PJ apreendeu quadros
de Paula Rego ao director do Museu da Presidência
MARIANA OLIVEIRA
04/07/2016 -
Pelo menos uma das
obras, um retrato do ex-presidente Jorge Sampaio, foi encontrada na
casa de Diogo Gaspar.
A Polícia
Judiciária apreendeu vários quadros da pintora Paula Rego ao
director do Museu da Presidência, Diogo Gaspar, suspenso de funções
e obrigado a pagar uma caução de 50 mil euros no âmbito de um
inquérito que investiga 13 crimes, nomeadamente tráfico de
influência, peculato e participação económica em negócio. Pelo
menos uma das obras, um retrato do ex-presidente Jorge Sampaio, foi
encontrada na casa de Diogo Gaspar, em Lisboa, apurou o PÚBLICO.
O director do Museu
da Presidência, um historiador de 45 anos, gostava de mostrar a obra
aos amigos que o visitavam, a quem garantia que o quadro tinha sido
uma oferta da artista. A Polícia Judiciária suspeita, no entanto,
que a obra faz parte do espólio do museu, e terá sido apropriada
ilicitamente pelo director da instituição, licenciado em História
de Arte.
O PÚBLICO tentou
questionar o advogado de Diogo Gaspar, Raul Soares da Veiga, sobre
estas informações, através de email, telefone e mensagem, não
tendo este respondido a nenhuma das solicitações.
Recorde-se que em
Março de 2006 o então Presidente da República, Jorge Sampaio,
apresentou o seu retrato oficial, pintado por Paula Rego, no Palácio
de Belém. Na altura os meios de comunicação social noticiaram que
a obra teve várias versões.
Desde então que o
Palácio de Belém passou a contar com várias obras de Paula Rego: o
retrato oficial que ficou na galeria dos presidentes, uma outra
versão que foi doada ao Museu da Presidência, além de oito
pinturas de Paula Rego sobre o Ciclo da Vida da Virgem, realizadas
para a antiga capela do Palácio de Belém. O conjunto destas obras
foi na altura avaliado em dois milhões de euros.
Já na passada
sexta-feira o PÚBLICO noticiou que a PJ apreendera móveis antigos,
tapeçarias e quadros do espólio do Museu da Presidência da
República em casa do director da instituição e de amigos seus.
Detido na
quinta-feira, Diogo Gaspar foi suspenso de funções no dia seguinte
por decisão da juíza de instrução criminal do processo. O arguido
ficou ainda proibido de entrar na Secretaria-Geral da Presidência da
República, no Museu da Presidência e no Palácio da Cidadela, em
Cascais, além de estar impedido de contactar com funcionários
destas instituições.
Num comunicado feito
pela juíza de instrução, dá-se conta de que são imputados 13
crimes a Diogo Gaspar: cinco de peculato, quatro de participação
económica em negócio, um de tráfico de influência, um de
falsificação de documentos, um de abuso de poder e um de peculato
de uso. Precisa-se ainda que o director do museu terá 30 dias para
pagar a caução.
"Promessa de
exercício de influência"
Alguns dos “bens
culturais e artísticos”, nas palavras de um comunicado daquela
polícia, foram encontrados em pelo menos uma empresa ligada a Diogo
Gaspar, que prestaria serviços à Presidência de República e ao
respectivo museu. Trata-se de uma firma criada em Julho de 2013 e que
está em nome do namorado de Diogo Gaspar, que estagiou nessa altura
no museu. As autoridades acreditam que essa empresa, que montava
exposições e fazia igualmente o catering de eventos, será de Diogo
Gaspar, apesar de formalmente este não integrar os respectivos
órgãos sociais.
Diogo Gaspar
venderia igualmente a terceiros a sua suposta influência junto de
decisores públicos. Isso mesmo se explica numa nota emitida
quinta-feira pelo Ministério Público que fala no pedido de
benefícios “como contrapartida da promessa de exercício de
influência junto de decisores públicos”. No entanto, ninguém
quer dizer quem são esses decisores.
Nesta sexta-feira, o
advogado de defesa de Diogo Gaspar, Raul Soares da Veiga, atacou a
investigação dirigida pelo Departamento de Investigação e Acção
Penal de Lisboa em colaboração com a Unidade Nacional de Combate à
Corrupção. “O que ele me diz é que estas imputações são no
essencial deturpações da verdade. São muitas meias verdades e
poucas verdades inteiras”, afirmou o advogado aos jornalistas. O
defensor disse que estão em causa neste processo “muito poucos
bens”, que são propriedade do seu cliente. “Ele comprou certos
bens que tinham sido dados para abate na Presidência da República,
não tinham interesse nenhum para a Presidência da República. Foram
vendidos a um senhor e depois Diogo Gaspar comprou a esse senhor”,
acrescentou. Com Ana Henriques
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