AEROPORTO DO
MONTIJO
António Costa não
larga Montijo: “A localização do novo aeroporto está decidida desde 2015”
Presidente da Câmara da Moita, de maioria CDU, foi o primeiro autarca da Margem Sul a reunir-se nesta manhã com o primeiro-ministro sobre o aeroporto no Montijo.
Liliana Borges
Liliana Borges 4
de Março de 2020, 11:49 actualizada às 14:53
Depois de mais de
três horas de reuniões com os autarcas da Margem Sul e de Lisboa sobre a
construção do novo aeroporto de Lisboa, o primeiro-ministro deixou claro que a
localização da nova infra-estrutura está fechada. “A localização da construção
do novo aeroporto está decidida desde 2015. Há um tempo para tudo. Mal ou bem,
o debate sobre a localização ficou concluído” nessa data, declarou António
Costa, à saída da primeira ronda de reuniões com os autarcas durante a manhã
desta quarta-feira. “No futuro alguém se interrogará como foi possível andar 60
anos a discutir a localização de um aeroporto”, notou.
A declaração de
António Costa afasta o cenário em aberto apontado pelos autarcas comunistas,
que ameaçam “vetar” a construção do novo aeroporto no Montijo. “Não está em
causa um processo de inversão da nossa posição”, declarou Rui Garcia, o
primeiro dos autarcas da Margem Sul a ser ouvido na ronda de encontros com o
primeiro-ministro, na residência oficial do líder do Governo.
Para já, fica
tudo igual. “Se não mudarem as circunstâncias, não muda a nossa posição”,
avisou à saída da primeira reunião do dia. Por sua vez, o autarca do Seixal,
Joaquim Santos, saiu mais “optimista” do encontro. Afirmou que o Governo
reconheceu que o Campo de Tiro de Alcochete era uma escolha melhor (ainda que
aponte Montijo como “a solução possível") e acredita que a decisão ainda
não está fechada. Mas Costa parece não ter deixado espaço para essa discussão.
“Temos de
perceber que há um tempo para tudo. E o tempo para esse debate já foi
encerrado”, declarou o primeiro-ministro. Haverá nova ronda de reuniões a 16 e
17 de Março, com os autarcas da Moita e do Seixal, respectivamente, para
estudar “medidas para aliviar as consequências" para a população destas
autarquias.
As reuniões
agendadas pelo Governo para esta manhã visavam negociar a posição do presidente
da Câmara da Moita, Rui Garcia, e do presidente da Câmara do Seixal, Joaquim
Santos. Os dois autarcas comunistas estão contra a construção do aeroporto do
Montijo, o que bloqueia o avanço da instalação da infra-estrutura, uma vez que
a lei prevê que a obra só possa avançar se reunir o parecer favorável de todos
os municípios afectados.
Apesar das
“posições diferentes no início e no fim”, o autarca do Seixal apontou o dedo ao
“elemento invisível” da negociação, o grupo ANA - Aeroportos de Portugal. À
saída do encontro, Joaquim Santos vincou que o Governo estava “amarrado” ao
contrato com a accionista do projecto, que determina a construção da
infra-estrutura no Montijo. Mas sublinhou que “existem condições para tomar
outra opção”. O autarca do Seixal notou ainda que “Montijo é uma solução sem
futuro” e que a construção do aeroporto em Alcochete permitiria a expansão do
projecto a médio e longo prazo.
Rui Garcia quis
afastar de si a responsabilidade do bloqueio, vincando que a sua posição se
baseia no estudo sobre “o vasto conjunto de consequências” que a construção do
aeroporto trará para a região. “Precisamos de deixar muito claro que as nossas
razões para darmos um parecer negativo são fundamentadas em relatórios sobre os
impactos da localização para a população”, declarou Rui Garcia, que durou
aproximadamente 45 minutos. “Só uma alteração profunda das circunstâncias é que
pode justificar uma alteração da nossa posição”, concluiu.
Já Frederico
Rosa, presidente da Câmara do Barreiro, afirmou que a solução Alcochete não foi
discutida na sua reunião. À saída do terceiro encontro da manhã, o autarca do
PS vincou que a construção do aeroporto no Montijo trará “emprego e
desenvolvimento fundamental à região”.
Também o
presidente da Câmara de Alcochete, Fernando Pinto, afirmou que não discutiu a
localização do aeroporto “porque essa decisão já foi tomada”.
“Qualquer
infra-estrutura em Portugal é polémica. O interesse local é importante, mas
superado pelo interesse nacional”, considerou Nuno Canta, autarca de Montijo. O
socialista escudou-se também na necessidade de investimento a sul do Tejo e diz
que só estaria em desacordo com uma solução na margem norte e não afasta uma
relocalização da construção “em Alcochete ou até na Moita”. Caso o impasse se
mantenha, será “muito mau para o país”.
“Qualquer
estrutura aeroportuária terá impacto no ruído e na avifauna”, argumentou Nuno
Canta. O socialista questionou também o sentido legal de uma autarquia bloquear
“uma qualquer localização de uma obra para o país”.
Da margem norte,
o presidente da Câmara de Lisboa vincou que esta era uma decisão urgente, que
se arrastava há demasiado tempo e com consequências para a economia e para o
bem-estar da população. Fernando Medina diz que o país está “a pagar um preço
elevado por ter adiado a decisão” e que o aeroporto de Portela “passou o limite
da sobrecarga de gestão”.
Ao PÚBLICO, ainda
antes do encontro com António Costa, o autarca Rui Garcia, que é também
presidente da Associação de Municípios da Região de Setúbal, garantiu que não
estava disposto a negociar contrapartidas. À saída do encontro, o presidente da
Câmara da Moita afirmou que continua, para já, a defender a construção no Campo
de Tiro de Alcochete (CTA).
Rui Garcia
considerou que a reunião no Palacete de São Bento foi um encontro mais político
e que a próxima reunião deverá ser mais técnica. No entanto, não adianta
detalhes sobre o que espera ouvir por parte de António Costa e do ministro das
Infra-estruturas, Pedro Nuno Santos.
Na semana
passada, também o presidente da Câmara do Seixal, o comunista Joaquim Santos,
apontava que, até hoje, não tinha existido nenhum encontro formal com o
Governo. Para o autarca, essa alteração dessas circunstâncias foi interpretado
como sinal de que havia por parte do António Costa uma abertura para diálogo.
Joaquim Santos
afirma não compreender a “insistência” na construção da infra-estrutura no
Montijo, “quando os estudos dizem que Alcochete é melhor”. “O senhor
primeiro-ministro, quando era presidente da Câmara de Lisboa e quando estava no
governo de José Sócrates, concordava com a opção Alcochete. Agora, como
primeiro-ministro, decide ao contrário. Há-de haver uma razão forte”,
considerou o autarca do Seixal, em declarações ao PÚBLICO, na véspera da
reunião.
Sem comentários:
Enviar um comentário