domingo, 31 de julho de 2016

Buracos na segurança do aeroporto

“ Saio descansada deste processo e estou tranquila"

Má escolha de palavras.Que deixam muitas questões em aberto.E que contrastam com a nossa intranquilidade. O Público põe hoje em Editorial as mesmas perguntas que o VOODOCORVO tinha feito ontem.
OVOODOCORVO




Buracos na segurança do aeroporto

Direcção Editorial

01/08/2016 – 01:11

Quatro ilegais fogem da polícia pela pista fora. A ministra está "tranquila".

O episódio envolvendo cinco argelinos que apanharam um voo em Argel, com destino a Cabo Verde, mas que acabaram detidos pela polícia, em Lisboa, mostra bem a vulnerabilidade dos sistemas de segurança, num tempo em que o seu funcionamento é crucial para poupar vidas e danos materiais. Tudo indica que este caso não tem nada a ver com terrorismo, tratando-se de indivíduos que pretendem imigrar ilegalmente para a Europa, mas não deixa de ser perturbador constatar que as falhas da nossa segurança são conhecidas lá fora ao ponto de justificarem o risco por parte de quem as queira aproveitar. Sabe-se que alguns deles já tinham tentado entrar na Europa através de outros países da União Europeia, o que não se sabe é quantos já tentaram e conseguiram. E tanto pode tratar-se de imigração ilegal, como de gente bem menos recomendável como terroristas, traficantes de droga ou criminosos em fuga.

Nenhum dos episódios anteriormente detectado tinha sido tão grave como este que ocorreu agora em Lisboa, mas este alerta é um bom pretexto para se exigir das autoridades uma verificação minuciosa das condições de acesso e circulação nos três aeroportos internacionais de Portugal. Porque não chega sujeitar (e bem) cada passageiro a todas as incomodidades em nome do bem comum. É imperioso que os responsáveis a quem conferimos poderes e meios para nos proteger, cumpram a sua obrigação de estudar, com critério e rigor, cada centímetro do espaço que lhes está confiado, prevendo, até ao limite do possível, todas as escapatórias e esquemas dos infractores. É verdade que não se pode prever tudo, mas a estranha nebulosa à volta deste caso não nos deve deixar descansados quanto à eficácia da segurança, pelo menos no aeroporto Humberto Delgado. A não ser assim, como se compreende o silêncio das autoridades sobre o assunto? Isto porque, até agora (fim de tarde de domingo, 31 de Julho), ainda ninguém se disponibilizou a responder cabalmente a todas as questões em aberto. Qual o percurso dos cinco indivíduos depois de saírem do avião? Como é que quatro deles conseguiram escapar ao controlo e entrar na pista? Porque só fugiram quatro? Quais as intenções do quinto elemento? Foi detectado algum esquema de cumplicidade em território nacional? E não vale a declaração da ministra da Administração Interna a dizer que sai “descansada deste processo” e que está “tranquila” porque “todos os protocolos de segurança funcionaram”. Pelos vistos, para a ministra, no passa nada, apesar de quatro indivíduos terem andado a correr na pista do aeroporto. Este tom condescendente e a tentar desvalorizar uma situação grave preocupa mais do que alivia, porque convida ao baixar de braços. Não chega dizer que os cinco ilegais não são terroristas para desdramatizar. O problema é que se fossem terroristas Constança Urbano de Sousa ficaria igualmente tranquila porque eles tinham sido detidos. O problema é quantos têm conseguido escapar.

O Daesh e a vingança do Sul do Mediterrâneo sobre a Europa


Secretas confirmam ameaça directa de terrorismo em Portugal
21 Jul 2016 Económico

Serviço de Informações de Segurança (SIS) reconhece que há ameaças directas do Daesh contra Portugal.

O relatório anual da Europol sobre as tendências das actividade terroristas em 2015, divulgado esta quarta-feira, alerta para a existência nesse ano de "recorrentes ameaças do Estado Islâmico (EI) contra a Península Ibérica e contra os Estados europeus que fazem parte da coligação militar" que combate o EI.

Segundo a edição desta quinta-feira do "Diário de Notícias", o SIS reconhece as ameaças do Daesh a Portugal no quadro geral da Península Ibérica, mas houve uma situação em que a ameaça foi directa. "Foi registada uma "menção ao nosso país através da apresentação, num vídeo de difusão da mensagem jihadista, da bandeira nacional inserida no conjunto de bandeiras de países que integram a coligação contra o Daesh", refere o director do SIS, Neiva da Cruz.

Outras ameaças contra a Portugal foram também divulgadas este ano, mas, depois de analisadas, foram desvalorizadas pelas autoridades portuguesas que monitorizam e investigam o terrorismo, avança o alto dirigente das secretas portuguesas ao mesmo jornal.

O Observatório de Segurança, Criminalidade Organizada e Terrorismo (OSCOT) não fica surpreendido com as ameaças ao Al Andalus, mas reduz o risco sobre Portugal em concreto. "Não é novo que uma das ambições estratégicas dos jihadistas é formar um grande califado que inclua o antigo Al Andaluz, de que fez parte Portugal", adianta ao DN o presidente do OSCOT, António Nunes.

Ainda assim, acrescenta,"Portugal não está na primeira linha: não temos participado de forma directa nas coligações que atacam o EI, não temos uma forte comunidade muçulmana nem esta serve de base de apoio a potenciais terroristas, não temos jihadistas extremistas, não temos valor estrutural, económico e social".

Lembrando que "nenhum país tem risco zero", António Nunes pensa que este "alerta" da Europol deve ser entendido como "um sério aviso aos países, como Portugal, para que mantenham um nível elevado de organização policial e de intelligence, de modo a terem uma rede que permitam alertas precoces sobre potenciais atentados e se consiga ou evitá-los ou, na pior das hipóteses, minimizar as consequências".



O Daesh e a vingança do Sul do Mediterrâneo sobre a Europa

José Pedro Teixeira Fernandes
27/07/2016 – PÚBLICO

A liberdade, a democracia e a Europa, tal como a conhecemos, não são realizações eternas. Apenas se perpetuarão no futuro se tiverem continuadores à altura dos sacrifícios das gerações anteriores.

1. Ao início da manhã de 26 de Julho ocorreu mais um acto de terror. Agora numa igreja em Saint-Étienne-du-Rouvray, perto de Ruão, em França. O padre, Jacques Hamel, de 86 anos, foi barbaramente assassinado (degolado). Um dos fiéis ficou ferido em estado grave. No Iraque e na Síria as minorias cristãs e as suas igrejas são um alvo frequente da barbárie islamista-jihadista. Na guerra civil da Argélia, em 1996, vários monges do convento de Nossa Senhora do Atlas, em Tibhirine, foram raptados e brutalmente assassinados. O impressivo filme de Xavier Beauvois, Dos Homens e dos Deuses (2010), deu a conhecer a perturbadora tragédia ao grande público. Mas isso ocorreu no Sul do Mediterrâneo. Quanto ao Iraque e à Síria são no Médio Oriente. Infelizmente, aí a violência e terror fazem, frequentemente, parte do dia-a-dia. Este acto de terror é o primeiro no género, em França e na Europa. Ataca-a no plano simbólico e no cerne do mais sagrado cristão. Não é que não tivesse já sido tentado anteriormente. Em Abril de 2015, Sid Ahmed Ghlam, um estudante argelino de informática, foi detido por planear atacar igrejas em Villejuif, nos arredores de Paris. Em simultâneo estaria também a planear um atentado contra a basílica do Sagrado Coração de Montmartre, em Paris.

2. Há um século atrás os europeus procuravam europeizar, à força, o Sul do Mediterrâneo e Médio Oriente. Um fluxo imparável de pessoas e de ideias dirigia-se do Norte para o Sul e Oriente. Estavam dotados de superioridade tecnológica e demográfica, ambas associadas a uma convicção profunda de superioridade dos seus valores e cultura. Tal como outras partes do mundo, as sociedades do Mediterrâneo Sul e Oriental foram alvos da sua expansão e opressão colonial. Ao longo do século XIX, a Argélia e a Tunísia ficaram sob domínio francês e o Egipto sob domínio britânico. No início do século XX, a Líbia ficou sob domínio italiano e Marrocos sob domínio francês e espanhol. Após a I Guerra Mundial (1914-1918), e o acordo Sykes-Picot (1916), os restos do Império Otomano do Médio Oriente passaram para controlo europeu. A Síria e Líbano para o domínio da França. O Iraque, a Jordânia e Israel / Palestina para o controlo da Grã-Bretanha. Menos de um século depois, estamos a assistir a um movimento histórico inverso. A superioridade demográfica está a Sul. Um fluxo imparável de pessoas vem daí para a margem Norte do Mediterrâneo, seja por fugir da guerra, seja por miseráveis condições económicas, atraído pela riqueza e bem-estar. Traz consigo uma convicção profunda da superioridade dos seus valores islâmicos. Apenas a supremacia tecnológico-militar se mantém a Norte. Mas nem sempre é usada da melhor maneira, como se viu nas desastrosas intervenções no Iraque e na Líbia. Amplificam o sentimento de injustiça e revolta a Sul.

3. Os europeus estão confusos, amedrontados e politicamente à deriva. Ao longo das últimas décadas, foram absorvendo os problemas e conflitos do Sul do Mediterrâneo, sem perceberem que o processo em curso era esse. Estavam habituados a verem-se o centro do mundo, a que as suas guerras civis fossem guerras mundiais. Tinham a ilusão de ter uma cultura e valores universais. Todos os povos a admiravam e queriam imitar. Na segunda metade do século XX, o extraordinário sucesso das Comunidades Europeias, hoje União Europeia, alimentou a ilusão. Julgavam ter entrado numa era de paz perpétua. A Europa era o perturbador do mundo. Se a Europa se pacificava e reconciliava consigo própria, o mundo também ficava em paz. E o mundo deixava os europeus em paz. Nada de mais enganador. Ao longo da história, a Europa — uma pequena península do grande continente asiático —, esteve quase sempre acossada e na defensiva. Durante o largo período medieval, os impérios árabes eram largamente superiores e ameaçaram dominar todo o seu Sul. As cruzadas foram um episódio menor, uma ferida no domínio árabe-islâmico do Mediterrâneo. No Renascimento e até ao seculo XVIII, o Império Otomano dominava não só a maioria do Sudeste europeu como era o maior poder militar, provavelmente só comparável ao Império Romano na Antiguidade. A Oriente, na Ásia, a Índia e a China sempre foram hegemónicas, excepto num relativamente curto período histórico, do século XIX à II Guerra Mundial. Provavelmente, estamos a voltar a um padrão de normalidade histórica, que os europeus das actuais gerações ignoravam, estupidificados por uma mentalidade que os reduz a meros homo economicus.

4. No imaginário europeu, o Daesh (Estado Islâmico) parece ocupar um lugar equivalente à Hidra de Lerna da mitologia grega da Antiguidade Clássica. Um monstro humanamente invencível — só Héracles conseguiu derrotar a hidra —, com corpo de dragão e várias cabeças de serpente. Após uma cabeça cortada, outra crescia no seu lugar. Tinha capacidade de se regenerar dos golpes sofridos e um hálito e sangue venenosos. Em território europeu, só no último mês, uma quase contínua sucessão de acontecimentos trágicos parece sugerir uma nova hidra. A 14 de Julho, no dia nacional da França, um atentado cometido pelo tunisino Mohamed Lahouaiej Bouhlel, com um camião, matou dezenas de pessoas em Nice, sendo reivindicado pelo Daesh. A 18 de Julho, um jovem refugiado, de nacionalidade afegã, ou eventualmente paquistanesa, Riaz Khan Ahmadzai, atacou, com uma faca e um machado, passageiros num comboio em Würzburg, no Sul da Alemanha, também em nome do Daesh. A 24 de Julho um refugiado sírio a quem foi negado asilo na Alemanha, fez-se explodir em Ansbach, na Baviera, onde decorria um festival de música. Afirmava agir em nome de Alá e proclamava fidelidade ao líder do Daesh, Abu Bakr al-Bagdadi, prometendo vingar-se dos “alemães que se colocam no caminho do Islão”. Para a mentalidade secular europeia, é um passadismo incompreensível que julgava ultrapassado pela evolução e progresso.

5. O Daesh, como organização, não é uma hidra. Longe disso. Nos últimos meses sofreu pesadas derrotas no Iraque e na Síria, os seus principais territórios. Na Líbia, onde tem também implantação territorial, está a ser combatido, aparentemente com sucesso. Não significa que não continue a ter um poder temível. Os recentes atentados terroristas no Iraque e no Afeganistão mostram isso. Na Europa, os atentados terroristas, de Paris, a 13 Novembro de 2015, e de Bruxelas, a 22 Março de 2016, foram executados por indivíduos com algum tipo de ligações orgânicas ao Daesh. Já os mais recentes atentados de Nice, Würzburg e Ansbach não mostram essa ligação orgânica. Mas se a hidra não existe ao nível da organização, existe no plano ideológico. O problema é complexo. A ideologia islamista-jihadista incentiva à prática de actos de violência e terror sobre todos os que designa como inimigos do Islão. Está em crescendo. Há uma distinção que pode ser útil para separarmos o que é terrorismo feito em nome do Daesh, do terrorismo da autoria do próprio Daesh. É usual em matéria criminal. Distingue autoria material de autoria moral. A autoria material refere-se a quem executa. A autoria moral refere-se ao instigador, àquele que induz outrem à prática do acto. O Daesh é hoje o grande instigador. As populações do Sul do Mediterrâneo que, por qualquer razão, não se integram na Europa, são o terreno onde a sua ideologia fanática procura executantes. Alimenta um terrorismo atomizado e inorgânico, como autor moral. Pretende provocar um apocalíptico choque de civilizações entre a Europa e o Islão.

6. Em 2084. O Fim do Mundo (trad. port., Quetzal, 2106), o escritor argelino de língua francesa, Boualem Sansal, capta a angústia existencial face aos avanços do islamismo radical. Como esta ideologia totalitária viaja de Sul para Norte do Mediterrâneo, sabe bem do que fala. A experiência da guerra civil da Argélia nos anos 1990, opondo o exército aos islamistas da Frente Islâmica de Salvação — que pretendiam instaurar um Estado islâmico —, marcou-o profundamente. O livro é uma distopia que interage com o 1984 de George Orwell. Sinais dos tempos, não imagina nenhuma ideologia totalitária secular de origem europeia, como se prefigurava em meados do século XX. Não é daí que virá o futuro totalitarismo para governar a humanidade. Na parte interior da capa do livro há uma citação daquelas que ficam gravadas na memória — e muito tempo a remoer dentro da cabeça de quem o lê. “Nos somos governados por Wall Street — mas esse sistema totalitário que esmagou todas as culturas encontrou no seu caminho qualquer coisa realmente inesperada: a ressurreição do Islão. É o totalitarismo islâmico que vai dominar, porque se apoia sobre uma divindade e uma juventude que não tem medo da morte, enquanto a globalização se apoia no dinheiro, no conforto das coisas inúteis e perecíveis.” Cabe às actuais gerações perceberem o aviso. A liberdade, a democracia e a Europa, tal como a conhecemos, não são realizações eternas. Apenas se perpetuarão no futuro se tiverem continuadores à altura dos sacrifícios das gerações anteriores.

Investigador

"Não há político que tenha coragem para falar a verdade e contar tudo aos portugueses"


"Não há político que tenha coragem para falar a verdade e contar tudo aos portugueses"

Aparece todas as semanas na televisão e escreveu o romance português que mais vendeu neste século. Numa entrevista tensa sobre a realidade do país, critica a banca e os políticos que não cumprem as promessas

01 DE AGOSTO DE 2016
João Céu e Silva

"Estou a caminho das férias..." Foi a primeira resposta de Miguel Sousa Tavares ao pedido de entrevista. Depois, talvez por sentir vontade de atirar umas boas achas para a fogueira de vaidades que vai por este país, aceitou falar ao fim de uma tarde, lá para o Sul do país.

Pousa os pés sobre a mesa em frente e procura a melhor posição para se encaixar. Fica assim durante uma hora e só altera a posição para tirar um cigarro do maço algumas vezes. De resto, só a boca mexe. Por onde esvazia a irritação que tem perante um Portugal que se anda a (deixar) enganar e as situações que não perdoa a uma sociedade adormecida. Ainda conta duas anedotas para suavizar o ambiente, afinal o país está fechado para férias e o jornalista, comentador e escritor quer acreditar que há cura para o mal português.

Estamos a viver um tempo em que somos campeões de tudo. Como é que convive com esta realidade?

Os melhores em tudo... Acha? Não subscrevo a afirmação. Se falarmos a nível de desporto, ainda vá lá, mesmo que de todos os que foram campeões a que tem mais valor para mim é a Patrícia Mamona. Porque ganhou uma disciplina muito técnica como é a do triplo salto e isso não é costume no atletismo português. Nesta modalidade ainda somos como os etíopes e os quenianos - como os países subdesenvolvidos -, bons para corridas de fundo. No entanto, não adiro a esta onda patrioteira, como lhe chamo, porque sermos campeões do défice e o país da Europa que menos cresce há anos é muito mais preocupante.

Até o Presidente se tornou campeão de dar medalhas. Nunca se deram tantas em tão poucos dias.

Nem o Marcelo esperava dá-las, o problema é que começou por dar à seleção e não podia parar. Alguém disse que isto faz todo sentido porque os heróis do nosso tempo são os cantores de rock, os atores de novelas ou os desportistas. Como é preciso que haja heróis, são estes.

No caso do Cristiano Ronaldo, por exemplo, não é herói merecido?

Sim, é um grande profissional e com muito esforço individual.

Que não é hábito nos portugueses!

Nem nos portugueses nem na maioria dos jogadores de futebol.

Destacou-se tanto como o treinador Fernando Santos...

Ele também já foi treinador do meu clube, o Futebol Clube do Porto, e gostava dele embora o criticasse muito. Continuo na mesma, porque como quase todos os treinadores modernos está a dar cabo do futebol com tantas táticas defensivas e quase ninguém para atacar.

Mas a receita resultou...

Claro, é uma receita aplicada em todo lado praticamente. É como no meu clube, onde não gosto de ver mau futebol nem quando a minha equipa está a ganhar.

Aí temos o eterno Pinto da Costa que não permite evoluções?

Bem, evoluções há sempre. Esse tema não me interessa nada.

Acredito, mas não é estranho estar lá há tantos anos e continuar?

Está quase a bater o recorde do João Jardim e do Salazar... As pessoas devem sair quando estão por cima, a deixar saudades e não cansaço.

Estamos a viver uma situação política terrível. Após as férias, teremos o nosso futuro esclarecido ou continua a confusão governativa?

Não vejo António Costa senão a governar a uma semana à vista. Não tem nenhuma projeção de médio prazo, menos ainda de longo prazo. E falta a reflexão que ninguém faz em Portugal: de que vamos viver daqui a cinco, dez, vinte, cinquenta anos? Creio que ele vive nesta corda bamba eterna e, como não há milagres, estando em cima de gelo estaladiço, basta o sol aquecer já neste verão para o gelo rebentar.

No caso das sanções, não fez um bom braço-de-ferro com a União Europeia?

A questão principal não é bem essa. Não havia justificação política para as sanções, mas jurídica há toda. Reconheço que existem precedentes com a Alemanha e a França, a quem não foram aplicadas sanções, mas o principal é que não precisamos de cumprir o défice para ficarmos de bem com Bruxelas mas sim para termos futuro. Percebo perfeitamente aquela frase do Sócrates, que foi tão criticada, mas não podemos continuar a empurrar isto com a barriga. Nós perdemos 300 e tal mil miúdos que foram lá para fora - dos meus três filhos, tenho dois assim - e que fazem parte da tal geração que se ajudou a formar e que é brilhante. Será que algum dia vão querer voltar para pagar a dívida que os pais deixaram? Não virão para ganhar menos dinheiro e tapar o buraco que os pais deixaram. É isso a que chamo pensar Portugal a médio prazo, que é já depois de amanhã.

Até porque pela primeira vez temos uma poupança negativa...

Porque ninguém confia no sistema bancário. Vamos pôr dinheiro no banco, e se ele rebenta? Então, mais vale gastá-lo.

Vamos à política. Este governo aguentará mais seis meses?

A lógica diz-me que não porque este governo vai ter de mudar de vida. Porque está a empurrar a dívida para baixo do tapete, a adiar compromissos, a cativar verbas dos ministérios e não tem um tostão de investimento público. Ou seja, a fazer coisas que não são sustentáveis no tempo a menos que quebre os compromissos que tem com o Bloco de Esquerda e o PCP.
"O governo não aguenta mais seis meses, está a empurrar a dívida para debaixo do tapete"

E fica sem base de sustentação?

É o problema. Portanto, pela lógica o governo rebenta em seis meses.

E a solução será Marcelo Rebelo de Sousa impor aquilo que Cavaco Silva tentou, um bloco central com o PS e o PSD?

Não com Costa nem com Passos Coelho. Vai ser parecido com a situação política em Espanha, onde, se substituíssem Rajoy no PP e Pedro Sánchez no PSOE, já teriam governo. Passos Coelho e António Costa têm uma incompatibilidade absoluta e com problemas pessoais envolvidos. Não sei se a solução será convocar novas eleições, pois o resultado pode ser semelhante ao que temos e então, sim, não haveria outra solução senão juntarem-se num bloco central ou num bloco central alargado a quem mais quiser à esquerda ou à direita.

Antes justificou-se isso com o interesse nacional. Agora como é?

A expressão mudou, foi substituída pela patriotismo. Caso haja novas eleições, duvido que o cenário eleitoral mude muito. Não vai haver maioria num lado ou noutro.

Antevê um resultado eleitoral?

Se e quando o governo de Costa cair a situação económica for pior, o PS vai pagar uma grande fatura eleitoral. Afinal de contas, não vou ao ponto de dizer, como Passos Coelho, que Costa lhe roubou a legislatura, mas inventou um truque que não estava na cabeça do eleitores quando votaram. Ou seja, tem de provar que tinha um novo plano económico baseado no crescimento. Se no fim disto tudo falhar, o PS vai pagar uma fatura imensa e virar-se para Francisco Assis.

Aí o PS não terá futuro governativo, só como parceiro de coligação.

Sim, só como parceiro.

Passos Coelho já disse que não estará num governo que vá ter um segundo resgate e o que Schäuble disse disso não foi inocente. A dívida dos bancos leva a novo resgate?

A questão bancária é tramada. Não percebo como é que Maria Luís Albuquerque ainda abre a boca. Ela, que deixou o Banif, a CGD e o Novo banco! Para onde é que foi o dinheiro? E a senhora assistiu a tudo e ainda diz que com ela estava tudo melhor. A crise bancária não é culpa deste governo, embora esteja a gastar as botas claramente. É que as pessoas andam a esmifrar-se, a pagar impostos, a perder postos de trabalho e a emigrar por causa de um sistema financeiro que leva as poupanças de toda gente.

Há solução para a crise bancária?

Não faço ideia, ultrapassa-me. E eu, que gosto muito de economia, que sigo e leio tudo. Achava na minha santa ingenuidade que ter um banco era um negócio extraordinário, mas se até o Deutsche Bank está aflito...

O relatório do FMI colocou o grave problema bancário de Itália, mas não se esqueceu do de Portugal. Não é um exagero compará-los?

É um absurdo dizer que o nosso sistema bancário ameaça o sistema global. A Itália sim, pois são 360 mil milhões de malparado na quarta economia da União Europeia.

Voltemos à ameaça do segundo resgate de Schäuble. Ele virá?

Nunca poderá ser imposto, teremos de ser nós a pedi-lo. O grande problema vai-se dar no final do ano se o Banco Central Europeu atingir o limite de dívida publica portuguesa que pode comprar. Aí ficamos outra vez desamparados. E se as taxas de juro forem por aí acima, a certa altura repete-se o tempo do ex-ministro Teixeira dos Santos: "O meu limite é 7,5%." Se tivermos de pedir um segundo resgate, será por causa da banca.

Mário Centeno repetirá o papel de Teixeira dos Santos, que fez cair Sócrates, a António Costa?

O que se tem visto é o contrário, António Costa a empurrar para baixo sistematicamente Centeno e a dizer que está tudo bem.

Sócrates também fazia isso.

Também fazia, mas não estou a ver Centeno fazer cair Costa como Teixeira dos Santos fez a Sócrates.

E será imaginável que Passos Coelho aceite ser de novo primeiro-ministro em circunstâncias financeiras complicadas?

Imaginável é, acho até que está à espera disso. Não o vejo a querer um futuro de deputado nos próximos seis ou sete anos.

Está à espera que o governo caia?

Com certeza, isso é o que faz a oposição em Portugal. Não há nenhum político português que tenha a coragem de falar a verdade e de contar tudo aos portugueses. Se o fizer, perde as eleições. A grande crítica que faço ao governo de Passos Coelho é a de não ter feito nenhuma das reformas que o país precisava e, em vez de mudar o Estado, pôs toda a economia a pagar as contas do Estado e tirou dinheiro às pessoas. Uma receita trágica.

É dessa ausência de governação que vem o seu ódio de estimação a certos políticos?

O meu ódio de estimação a Cavaco vem desde que era primeiro-ministro, porque foi sempre o menor denominador comum das qualidades portuguesas - se é que temos algumas. Existem duas pessoas na política portuguesa por quem não tenho nenhuma consideração: Cavaco Silva e Durão Barroso. Portugal não lhes deve rigorosamente nada e, pior, eles foram elementos de estagnação para este país.

A Goldman Sachs não pensa isso!

Dizem que vão contar com os conselhos de Durão Barroso, mas sobre o quê? Nunca acertou em nada. Presidiu à decomposição da Europa, enganou-se na Guerra do Iraque... Na idade em que ele era maoista estalinista já eu era pai de filhos! Acredito que não soubesse o que era o maoismo e o estalinismo nessa altura, estava, sim, a preparar-se para uma carreira política. Os americanos adoram arrependidos e a Europa adora convertidos. Não é necessariamente obrigatório que se seja estúpido ou ignorante aos 22 anos, portanto, era um papel o que representava.

O PCP começa a fraquejar no apoio parlamentar ao governo. Acha que isto vai cair pelo PCP?

O PCP conseguiu tudo o que queria com o acordo, o problema é que já não manda na CGTP. É ao contrário. Queria era defender o seu bastião, o dos funcionários públicos, o dos trabalhadores das empresas públicas e os reformados, e Costa deu-lhe isso. Quando o PCP obtiver aquilo que queria, acabou.

O PCP não teve de engolir um grande sapo para apoiar o PS?

Só o fez porque o seu eleitorado o exigiu. Na campanha eleitoral via--se as pessoas a interpelar Jerónimo de Sousa e este a dizer que nunca se juntaria a Costa ou ao PS. Foi o próprio eleitorado que obrigou Jerónimo a sentar-se à mesa com Costa. E sabe, se eu for jantar com António Costa e me apetecer comer peixe e ele quiser comer carne, eu acabarei por comer carne, porque quem se senta à mesa com o Costa é comido pelo Costa. O Costa dá tudo, mas sai de lá com um acordo. Quando diz que o PCP tem comido muitos sapos, eu acho que o governo de Costa tem comido muito mais. Foi assim que conseguiu comprar a paz social.

António Costa não se vai fartar de engolir sapos da esquerda?

Essa é a grande questão que António Costa vai ter ou não de desmentir, se só quis chegar ao poder e não tem outro objetivo ou se não tem nenhuma ideia para os três anos e meio de mandato que ainda tem para fazer. Uma coisa é evidente: quando começaram as negociações com os partidos, Costa nunca quis chegar a acordo com o PSD.

Aí, o papel principal foi de Catarina Martins?

Sim.

É a grande política desta fornada?

Sim.

Não é produto da conjuntura?

Não, tem valor indiscutivelmente, comete poucos erros e deslizes e é capaz de os reconhecer. Marcou toda a agenda parlamentar com o fungagá dos temas fraturantes e nunca ameaçou bater com a porta como o Jerónimo passa a vida a fazer.

Ela é o garante deste governo?

De certa forma é, mas também é preciso que o PCP permaneça.

O PCP vai ter um congresso. Será que Jerónimo vai ter sucessor?

Ele tem uma qualidade: é um comunista simpático, simples e humano, e as pessoas simpatizam com ele. Não vale a pena renovar o PCP se não for pelas ideias, e isso não é possível. É uma excrescência portuguesa, que não existe em lado nenhum do mundo. É o último partido comunista com expressão eleitoral.

Há duas semanas, uma sondagem revelava que 67,8% dos portugueses admitiam uma união ibérica. É a reação ao desgoverno sucessivo?

E depois como é que festejaríamos os Europeus? Como é que o patrioteirismo se coaduna com isso? Custa-me a acreditar nessa sondagem. O meu pai dizia uma frase engraçada: Portugal tinha morrido todo em Alcácer-Quibir.

E não é verdade?

Não sei. Há uma anedota em que dois tipos estão à conversa e um diz para o outro: "Como é que nós somos descendentes daqueles tipos que partiram mundo fora sem saberem o que é que havia do lado de lá. Que tipos extraordinários!" E o outro responde: "Nós não somos descendentes desses, mas dos que ficaram aqui."

E a sentença de Alcácer-Quibir...

Na altura deve ter representado a morte do Estado. Como é que o Brasil se impôs? Porque D. João VI leva para lá a corte, leva o Estado, e dá origem ao nascimento do Brasil moderno. Com Alcácer-Quibir terá acontecido o contrário. O meu pai tinha essa tese e eu alertava-o: "Pai, mas isso foi há 400 anos." Respondia: "Ainda não recuperámos."

Em 2009, esteve tentado a emigrar para o Brasil. Arrependeu-se de não ter ido?

De certa forma, arrependi-me de não ter ido viver para o Brasil. Até cheguei a ter casa já alugada! A intenção era viver lá seis meses e outros seis meses cá. Arrependi-me de não ter ido, mas também aconteceram muitas coisas no Brasil que me dececionaram bastante. Nada que não antevisse num Brasil que é um país eternamente adiado. Nos últimos dois anos conheci tantos amigos brasileiros que se mudaram para Portugal que alguma coisa deve estar mal.

Se tivesse ido para o Brasil ter-se--ia dedicado mais à literatura?

Com certeza, porque lá não podia fazer outra coisa. Essa era a ideia.

E arrepende-se de não se ter dedicado 100% à literatura?

Já chegava 15%... De qualquer modo, nunca me arrependo muito das coisas que deixei de fazer, talvez lamente mais aquilo que não fiz. Todas as coisas têm o seu tempo, tanto assim que comecei a escrever um romance há dois anos e escrevi três capítulos. Depois parei. Se valer a pena ser escrito, hei de voltar lá; senão, para quê estar a esforçar-me? Também não quer dizer que me ponha à sombra da bananeira, à espera que chegue a inspiração. No entanto, como faço outras coisas, não preciso de ter um livro a seguir às férias ou para o Natal. Não sinto esse desespero nem essa necessidade de publicar.

Equador foi um livro que marcou e já lá vão 13 anos. Os leitores não quererão mais?

Pois, também eu queria mais, só que o bom romance é fruto de uma grande ideia. Se houvesse aí uma loja que vendesse ideias a escritores, ia já lá comprar uma. Porque com uma grande ideia consigo escrever um livro bom. Sem ela, por melhor que escreva e por mais cuidado que se tenha com a história, é difícil escrever um grande livro.
"Existem muitos escritores novos em Portugal, mas nunca escreveram um grande livro"

A nova geração de escritores portugueses vai buscar muita inspiração à história de Portugal. Não há um acontecimento que sirva de gatilho a um novo Equador?

Até agora, os factos dizem que não.

Quando olha para um exemplar do Equador na estante não sente que tem de fazer alguma coisa?

Não.

O primeiro livro que publicou foi em 1983, o Sara, a República da Areia...

Não era bem um livro, era uma reportagem escrita sobre uma reportagem de televisão. Era tão mau que saiu do mercado e nunca mais quis ouvir falar dele.

Houve um gatilho para o fazer, tal como os livros posteriores...

Houve, sim senhor.

Então, é um bloqueio de escritor?

São várias coisas. Há um bloqueio pessoal, um bloqueio criativo e um bloqueio de escrita. Digamos que é uma calmaria, que é o contrário de uma tempestade perfeita. Nada mexe no meu horizonte e não há vento a empurrar-me, nem de través nem de bolina. Mas tudo muda um dia.

A nossa literatura tem vindo a melhorar nos últimos anos?

Sabe o que é que ando a ler desde há meses para cá?

Anna Karenina.

Como é que sabe?

Vi o livro por aí...

Certo. Ando a ler os livros que gostei muito: a biografia do Estaline, de Simon Sebag Montefiore; o Anna Karenina, que está quase no fim, e a seguir vou para A Margarita e o Mestre, de Bulgakov (ler texto final).

Quanto a outras leituras também vou ser sincero: não tenho lido tudo, longe disso, porque houve uma época até há uns cinco, seis anos em que lia tudo por curiosidade. Ultimamente, não é assim.

Portanto, não há um autor eleito?

Há muitos autores. Continuo a gostar mais dos antigos, como a Luísa Costa Gomes, do que dos novos. Embora ache que existem muitos escritores novos que escrevem bem, só que, na minha opinião, nunca escreveram um grande livro. Utilizando uma imagem futebolística, é como os grandes jogadores: têm de aparecer nos grandes jogos. Podem jogar bem contra o Farense, mas se não jogam bem contra o Real de Madrid não servem.

Fazerem como o Éder na final!

Sim. Sou capaz de enumerar vários livros de novos autores portugueses que achei bons, mas não consigo referir um grande livro, que é aquele do qual me lembro várias vezes da história e das suas personagens.

Não é normal que num país com tanta gente dedicada à literatura não haja uma grande obra que se destaque das outras?

Não, não é normal, mas também se facilitou ao afirmar-se que eles são escritores e, rapidamente, definidos como consagrados. Têm umas críticas muito entusiásticas e acham que não dá assim tanto trabalho ser-se escritor. Pode ser que esteja a ser injusto...

No entanto, os escritores "clássicos" estão a ser completamente erradicados da crítica?

Não concordo, mas falar de clássicos é um exagero... Há quanto tempo não se escreve um livro como o Delfim, do José Cardoso Pires, ou Os Sinais de Fogo, do Jorge de Sena? Não temos referência nas novas gerações de livros tão fortes como aqueles.

Nem teve curiosidade no primeiro romance de Clara Ferreira Alves?

O Pai Nosso está na minha lista. Tenho curiosidade e vou lê-lo.

Entre os livros recentes está a coletânea de crónicas de Vasco Pulido Valente. Não despertou interesse?

Não, leio-as quase sempre. Já as conheço.

Em tempos disse que escrever um romance era serviço público. Acha o mesmo em relação ao jornalismo?

Se ambas forem bem feitas é um serviço público. São duas atividades que se faz para o público, enquanto houver público para elas. Em relação à literatura e ao jornalismo escrito, creio ser cada vez mais é um serviço público, porque é uma atitude de resistência e também de sobrevivência. Se não houver quem queira editar jornais e quem os queira escrever, ou quem queira escrever livros, o que acontecerá é que dentro de uma geração não haverá palavras. Escreve-se num iPhone ou no computador e pouco mais.

E tem reflexos na vida prática?

Há dias estava a ler um artigo sobre os exames de Português do 12.º ano, que referia a incapacidade generalizada dos alunos de pensar a língua portuguesa. São capazes de escrever frases sem perceber o contexto em que estão a fazê-lo. Não são capazes de ir à etimologia da palavra nem de se exprimirem por palavras. Estamos a chegar a esse ponto. Hoje dominam as abreviaturas, palavras meio em inglês e meio em português, o que representa um retrocesso na forma de comunicação. Até ao momento em que será quase simiesca - falaremos por grunhidos e gestos uns com os outros.

Até que ponto o jornalismo está a ser vítima da simplificação das redes sociais e das novas tecnologias?

Está a ser vítima de muitas coisas. Leio nos jornais erros ortográficos que me deixam de cabelos em pé. Outra situação problemática é a pobreza do discurso político, que é constrangedor não só na substância como na forma. Os responsáveis políticos dizem sistematicamente "tá". Será que não têm consciência de que falam para milhões de pessoas e que estas os imitam? Custará muito dizer a palavra toda?

Em tempos disse que, quando começou a profissão, gostava de ser um fotojornalista como os do Paris-Match. Foi um projeto que ficou pelo caminho?

Não, porque fui o equivalente enquanto repórter. Não fui fotojornalista, mas fui jornalista, que foi dos sonhos mais cumpridos da minha vida. No primeiro dia que me enviaram ao estrangeiro em reportagem, na RTP, para as primeiras eleições espanholas em democracia, lembro-me perfeitamente de estar a levantar voo de Lisboa e a pensar: "Cumpri o sonho da minha vida: ser enviado especial." Eram duas palavras mágicas para mim, portanto acho que trabalhei para coisas melhores do que o Paris-Match.

Estamos a viver um período com constantes ameaças de terrorismo e a Interpol já alertou para a hipóteses de atentados na Península Ibérica. Deve-se dar-lhe crédito?

Não sei, acho que o terrorismo islâmico tem servido de muleta para muita coisa. Por exemplo, estou perfeitamente convicto de que este franco-tunisino do atentado de Nice nada tinha de muçulmano, qualquer ligação ao Daesh, nem nenhuma motivação islâmica. Era simplesmente um louco, desequilibrado e de mal com a vida e consigo mesmo. Quem tenta encontrar uma causa de autojustificação quando vai fazer uma coisa daquelas e a causa é o Estado Islâmico, não é uma pessoa normal.

Não haverá outras causas?

Quem me ouve há muito tempo sabe que eu penso que nada disto existiria sem as redes sociais. Onde essa gente se exibe, mostra as armas e faz as suas ameaças. Esse confessionário aberto e o imediatismo das reações de quem por lá anda, que os empurra a ir em frente, é altamente perigoso. Nas redes sociais, quando têm seguidores, até o maior anormal do mundo se considera a pessoa mais importante. Pode dizer os maiores disparates, que não deixará de ter seguidores daqui até ao Nepal. Acredita que vai passar à história quando matar 80 pessoas. Esses tipos, os lobos solitários como lhes chamam as forças de segurança, são uma ameaça para a qual não sei se existe solução. Bernard Cazeneuve, o ministro do Interior francês, fez uma declaração muito lúcida: "Temos de nos habituar a viver com isto." De facto, o que é que há para contrariar esta situação?

Se as redes sociais têm culpa na situação, também não deixa de existir um papel por parte dos políticos que abriram caminho à instabilidade no Médio Oriente, na Síria, na Líbia...

... E no Iraque, que foi uma coisa fatal. Aliás, não sei como é que os responsáveis pelo Iraque dormem em paz com a sua consciência. Nem era preciso ter-se conhecimento do recente relatório inglês, porque já se sabia que tudo fora forjado e falsificado. Um milhão e muitos milhares de iraquianos morreram depois da invasão em guerras civis, bombas e conflitos entre eles. Foi em nome de quê aquilo que se fez? Como é que Tony Blair tem lata para dizer "não estou arrependido porque, apesar de tudo, derrubámos o Saddam Hussein"? Foi um preço muito alto.

Qual a perceção que tem do golpe na Turquia. Foi real ou artificial?

Aquilo foi claramente preparado por Erdogan. Ele não é flor que se cheire, é um tipo perigosíssimo porque não tem uma estratégia linear. A única estratégia linear que se lhe conhece é a de ser um homem de uma imensa vaidade, como mostra o palácio que fez para si próprio em Istambul. Politicamente não é linear e está sempre a aldrabar. À conta de combater o Estado Islâmico, o que fez foi dizimar os curdos. Obviamente, não há nenhum golpe no mundo que três horas depois de ter fracassado já tem 6500 pessoas presas. Tinha as listas todas preparadas. Não passa de uma limpeza total e o que vamos ter é uma ditadura pura, dura e feia.

Trump and the oligarch


Trump and the oligarch

He claims no ties to Russia. Here’s how he made millions from one of its wealthiest men.

By
Michael Crowley
7/29/16, 9:53 AM CET

The house wasn’t built for a Russian oligarch, although it looked the part. The 62,000-square-foot, 17-bedroom mansion is a palace of new-money flash, featuring Greek fountains, tennis courts, trompe l’oeil murals, underground parking for dozens of cars, and a 100-foot swimming pool and hot tub overlooking the ocean. It even had a faux-aristocratic name: “Maison de l’Amitie,” or the House of Friendship. It was the trophy of a Boston-area nursing home magnate, until he lost his fortune in 2004. That’s when Donald Trump scooped it up.

After paying $41 million for the place in November 2004, Trump called it “the finest piece of land in Florida, and probably the U.S.” He vowed to upgrade the structure into “the second-greatest house in America.” (Second, of course, to his nearby Mar-a-Lago resort.) But Trump had no intention of living there. He intended to flip it for a quick — and huge — profit. His initial asking price, less than two years after buying it, was $125 million. By the time Trump listed the property, in early 2006, the real estate market was already cooling off. The property sat on the market for about two years as a frustrated Trump churned through real estate brokers and slashed his price 20 percent. It wasn’t at all clear who might pay Trump three times his buying price for a neoclassical palace amid a looming recession.

In the summer of 2008, Trump found a solution to his problem in the form of one of the world’s hundred richest men: a 41-year-old Russian billionaire named Dmitry Rybolovlev. Then with a net worth that Forbes estimated at $13 billion, Rybolovlev had made his fortune in the wild west of 1990s post-Soviet Russia. He’d spent a year in prison on murder charges (he was later cleared) and wore a bulletproof vest when his own life was threatened. He would pay Trump $95 million for Maison L’Amitie in what was widely described as the most expensive U.S. residential property sale ever.

“People were shocked” at Trump’s coup, said Jose Lambiet, a local reporter-turned-blogger who knows Trump and once toured the property with him. “They couldn’t believe that he did it.”

“It was a great deal,” Trump told POLITICO in a mid-July telephone interview. “I’m good at real estate.”

That’s hard to deny. Trump more than doubled the property’s sale price in less than four years. All it took was a signature Trumpian combination of bravado and exaggeration, along with something more controversial: Russian money.

The nature of Trump’s connection to Russia has exploded recently as a campaign issue, thanks to his friendly comments about Russian President Vladimir Putin; the ties that several of his advisers have to Moscow; his contrarian views on NATO and Ukraine, which happen to echo Putin’s; and his startling call on Wednesday for Moscow to find and release Hillary Clinton’s deleted private emails.

But the connection isn’t just political. Trump has repeatedly explored business ventures in Russia, partnered with Russians on projects elsewhere, and benefited from Russian largesse in his business ventures. “Russians make up a pretty disproportionate cross-section of a lot of our assets,” Donald Trump Jr. said at a real estate conference in 2008.

On Wednesday, Trump angrily insisted that he has “nothing to do with Russia,” and said that he has no investments in the country.

He did, however, grant one pointed exception: Maison de l’Amitie. “The closest I came to Russia, I bought a house a number of years ago in Palm Beach, Florida,” Trump told reporters. “I bought the house for $40 million and I sold it to a Russian for $100 million including commissions.”

It is also a story of a classic Trump deal: a lucrative flip, figures on both sides that don’t really add up, and at the center, a house that may not have been what either party claimed.

Why did a Russian billionaire pay Trump so much money for a house the new owner is believed never to have set foot in, which he has denied owning, and which he now intends to tear down? The answer offers an important window into Trump’s kinship with Russia’s oligarchs, and what he likely sees in them as business allies. It is also a story of a classic Trump deal: a lucrative flip, figures on both sides that don’t really add up, and at the center, a house that may not have been what either party claimed.

***

Even by Palm Beach’s standards of splendor and excess, the French Regency-style estate at 515 N. Country Road, with its spectacular ocean views and hundreds of feet of private beach, stood out. A butler employed there once encountered tourists with cameras outside the house’s front gates, ogling the modernist statues outside. “When does the museum open?” they asked.

In an interview, Trump shrugged off the Maison de l’Amitie sale as a “small deal,” compared to his other ventures, the way some people might refer to a summer cabin in the woods. “That was a house I bought for fun,” Trump said. He also downplayed his personal investment in the place, saying that he only made minor improvements to the property. “I cleaned it up a little bit, but not too much,” Trump told POLITICO. “The primary thing was, I painted it.” The implication, of course, would be that the price differential between his purchase and sale was almost entirely profit.

Back when Trump was trying to flip the house at a dizzying price, however, he claimed to have done far more. “I bought the land and gutted the house,” Trump told a reporter in late 2005. After the property went on the market, Shawn McCabe, vice president of Trump Properties in Florida, told Forbes that Trump had put in at least $25 million of his own money. Kendra Todd, a former contestant on Trump’s hit NBC show, The Apprentice, who went to work for Trump and helped to oversee the property’s renovation, said in an interview that Trump had done extensive work, from redoing a pool house to landscaping. “He was really involved with the project. He made the selections for the stone and the fixtures,” Todd said.

Documents submitted in March to Palm Beach’s architectural commission by a private firm retained by the buyer suggest that the actual work was modest. They say Trump had the main house’s interior “remodeled, updating with a new kitchen and dividing a large room to create additional bedrooms and bathrooms,” along with “some minor interior alterations of doors, frames & windows.”

Whatever improvements Trump actually made, they weren’t enough to quickly attract a buyer. As the house went unsold for months, according to a 2008 account in the New York Observer, Trump churned through three real estate brokers.
Republican presidential candidate Donald Trump

Republican presidential candidate Donald Trump | John Moore/Getty Images

Some thought his asking price ludicrous. Lambiet, a former Palm Beach Post reporter who now publishes the local blog GossipExtra, noticed flaws and shortcuts during a personal tour Trump gave of the property in 2007. Trump, for instance, boasted that he’d installed gold fixtures in the bathrooms. But when Lambiet scratched a faucet, he found gold paint under his fingernails. And when Trump pointed out hurricane windows, which he also claimed were bulletproof, Lambiet found them suspiciously thin. “You knew in a hurricane the first wave was going to come right in,” he recalled in an interview.

In March 2008, Trump slashed the price to $100 million.

Trump rejected at least one offer for less than his asking price, one of his former brokers, Dolly Lenz, told the Observer in 2008. Lenz described the would-be buyer as an American socialite. Perhaps Trump understood that the payoff he was demanding would have to come from outside the U.S. A new generation of ultra-wealthy foreigners had emerged in the previous decade, many of them Russians who had reaped mind-boggling wealth as formerly state-controlled industries were privatized, the spoils mostly shared among political cronies. By then, Trump had pursued or completed multiple deals with Russian partners. “We see a lot of money pouring in from Russia,” Donald Jr., said at that 2008 real estate conference. Lenz told the Observer that she also believed a Russian might be Trump’s savior: “If you didn’t target the Russian billionaires, then you shouldn’t be in business.”

***

Enter Dmitry Rybolovlev. Barely over 40 and worth a Forbes-estimated $12.5 billion in 2008, Rybolovlev was not exactly a familiar name on the Palm Beach social circuit. A former medical student who became a stock broker as the country transitioned from socialism to a market economy in the 1990s, he invested in heavy industry. In 1995, then just 29 years old, he was chairman of the Russian fertilizer giant Uralkali. Dubbed “the fertilizer king,” he would become one of the world’s wealthiest men, peaking at No. 59 on the Forbes 500 list. (Today, he’s listed as the 148th wealthiest man.) Like many Russian oligarchs, his success unfolded in the shadow of violence. Caught up in the dangerous world of 1990s Russian industry, he began wearing a bulletproof vest and moved his family to Switzerland. In 1996, he was jailed for almost a year, accused of plotting the murder of a rival businessman. (Rybolovlev has said he was pressured in jail to sell shares of his company for his freedom, suggesting possible extortion; he was later acquitted.)

Today, Rybolovlev is better known for other things. There was his record-setting purchase of an $88 million Manhattan apartment for his 22-year-old daughter; his ownership of Monaco’s pro soccer team; and recent accounts in the New York Times and The New Yorker of claims that an art broker who helped him purchase works by the likes of Picasso and da Vinci overcharged him by hundreds of millions of dollars.

Back then, Rybolovlev was just starting to collect the treasures for which he is now famous. He and his wife, Elena, whom he married in 1987, were developing an appetite for grand properties, and planned to build a replica in Geneva of Marie Antoinette’s chateau at Versailles. But they also hunted for estates overseas, and in early 2008, a broker led them to Maison de l’Amitie.

By then Trump had lowered his asking price, but he was determined to make a nine-figure sale sure to draw national headlines. “He wanted to break $100 million,” said David Newman, a lawyer at Day Pitney who represented Elena Rybolovleva. Trump clearly felt competitive about the final price. When the Saudi Prince Bandar bin Sultan listed his home in Aspen, Colorado, for $135 million a few months earlier, Trump publicly complained that “some character [is] putting on a price just to try to top Trump.”

Ultra high-end real estate sales are often detached from normal market forces. An ego-driven buyer might have a perverse incentive to pay more, not less. “People are happy to say, ‘I got the most expensive house in the U.S.,’” Newman said. This is particularly true of Russian oligarchs, he added: “They like to buy the biggest and the best.” In this sense, Trump and Rybolovlev had something fundamental in common.

Delegates cheer at the DNC

Also On Politico
The Russians at the DNC

Julia Ioffe

But as the deal took shape, the Florida real estate market began to crash. And for all of Trump’s talk of renovations, sources close to the Rybolovlevs would later tell reporters that the house was uninhabitable. (Lambiet says it’s hard to air condition and has persistent mold.) Perhaps fearing they were being played, the Rybolovlevs pressed Trump for a $25 million discount, an undisclosed source close to the family told the New York Times in 2012.

But Trump wanted his magic number. If he really did put $25 million into the house, a $75 million sale wouldn’t leave much profit. Trump also said in the interview that he could tell Rybolovlev was hooked: “He wanted it very badly.” Trump held firm.

And Rybolovlev caved. It may be that the Russian decided the extra $25 million was breadcrumbs from his $13 billion fortune. It’s also possible that Rybolovlev’s wealth far exceeds his financial acumen. Last year, the Russian accused a Geneva-based art dealer of swindling him out of $500 million to $1 billion through huge markups on fine art purchases. In one case, Rybolovlev paid $118 million for a nude portrait by Modigliani, which he now believes the dealer bought for just $93.5 million on his behalf.

In July 2008, a family trust established by Rybolovlev paid Trump $95 million, according to a warranty deed recorded by Palm Beach County. Trump, for whom appearances are everything, continues to state the price as $100 million (“plus commissions,” as he put it Wednesday; he has previous said that total included a $5 million credit for broker fees).

A reporter asked Trump about the confusion: Did he know exactly who had bought his house? “Somebody paid me $100 million,” Trump joked.

Five years after the sale, Palm Beach County appraised the house for just $59.8 million. It has since rebounded to a healthier $81.8 million, still nearly 15 percent less than Rybolovlev paid.

“I got a good price,” Trump said, dismissing skeptics who say he took advantage of Rybolovlev. “People don’t want to see that big a profit being made.”

But the drama around what had become Palm Beach’s most famous trophy house had only begun.

Within months, the Rybolovlev marriage broke apart in ugly fashion. Elena accused her husband of serial infidelity, charging in her divorce petition that, during parties on his yacht, he shared his “young conquests with his friends, and other oligarchs.” Among her demands on his assets was a claim to half the value of Maison de L’Amitie, which she accused Dmitry of buying with a trust to keep it from her. Her lawsuit charged that her husband had “a history of secreting and transferring assets in order to avoid his obligations.” The Panama Papers leaked in April showed that, around the time the couple split up, Rybolovev used offshore companies to move luxury assets like real estate and fine art out of Switzerland, where they would have been exposed to her divorce claims, according to the International Consortium for Investigative Journalists, which acquired the documents. (Rybolovlev has denied trying to hide assets from his wife, and in an April statement, a lawyer for his family’s trust said his offshore holdings had been set up “completely legitimately.”)

The divorce took on an action-movie flavor as Rybolovlev tried to dodge legal papers staking Elena’s claim to his assets. In 2011, a process server stalked Rybolovlev in Hawaii, where the Russian had purchased a $20 million house from the actor Will Smith. As the Russian tried to escape, the server jumped on the mogul’s moving black Cadillac Escalade to slap legal documents on the windshield, according to affidavits described by the Palm Beach Post. Another incident, filmed and posted on YouTube, shows a server sprinting toward Rybolovlev’s SUV shouting, “Dmitry!” as the driver guns the engine and speeds off.

With Maison de L’Amitie in a legal tug of war, Dmitry Rybolovlev distanced himself from the property. In one 2011 deposition, he denied owning the house, “directly or indirectly.” (The actual owner was a family trust created to secure the financial future of his two daughters, he said.)

A Palm Beach Post reporter asked Trump about the confusion: Did he know exactly who had bought his house? “Somebody paid me $100 million,” Trump joked.

***

Trump has much in common with Russia’s oligarchs — billions in wealth, supreme self-confidence, a taste for trophies and a love of flaunting riches — and in recent years, he has gravitated toward them. In 2013, he partnered with the Russian real estate mogul Aras Agalarov to bring the Miss Universe pageant, which Trump owned at the time, to Moscow. Trump later boasted that “all the oligarchs” had attended the event. While in Moscow, Trump discussed plans for real estate projects there.

It is hard to verify the claim Trump made this week that he has no investments in Russia and that his dealings with Russians are very limited. His company is private and is not required to disclose its finances. In a break from modern presidential norms, Trump refuses to release his personal tax returns.

Trump says he’s never so much as shaken hands with Rybolovlev, his nearly $100 million man. “I never met him. He was represented by a broker.”

“The big question is whether any hard evidence comes out about whether Trump has any financial interests linked to Russia,” says Democratic consultant Jeremy Rosner, who served on Bill Clinton’s national security council staff. “And that’s why it’s so important that he release his tax records. Otherwise, we could have a Manchurian Candidate with the keys to the Oval Office who is under the control of a foreign power. And voters deserve very clear evidence that that is not the case.”

A close look at the case of Maison de L’Amitie doesn’t suggest any connection to Putin. Rybolovlev is not usually described in media accounts as a close ally of the Russian leader, and Kremlin officials have publicly criticized him over a 2006 industrial accident at a Uralkrali mine. “He’s not very well received here in Russia,” an unnamed adviser to the Russian government told the New York Times in 2013.

Trump says he’s never so much as shaken hands with Rybolovlev, his nearly $100 million man. “I never met him. He was represented by a broker,” Trump said in the interview. “I heard good things about him in many ways, and about his family.” Trump added that Rybolovlev’s nationality was not relevant to him. “He just happened to be from Russia. He’s a rich guy from Russia.”

Asked whether Trump and Rybolovlev had ever spoken, a spokesman for the Russian said he “would [not] comment on a private, personal relationship.”

The dust is now settling on Rybolovlev’s divorce. In 2014, a Swiss court ordered Rybolovlev to pay Elena $4.5 billion, a sum later slashed to $600 million. The couple finally settled on undisclosed terms last fall. Forbes currently estimates Rybolovlev’s net worth at $7.7 billion. He now lives in Monte Carlo, residing in a penthouse apartment, overlooking its famous harbor and attending games of his AC Monaco soccer club with Prince Albert.

But dust clouds may soon rise over Maison L’Amitie. In April, Palm Beach’s architectural commission approved a plan to demolish the home. The House of Friendship, having faced bankruptcy and bitter divorce, will likely be torn down. Rybolovlev may never set foot in it.

Trump speculated that the property will be subdivided. Which is fine by him, he says, unsentimental about a home he once envisioned as America’s second-greatest.

“I have no emotion,” Trump said, “other than it was a great deal.”

That’s hard to dispute. Even with the work Trump did on the house, Lambiet still marvels at the quick profit he turned.

“This is what he does with everything. He puts a little veneer on things and he doubles the price, and people buy it,” Lambiet said. “He’s all smoke and mirrors — and that house was the proof.”

Annabelle Timsit contributed to this report.

Trump's economic view is far from neoliberal, but it rides a populist wave

 
Trump's economic view is far from neoliberal, but it rides a populist wave

The Republican candidate’s policies are still a work in progress, but they shy from free markets, open borders and liberalised trade

Larry Elliott Economics editor
Sunday 31 July 2016 14.34 BST

The timing could hardly be better. In six months time, the annual festival of globalisation takes place in Davos, the small town in Switzerland where the World Economic Forum holds its annual meeting. The helicopters and the limos will bring the bigwigs up from Zurich into the high Alps for four days, when they will talk about the need for inclusive growth and a capitalism that works for everybody. At the end of the week, the choppers and the limos will take them back down the mountain and nothing will change.

Next year might be different though. By chance, the Friday of Davos week in 2017 falls on 20 January, the day when the next US president will be sworn in. It could be Donald Trump.

As a businessman, Trump would fit in well at Davos. He is a billionaire who likes to cut a deal, and Davos is full of filthy rich people who hoof it to Switzerland each January not just for the skiing and the fondue but to closet themselves in a quiet room well away from the TV cameras to do some business.

As a president, though, Davos would have some issues with Trump. The WEF priesthood adheres to an orthodox creed: a belief in free markets, open borders and liberalised trade. Its dream is to create a tech-savvy, barrier-free, global village.

As far as one can tell from his various and often contradictory policy statements, Trump is running for office on a completely different ticket. He is a throwback to a different era, when the US was protectionist and isolationist, which it was for much of its history. It has only been since the end of the second world war that it has championed free markets and taken on the role of global policeman. No question, Hillary Clinton would be much more to Davos’s taste.

To say Trump’s economic policies are a work in progress is something of an understatement. It is not clear how he squares promises of tax cuts three times bigger than those offered by George W Bush with his insistence that the US national debt is too high. Like Bush and Ronald Reagan, he seems to set great store by the idea, popularised by the economist Arthur Laffer, that tax cuts generate higher levels of growth and so pay for themselves. This has not, however, worked in the past.


Trump has also equivocated about the minimum wage. At one time, he said setting the rate should be left to individual states. More recently he has proposed that he would raise the national minimum wage. As far as Wall Street is concerned, Trump has been more like a traditional Republican, saying he would repeal the Dodd-Frank Act, which sought to curb the excesses of the financial sector. This looks curious for someone trying to surf a tidal wave of populist anger against the bankers.

According to the traditional rules of politics, Trump should not have a prayer. He is loud and obnoxious. He seems to enjoy insulting large sections of the US electorate, women and the Hispanic community in particular. As Russell Jones said in a recent note for Llewellyn Consulting, his inventory of policy proposals are striking for their naivety and incoherence. “It is a litany of simplistic ideas, with no guiding principle, little clear direction and no overarching notion of how these various initiatives might fit together to deliver short-term macro-economic stability, or improved long-term growth potential and flexibility.”

The Labour peer, Meghnad Desai, offered a more positive appraisal in an analysis for the OMFIF thinktank. If he became president, Trump would be the first occupant of the White House since Eisenhower not to have held elected office, although Ike did of course mastermind the invasion of France in 1944.

Desai envisages Trump doing what Eisenhower did in the 1950s, with a big programme of investment in the country’s old and decaying public infrastructure. With interest rates so low, Desai says a capital spending programme of 5% of US GDP would raise $900bn (£680bn), draw in private investment and go a long way to fulfilling Trump’s goals of boosting growth and raising living standards.

So could he really win? You only have to look at the way Clinton has been forced to take a tougher line on trade and promise her own infrastructure package to receive the answer. Few US political experts gave Trump a prayer of securing the Republican nomination when he first announced his run. They take him a lot more seriously now, as well they should, because if the opinion polls are right he will give Clinton a real run for her money.

Trump’s core economic message is simple. If globalisation is such a great idea, why is it that only 15% of the additional growth the US has generated since the 1970s has gone to the workers? The other 85% has boosted corporate income, which helps to explain why the pressure for free trade deals is coming from the boardroom rather than the factory floor.

Clearly, there is an element of nostalgia to this, but Trump’s appeal is not just about nostalgia. The fact is that the US middle class, which in Britain we would call the working class, really did enjoy more rapid increases in living standards and a much higher degree of job security three or four decades ago. It is also true that the offshoring of production has brought benefits through cheaper imports, but these gains tend to seem more nebulous than lost jobs and year after year of flat or falling pay.

A quick look at what has been happening to the US economy in recent years sheds light on the problem. As in Britain, jobs have been created but productivity has been exceptionally weak. One reason is that companies have not been investing. Rather executives have been borrowing money cheaply for share buyback schemes that boost the value of the equity they hold in their own companies. They have gorged themselves at the expense of the wider US economy and been able to do so because organised labour is so weak. There is no chance Trump will be championing new rights for unions, but he is the beneficiary of a raw form of populist politics.

Parallels can be drawn with the great recession of 2008 and 2009, the buildup to which was a prolonged affair. Asset bubble followed asset bubble. Financial crisis followed financial crisis. There were opportunities to change course after the peso crisis in Mexico, after the Asian financial crisis and after the dotcom bubble collapsed. The warnings were not heeded and the disease worked its way from the periphery of the global economy to its American core. Politics is following the same pattern. Trump could win.