António Barreto como nunca o viu.
"Gostaria de ver alguns ex-governantes e banqueiros presos"
Por
Isabel Tavares
publicado
em 31 Jan 2015 / in (Jornal) i online
Uma nova Constituição e a
alteração do sistema eleitoral são as mudanças mais desejadas pelo sociólogo
É um dos
mais respeitados sociólogos e pensadores da cultura portuguesa. Passou pelo
Partido Comunista antes de aderir ao PS, foi ministro e deputado. Muitos
gostariam que se candidatasse à Presidência da República, mas diz que tudo tem
o seu tempo e esse acabou em 1991. Ao i assume-se como um liberal de esquerda,
mas confessa que chegou a um desapontamento tal que nem sabe se vai votar nas
próximas legislativas, quanto mais em quem.
Quais
são os seus votos para 2015? O que é que não pode deixar de acontecer em Portugal?
O meu
principal desejo não foi concretizado, é que se despachasse muito depressa este
governo e viessem novas eleições. Se tivesse havido um entendimento entre os
partidos da maioria, oposição e Presidente da República depois das eleições
europeias, não tínhamos tido este ano e meio difícil que estamos a viver: há
demagogia, poderes e jogos eleitorais para o parlamento e para a Presidência da
República.
Esse não
se concretizou. Pergunto para o futuro.
Os
outros são que se consiga, em primeiro lugar alterar a Constituição, com um
esforço comum a vários partidos, e/ou o sistema eleitoral. Em segundo, a
reforma do Estado. Evidentemente que posso sempre acrescentar que gostaria de
ver algumas pessoas presas.
Quem?
Não digo
nomes, mas são alguns banqueiros, empresários, administradores de empresas, ex-
-ministros, ex-secretários de Estado, ex-directores-gerais... Gostava de os ver
presos.
São
todos ex?
No caso
dos governantes, sim. Se alguns dos actuais se candidatam, melhor ainda.
A
justiça está mais operante?
Toda
esta tropa fandanga foi julgada no último ano, finalmente parece que se está a
fazer justiça na área da grande corrupção. Mas aconteceu qualquer coisa nova,
que penso que não depende do governo, mas de mudanças muito importantes no topo
da magistratura, depois de uma série de episódios muito graves que puseram em
causa a relação entre a magistratura e a política. O que se está a passar é
muito sério, só não sei ainda se é bom, se é mau.
Disse
que perdemos um ano e meio. Se tivesse havido eleições antes, o que seria
diferente hoje?
Este
governo fez muita coisa bem e muita coisa mal. Mas nas coisas que fez bem não
conseguiu um trabalho consecutivo - ou construtivo - positivo. Não conseguiu
tocar de uma maneira forte, enérgica e com resultados o investimento externo e
interno, não conseguiu alterar a burocracia, os incentivos. Sei que tudo isto
demora mais de um mês, de um ano, mas tem de ter um princípio. Não conseguiu
tornar a justiça credível e eficaz com a aparência da reforma que fez, que não
foi nem profunda nem séria, e ainda por cima teve aqueles fenómenos estranhos
da informática.
O seu
segundo desejo, a reforma do Estado...
A
reforma do Estado, da administração pública, de cima a baixo, o governo não
conseguiu fazer. Houve uma alteração interessante no sistema de nomeação dos
dirigentes, mas chegou--se ao fim do ano com 60 ou 70 directores-gerais à
espera de ser nomeados. À espera de quê? Controlar a administração não é só
nomear os amigos, não nomear também é uma forma de controlo. Na saúde, e tenho
grande respeito e amizade pelo ministro Paulo Macedo, o que se está a passar
nas últimas semanas é estranho.
Fala das
mortes nas urgências?
Sim, não
percebo. Parece uma coisa bruta de dizer, mas 95 anos já não é propriamente uma
idade muito calhada para viver muito tempo, podia ser normal. Mas não sei o que
pensar: se é descuido, manipulação política, ineficácia, austeridade a mais,
falta de médicos, mentira, propaganda, desinformação por parte da Ordem dos
Médicos, dos enfermeiros, dos sindicatos, do governo, do Partido Socialista, da
oposição. Agora há qualquer coisa de estranho.
Não sabe
no que acreditar?
Devo
dizer que estou a perder a confiança em praticamente toda a gente em Portugal.
Se começar a julgar o que penso da saúde, da educação, da justiça, das
privatizações, do BES, da PT, sinto que um dos meus problemas é não conseguir
formar opinião com os elementos que me são dados. Ouvi horas e horas da
comissão de inquérito ao BES no parlamento...
...e
está mais ou menos esclarecido?
Estou
mais esclarecido num sentido, agora acho que a maior parte das pessoas do BES e
arredores tem culpas enormes no que se passou, mais ainda do que eu pensava.
Mas é preciso provar. E menos esclarecido neste sentido: o Estado, o governo e
as autoridades centrais estão estranhamente ausentes disto tudo. O governo diz
que não tem nada com isto.
É um pau
de dois bicos? Se se mete, está a imiscuir-se, se não, é porque não quer saber?
Tem de
intervir. Eu sou mais liberal que intervencionista, mas um governo tem de
defender os interesses do país. E tem de estar presente nalgumas coisas. O que
se passou com a PT, com o grupo Espírito Santo, afectou o coração da economia
portuguesa. O mais importante grupo bancário, o maior no crédito às pequenas e
médias empresas, na capitalização bolsista, na projecção internacional, tudo
isto ficou tresmalhado. Foi destruído pelos próprios? Provavelmente sim, por má
gestão, incompetência, voracidade, cumplicidade, toda a espécie de
responsabilidades, mas o governo não pode ficar a assobiar para o lado.
O que
devia o governo fazer?
Desde o
princípio, saber o que se passa, tomar conta. Nomear advogados do Estado para
averiguar, nomear uma comissão administrativa, decidir nacionalizar ou não
nacionalizar, ter uma vontade. O que é que o governo português quer? Que se
perca, que se destrua, que se salve, quer ter uma estrutura de telecomunicações
nacional, quer a meias quer com outros países? Não sei. Diz que não se mete, é
a economia privada funcionar. Em nenhum estado é assim, nem na América, que
interveio quando teve as crises gravíssimas da construção e do imobiliário ou
da banca. A Inglaterra, que é um país liberal, nacionalizou bancos quando foi
preciso, a Suíça tomou conta da Swissair, o governo empenhou--se a sério. Tomam
conta da ocorrência. Para depois voltar a privatizar ou encontrar novos
esquemas, novos padrões. Só citei países ditos liberais.
Não está
na nossa matriz?
Portugal
tem uma tradição dirigista e estatal. Nunca houve partidos liberais dignos
desse nome. Eu classifico-me como liberal de esquerda e todos olham para mim
desconfiados. A direita não é liberal, a esquerda é antiliberal. E o
catolicismo também teve a sua influência.
E as
regras da União Europeia, não contam?
Só
invocamos as regras da UE quando são, geralmente, contra os cidadãos, ou contra
a boa política, ou contra as liberdades, ou por incompetência e impotência. Um
estado que não se ocupa das coisas essenciais da sua economia é um estado
falido. E tem um governo que faliu, acabou o prazo de validade.
E
dinheiro para essas políticas?
Para
algumas coisas é preciso dinheiro, sim. Mas tem de poupar, escolher onde gasta,
gastar melhor, manter a austeridade se for preciso. Segundo algumas
universidades, os portugueses terão perdido entre 10% e 14% dos seus
rendimentos nestes três ou quatro anos. Não sei se não será preciso estar ainda
mais tempo a perder alguma coisa. Há países que estão a perder mais rendimentos
que nós há mais tempo. Espanha está a perder muito, a Irlanda perdeu muito, a
Islândia nem se fala, a Grécia está a perder mais que os portugueses. Se não há
dinheiro e é preciso para investir, alterem-se políticas. Ao fim deste tempo, o
que mudou em relação às parceiras público-privadas? O governo diz que se
investiu a mais e mal, onde está o dinheiro? Se alguém cometeu dolo onde estão
os presos, os julgamentos, as punições? Este governo apareceu com uma aura de
honestidade, de seriedade e de rigor financeiro e económico que não se está a
traduzir numa publicitação dos resultados dos inquéritos. Se é que os há.
Falou
num entendimento entre grandes partidos. Como olha para António Costa?
Sou
amigo dele, conheço-o há muitos anos, mas só vou falar daqui a seis meses.
Tenho de o ver em acção política com mais currículo, como chefe de partido,
para dizer o que quer que seja. Na minha idade já não tomo partido por pessoas
independentemente das suas políticas. Sei que há uma expectativa favorável, não
sei se ainda está em estado de graça. Até agora conseguiu adiar muito bem o que
pretende fazer, mas está à beira de começar a tomar compromissos muito sérios.
Trouxe
para cima da mesa o tema da regionalização. Oportuno?
Eleitoral.
O PS estava, e ainda está, com uma dificuldade muito grande: quer demarcar-se
do governo. Já deu um ou outro sinal de que poderia estar interessado em
reavaliar as suas relações com a extrema-esquerda, mas depois ficou entalado. O
PS sabe, creio eu, que se fizer uma aliança com a extrema-esquerda perde as
eleições. Portanto, quer manter-se um partido de esquerda com política ao
centro, mas tem muita dificuldade em encontrar o que o distingue do PSD a não
ser coisas banais. Diz que quer renegociar com a Europa, mas isso não chega.
Para ganhar as eleições tem de mostrar mais.
E a
regionalização é consensual...
Há
poucos capítulos, muito poucos, que permitiam ao PS piscar o olho à esquerda e
ao centro. A regionalização é talvez o único, inclusivamente porque no PSD há
gente favorável à regionalização, é uma velha tradição, estou a pensar no Prof.
Valente de Oliveira, meu caro amigo, ou em Rui Rio. No PC também sempre houve
alguma vontade de olhar para a regionalização como favor - são partidos muito
centrais, muito dirigistas, gostam disso. Não dou muita importância, nem acho
muito importante, a regionalização. Parece um subproduto; não há manteiga vamos
buscar a margarina. É simplesmente um tema oportuno.
Que tema
seria o produto principal?
As
reformas políticas. A justiça e a educação são instituições prioritárias, há
muito que fazer nesse universo. O mundo laboral é talvez das matérias mais
difíceis em Portugal, porque há um sistema de insegurança e medo reinantes,
temos um sistema horrendo de precariedade e de insegurança. É preciso diminuir
os benefícios de quem tem a mais e aumentar os de quem não tem nenhuns.
Existe
uma grande diferença entre este PS e o PS da sua altura?
Existe,
enorme. Não é nem melhor, nem pior, é a diferença das circunstâncias. Na minha
altura as prioridades do PS eram construir e garantir um estado democrático e a
adesão à CEE. Isto depois já do PREC - Processo Revolucionário em Curso. No
PREC era a liberdade, as eleições, a Constituição, o Estado de direito. E o PS
assumiu-as todas. Estas prioridades deram ao PS protagonistas e políticas
adequadas a isso. Passaram-se 30 anos, muita coisa mudou, as gerações, a
cultura, a maneira de ser.
Por
exemplo?
Há 30
anos, bem ou mal, o Partido Socialista julgava que estava a construir o
socialismo. Hoje em dia no PS ninguém usa socialismo, passou a ser um
adjectivo. Dizem: nós somos de esquerda. O PS hoje é uma espécie de repositório
de tradições de esquerda e republicanas, é difícil encontrar uma característica
primordial que não seja esse repositório de uma família que se vai renovando,
os filhos, os netos e os bisnetos. Por isso Mário Soares e Almeida Santos têm
tanta importância quando aparecem, as figuras são as mesmas ainda hoje. Até no
Partido Comunistas as figuras já não são as mesmas.
Falou
numa geração diferente...
Nos
partidos modernos há uma tendência odiosa, que é substituir tudo pela gestão.
Tanto atacou o PS, como o PSD como o CDS, os partidos menos ideológicos. O bom
gestor é que vale. Já se diz gerir para tudo: gere-se uma casa, gerem-se os
filhos e até se gerem as relações amorosas, gerem-se as eleições. Mas a gestão
é um instrumento ou seria bom que fosse. No PS, por exemplo, quando não se
gosta de uma iniciativa diz-se logo "tu és um economicista". As camadas
jovens acham que a gestão é o mais requintado da política. Não é.
O que é
o mais requintado da política?
São os
princípios, os objectivos para um país.
Isso
significa que não há objectivos?
Os
partidos estão a esvaziar-se. Creio que vamos ter novos candidatos políticos
nos próximos anos, é inevitável. Aliás, em vários países europeus já estão a
aparecer muitos partidos. Os nossos estão a esvaziar-se num clima crispante, as
pessoas não têm confiança nos partidos, nos seus dirigentes. Os partidos portugueses
são pequeninos, chegaram ao mundo democrático muito tarde, com 100 anos ou 50
anos de atraso. Depois ficámos muito contentes com o 25 de Abril, lembro-me que
havia muita gente que dizia era a revolução mais jovem, mais limpa, a revolução
do futuro. E era ao contrário, era a última, uma revolução obsoleta, o que
sobrava do século XIX, princípios do século XX. Uma revolução que criou uma
Constituição funesta, uma fortaleza na altura, uma espécie de lugar geométrico
de todos os sistemas de defesa de todos os países que podiam ameaçar Portugal:
a tropa, os comunistas, os fascistas, os estrangeiros, os nacionais, tudo. Mas
essa Constituição ficou um monstro. Há animais assim, como o ornitorrinco, que
tem pêlo, bico, nada, põe ovos e é mamífero, uma coisa esquisitíssima.
Que
Constituição nos serviria?
Uma
Constituição que dê mais liberdade às gerações actuais, que lhes permita eleger
os seus partidos, os seus políticos e que tenha uma maior margem de liberdade
nas suas decisões. Em muitas matérias laborais, de saúde, de educação, de
segurança social, de organização do Estado, função das autarquias e justiça, a
Constituição, em vez de definir as grandes estruturas e deixar o tempo e as
classes preencherem os conteúdos, fixou-os. Podia ser muito limpa de todos os
ónus ideológicos.
Mas o
país pode mudar mesmo com a Constituição que tem, ou não?
Nalgumas
coisas não. O sistema político está totalmente desenhado para permitir que
estes partidos fiquem perpetuamente no poder e que os que venham continuem com
o mesmo sistema. Tem de limpar da Constituição o método d'Hondt, o sistema
proporcional, a ideia de que os deputados são eleitos por listas. O mundo que
mais aprecio, e não é só o anglo-saxónico, tem sistemas uninominais, as pessoas
elegem um deputado a quem pedem contas. Se esse deputado morre ou muda de
emprego, elegem outro, não vão buscar o 15.º ou 27.º, um analfabeto qualquer,
um atrasado que está lá no fundo da lista para encher. Há um sistema de
confiança nos seus eleitos que a nossa Constituição destruiu. Um deputado que
vote ao contrário do Dr. Passos Coelho ou do Dr. António Costa corre riscos
muito sérios de ser vilipendiado, destruído, até expulso do partido. Isto não é
um sistema livre e tem de ser expurgado da Constituição.
Disse
que não confia em ninguém. Em quem confiaria para trabalhar numa nova
Constituição?
Se
alguém começasse a fazer esse trabalho, eu confiaria imediatamente. Porque é um
trabalho muito difícil - eu não sou um optimista em relação a isto.
Não vai
fazer-se?
Penso
que vai fazer-se por necessidade. Se os partidos não quiserem fazer isto a bem,
daqui a cinco, daqui a dez, a 20 anos terão de fazer a mal.
O que
quer dizer com isso?
Um golpe
de Estado, uma revolução, pronunciamentos ou assassinatos, não sei. Se fizer a
lista das constituições portuguesas, foram todas assim. Foi preciso uma
revolução para fazer a Constituição de 76, como a de 33. A de 10 foi uma
revolução e uma ditadura. Ao fim de 40 anos - e oito ou nove revisões, algumas
de cosmética ou coisas necessárias por causa da Europa -, a necessidade de a
rever mantém-se. O relação entre o Presidente da República, o parlamento e o
governo também tem de ser revista.
Em que
sentido?
Continuamos
com uma espécie de reinado, de rei positivo. Desde há quatro anos todos os dias
há partidos a pedir a demissão do governo. E viram-se para o Presidente da
República e zangam-se. Uma das razões pelas quais o PR não é aceite com
legitimidade por todos os partidos é porque todos, excepto os do poder, acham
que o presidente já devia ter posto o governo na rua. Este sistema não é
aceitável, tem uma situação pré-fabricada para as instituições estarem
permanentemente em conflito. Tivemos no último ano dois ou três conflitos
gravíssimos com o Tribunal Constitucional, num dos casos até acho que o TC
tinha razão. Mas o que é importante é que o governo e o parlamento não tiveram
a liberdade suficiente para administrar a coisa económica e social.
Qual é a
liberdade que nos falta?
A
primeira de todas é dizer não. A segunda é pensar sozinho ou escolher as
próprias influências.
Há 50
anos tínhamos 50% de analfabetos, impensável na Europa. Tudo dependia do Estado
e do poder político, do poder militar, do poder da Igreja. Se se dizia não,
perdia-se tudo, vivia-se no medo. Isto criou o hábito da reverência, do
respeitinho, de dizer que sim e ter medo de quem manda.
Por isso
é tão difícil decidir?
Decide-se
desde que seja às escondidas. Fazem-se uns despachos, umas circulares, umas
portarias que saem no Diário da República. Se a decisão implica uma tomada de
posição aberta, a coisa torna-se mais difícil.
A nova
Constituição deveria ser referendada?
É
importante que a Constituição seja referendada, coisa que nunca se fez. E isto
é gravíssimo, que Portugal se tenha recusado sempre, desde 76, a referendar a
sua Constituição. E referendar a adesão à União Europeia, etc. Foi liminarmente
retirado ao povo o direito de decidir sobre as coisas importantes que se
fizeram em Portugal, ao contrário do que acontece na maior parte dos países
europeus.
Confia
no julgamento geral?
Aqui não
é uma questão de confiança. A política tem de servir as pessoas e as pessoas
são o que são, uns pensam bem, outros pensam mal, mas tanto têm direito uns
como outros.
Disse
que denunciaria Sócrates até que a voz lhe doesse. Como vê a prisão do
ex-primeiro-ministro?
Estou à
espera do julgamento para me pronunciar sobre isso.
Acredita
que existem provas?
Não
posso dizer se acredito em A ou B. Não tenho confiança absolutamente nenhuma em
qualquer dos protagonistas neste assunto.
É-lhe
fácil ver Sócrates como um mártir?
Não, ele
está a fazer um combate político. Só será mártir se for inocente.
E se é
inocente?
Se é
inocente ou é perseguição ou um erro gravíssimo.
Cavaco
devia pronunciar-se, como pede Mário Soares?
Ninguém
no exercício de funções institucionais, Presidente da República,
procurador-geral, Supremo Tribunal, governo, deve exprimir-se sobre um caso
como este, deve esperar. E se a justiça fizer mal o seu trabalho, todos estes
deverão pronunciar-se sobre a matéria e agir.
Quando o
PS saiu do governo disse que estava em mau estado político, mental e moral.
Como está agora?
Em boa
parte pior. Com o ex-secretário-geral na cadeia e vários dos seus políticos
condenados ou arguidos. Apesar do fratricídio, parece ter descoberto um ponto
de apoio para puxar a alavanca. Vamos ver se daqui renasce um PS em melhor
estado. A prisão de Sócrates desmoralizou muitíssimo o Partido Socialista, há
uma parte que está muito aguerrida, que considera isto um acto de banditismo.
Mas a maior parte do PS está combalido, quebrado.
Em quem
vai votar?
Não me
pergunte isso, já cheguei a um desapontamento tal que nem sei se vou votar,
quanto mais em quem vou votar.
Consegue
ver como será Portugal dentro de 20 anos?
Se a
Europa aprofundar o entrosamento federal, Portugal será uma região da União
Europeia. Mais pobre, mas periférica, com personalidade bastante, mais do que
outros países. Estará tomado por conta, mas não vejo isso como particularmente
mau, não sou nacionalista. Se a Europa não progredir nessa linha, será retomada
a afirmação nacional. Se for essa a via, Portugal manterá a independência, a
personalidade, o carácter, mas ficará mais pobre, terá menos progresso. Este
são os meus dois cenários: mais Europa, mais dependente, mais progresso, talvez
mais liberdade individual. Do outro lado, mais independência, mais
personalidade, mais pobreza e menos liberdade individual.
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