Imagem do Dia /
OVOODOCORVO
EDITORIAL
Já chega de
confiar na sorte
Sim, conversem
todos, mas comecem por arranjar o que se tem perdido. Já que o dinheiro nunca é
muito, o melhor é começar pela base. Já basta de confiar na sorte
David Dinis
13 de Março de
2018, 6:30 Partilhar notícia
Nos últimos
quatro anos, Portugal registou 20 descarrilamentos de comboios. Sempre em
troços de caminhos-de-ferro que são considerados problemáticos pela empresa que
é responsável pela sua manutenção. Registe as palavras, usadas no relatório que
hoje Carlos Cipriano nos desvenda: estas linhas são “medíocres” ou “más”.
Estas, entre muitas outras, porque a conclusão dos técnicos da Infra-Estruturas
de Portugal é que quase 60% das linhas do nosso país está neste estado.
Registe também
uma outra palavra que ele nos diz ser a mais usada, por estes tempos, dentro
daquela empresa: “Sorte.” Sorte de, nestes 20 descarrilamentos, só haver
registo de seis comboios de passageiros, “sorte” sobretudo de não haver registo
de qualquer morte nestes acidentes.
Agora junte a
tudo isto a triste história da Ponte 25 de Abril, em que há um parecer
alertando para a necessidade de obras, o parecer anda de gaveta em gaveta
durante anos — e só salta de lá com o respectivo envelope financeiro quando se
sabe que há uma revista, a Visão, que vai fazer do tema capa.
Não, o problema
não é o das cativações, porque a questão é bem mais séria e transversal. A
discussão que se lançou por causa da Ponte 25 de Abril, e que agora terá de se
fazer também sobre as linhas férreas, é uma discussão que tem de se alargar a
outros sectores do nosso Estado. Deve fazer-se no Serviço Nacional de Saúde,
onde se discute mais a falta de profissionais do que os meios com que estes
trabalham; deve fazer-se nas escolas, onde também se fala muito dos
professores, mas pouco das condições em que eles ensinam os nossos filhos.
É este o estado
do país e da discussão política. Hoje, por exemplo, os sindicatos de
professores iniciam uma greve, que se fará dia a dia, região a região, porque
não conseguem convencer o Governo a dar mil milhões de euros para lhes garantir
uma reposição salarial de acordo com as suas pretensões. No dia em que
reclamarem o mesmo, mas metade para eles e outra metade para que tenham
condições para ensinar, é provável que tenham o país todo com eles.
Se António Costa
e Rui Rio decidiram começar a conversar sobre onde aplicar os fundos europeus e
que responsabilidades passar para as autarquias, podiam bem começar por aqui:
olhar, sector a sector, que partes do Estado precisam de mais investimento, de
reabilitação, ainda antes de nos lançarmos em novas aventuras. Sim, conversem
todos, mas comecem por arranjar o que se tem perdido. Já que o dinheiro nunca é
muito, o melhor é começar pela base. Já basta de confiar na sorte.
Sem comentários:
Enviar um comentário