor médio ascende a 1532 euros
A procura não
para de aumentar e a escassez da oferta faz-se sentir no valor final. Os preços
das casas para venda subiram 12,8% no último ano, o maior aumento desde julho
de 1992, mostram dados da Confidencial Imobiliário. A comandar a valorização
das casas estão os estrangeiros e a reabilitação urbana que invadiu as grandes
cidades e que hoje "é o farol que indica o patamar de valores a praticar
no mercado", diz Ricardo Guimarães, diretor da Confidencial Imobiliário, ao
DN/Dinheiro Vivo.
Desde julho de
2016 que os preços não param de subir. São 18 meses de valorização
ininterrupta, apenas comparável à série de subidas registada entre final de
2002 e início de 2005. Com uma diferença: neste período os aumentos eram
"muito contidos", destaca a consultora.
No último ano, o
avanço foi o maior em 25 anos e ficou a dever-se a uma valorização expressiva
tanto dos meses de junho como de dezembro - aumentos mensais de 2,4% e 1,6%.
Resultado: pediam-se em dezembro, em média, 1223 euros por metro quadrado para
comprar casa em Portugal.
As assimetrias
por distrito ainda estão a ser apuradas, mas as diferenças são evidentes, desde
logo, na divisão do país por regiões: no Norte o valor médio por metro quadrado
não vai além dos 685 euros, enquanto a média praticada na área metropolitana de
Lisboa ficou nos 1532 euros/m2. São quase mais 900 euros, ainda que só na
cidade de Lisboa seja possível encontrar imóveis à venda por valores seis vezes
superiores. O Algarve é a segunda região com os preços de venda mais elevados
(1416 euros/m2), enquanto no Centro e Alentejo os preços variam entre 743 e 870
euros o metro quadrado.
"Há um
aumento grande no número de projetos em carteira e também mais imóveis de
segmento prime. Mas julgo que há hoje uma noção de que os preços estavam muito
baixos e com muitas oportunidades para rentabilização", refere Ricardo
Guimarães, destacando a forte procura dos investidores estrangeiros, e de
"novos posicionamentos que criam mais valor, como o alojamento para
estudantes ou o aluguer a turistas. Sempre existiram, mas hoje são mais
estruturados", destaca.
Não é só. Do lado
dos promotores realça-se que a subida dos preços das casas está longe de ser
justificada apenas pela procura. A legislação, que foi ajustada às portas
crise, a falta de mão-de-obra na construção, e a corrida aos já escassos
imóveis para reabilitação, no caso de Lisboa, também estão a fazer os preços
subir.
"A
legislação portuguesa não está adequada ao bolso dos portugueses", destaca
Vasco Raio, project manager da Louvre Properties, promotora imobiliária com uma
carteira de investimentos na ordem dos 35 milhões de euros e planos para mais
do que duplicar este valor. "Com a legislação atual o valor de ticket de
saída do imóvel só compensa os custos de construção em Lisboa e no Porto",
destaca este responsável, acentuando custos elevados em exigências como as
portas corta-fogo, escadas interiores mais largas ou isolamentos acústicos, que
encarecem os imóveis de construção nova logo na base.
Ricardo Guimarães
sinaliza outro problema: a dificuldade que a construção enfrenta em encontrar
mão-de-obra qualificada. Segundo dados do setor, só neste ano são precisos 70
mil trabalhadores para acomodar o crescimento da carteira de encomendas, um
número difícil de preencher pelo enorme vazio que a emigração, em resposta à
crise, deixou no setor.
No imobiliário,
os efeitos do resgate financeiro parecem já estar ultrapassados. "Numa
ótica nominal, praticamente anulámos a crise. Os preços estão 1% abaixo do pico
de mercado, que se tinha registado em setembro de 2007", realça Ricardo
Guimarães, sinalizando, ainda assim, que se não fossem as quebras abruptas que
começaram logo em 2008 com a falência do Lehman Brothers, nos Estados Unidos, o
mercado imobiliário teria acompanhado a evolução natura dos preços (inflação),
o que colocaria as casas 13,6% mais caras do que o registo atual.
O ajuste vai
continuar, mas mais lentamente. "Não creio que seja possível continuar a
assistir a valorizações de dois dígitos", sublinha Guimarães, realçando
que "a gama [de preços] vai ser definida pela localização dentro das
cidades.
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