Linha amarela
vai acabar em Telheiras e deixar de ir até ao centro da cidade
Passageiros da zona norte da cidade terão de trocar de linha no Campo
Grande para alcançar o centro de Lisboa — o que PCP, BE e PSD temem que signifique
um desinteresse neste meio de transporte.
JOÃO PEDRO PINCHA
13 de Março de 2018, 22:39
A linha amarela
do Metro de Lisboa vai mesmo passar a ligar apenas Odivelas a Telheiras. A
alteração ocorrerá quando estiver concluída a expansão entre o Rato e o Cais do
Sodré, que transformará a actual linha verde numa linha circular (ao incluir o
percurso que actualmente integra a linha amarela entre o Campo Grande e o Rato
numa rota circular pelo centro da cidade). Assim, milhares de passageiros que
hoje apanham o metro no concelho de Odivelas e na parte alta de Lisboa vão ser
obrigados a mudar de linha no Campo Grande para chegar a estações como o Rato,
o Marquês de Pombal ou o Saldanha, no centro da capital, que transitam para a
futura linha verde circular.
Isto corresponde
ao que o Metro e o Governo anunciaram no ano passado, mas o presidente da
Câmara Municipal de Odivelas disse esta terça-feira no Parlamento que se
manifestou contra essa decisão e que o Metro lhe assegurou que havia a hipótese
de a linha amarela continuar a funcionar entre Odivelas e o Rato, a par com a
futura linha circular. Duas horas depois, o presidente do Metro desfez ilusões:
“O que se pretende para a linha amarela é que funcione como uma linha radial,
terminando em Telheiras.”
Mais de dez meses
depois de anunciada a expansão do metro, a Comissão de Economia, Inovação e
Obras Públicas da Assembleia da República ouviu autarcas, sindicalistas e a
administração do Metro.
Lá, Hugo Martins,
autarca de Odivelas eleito pelo PS, disse que ficou “bastante apreensivo” com o
que foi apresentado em Maio de 2017, sobretudo por causa do previsto
“encurtamento da linha” amarela. O presidente referiu que as estações de Sr.
Roubado e Odivelas são pequenas para a quantidade de passageiros que têm e transmitiu
as suas preocupações ao Metro, que lhe terá respondido que o plano de expansão
não tinha necessariamente de implicar mudanças no funcionamento da linha
amarela.
Mas Vítor Santos,
presidente do conselho de administração do Metro, afirmou mais tarde que essa
hipótese nem se coloca, até porque os estudos que a empresa encomendou mostram
que a linha circular tem “maior potencial de captação de passageiros” do que
qualquer outra possibilidade de expansão da rede. Esta linha é “o primeiro
passo para a criação de uma futura rede de transportes que abarque toda a
região de Lisboa”, disse o responsável, defendendo que nas periferias se opte,
por exemplo, por formas de transporte mais ligeiras. É que, segundo Vítor
Santos, o metropolitano é caro e só compensa financeiramente com muitos
passageiros e altas frequências de passagem. “Não pode ser uma espécie de
Intercidades. A linha circular vai conseguir intervalos de passagem inferiores
a quatro minutos.”
À excepção do PS,
todos os partidos estão contra esta proposta de expansão, que consideram não
responder aos problemas reais de mobilidade na área metropolitana. Também os
sindicatos ouvidos e a comissão de trabalhadores manifestam grandes dúvidas
face à decisão do executivo.
Heitor Sousa,
deputado do Bloco de Esquerda, lamentou que a prioridade não seja a zona
ocidental de Lisboa, mas considerou “ainda mais graves” as implicações na linha
amarela. “Vai perder a sua unidade. As pessoas vão ser obrigadas a fazer
transbordo. É um erro grave, é um convite a que as pessoas não usem o metro”,
disse. Semelhantes críticas fizeram Bruno Dias, do PCP, e Carlos Silva, do PSD,
que disse mesmo que “este é o projecto mais centralizador que o Governo já
apresentou.”
Bernardino
Soares, presidente da câmara de Loures (PCP), disse não entender porque é que a
linha circular é mais prioritária do que as outras obras previstas no plano de
expansão de 2009 no qual o Governo se baseia. Aludindo a uma petição com 31 mil
assinaturas, apoiada por todos os partidos na câmara, o autarca disse que o
prolongamento do metro até Sacavém, Portela, Loures e Infantado “é uma
necessidade imperiosa”, uma vez que “não há rede de transporte pesado no
concelho de Loures”. Para o deputado Bruno Dias “não é justo que nove anos
depois de anunciada a expansão” para Loures e para outras zonas de Lisboa, esta
leve um “veto de gaveta” e que se anunciem mais estudos para depois então tomar
decisões definitivas. Mas é isso que está previsto. Questionado, Vítor Santos
não indicou qual o próximo projecto de expansão. “Será o poder político a dizer
o que se segue”, afirmou.
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