Quase 90 mil polícias mobilizados este sábado em França
06 Dez, 2018, 21:28 / atualizado em 06 Dez, 2018, 21:29 |
Mundo
Quase 90 mil polícias mobilizados este sábado em
FrançaEstudantes de liceu em protesto nas ruas de Marselha | Reuters
O primeiro-ministro francês anunciou a mobilização de mais
de 89 mil polícias em todo o país, dos quais oito mil em Paris. Edouard
Philippe afirmou ainda que esta força será apoiada por veículos blindados.
"Estamos a enfrentar pessoas que não estão aqui para
protestar, mas para estragar e queremos ter os meios para não lhes dar rédea
livre", explicou Edouard Philippe no jornal da noite da televisão TF1 esta
quinta-feira.
Philippe anunciou também a mobilização de uma dezena de
veículos blindados policiais, o que sucede pela primeira vez desde os tumultos
nos arredores de Paris em 2005.
Em 15 áreas em torno de Paris, as autoridades locais foram
solicitadas a remover tudo o que nas ruas possa ser usado como projeteis.
A torre Eiffel e vários museus, incluindo o Louvre, as duas
Óperas e o Grand Palais anunciaram por seu lado que ficarão encerrados. Pelo
menos cinco jogos de futebol da primeira divisão foram cancelados.Os primeiros
números tinham dado conta da mobilização de 65 mil forças e a utilização de
tropas atualmente adstritas a patrulhas anti-terroristas, para a proteção de
edifícios públicos.
Outras cidades, como Bordéus, ordenaram igualmente medidas
preventivas, preocupadas com a possibilidade de que os manifestantes optem por
protestos regionais em vez de enfrentarem a apertada segurança em Paris.
Apesar do anúncio do abandono dos novos impostos sobre os
combustíveis, os protestos contra o Governo do Presidente Emmanuel Macron não
mostram sinais de abrandar.
Os "coletes amarelos" apelam nas redes sociais à
"Act IV", ou seja a quarta semana de protestos. "A França está
farta! Vamos comparecer em número maior, mais fortes, de pé em defesa do povo
francês", apelava um dos grupos.
Os organizadores da marcha anunciam também que alteraram o
percurso previsto anteriormente para o próximo sábado.
Vários grupos do movimento contra novos impostos nos
combustíveis denominado "coletes amarelos", estão ainda a unir-se
para organizar melhor os vários pontos de bloqueio previstos.
O Governo de Macron diz recear que grupos da extrema-direita
e anarquistas de grupos anti-capitalistas como o Black Bloc, se aproveitem dos
protestos dos "coletes amarelos" para causar problemas e destruição.
O certo é que a revolta está a alastrar a outros setores da
sociedade francesa, complicando ainda mais a situação e apesar das promessas
governamentais.
Protestos estudantis
De acordo com números do Ministério do Interior, cinco dias
depois da pior violência registada em Paris desde 1968, mais de 280 liceus em
toda a França registaram perturbações e 45 foram bloqueados, com mais de 700
estudantes a serem interpelados pelas forças da ordem na zona parisiense.
Os alunos começaram a aderir segunda-feira aos protestos,
como os "coletes amarelos", mas para recusar várias reformas do
ensino decididas pelo Governo, incluindo a reforma dos liceus, do acesso à
universidade e das vias profissionais.
A revolta estudantil tem estado a ser reprimida também com
violência. Nos últimos dias, dezenas de estudantes ficaram feridos em
confrontos com as forças de segurança, sobretudo pelas novas armas não-letais
de fabrico francês, denominadas flash-ball.
Vários deputados da oposição denunciaram "o uso sem
restrições da força" contra os estudantes de liceu, considerando-a
"um grave erro" e considerando que o Governo está
"desesperado".
Críticas da oposição
"Face a esta contestação legítima, o Governo escolheu
responder com o uso sem restrições da força", denunciou o grupo do partido
França Insubmissa em comunicado.
"A banalização do uso das flash ball e os golpes dados
aos jovens estendidos por terra são tanto derivas intoleráveis de um poder que
já não existe como pela sua política de repressão em que vale tudo",
acusaram os deputados do LFI, La France Insoumise.
"Ao querer amordaçar a juventude, o Governo cometeu um
grave erro. A repressão nunca será uma boa resposta à inquietação com o
futuro", consideraram.
O Partido Comunista Francês foi igualmente crítico e lembrou
que "numerosos estudantes estão feridos ou detidos após as mobilizações
estudantis de hoje". "A resposta ao profundo movimento popular que se
exprime não pode ser uma escalada securitária", referiu ainda.
Já para o NPA, partido anti-capitalista, o poder "está
desesperado e procura de todas as formas apagar a contestação". "Para
o conseguir, as ordens dadas as forças de segurança são explícitas: as
violências cometidas por estas últimas não são incidentes isolados, mas a
consequência de uma estratégia deliberada de tensão e repressão", acusa.
O primeiro-ministro prometeu por seu lado fazer tudo para
manter a ordem.
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