quinta-feira, 1 de março de 2018

Medina diz que gosta do projecto do “mono do Rato”, mas não naquele sítio

Medina e Pilatos ... Medina tenta 'lavar as suas mãos' em Público, declarando estar inibido e impotente perante os direitos adquiridos pelo Promotor concedidos há 13 anos pelo Licenciamento de Eduarda Napoleão no mandato de Santana Lopes. Se o problema reside na insensibilidade dos Arquitectos sendo eles,   "dois dos melhores que o país tem". ou não , mude-se então de Projecto de Arquitectura. Os argumentos de que ‘vou tentar melhorar’ e sensibilizar, correm o risco de criar um híbrido. O Projecto de Arquitectura é mau desde o princípio. Está completamente descontextualizado e é insensível, afirmativo por ruptura e autista em relação “ao genius Loci”/ Espírito do Local, na perspectiva da envolvente.  Para que elegemos então um Presidente da CML ? Para apenas tentar 'sacudir a água do capote' em versão Lusa de Pilatos ?
António Sérgio Rosa de Carvalho / OVOODOCORVO

Medina diz que gosta do projecto do “mono do Rato”, mas não naquele sítio

Samuel Alemão
Textos
1 Março, 2018

O presidente da Câmara Municipal de Lisboa (CML), Fernando Medina (PS), considera desadequado o enquadramento do edifício a construir no gaveto do Largo do Rato com as ruas do Salitre e Alexandre Herculano, e anuncia que a autarquia “entrará em diálogo” com os promotores do projecto para tentar “minorar o impacto na zona”. Respondendo ao apelo de um munícipe, durante a reunião pública de vereação realizada na tarde desta quarta-feira (28 de fevereiro), Medina diz que tudo fará para não passar a ser etiquetado como o autarca responsável pelo “mono do Rato” – nome pelo qual é mais conhecido o polémico projecto assinado pelos arquitectos Manuel Aires Mateus e Frederico Valsassina. Obra que, diz o autarca, criará uma “descontinuidade estranha” naquele sítio. Ainda assim, admitiu a sua impotência para travar o avanço do projecto, dado os “direitos adquiridos” de construção da empresa que pretende erguer o edifício.

 “Tenho um enorme respeito pelos arquitectos. São dois dos melhores arquitectos que o país tem. Um deles, entretanto, galardoado com o Prémio Pessoa. Sou um grande admirador da obra dele e, certamente, da obra que ainda nos vai deixar na cidade. E até gosto do projecto em si”, disse o presidente da câmara, referindo-se ao imóvel que foi desenhado pela dupla de arquitectos em 2004, mas cuja autorização de construção conheceu um processo atribulado, nos seis anos seguintes. Desde 2011 que nada se sabia sobre o efectivo avanço da construção. Até há duas semanas, quando o actual quarteirão onde deverá ser edificado começou a ser rodeado por tapumes, antecipando a sua demolição. Reacendeu-se, então, a contestação popular ao avanço da obra, pelo mesmos motivos de sempre: o enorme impacto visual causado naquela área. Descontentamento ao qual, aparentemente, se junta agora Medina.



“Eu não gosto do projecto naquele sítio, acho que não é um bom projecto para aquele sítio. Acho que o projecto não é bonito naquele sítio, que cria uma disfunção naquele sítio, uma ruptura naquele local”, afirmou o presidente da Câmara de Lisboa, referindo, de seguida, que estava apenas a dar a sua opinião pessoal sobre o projecto. “A verdade é esta: não serei eu o presidente do ‘mono do Rato’. O projecto foi aprovado na câmara em 2005 e foi alvo de um intenso contencioso jurídico entre os promotores e a câmara, ao longo de vários anos. Foi alvo de um acordo em 2010 e agora é retomada a iniciativa de algo a que os promotores têm direito, de um licenciamento que foi efectuado”, acrescentou, antes de revelar o que a autarquia pensa fazer para apaziguar os protestos.

“O que podemos fazer é ter um diálogo com os promotores e tentar encontrar, na minha opinião, uma solução que minore o impacto da adaptação da zona. Não garanto o sucesso da operação”, disse, salientando, de seguida, que “o projecto está aprovado desde 2oo5” – na verdade, e como o próprio referira momentos antes, o projecto encontra-se aprovado desde dezembro de 2010, após o já mencionado acordo. Fernando Medina disse ainda ao munícipe que o interpelara sobre o “mono do Rato” que, com ele, “partilhava” a apreciação sobre o “gosto” e o “enquadramento daquele edifício, naquele local”. Mas, logo de seguida, fez questão de salientar que “aquele edifício, noutro local, seria extraordinariamente valorizador”, independentemente do onde se viesse a inserir. Mas, afinal, admite Medina, no sítio onde deverá surgir o prédio vai-se “criar uma descontinuidade estranha, principalmente com o início da Rua da Escola Politécnica e com a sede do PS, no Largo do Rato, com a igreja e com os edifícios contíguos, que precisam de levar uma certa volta”.

Medina torce o nariz ao "mono do Rato"

Autarca lembra que este processo já tem uma longa história na câmara e que "os promotores têm direito" a construir. Mas diz também que quer "tomar as decisões que se irão conformar pelo melhor interesse público".

JOÃO PEDRO PINCHA 28 de Fevereiro de 2018, 21:31

O presidente da Câmara Municipal de Lisboa não é muito entusiasta da construção do prédio que ficou conhecido como “mono do Rato” e vai tentar convencer os promotores do edifício a fazer ajustes ao projecto. “Até gosto do projecto em si. Não gosto é do projecto naquele sítio, cria uma ruptura naquele local”, admitiu Fernando Medina esta quarta-feira.

O autarca respondeu assim a um munícipe, Pedro Cassiano Neves, que interveio na reunião pública da câmara para argumentar que a cidade tem sofrido descaracterizações arquitectónicas e patrimoniais um pouco por toda a parte. O cidadão deu vários exemplos, entre eles os de uma casa do século XVIII na Rua da Lapa, demolida para dar lugar a um edifício de Manuel Aires Mateus, do projecto de Souto de Moura para a Praça das Flores e da construção de um hotel no Palácio da Anunciada.

No fim da sua interpelação, Cassiano Neves aludiu ao polémico projecto de Frederico Valsassina e Manuel Aires Mateus para o Largo do Rato, cuja concretização vai avançar agora, mais de 13 anos depois do início do processo. O munícipe pediu a Medina que não ficasse para a História associado àquele edifício.

“Tenho enorme respeito pelos arquitectos, são dois dos melhores que o país tem. Um deles até agora recebeu o Prémio Pessoa [foi Aires Mateus], sou um grande admirador da obra dele e certamente da obra que ainda nos vai deixar na cidade”, disse Medina. O presidente afirmou depois que o edifício em perspectiva vai ser “um elemento de descontinuidade estranha”.

Mas, lembrou o autarca, “o projecto foi aprovado em 2005, foi alvo de um intenso contencioso jurídico entre os promotores e a câmara ao longo de vários anos e foi alvo de um acordo em 2010”. Por isso, acrescentou, “os promotores têm direito” a avançar com a construção do prédio.

“O que nós neste momento podemos fazer é tentar um diálogo com o promotor para encontrar uma solução que minore o impacto”, afirmou. “No ponto em que estamos, a questão não se joga na estética do presidente e naquilo que o presidente acha, joga-se também nos direitos que as pessoas adquiriram e naquilo que é o interesse público prosseguir”, disse também. “Nós teremos um diálogo com os promotores sobre esta matéria, veremos onde esse diálogo nos conduz. Mas temos hoje de tomar as decisões que se irão conformar pelo melhor interesse público.” Fernando Medina foi cauteloso em relação a esse diálogo: “Não garanto o sucesso da operação.”

Falando de seguida, o vereador do Urbanismo não se referiu especificamente a este projecto, mas respondeu a Cassiano Neves que tinha uma opinião diferente da do munícipe sobre o urbanismo na cidade. “Aquilo que me preocupa é o cumprimento escrupuloso das regras do Plano Director Municipal, que é a nossa cartilha”, afirmou Manuel Salgado. E acrescentou: “Até hoje, todas as situações que têm sido contestadas – e têm sido apresentadas contestações junto da Provedoria de Justiça, da procuradoria, junto dos tribunais – têm dado sistematicamente razão à câmara. Estou confortável nesse aspecto.”

PSD denuncia alegadas ilegalidades na atribuição de apoios sociais
Ainda na reunião desta quarta, o PSD denunciou alegadas irregularidades na atribuição de apoios sociais pelas juntas de freguesia. Antes da votação da proposta que permite à câmara transferir verbas para as juntas no âmbito do Fundo de Emergência Social (FES), Teresa Leal Coelho disse que “o regulamento [do FES] estabelece de forma inequívoca que o apoio é de natureza financeira”. Ora, disse a social-democrata, “o presidente da junta do Beato informou [numa reunião descentralizada] que este apoio estava a ser concedido através de cabazes alimentares. Isto é ilegal. Não cabe no regulamento. A câmara não pode ficar impassível.”

“Se o presidente da junta do Beato usou dinheiro do FES para comprar cabazes, fê-lo em violação do regulamento”, disse Leal Coelho, pedindo ao executivo que actue. Caso contrário, acrescentou, “a vereação do PSD vê-se na obrigação de tomar outras medidas, não podemos compactuar com a violação da lei”.

O vereador dos Direitos Sociais, Ricardo Robles, confirmou: “É claro que a atribuição é financeira, não pode ser em géneros. É isso que está nas regras, é isso que tem de ser cumprido.” O eleito do Bloco de Esquerda informou que vai marcar uma reunião com o presidente da junta para esclarecer a situação. Fernando Medina acrescentou que “é preciso saber se a junta do Beato está a atribuir este apoio no âmbito do FES ou de outro instrumento”.

Ricardo Robles disse ainda que já pediu uma “revisão do regulamento, para ser mais eficiente e garantir transparência”. O vereador João Ferreira, do PCP, pedira antes uma reavaliação dos critérios para a atribuição destes apoios, alegando que os existentes são olhados de forma diferente por cada junta, o que origina aplicações muito discrepantes. “Há quem tenha uma execução excepcional e quem fique muito aquém”, lamentou o eleito.

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