sexta-feira, 21 de dezembro de 2018





Yellow Jackets head to Portugal
Campaign to bring country to a halt tests the exportability of the protest movement.

By           PAUL AMES        12/21/18, 4:01 AM CET

Dockers from the port of Setubal block the entrance of a bus that transports on November 22 | Rui Minderico/EFE via EPA

LISBON — France’s prototype gilet jaune was, reportedly, a BMW-loving Portuguese bricklayer called Leandro Nogueira whose Facebook rage against reduced speed limits ignited traffic-disrupting demonstrations around his home in rural Dordogne.

After escalating into a nationwide revolt against the French government, the Yellow Jackets protests are poised to hit Nogueira’s homeland. Disgruntled Portuguese plan nationwide action Friday that could be the biggest test yet of the movement’s ability to spread beyond France.

Under the slogan "Vamos Parar Portugal" (Let’s bring Portugal to a halt), organizers hope tens of thousands will rally for street protests and highway blockades.

If they succeed, it will be the most ambitious Yellow Jackets copy-cat demonstration outside France and confirm the rebellion’s international potential, even as it seems to be running out of steam at home. Conversely, a flop would signal Europe has limited risk of contagion from France’s yellow fever.

“It’s very hard to see the gilets jaunes experiment replicated elsewhere. It’s a very French story” — Philippe Marlière, University College London

Although violent Yellow Jackets protests spilled over into Belgium, most attempts to muster similar anti-establishment demos have fallen flat.

Only a few hundred responded to calls for protests in Germany and the Netherlands. Just a handful of Brexiteers donning high-visibility vests showed up to disrupt traffic outside parliament in London last week.

“It’s very hard to see the gilets jaunes experiment replicated elsewhere. It’s a very French story,” said Philippe Marlière, professor in French and European politics at University College London.

However, he added, the gripes infuriating the French do cut across borders. “The issues which are being debated, which explain the current uprising in France, are issues which people across Europe are facing: poverty, questions of minimum wages, the state of public services. You find that everywhere.”

There’s a confusing array of social media pages behind the call. One of the most prominent boasts over 12,000 followers, others only a few hundred. Supporters post diverse objectives: from scrapping highway tolls and cutting taxes to revolutionary insurrection.

There’s no backing from trade unions or leading far-left parties. “Instead of demanding progress and social justice, they are supporting extreme-right positions aimed at societal and civilizational regression,” Arménio Carlos, general secretary of the biggest labor union and a Communist Party central committee member, told TSF radio.

Almost alone in Europe, Portugal has no significant far-right party. Still, small ultranationalist groups have backed Friday’s protests. One Yellow Jacket Facebook group only recently changed its name from “Portugal First — No to Refugees.”

Authorities are taking the coletes amarelos seriously. Police leave has been canceled and 20,000 officers placed on alert. Politicians are appealing for calm.

“Indignation and protest must be expressed peacefully,” President Marcelo Rebelo de Sousa told reporters Tuesday. “Peaceful demonstrations are a Portuguese trademark, the violence we see in other countries is something different."

Portugal doesn’t lack for discontent. Schools, hospitals, railways, prisons, fire services and docks are some of the sectors facing pre-Christmas disruption as striking workers demand more rewards from an economic recovery that followed years of austerity-era hardship.


A protest against the lack of investment in the police institutions in front of Portuguese parliament in October | Antonio Pedro Santos/EFE via EPA

Yet, after three years of growth and falling unemployment, the minority Socialist government — and the two radical-left parties that prop it up — enjoy healthy poll ratings.

Over 70 percent of voters say Prime Minister António Costa’s administration met or exceeded their expectations, according to an Aximage poll published in Portuguese newspapers this week.

'It worked for Trump ...'
However, the Aximage survey also raised doubts over Portugal’s immunity to far-right populism ahead of elections scheduled for October. It indicated 27 percent might vote for a new party that’s tough on corruption and illegal immigration, should one emerge.

Although many of Portugal’s Yellow Jackets reject accusations of far-right influence, there are fears their anti-system rhetoric gives credence to populist narratives that have succeeded elsewhere.

“This is a far-right operation,” Francisco Louçã, a founder of the Left Bloc party, told the SIC television network. “They are using social media to whip up aggressive politicization in far-right terms. This is something that worked for Trump, it worked for Bolsonaro, it worked for Salvini ... we’ll see how it works in Portugal.”

Europe’s authoritarian leaders and their tame media have jumped on Yellow Jacket strife as symptomatic of the sorry state of liberal Europe. That may be backfiring.

Polish farmers in high-visibility vests used tractors to block a highway into Warsaw; cost-of-living protesters in Turkey this week referenced the Yellow Jackets, despite President Recep Tayyip Erdoğan’s warning that attempts to emulate Gallic unrest would “pay a heavy price.”

In Hungary, unprecedented demonstrations against the government of Viktor Orbán have brought comparisons with the gilets jaunes as workers angered by new labor laws unite with pro-democracy campaigners.

“Social dissatisfaction means political dissatisfaction. Although the spark was this amendment of the labor code, at its core this is definitely an anti-regime protest,” said Daniel Hegedus, a Central Europe expert at the German Marshall Fund of the U.S.

“When protests due to social issues and protests due to the lack of democracy unite, it can be a very powerful challenge for these kinds of illiberal regimes.”



Resposta aos coletes amarelos? Um novo contrato verde
Se houver quem saiba explicar o rumo e descrever o destino, será muito mais difícil aos manipuladores e oportunistas abusarem das justas ansiedades que todos hoje sentimos.

RUI TAVARES
21 de Dezembro de 2018, 6:25
 https://www.publico.pt/2018/12/21/politica/opiniao/resposta-coletes-amarelos-novo-contrato-verde-1855531?fbclid=IwAR0eMRFNxuU4WUoTI4VSPPCN-FAZkylEMEanxazrEzIhVQRWIVsbG18QcNA

Decidamo-nos: os coletes amarelos são genuínos representantes dos “perdedores da globalização” ou “deploráveis” explorados pela extrema-direita? Para grande parte do comentariado e dos políticos, nacionais e internacionais, a resposta é fácil: quando dá jeito, são uma coisa, quando não dá, são a outra. Nisso não há novidade em relação às anteriores convulsões sociais e políticas dos últimos anos. Aqueles que aproveitaram a crise para atacar o projeto europeu, declarando-o “irreformável” e uma "máquina de criar fascistas”, decidiram com a eleição de Bolsonaro que afinal o fascismo não podia ter explicações locais, mas sim globais. Aqueles que em relação ao Brasil tudo atribuíam às culpas do PT e à corrupção, e explicavam que “assim é que nasciam os bolsonaros”, andam muito calados desde que os bolsonaros — pai, filhos, mulher e noras — têm sido descobertos a movimentar milhões de reais através de motoristas e assessores. Há à esquerda quem tenha tecido loas aos coletes amarelos quando se tratava de atacar o odiado Macron mas vá avisando que não reconhecerá legitimidade a coletes amarelos contra a "geringonça". Há à direita quem apele à revolta contra “o socialismo”, esquecendo de nos dizer como caracterizam as reformas de Macron; serão elas também socialistas?

Creio que um início de conversa intelectualmente séria sobre este tema tem de começar por evitar este tipo de intermitências táticas. Quem negar que existam perdedores da globalização e razões legítimas de queixa, está a ser irresponsável. Quem negar que existam oportunistas e manipuladores, internacionais incluídos, a fomentar o ressentimento político na Europa, está a ser ingénuo (e já não é de hoje: nos tempos das nossas manifestações contra a austeridade, era costume eu receber telefonemas com pedidos de comentário do canal de Putin, a Russia Today, e a pergunta era sempre “vai haver violência em Portugal?”).

Para continuação de conversa, creio que nos poderão servir quatro princípios. Reconhecer os verdadeiros problemas; rejeitar e refutar a propaganda de falsos problemas; não prometer às pessoas aquilo que é impossível de concretizar; estar do lado das soluções. Vejamo-los um por um.

Para entender a situação em que estamos, é preciso ir lá bastante atrás, até antes da crise e mesmo dos anos 1970/80 que são em geral apontados como estando na origem da nossa era política. Nos últimos 300 anos, mais ou menos, a humanidade viveu sob a vigência de três contratos sociais e políticos. Passo a descrevê-lo a traço grosso:

O primeiro contrato era o do Absolutismo, e tinha como três vértices os súbditos, o Rei, e Deus. Quando alguma coisa corria mal, o contrato absolutista previa uma solução: era preciso obedecer mais ao Rei e temer mais a Deus. Foi esse contrato que o Grande Terramoto de Lisboa em 1755 demonstrou estar baseado em pressupostos errados e que as Revoluções — a Americana e a Francesa — acabaram por revogar.

O segundo contrato demorou a emergir, entre as Guerras Napoleónicas e a 1.ª Guerra Mundial. O seus termos já não eram o súbdito-Rei-Deus, mas antes o povo, o Estado, e a Nação (muitas vezes grafados assim com maiúsculas, como os termos anteriores). O ponto culminante desse contrato foi o, não por acaso assim chamado, New Deal de Franklin Delano Roosevelt. New Deal quer simplesmente dizer “Novo Contrato”. E era isso que o plano de Roosevelt era: quando alguma coisa corria mal — e estava a correr enormemente mal com a Grande Depressão — a solução havia de se encontrar num reforçar do contrato entre o povo, o estado e a nação, representados pelo governo. A forma como Roosevelt explica a criação da Segurança Social é quase digna de poesia: um dólar do trabalhador, um dólar do patrão, e se houver doença, morte ou desemprego ali estará a rede de segurança necessária para não se cair na pobreza. O New Deal de Roosevelt foi uma construção política brilhante e trouxe-nos quase até aos dias de hoje, mas o próprio Roosevelt, antes de morrer, admitiu implicitamente que o contrato era limitado ao descrever no seu discurso das “Quatro Liberdades” que a escala após a 2.ª Guerra seria outra: tratava-se agora de conquistar a liberdade de expressão e de consciência, e a libertação da fome e do medo, “em todos os lugares do mundo”, ou as conquistas anteriores seriam insustentáveis.

Deixemos o terceiro contrato, aquele de que precisamos agora, para o fim. Antes façamos um diagnóstico usando os princípios que descrevi há pouco.

Não negar os problemas: é evidente que a humanidade, neste início de novo milénio, está em apuros. Sabemos que o clima está a mudar e o planeta a ficar menos sustentável para nós; não sabemos qual será o futuro do trabalho; há uma imensidão de dinheiro a circular pelo mundo, mas boa parte dele escondido para fugir aos impostos e quase todo ele mal distribuído.

Segundo princípio: refutar e rejeitar os falsos problemas que nos querem impor pela propaganda. Não, a imigração não é o maior problema das nossas sociedades, não está a um nível anormalmente alto, e a grande maioria dos imigrantes são gente de valor que desempenha um papel positivo na nossa sociedade. (É tão importante aceitar os verdadeiros problemas como rejeitar os falsos: na Alemanha dos anos 30 isso significaria dizer “sim, as condições da Paz de Versalhes são punitivas e devem ser revistas, mas não, os judeus não são os culpados e estigmatizá-los é inaceitável” — e uma distinção como essa faz tanta falta hoje como ontem).

Não prometer às pessoas aquilo que é impossível de concretizar: sim, a globalização traz problemas que devem ser mitigados e corrigidos, mas não, não é possível fazer regredir grande parte dos aspectos — tecnológicos e comunicacionais, por exemplo — que estão na base da globalização. Temos de aprender o que fazer com eles em vez de prometer às pessoas que é possível voltar aos anos 50.

E, finalmente, estar do lado das soluções. Estar do lado das soluções, hoje, significa estar do lado de um novo contrato, desta vez um Novo Contrato Verde. Nesse contrato os tomadores deverão ser a humanidade, a natureza e a tecnologia. O objetivo deve ser a sustentabilidade ambiental, social, política e económica — em condições de liberdade, igualdade e dignidade democráticas. E o que é preciso fazer é preencher as linhas desse contrato com coisas concretas: por exemplo, como é que combater as alterações climáticas significa isolar bem e aquecer melhor as casas dos mais velhos que passam frio no inverno em Portugal. Um Novo Contrato Verde, em Portugal, na Europa e para lá dela, deve explicitar objetivos claros de investimento: em que infraestruturas, em que novos empregos, em que novas tecnologias, em que novas formações. E deve tocar todos os aspectos da nossa sociedade e das nossas instituições: das cidades ao campo, das universidades aos postos de trabalho, das ruas às casas.

Se houver quem saiba explicar o rumo e descrever o destino, será muito mais difícil aos manipuladores e oportunistas abusarem das justas ansiedades que todos hoje sentimos.

O autor escreve segundo o novo Acordo Ortográfico



À espera da “extrema-direita” /premium
Rui Ramos

O ideal era que houvesse nas europeias um qualquer fenómeno a que pudessem colar o rótulo de “populismo”, de modo a fazerem correr as legislativas em ambiente de pânico anti-fascista, à brasileira.

Escrevo antes da suposta manifestação dos nossos coletes amarelos. Como quase toda a gente, não sei o que é, nem o que vai ser. Mas não é isso que importa. O que importa é outra coisa: o modo como “um movimento das redes sociais”, imediatamente catalogado como de “extrema-direita”, atraiu os comentadores do regime como uma lâmpada à noite atrai as traças. Porque precisa tanto a nossa oligarquia de uma “extrema-direita”? Só para poder dizer que pelo menos nisso o país converge com a Europa?

Sobre a “extrema-direita”, os oligarcas têm duas opiniões. A primeira é a de que a “extrema-direita” não existe em Portugal, a não ser sob formas insignificantes, só visíveis ao microscópico do jornalismo anti-fascista. É que o povo, mesmo quando insatisfeito, está muito satisfeito por ser representado pelo PCP e pelo BE. Daí que não haja tradução portuguesa para Trump, Bolsonaro, Vox, etc.

A outra opinião é o contrário: é a de que, em Portugal, fora da esquerda e das épocas de domínio da esquerda, não há nem nunca houve outra coisa senão fascismo, salazarismo, inquisição, racismo, etc. Portugal é uma grande desgraça, que só a abnegação dos anti-fascistas impede de reeditar imediatamente a Alemanha nazi: é, como estão lembrados, o que nos ensinam sempre que governam o PSD e o CDS.

Ora, a questão é saber o que interessa agora às esquerdas que mandam no país: convém-lhes que haja  “extrema-direita” ou não? Depois do que se disse e escreveu sobre os nossos coletes amarelos, é difícil não concluir que a actual maioria social-comunista precisa urgentemente de qualquer produto nacional que, sem se envergonhar, possa comparar com Bolsonaro ou com o Vox. No meio de cativações e de greves, e cada vez mais no plano inclinado do arrefecimento económico, Costa e os seus colaboradores Catarina e Jerónimo já terão sentido que talvez não lhes baste, em 2019, reclamar louvores pela reposição de uns quantos euros em 2016. Necessitam de algo mais épico, como seria, por exemplo, a defesa heróica da democracia perante “o avanço da extrema-direita”. O ideal era que houvesse nas eleições europeias um qualquer fenómeno a que pudessem colar o rótulo de “populismo”, de modo a fazerem correr as legislativas em ambiente de pânico anti-fascista, à brasileira. Isso teria ainda esta vantagem: forçar o PSD e o CDS, como já acontece ao PP e ao Ciudadanos em Espanha perante o Vox, a entrarem numa dieta suplementar de agonia sobre se devem (ou não) “negociar” com a “extrema-direita”.

Talvez o Pai Natal ouça as preces da geringonça. Mas — e se não ouvir? E se, como os bárbaros do poema de Kavafy, a “extrema-direita” não vier? E se os coletes amarelos não partirem montras na avenida? E se nenhum Vox irromper nas eleições para o Parlamento Europeu? Tal como os bárbaros, também a “extrema-direita” era uma espécie de solução. Em alternativa, claro, os oligarcas poderão continuar a cumprimentar-se publicamente uns aos outros por não haver “populismo” em Portugal.

Mas não acreditem nessa satisfação. Por dentro, vão estar aflitos. Sem a distracção do “fascismo”, sem directos televisivos de pancadaria no Rossio, quem sabe se não haverá mais gente a reparar nas “falhas” do Estado, na degradação dos serviços públicos, no empobrecimento relativo do país na Europa, ou no despudorado esforço da oligarquia para controlar uma justiça que, nos últimos anos, se atreveu a perturbar certos esquemas? Com a corrente governação, para que deixou de haver alternativa no actual sistema de partidos, este regime corre o pior de todos os riscos: não é o dos coletes amarelos de Paris, mas o do apodrecimento solitário, no vazadouro da sua própria mediocridade. Aos nossos oligarcas dava certamente jeito um bocado de gás lacrimogénio para disfarçar o fedor.

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