Polónia é palco de reuniões sobre o aquecimento global
Rodolfo Alexandre Reis 02
Dezembro 2018, 14:23
Cidade da Katowice recebe delegações de quase 200 países,
naquele que é considerado o encontro mais importante da Organização das Nações
Unidas (ONU), desde março de 2015 em Paris, que colocou um fim aos combustíveis
fósseis.
A cidade polaca de Katowice vai receber delegações de quase
200 países, que vão iniciar negociações para enfrentar as profundas divisões
políticas na reunião da Organização das Nações Unidas sobre o aquecimento
global, revela a agência “Reuters”.
As reuniões vão prolongar-se ao longo das próximas duas
semanas, naquele que é considerado o encontro mais importante da Organização
das Nações Unidas (ONU), desde março de 2015 em Paris, que colocou um fim aos
combustíveis fósseis .As expetativas são baixas de que as negociações em
Katowice, principal região de carvão na Polónia, serão suficientes para
resolver as preocupações apresentadas nos relatórios das últimas semanas sobre
a gravidade das crescentes emissões de gases do efeito estufa.
O primeiro-ministro das ilhas Fiji, Frank Bainimarama,
entregou na abertura da conferência da ONU a presidência das negociações a
Michal Kurtyka, vice-ministro do Meio Ambiente da Polónia. “Todos nós vamos ter
que mostrar criatividade e flexibilidade”, referiu Michal Kurtyka.
Os Estados Unidos reiteraram na cimeira do G-20 na
Argentina, no sábado, a sua decisão de retirar-se do acordo de Paris, num
compromisso dos EUA com o uso de todas as fontes de energia.
Os outros membros do grupo das nações industrializadas –
incluindo o país mais poluente, a China, reafirmaram o seu compromisso de
implementar o acordo de Paris, levando em conta as circunstâncias nacionais e
as capacidades relativas.
A Polônia está a sediar as negociações sobre clima da ONU
pela terceira vez, mas o país continua viciado no carvão, que fornece cerca de
80% do poder económico polaco e tem sido uma importante fonte de emprego e
orgulho nacional.
O ministério da Energia afirmou na última semana que o país
pretende investir numa nova capacidade de carvão, enquanto a sua estratégia
energética de longo prazo supõe que ainda obterá cerca de 60% da sua energia do
carvão até 2030.
COP24: É preciso “sinal claro” de reforço de compromissos,
diz especialista
Jornal Económico com Lusa 01
Dezembro 2018, 11:30
Os países devem deixar “um sinal claro” na cimeira do clima
na Polónia de que pretendem reforçar os compromissos de redução das emissões de
gases com efeito de estufa, defende o especialista em alterações climáticas
Filipe Duarte Santos.
Professor universitário e especialista em alterações
climáticas, Filipe Duarte Santos falava à Agência Lusa a propósito da reunião
mundial sobre o clima que começa no domingo em Katovice, na Polónia, e que
termina no dia 14.
Durante quase duas semanas, centenas de especialistas e
responsáveis políticos reúnem-se, sob os auspícios da ONU, na 24.ª Conferência
das Partes (COP24) da Convenção das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas,
para debater as mudanças do clima e o futuro da humanidade. Filipe Duarte
Santos é um dos participantes.
Nas declarações à Lusa defendeu a importância de no encontro
mundial se chegar a acordo em três questões que considerou fundamentais, uma
delas a aprovação de um roteiro que permita por em prática um conjunto de
regras que levem os países a cumprir as metas com as quais se comprometeram em
2015 no acordo de Paris sobre redução de emissões de gases com efeito de
estufa.
“Por enquanto há intenções, mas ainda não há mecanismos nem
regras e regulamentos que permitam comprovar se os países estão a cumprir”,
disse.
A segunda questão prende-se com a necessidade de os países
demonstrarem vontade de não deixar a temperatura subir além de dois graus
celsius acima dos valores da era pré-industrial, e a terceira prende-se com o
comprometimento financeiro dos países mais desenvolvidos com projetos de
adaptação às alterações climáticas e com a transição energética, para energias
mais limpas que os combustíveis fósseis, dos mais pobres.
Filipe Duarte Santos lembrou que há propostas de há três
anos, quando foi alcançado o Acordo de Paris, de que os países mais ricos se
comprometeriam a mobilizar 100 mil milhões de dólares por ano para financiar, a
partir de 2020, projetos nos países mais pobres.
Cumpridos ou não os três objetivos, questionado pela Lusa o
especialista disse que reuniões como a COP24 são “sempre importantes”, porque
se discute o futuro, o bem-estar e a qualidade de vida das pessoas, sobretudo
das futuras gerações.
A COP24 para já “é sobretudo a esperança de que se consiga
resolver um problema que é resolúvel, que passa por fazer a transição
energética, passando dos combustíveis fósseis para as energias renováveis, e
adotar uma maior eficiência energética”, defendeu.
Questionado pela Lusa sobre se as populações estão
preparadas para fazer sacrifícios no combate às alterações climáticas, Filipe
Duarte Santos referiu que as pessoas “ainda não estão convencidas de que se não
protegerem o ambiente e controlarem as alterações climáticas é isso que vai ao
bolso delas”.
Exemplificando com o caso de Portugal, o professor e
investigador de geofísica, questionou quanto custa todos os anos o combate aos
incêndios florestais, ou quanto custam os impactos e os prejuízos associados à
perda de produtividade agrícola devido aos períodos de seca.
E depois, admitiu, a COP24 “é formal”, com os negociadores a
terem um “espaço de manobra limitado”, com cada país a ter “a sua agenda
própria”, com cada político “a interessar-se sobretudo no curto prazo”.
“Na União Europeia há países que podiam fazer mais (pela
diminuição de emissões de gases com efeito de estufa), como a Alemanha, que
continua a explorar o carvão. Se não deixarmos de consumir carvão não vamos de
modo nenhum cumprir o Acordo de Paris”, alertou o professor, admitindo que
politicamente “é insustentável” fechar as minas de carvão.
Mas sem essa coragem política o futuro para alguns países
não será fácil. Se os mais ricos vão conseguir adaptar-se às alterações
climáticas, os mais pobres, se essas alterações não forem controladas, vão ter
uma situação “dramática”. E o fosso entre os mais ricos e os mais pobres vai
ficar cada vez maior.
Filipe Duarte Santos diz que nem sequer é tão difícil
resolver o problema. “O caminho é a energia limpa”.
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